Os círculos nas plantações, também conhecidos como agroglifos ou agrogramas, são desenhos geométricos que passaram a surgir da noite para o dia nos anos 70, principalmente em plantações de trigo, cevada e milho. Logo na década seguinte houve grande aumento no número de registros dessas formações em diversas partes da Inglaterra, onde o fenômeno se originou. Mas, ao mesmo tempo em que causava estupefação na população e nos estudiosos, não demorou para que surgissem pessoas afirmando serem seus autores. Os mais famosos foram os octogenários fanfarrões Doug Bower e David Chorley que, em 1991, afirmaram que vinham fazendo as figuras desde 1978.
Eles demonstraram como fazer um círculo utilizando somente tábuas de madeira. Mas o que Doug, David e seus apoiadores não conseguiram explicar é como produzir agroglifos em dezenas de diferentes lugares do país e do mundo ao mesmo tempo, como já vinha ocorrendo. Assim, sua tese fracassou e o fenômeno ganhou ainda mais força — hoje se sabe que os velhinhos foram usados em uma manobra do governo inglês para desacreditar os agroglifos. As fraudes continuam, e chegam a ser numerosas em certos anos, mas as características das formações verdadeiras superam, e muito, às das fabricadas.
O mistério, no entanto, é muito mais antigo do que se pensa e já ocorre desde 1678, como se sabe por um panfleto publicado na Inglaterra naquele ano, chamado Mowing Devil, Demônio Ceifador. Mas a atenção da imprensa para as figuras só veio em junho de 1980, quando se divulgou o primeiro caso nacionalmente. O fato ocorreu em uma fazenda em Wiltshire e vários outros surgiriam naquele verão no sul do país, aumentando gradativamente o interesse do público. No início, as formações tinham um padrão circular e eram relativamente simples, nada comparado com o que são agora — podendo chegar a 800 m de comprimento e ter mais de 2 mil elementos.
Monumentos megalíticos
Enquanto o número de agroglifos aumentava, um padrão parecia surgir. Os desenhos se formavam na primavera e verão nos campos a oeste e sudeste de Londres, e seus locais preferidos eram Avebury e Silbury Hill, onde há abundantes sítios arqueológicos e monumentos megalíticos, como Stonehenge. Rapidamente o fenômeno dos círculos já estava em livros, comerciais e programas de TV. O que todos se perguntavam é se seriam algo natural ou uma tentativa de alienígenas para se comunicarem conosco? Várias hipóteses já foram apresentadas para explicar o mistério, desde a equação dos vórtices de plasma do físico britânico Terence Meaden até roedores — em ambos os casos, sem sucesso.
A tese do doutor Meaden, fundador da Organização de Pesquisa de Tornados e Tempestades, é de que os responsáveis pelos círculos são minitornados raros. Entre os que acreditam em comunicação de ETs está Lucy Pringle, pesquisadora do enigma há anos. “Deve ser algum tipo de comunicação. Qualquer que seja a inteligência por trás desses desenhos, ela é mais avançada do que a nossa”, afirma. Lucy ainda diz que existem efeitos peculiares que afetam as pessoas que entram nos círculos, como náuseas e dores de cabeça, os mesmos sintomas relatados por quem tem um contato próximo com discos voadores. “A força que cria essas incríveis formações o faz por meio de uma descarga elétrica poderosa, como microondas, pois os pés de milho, por exemplo, dobram-se, mas não se quebram”.
Mudança eletromagnética
São suas características físicas que tornam o fenômeno ainda mais intrigante e o mantém sem respostas — não há explicação, por exemplo, para as alterações físicas de plantas e solos. Mas não apenas a aparência dos vegetais parece se modificar como ocorre uma variaçãomolecular neles. Pesquisas apontam que as alterações acontecem nas paredes das células, que são expandidas. As plantas afetadas também se tornam mais vistosas do que as de fora dos círculos, isso sem falar na mudança do campo eletromagnético dentro das figuras, que dura por vários dias após seu surgimento.
Testemunhas também relatam ver luzes e ouvir sons misteriosos sobre ou dentro dos agroglifos. Para o maior pesquisador mundial do fenômeno, o inglês Colin Andrews [Entrevistado desta edição], o fenômeno é extraordinário. “UFOs e agroglifos estão interligados de alguma maneira, mas isso não significa necessariamente que os UFOs estejam criando os desenhos”, afirma. Seja qual for a sua origem, até hoje já foram registrados mais de 12 mil formações em todo o mundo — aproximadamente 80% delas na Inglaterra, Japão, Itália, Coreia do Norte, Alemanha, Holanda, Austrália, Estados Unidos e Canadá.
Faltava o Brasil, um dos países com maior incidência ufológica no planeta, ter seus agroglifos, que nunca foram relatados aqui. Isso mudou em novembro de 2008, quando a população de Ipuaçu, no oeste de Santa Catarina, foi surpreendida com o aparecimento de diversas marcas em plantações de trigo e triticale, todas incrivelmente semelhantes aos círculos da Inglaterra. O primeiro a registrar o fenômeno foi o agricultor Inézio Trentin, residente na comunidade de Toldo Velho. Ele notou que algo estranho ocorrera na sua lavoura. “Era um círculo amassado com quase 20 m de diâmetro, mas sem nenhuma pegada por perto nem marca de pneus. Como alguém chegaria até o meio da plantação sem amassar nenhum pé de trigo?”, indaga.
O segundo caso aconteceu na propriedade de Nilson Biazzotto. Lá foi encontrado um círculo com as mesmas dimensões na fazenda de Trentin — mais uma vez o desenho surgiu no meio do cultivo, sem que houvesse qualquer rastro de acesso até o local. Os eventos foram tão importantes e sem precedentes que A. J. Gevaerd, editor da Revista UFO e presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), viajou até a região para investigar in loco os fatos. “Os círculos de Santa Catarina surpreendem por terem padrões perfeitos, tal como aqueles registrados no início do fenômeno, na Inglaterra. A população está assustada com o surgimento das figuras”, disse.
Perplexos diante dos fatos
Para investigar os casos do oeste catarinense, foi necessário primeiro percorrer vasta extensão para conhecer seus detalhes. Isso permitiu atestar de maneira inequívoca que não se tratavam de ação humana — e muito menos da natureza, como efeitos meteorológicos ou atmosféricos. Tais conclusões foram corroboradas por agrônomos, engenheiros, jornalistas, professores de várias disciplinas e, principalmente, pelos agricultores daquela região, que, tal como os outros citados, se mostraram completamente perplexos diante dos fatos.
O problema é que até hoje não se tem uma idei
a de como são feitas as formações. Sabe-se que a maioria é fraude, mas, assim como os avistamentos de UFOs, resta algo entre 10 e 20% de casos verdadeiros e insolúveis. Apesar de muitos afirmarem que o fenômeno está em decadência, na verdade ele está ganhando corpo e aumentando sua área de ação. E embora não saibamos qual é sua origem e muito menos a razão desses complexos desenhos surgirem nas plantações, sua existência é real e vem sendo cada vez mais investigada.