É impressionante a facilidade com que o doutor Marcelo Gleiser se lança na aventura de escrever – e emitir opiniões – sobre temas que não conhece e fora de suas áreas de especialidade, a astronomia e astrofísica. E extremamente decepcionante quando o faz, demonstrando não ter nem as mais básicas referências sobre os assuntos sobre os quais decide tratar, a exemplo da Ufologia, como ele fez em dois recentes artigos na Folha de S. Paulo, sendo o último no dia 19 de junho, “Agroglifos: mensagem ou fraude” [Confira os textos abaixo].
Em primeiro lugar, o que o doutor Marcelo Gleiser precisa saber é que, após mais de seis décadas de pesquisas do Fenômeno UFO, o assunto já não admite mais a manifestação de meras \”opiniões\” – e muito menos as desinformadas, como as suas. Não, senhor, a Ufologia não é matéria de opinião, mas de informação, algo que o respeitável cientista demonstra não ter – o que é, no mínimo, um assombro, visto o cargo que ocupa e a responsabilidade que deveria demonstrar para com seus leitores.
Sobre os agroglifos, por exemplo, o doutor Marcelo Gleiser aparenta quase nada saber, mas ainda assim faz julgamento da questão, com a presunção de querer contestar um fenômeno sobre o qual se debruçam cientistas, governos e militares há décadas, sem respostas. Ele erra nos dados mais primários que expõe e contesta sobre o assunto, a exemplo do tamanho desses fenômenos. O doutor Marcelo Gleiser deveria saber, pelo menos, que muitos dos agroglifos chegam a ter 600 e até 800 m de comprimento de ponta a ponta, ou seja, são muito maiores do que um campo de futebol. E alguns podem chegar a mais de mil objetos desenhados nos campos, organizados na figura de uma maneira geométrica perfeita. Por favor, não menospreze isso.
E explicar sua natureza, como fez o doutor Marcelo Gleiser, citando alguns documentários pobres e referências simplistas a fazendeiros, é debochar da inteligência do leitor. É evidente que existe muito lixo na literatura a respeito dos agroglifos, como em todas as áreas do conhecimento humano, mas há um volume absolutamente significativo e valioso de documentação a respeito de sua manifestação, partindo principalmente de cientistas, seus colegas, igualmente perplexos diante do enigma – até mais do que os ufólogos, que são os estudiosos mais interessados em entender o enigma, mas não os únicos.
Para se ter idéia da desinformação do doutor Marcelo Gleiser quanto à questão, ele ingenuamente cita os velhinhos Doug Bower e Dave Chorley como autores da figuras nos campos ingleses, afirmando que elas passaram a surgir quando eles admitiram isso, em 1978. Ora, o cientista não sabe ou não se informou sobre o fato de que Bower e Chorley fizeram alguns círculos toscos e enjambrados, totalmente diferentes daqueles que surgiam nas mesmas noites em que operavam, espantosa e simultaneamente em dezenas de outras localidades do Reino Unido. A história de Bower e Chorley é uma piada desde exatamente 1978, quando fizeram a infundada alegação de serem autores de todos os agroglifos – o que se sabe ser absolutamente impossível há duas décadas, pelo menos. E de lá para cá, quando o fenômeno realmente esquentou, parece que nada mais o senhor doutor Marcelo Gleiser pesquisou sobre o assunto.
Para sua informação e do leitor, o fenômeno dos agroglifos está classificado pelo próprio governo inglês como um dos maiores enigmas da atualidade, desde 1984. Embora tenham surgido na Inglaterra, e muito antes de 1978, como o respeitável cientista pensa, o fenômeno está amplamente espalhado pelo mundo desde os anos 90. São mais de 20 mil figuras catalogadas em 30 países, mais de 40% delas devidamente pesquisadas. Seriam todas a ação dos velhinhos? Poderiam todas ser explicadas em tons tão simplistas? E os agroglifos também chegaram ao Brasil em 2008, em Santa Catarina, em casos espetaculares e desafiadores – que eu tive o privilégio de investigar “in loco”. Fico curioso em saber o que o doutor Marcelo Gleiser teria a dizer a respeito deles…
Enfim, o cientista estaria prestando melhor serviço aos seus leitores caso se mantivesse em suas áreas de especialidade, nas quais é imbatível. E se abstivesse de falar sobre temas que não domina, como a Ufologia, campo que é extremamente sério, mas que ele parece não saber ou não quer reconhecer. Neste caso, aliás, sugiro que ouça com muita atenção o que diz um de seus mais distintos colegas, o doutor Michio Kaku, que não apenas está muito bem informado sobre a questão da presença e ação alienígena na Terra, como também está visivelmente empenhado em debater com seriedade este assunto com a sociedade, sem superficialidade, sem opiniões vazias. Um exemplo a ser seguido não apenas pelo doutor Marcelo Gleiser.
À Folha da S. Paulo sugiro fortemente que, quando quiser publicar uma matéria sobre Ufologia, que contate um ufólogo competente, não alguém que no máximo tem opiniões a dar, e desinformadas. Nós, ufólogos, se requisitados, prometemos não falar de astronomia e astrofísica, pois reconhecemos que não são nossas especialidades e não teremos a leviandade de emitir opiniões sobre áreas que não dominamos.
Por fim, alguém também deve explicar ao doutor Marcelo Gleiser, a propósito de seu artigo anterior na Folha da S. Paulo, que o filme da suposta autópsia em um ser extraterrestre, que ele apenas agora desconfia ser fraude, já é amplamente dada como tal desde que surgiu no cenário, nos anos 90. Se ele lesse um pouco mais das fontes certas, teria esta informação e pouparia o leitor de explorar sua memória sobre tema tão batido e já devidamente explicado.
A. J. Gevaerd
Editor da Revista UFO Brasil
Presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV)
Nota da Redação UFO: A seguir você confere os dois textos de Marcelo Gleiser publicados no jornal Folha de São Paulo: Quero acreditar, mas cadê os ETs?
(Publicado em 12/06/2011)
Pelo que nos ensina a ciência moderna, tudo indica que a vida seja rara no Universo, e mais rara ainda a vida inteligente
Recentemente, apareceu um vídeo no YouTube sobre uma misteriosa estrutura em Marte. O produtor do vídeo sugere que a forma cilíndrica é uma construção de origem alienígena, \”talvez uma garagem enorme\”. (Eis o link: www.youtube.com/watch?v=6ZeDc8fubAA). É incrível a vontade que temos de achar vida em Marte, mesmo após já termos enviado várias sondas para lá, que encontraram apenas muita poeira e pedras no planeta.
Hoje trago de volta um clássico desse fenômeno cultural, o vídeo da necrópsia de um ET (video.google.com/videoplay?docid=-5830866 813023883728#). Você assistirá, boquiaberto, à autopsia do cadáver de um ET, supostamente encontrado nos escombros de sua nave espacial, que caiu (foi abatida?) em Roswell em 1947, no deserto do Novo México.
O vídeo coincide com os relatos de pessoas que dizem ter sido abduzidas por ETs: a cama cirúrgica, médicos fazendo uma bateria de testes, várias partes do corpo removidas e cuidadosamente examinadas.
Pena que Ray Santilli, o produtor responsável pelo vídeo, admitiu que era falso. (Se bem que disse que algumas partes eram originais, só para manter o suspense.) Por que milhões de pessoas acreditam nessas bobagens a ponto de ficarem ofendidas se forem contrariadas? Fãs de \”Arquivo X\” lembram do pôster na sala do agente do FBI Fox Mulder: \”Eu quero acreditar\”. Crer para ver suplanta o ver para crer.
Usando tecnologia atual, a viagem até Alfa Centauri, a estrela vizinha a 4,4 anos-luz do Sol, demoraria mais de 100 mil anos. As distâncias interestelares são gigantescas. E, infelizmente, túneis na estrutura do espaço-tempo, os chamados \”buracos de verme\”, ainda não foram encontrados.
Fora as diversas dificuldades tecnológicas envolvidas em viagens interestelares, não há uma única prova concreta de que ETs de fato estiveram por aqui. Infelizmente, o vídeo é falso, como são todos os outros. Não há uma conspiração secreta entre cientistas e o governo americano. Quem mais do que um cientista adoraria ter provas concretas de inteligência extraterrestre?
Não detectamos sinais de rádio vindos do espaço ou amostras de tecnologia alienígena. Visões dos famosos objetos voadores não identificados, na maioria, podem ser explicadas por distúrbios atmosféricos, balões de alta altitude ou por aeronaves diversas em condições de baixa visibilidade.
Relatos pessoais, ou mesmo de grupos, vídeos de coisas estranhas flutuando nos céus, nada disso pode ser aceito cientificamente como prova da existência de visitantes extraterrestres. (Aliás, por que ETS, tendo tecnologia para cruzar a galáxia, precisam de luzes? Eles não sabem que podem ser vistos por nós?) O assunto é importante demais para nos deixarmos levar por oportunistas ou por emoções fortes.
Pelo que nos ensina a ciência atual, tudo indica que a vida seja rara no Universo. Muito mais rara ainda a vida inteligente, especialmente a que constrói espaçonaves. É hora de aceitarmos nossa solidão cósmica e tomarmos conta do que temos. Mesmo se os ETS existirem, é bom não contar com eles para resolver nossos problemas. Obviamente, até agora não fizeram nada de útil.
Agroglifos: mensagens ou fraude?
(Publicado em 19/06/2011)
Que mensagem é essa dos círculos cortados em plantações, que precisa ser escrita sempre à noite e sem nenhuma testemunha?
Após meu texto da semana passada ter abordado o vídeo com a autopsia de um alienígena, achei pertinente continuar o tema, investigando agora outro sinal de que \”eles\” nos visitam: os misteriosos agroglifos. Desde o final dos anos 70, eles se espalham pelo mundo.
Antes, um esclarecimento: agroglifos são padrões simétricos do tamanho de campos de futebol que são cortados em plantações de trigo (em inglês, são \”crop circles\”, algo como \”círculos em plantações\”.)
Talvez o leitor se lembre do filme \”Sinais\”, de 2002, dirigido por M. Night Shyamalan e estrelando Mel Gibson como um reverendo cujos campos recebem essas mensagens. Nesse filme, os padrões são um código para direcionar naves de ETs em sua invasão. O longa faturou cerca de US$ 410 milhões.
Se você buscar por \”agroglifos\” na internet, encontrará dezenas de belíssimas imagens, retratos dos vários tipos de padrões cortados em plantações trigo, principalmente no Reino Unido (pobres fazendeiros!) Alguns parecem mandalas, outros têm aparência mais abstrata. Recentemente, surgiu um perto de um radiotelescópio, com o rosto de um ET e um disco perto -um CD gigante com uma mensagem para nós (veja o link: http://www.youtube.com/watch?v=-4CYcp5wObs).
Vários documentários se dedicam ao assunto. Um bem sensacionalista, dirigido por William Gazecki (\”Agroglifos: Busca Pela Verdade\”), entrevistou \”autoridades\” que confessaram não entender o mistério, atribuindo-o à ETs ou fenômenos paranormais. Outro, mais sóbrio, apresentado pela NatGeo na série \”É Real?\”, mostrou como é relativamente fácil fazer os agroglifos.
A revista \”Scientific American\” publicou, em 2002, as confissões de um criador de agroglifos, o autor Matt Ridley. Em suas palavras: \”Trate autoridades com ceticismo e verifique se não têm algum interesse na história \”\”muitos cerealogistas ganharam dinheiro escrevendo livros e guiando turistas boquiabertos por fazendas com agroglifos. Quanto à identidade dos criadores, incluindo os recentes com formas fractais, acredito mais provável que sejam estudantes do que ETs.\”
Formas geométricas fractais estavam em voga nos anos 90, quando esses padrões começaram a aparecer nos campos. Teria sido genial se esses agroglifos tivessem aparecido bem antes de Benoit Mandelbrot ter inventado os fractais. Mas esse tipo de prova de inteligência ET nunca ocorre.
Aliás, agroglifos só começaram a aparecer em 1978, quando dois ingleses, Doug Bower e Dave Chorley, confessaram ter criado esses padrões para assustar as pessoas. Mesmo assim, há quem continue acreditando na origem misteriosa dos agroglifos. Se seu objetivo é trazer uma mensagem, por que não o fazem em frente a testemunhas? A coisa ocorre sempre à noite, em segredo. E que mensagem é essa que precisa de grandes áreas em plantações, escrita continuamente por mais de 30 anos? Ou ela é muito complexa ou nós somos primitivos demais para entendê-la.
Talvez alguém esteja se divertindo às custas da necessidade de se acreditar no que não existe. Pergunto: o que existe, com sua beleza e grandiosidade, não é suficiente?