Figuras literalmente obscuras que nasceram com a própria Ufologia, nos anos 40 e 50, os MIBs têm visitado e ameaçado testemunhas de avistamentos de UFOs e pesquisadores que não se calam sobre suas descobertas e estudos. O termo vem do inglês men in black, como foram batizados nos Estados Unidos, ou homens de preto, aqui no Brasil. Intimidadores, ameaçadores e de aparência estranha, esses visitantes indesejáveis são tomados por vários tipos de vilões, desde agentes governamentais até ETs malignos, do presente e do futuro. Mas o que há de real nos relatos sobre os MIBs? E se existem, quem ou o que são? Vamos conhecer alguns casos e explorar algumas teorias a respeito deles.
O senhor Robert Richardson dirigia pelas ruas de Toledo, em Ohio, Estados Unidos, em uma noite particularmente escura de julho de 1967. Cansado e temeroso de se acidentar, conduzia o veículo devagar, pois dali a poucos minutos estaria em casa. Ao virar em uma esquina, porém, teve o maior susto de sua vida — um estranho objeto, em nada parecido com o que ele já tinha visto, bloqueava o caminho. Estava estacionado logo depois da esquina. Incapaz de frear o carro, Richardson colidiu contra o artefato, mas não com muita força. Para seu grande assombro, o aparelho simplesmente se volatilizou. Apavorado, o homem foi para casa e entrou em contato com a Aerial Phenomena Research Organization [Organização de Pesquisas de Fenômenos Aéreos, APRO], informando seus dirigentes de que tinha batido o automóvel em um possível disco voador. Era um objeto do tamanho aproximado de seu carro, arredondado e aparentemente sem qualquer emenda ou passagem que indicasse uma porta.
Figuras ameaçadoras
A testemunha não observou marcas e nem a presença de antenas ou adereços. Além de ligar para a APRO, informou o fato à polícia, que enviou homens para acompanhá-lo até o local. Os oficiais que inspecionaram o ponto de colisão com o UFO nada viram além dos sinais de derrapagem dos pneus. Richardson, porém, voltando ao lugar mais tarde, encontrou um pequeno objeto metálico, acreditando ter provindo do UFO. Provavelmente, ele teria deixado de se preocupar com o episódio em pouco tempo, talvez só mencionando o estranho contato em conversas esporádicas com amigos ou familiares, não fosse uma sequela que o caso produziu — era algo mais intrigante que a colisão em si, que viria a desencadear uma série de acontecimentos esdrúxulos em sua vida.
Três dias depois da suposta colisão, Richardson foi procurado em casa por três homens que ele jamais tinha visto — todos tinham aparência muito jovem, de 20 e poucos anos. Sem entender porque, ele não lhes perguntou quem eram nem solicitou que mostrassem identificação, apenas deixou que entrassem. E, a princípio, não se sentiu nem um pouco intimidado por eles. Conversaram por cerca de 10 minutos. Os três homens não fizeram nenhuma ameaça ou advertência, apenas muitas perguntas a respeito de seu quase acidente. Quando partiram, ele notou que os estranhos entraram em um Cadillac preto, um modelo dos anos 50, que uma investigação posterior revelaria ter a placa fria.
Ficou claro, portanto, que os visitantes eram algum tipo de impostores. Mais tarde Richardson se sentiu totalmente incomodado e intrigado com a visita. Só então se deu conta de que respondera sem hesitar a todas as perguntas que os homens misteriosos lhe tinham feito sobre sua colisão com o UFO, como se fosse a situação mais banal do mundo. E foi quando percebeu que talvez o que vira naquela esquina tivesse um significado e uma importância muito maiores do que a princípio imaginara. Uma semana depois, Richardson recebeu outra visita estranha. Desta vez eram dois homens que chegaram em um carro Dodge da década de 60. E mais uma vez, incapaz de resistir, deixou os rapazes entrarem na casa — os indivíduos tinham a pele escura e vestiam ternos pretos. Um deles falava inglês normalmente, mas o outro tinha um ligeiro sotaque que Richardson não soube identificar.
Ao contrário dos três primeiros visitantes, estes pareciam tentar convencê-lo de que estava cansado naquela noite e não tinha batido o carro contra objeto algum. Mas foi veemente em afirmar que vira o UFO, colidira contra o mesmo e, depois, para sua surpresa, o artefato simplesmente desapareceu diante de seus olhos. Talvez mudando de tática ou sondando para ver o que mais Richardson sabia, um dos homens lhe perguntou sobre o pedaço de metal que tinha encontrado. Ele sentiu um arrepio na espinha quando o objeto foi mencionado, pois até então não o tinha revelado a ninguém, exceto à APRO, e aqueles homens não pareciam investigadores da entidade ufológica. Só ele, sua esposa e dois membros do centro sabiam acerca do material.
Filme dos anos 40
O fato de dois estranhos perguntarem sobre o pedaço de metal parecia indicar que alguém o estava espionando, ouvindo suas conversas ao telefone ou, quem sabe de outra maneira, acompanhando seus movimentos. Neste ponto as versões sobre o rumo da conversa variam. Relatos mais sóbrios dizem que Richardson explicou que não tinha mais o artefato consigo, pois o deixara com a organização ufológica, quando então os estranhos visitantes deram por encerrado a conversa e se despediram.
Em uma narração mais colorida, mostrando a conclusão de um diálogo que parece ter sido extraído de um filme dos anos 40, um dos homens de preto — o que falava inglês perfeitamente — teria perdido a paciência com Richardson e o ameaçado de modo claro, com as seguintes palavras: “Se quer que sua mulher continue bonita, é melhor pegar o material de volta e nos entregar”. Isso deixou a testemunha boquiaberta, atordoada e tremendo. Ele ficou sozinho na sala de estar enquanto os dois assustadores visitantes se afastavam com o carro preto. A segunda dupla de visitantes não fez a menor menção aos três primeiros homens que procuraram Richardson — talvez a única semelhança entre eles era o fato de todos saberem de informações particulares sobre o acontecimento, reveladas somente a um grupo seleto de indivíduos. Esta, como veremos, parece ser uma característica dos estranhos visitantes de preto: saber de informações particulares.
Apesar da representação típica e estereotipada do caso do senhor Robert Richardson envolvendo os homens de preto, o mito não começou com ele. Na verdade, o protagonista do primeiro contato moderno com essas bizarras figuras teve a experiência uma década antes, e seu envolvimento com o tema, ainda recente durante a chamada Era Moderna dos Discos Voadores, fora bem maior do que uma colisão acidental entre o carro de um cidadão comum e um objeto não identi
ficado.
Intimidadores, ameaçadores e de aparência estranha, esses visitantes indesejáveis são tomados por vários tipos de vilões, desde agentes governamentais até ETs malignos, do presente e do futuro. Mas o que há de real nos relatos sobre os MIBs?
Nos anos 50, Albert K. Bender mantinha a organização International Flying Saucer Bureau [Escritório Internacional para Investigação de Discos Voadores, IFSB], que editava um boletim intitulado Space Review, totalmente dedicado a notícias envolvendo objetos não identificados. O número de leitores não era muito grande, se compararmos com a quantidade de “ufófilos” da atualidade que se filiam a grupos e procuram material para estudos relacionados a seres extraterrestres e UFOs. Mas para um modesto início naquele período, na ainda embrionária Ufologia, o número de assinantes era importante e tinha certo peso.
A posição oficial do IFSB era que os UFOs vinham de outros planetas. Foi um choque, porém, quando a edição de outubro de 1953 do Space Review publicou o inesperado comunicado: “Uma fonte considerada pelo IFSB perfeitamente confiável nos informou que a solução do mistério dos discos voadores está próxima. A investigação chega aos seus estágios finais”. Mas a segunda parte da informação não era tão animadora. “Esse mesmo indivíduo, cujos dados nos foram fornecidos, sugere que este não é o momento nem o método apropriado para publicar a verdade em Space Review”. Mais adiante, o texto do boletim elucida com as seguintes palavras:
“Afirmação importante. A questão dos discos voadores não é mais um mistério. A fonte já é conhecida, mas toda informação sobre ela está sendo guardada por ordens superiores. Gostaríamos de imprimir toda a história em Space Review, mas devido à natureza dos dados, fomos aconselhados a não fazê-lo. Recomendamos a todos os envolvidos na pesquisa dos discos voadores que tomem muito cuidado”.
Homem que sabia demais
Pouco depois disso Bender suspendeu a publicação de Space Review e fechou o IFSB. O tom do conselho para “tomar muito cuidado” podia ser sincero, mas, sem dúvida, faria todos os que estudavam o Fenômeno UFO se sentir importantes. Afinal, quem se incomodaria em silenciá-lo, se só perdem tempo estudando “algo que não existe ou que não tem a menor importância”, segundo a versão oficial da época? Mas Bender não deixou a questão morrer por aí. Algum tempo depois de fechado o instituto de pesquisa, aparentemente ainda inquieto ou se sentindo humilhado por ter sido coagido a interromper seu trabalho, ele relatou em uma entrevista que havia sido visitado por três homens usando ternos pretos, que haviam ordenado que parasse de publicar matérias relacionadas a discos voadores.
O editor acrescentou, na entrevista, que os homens tinham sido tão veementes que ele quase morreu de medo. Ficou tão abalado que não conseguiu comer nada por alguns dias. Além do evidente transtorno, outros sintomas — talvez de origem psicossomática — se seguiram ao contato. Na mesma entrevista supracitada, o ex-diretor do IFSB afirmou que, após a visita dos estranhos, além do problema descrito, ele foi regularmente acometido por fortes dores de cabeça e se surpreendia em intervalos regulares com a manifestação de estranhos odores na casa, de origem não identificada e diferentes de qualquer coisa que tivesse sentido antes do encontro com os MIBs.
Os estranhos de terno preto que assediaram Bender eram altos, de corpo atlético e tinham um olhar fixo e penetrante, nem um pouco amistoso, que parecia querer “sondar” sua alma. Com o relato de Bender nascia oficialmente a lenda dos homens de preto — visitantes que assediavam, importunavam e ameaçavam testemunhas e pesquisadores que tivessem qualquer tipo de contato com UFOs. A mística em torno dos MIBs foi reforçada em 1956 com o lançamento do livro de Gray Barker, They Knew Too Much About Flying Saucers [Eles Sabiam Demais sobre Discos Voadores, Create Space Independent Publishing Platform, reeditado em 2014]. Barker era o principal pesquisador do IFSB e em sua obra compilou vários casos de encontros com os homens de preto, incluindo o de um colega.
O curioso Caso Heflin
A impressão de alguns amigos de Bender a respeito de seus visitantes vestidos de preto era de que seriam homens da Força Aérea Norte-Americana (USAF) ou agentes da Agência Central de Inteligência (CIA), e de fato as afirmações originais de Bender, discretas no início, parecem apontar nessa direção. Em 1962, porém, publicou a história em detalhes, apresentando uma versão um pouco mais misteriosa do que passara em sua obra Flying Saucers and the Three Men [Discos Voadores e os Três Homens, Create Space Independent Publishing Platform, reeditado em 2014]. Há quem considere o livro dele — bem como todo o caráter fugidio de seu contato com os misteriosos visitantes — um artifício para afastar os ufólogos sérios das pistas do verdadeiro problema dos UFOs. Seja como for, o Caso Bender não pode ser ignorado, uma vez que aos poucos foram se acumulando relatos de pessoas que nunca tinham ouvido falar de suas histórias e que teriam sido procuradas por semelhantes homens após terem relatado alguma experiência com UFOs ou por seu envolvimento no estudo desses casos. Tais indivíduos se apresentavam como agentes do governo ou nem sequer diziam algo de si, mas às vezes acabavam intimidando as testemunhas com ameaça direta ou por meio de subterfúgios, dissuadindo-as de prosseguir com a divulgação de suas experiências. A maioria dos casos parece menos sensacional que o de Albert Bender e seus três visitantes, mas tais acontecimentos não deixam de ser bastante perturbadores. Vejamos a história do patrulheiro Rex Heflin, na Califórnia.
Em 03 de agosto de 1965, Heflin tirou uma série de fotos de um UFO que observou de dentro de seu carro, estacionado na Rodovia Santa Fé. As imagens saíram boas, mostrando um objeto em forma de chapéu, que parecia flutuar acima do solo. Tais fotografias foram bem divulgadas e a história do patrulheiro foi investigada pela USAF, além de examinada por pesquisadores do Comitê Condon, da Universidade do Colorado. Muitos órgãos oficiais e vários grupos de pesquisa ufológica estudaram o caso, cada um de acordo com seus recursos e sua própria ética. Em determinado momento da investigação,
suspeitou-se que as imagens mostradas por Heflin eram falsas, mas sem as impressões originais isso seria difícil de comprovar. Como se tratavam de fotos feitas com uma máquina Polaroid, não existiam negativos.
O patrulheiro disse que tinha dado três ou quatro originais a um homem que o procurou dizendo representar o Comando de Defesa Aérea Norte-Americano (NORAD). Inquirido posteriormente por investigadores, o NORAD negou ter enviado alguém atrás das fotos ou que sequer tivesse interesse nelas. O misterioso homem que teria levado as fotos nunca foi identificado. Em 11 de outubro de 1967, enquanto o Comitê Condon ainda investigava o caso, Heflin relatou outro encontro com visitantes misteriosos. Um homem que se apresentou como capitão Cesar Edmonds, da Divisão de Sistemas Espaciais do Comando de Sistemas, uma unidade da Força Aérea que se envolvera na primeira investigação das fotos do UFO de Heflin, procurou-o em sua casa. Durante a conversa, o capitão quis saber se Heflin desejava ter as imagens fotográficas de volta. Ele respondeu que não, o que deixou seu interlocutor claramente aliviado.
Triângulo das Bermudas
Subitamente, sem que Heflin entendesse a razão de tal procedimento, o suposto militar começou a falar com ele sobre o misterioso Triângulo das Bermudas, área perto do arquipélago das Bermudas, onde numerosos desaparecimentos de barcos e aviões ocorrem até hoje. Sumiços esses que, segundo alguns pesquisadores, poderiam estar ligados ao Fenômeno UFO — tema, entretanto, passível de grande polêmica. Enquanto conversavam, Rex Heflin olhou pela janela e viu um carro estacionado com alguma espécie de insígnia na porta, sem que, no entanto, conseguisse distinguir coisa alguma. No banco de trás, apesar do vidro escuro da janela, ele percebeu um vulto e um brilho violeta, o que o fez pensar que estava sendo fotografado. Um fenômeno insólito também pareceu acompanhar toda a conversa entre a testemunha e o militar — ele tinha deixado seu equipamento de FM ligado, em baixo volume.
Durante todo o transcorrer da entrevista, o rádio sofreu breves e rápidas interrupções, como com pequenos estalidos. Após a saída do capitão Edmonds, o aparelho voltou a funcionar normalmente. Pesquisadores independentes e investigadores do Comitê Condon, a pedido da testemunha, tentaram por todos os meios encontrar o tal capitão, mas ao menos oficialmente a Força Aérea não o conhecia. Para todos os efeitos, o militar que visitou o patrulheiro Heflin nunca existiu. Testando a opinião pública sobre os discos voadores e o possível perigo de segurança nacional por eles representado, o Comitê Condon apresentou a seguinte declaração à imprensa norte-americana: “Há uma agência governamental que mantém um arquivo ultrassecreto de relatos de aparições de UFOs que, infelizmente, não pode no momento ser revelado ao público”.
As pessoas entrevistadas para essa pesquisa deveriam simplesmente responder se achavam que a afirmação era verdadeira ou falsa. Cerca de 60% dos entrevistados acreditavam na declaração. Entre uma parcela mais jovem da população, incluindo adolescentes, a porcentagem foi maior — 73% dos pesquisados disseram acreditar em uma política de silêncio por parte do governo e do Comitê Condon, a respeito dos discos voadores. Posteriores levantamentos feitos pelo Comitê e por outros órgãos oficiais de pesquisa trouxeram à tona um dado paradoxal: mais norte-americanos acreditavam em uma conspiração para esconder fatos ligados aos UFOs do que nos próprios UFOs. A maioria tinha noções vagas de uma conspiração envolvendo a Força Aérea ou a CIA, ou ambas, com uma tática de proporções internacionais.
Muro de silêncio
O motivo por trás desse muro de silêncio seria a tentativa, por parte dos que detinham o poder, de preservar o público do pânico generalizado desencadeado pela real visita de extraterrestres. Entretanto, os estudiosos das teorias de conspiração, ainda que às vezes beirando à paranoia, podiam — e ainda podem — ver que um ou dois ou mais órgãos governamentais não seriam capazes de impor e impetrar o silêncio e reter esse tipo de informação por tanto tempo. Que outra esfera, então, estaria envolvida na conspiração do silêncio acerca dos UFOs, se é que existia uma? Entrariam em cena os próprios extraterrestres? Nesse clima de suspeita, o terreno era fértil para a proliferação de mais histórias sobre os misteriosos homens de preto. Se os casos do senhor Richardson, de Bender e do patrulheiro Heflin parecem assustadores, quase inacreditáveis, o incidente narrado por Ivan Sanderson em seu livro Uninvited Visitors [Visitantes Não Convidados, Eduard Sherman Books, 1967], supera em muito o limite do razoável — e, se verdadeiro, pode tirar o sono dos pesquisadores de UFOs e fenômenos correlatos.
De agentes da CIA, da Força Aérea ou de outro órgão oficial, os homens de preto de repente passam a lembrar os próprios ETs. E as descrições bizarras não param aí. Alguns deles são relatados como se movendo de modo errático, com gestos duros como robôs
Na década de 60, uma família, cujo nome é inteiramente omitido, avistou um objeto voador não identificado a uma certa proximidade e notificou a polícia local. Alguns dias depois do contato, eles foram visitados por um homem estranho. Ele tinha pouco mais de 2 m de altura, cabeça pequena em proporção, a pele do rosto branca como um cadáver, ombros largos, mas os braços pareciam muito curtos. Dizia ser agente de seguros e estar procurando um homem com o mesmo nome do chefe da família. Esse indivíduo, dizia o estranho, tinha herdado uma razoável fortuna. O visitante apareceu novamente durante à noite, usando um chapéu de feltro esquisito, que sombreava os olhos, além de um casaco muito fino — ao entrar na casa, o agente mostrou rapidamente a carteira de identificação de forma que não desse tempo para ninguém ler. No decorrer da conversa, o estranho tirou o casaco, revelando uma espécie de medalhão dourado que carregava no peito. Imediatamente o visitante cobriu-o com a mão e guardou-o, fazendo uma série de perguntas pessoais sobre a família, mas nada mencionou sobre o UFO.
O detalhe mais assustador foi contado pela filha mais velha da família, que notou que em determinado momento a barra da calça do homem subiu um pouco, revelando uma perna extremamente fina e branca, com um fio verde que subia da meia e parecia penetrar na pele um pouco acima. Ao término da entrevista, o “agente de seguros” se despediu e entrou em um carro preto — onde havia outras duas figuras — estacionado em frente à casa, o qual saiu veloz e com os faróis apagados. Aquela foi a única visita inusitada que a família recebeu após o encontro com um UFO e o caso, talvez por falta de insistência da própria família, não continuou a ser estudado. Parece que vemos a&ia
cute; um novo desenvolvimento na manifestação dos homens de preto: em primeiro lugar, a família visitada não afirmou que ele estava todo vestido de preto. Segundo, seu aspecto era anormal, quase não humano. Não se pensou no assédio por parte de um agente do governo, disfarçado em agente de seguros, mas sim em algo muito esdrúxulo, dando a impressão de que as testemunhas foram visitadas por um alienígena, ou uma entidade não biológica.
Sensação de ameaça
De misteriosos agentes da CIA, da Força Aérea ou de outro órgão oficial, os homens de preto de repente passam a lembrar os próprios seres extraterrestres. E as descrições bizarras não param aí. Alguns deles teriam sido relatados como se movendo de modo errático, com gestos duros como robôs, outros falam em tom mecânico ou não piscam e causam na testemunha a sensação de ameaça mesmo quando esta não ocorre. Essas descrições ajudam a ilustrar o caráter fantasmagórico das manifestações dos homens de preto. Há a história de um jovem piloto norte-americano que, em 1975, duas semanas após ter visto um UFO de dentro de seu avião Piper PA-24, tendo a confirmação dos radares no aeroporto da Cidade do México, foi seguido em uma estrada por uma limusine preta.
Nela ele discerniu quatro homens altos que usavam terno escuro e pareciam escandinavos — tinham a pele estranhamente branca e o piloto reparou que não piscavam. A limusine passou e praticamente o jogou no acostamento, fazendo-o desistir de prosseguir viagem. Iria se apresentar em um programa de televisão. Um mês após esse episódio, o piloto ia se encontrar com o eminente astrônomo e ufólogo J. Allen Hynek, do Center for UFO Studies [Centro para Estudos de UFOs, CUFOS]. Mas, pouco tempo antes do encontro, um homem estranho com as mesmas características dos outros avistados na limusine o procurou, fazendo-lhe ameaças sutis. Foi a primeira e última vez que o jovem piloto recebeu tal tipo de visita.
A década de 70 viu o desenrolar de uma certa sofisticação nos modos e na aparência dos aterradores visitantes de negro — ou pelo menos na descrição deles, com maior ou menor nível de fantasia por parte dos autores de livros sobre discos voadores e de testemunhas de contatos. Assim, vemos no ano de 1976 o caso de um médico e hipnotizador, o doutor Herbert Hopkins, que estudava um suposto acontecimento ufológico em Maine, nos Estados Unidos. Em uma noite, quando estava sozinho em casa, o telefone tocou e, ao atender, Hopkins ouviu uma voz masculina, logo se identificando como o vice-presidente de uma organização de pesquisas ufológicas de Nova Jersey. Em rápida conversa, o homem perguntou se o doutor Hopkins estava interessado em conversar sobre o recente caso que ele estava investigando. Animado com a possibilidade de compartilhar suas posições com um grupo de pesquisas, ele disse que sim. Os dois combinaram um horário, naquela mesma noite, e o doutor Hopkins desligou.
O médico, então, se dirigiu até a soleira da porta e acendeu a luz para receber a visita dali a algumas horas. Para sua total surpresa, embora não houvesse passado nem 10 minutos do término da conversa ao telefone, ele viu um homem que não conhecia subindo os degraus até a porta de entrada da casa. O estranho se apresentou, não dando a menor explicação da razão pela qual viera bem mais cedo do que o horário combinado e nem como chegara tão rápido. “Não vi nenhum carro por perto. E mesmo que ele tivesse vindo de carro, não sei como teria chegado tão depressa”, afirmou o doutor Hopkins mais tarde. Sentados na sala de estar, os dois conversaram sobre o incidente que o pesquisador estava estudando.
Misterioso visitante
Quando o assunto parecia ter se esgotado, o visitante disse ao doutor que este tinha duas moedas no bolso. O anfitrião, intrigado, confirmou. Ele pediu, então, que colocasse uma delas em sua mão. Sem entender o que estava acontecendo, o médico obedeceu. O suposto ufólogo de Nova Jersey instruiu o doutor Hopkins que ficasse observando bem a moeda. Enquanto ele olhava, ela pareceu sair de foco aos poucos, como se sua imagem ficasse embaçada, até sumir totalmente. O visitante então disse: “Ninguém desta dimensão jamais verá essa moeda novamente”. Apesar de espantado, o doutor Hopkins continuou ouvindo o misterioso visitante falar um pouco mais sobre UFOs, até que a voz ficou lenta. Vagarosamente, ele se levantou e disse alguma coisa sobre estar ficando sem energia e finalmente se despediu, falando de forma muito devagar.
O doutor Hopkins acompanhou o MIB até a porta. Ele desceu meio que cambaleando e logo se perdeu em meio a uma luz branca difusa, que o médico achou provir do farol de um carro, embora não visse veículo algum. Sem esperar por mais surpresas, ele entrou e fechou a porta. Só então começou a se lembrar dos traços estranhos na aparência de seu visitante — ele usava terno, sapatos, gravata, luvas e chapéu pretos e uma camisa branca. Quando tirou o chapéu, revelou ser totalmente calvo. Também não tinha sobrancelhas e nem cílios. Sua pele era totalmente branca e os lábios muito vermelhos. Outro detalhe estranhíssimo era o fato de passar as luvas nos lábios várias vezes e estas ficarem manchadas de vermelho.
Quando sua família chegou, notou marcas estranhas na frente da casa, que o doutor Hopkins não tinha reparado antes, e que não se pareciam com sinais de pneus, principalmente por estarem no meio da passagem. Assustado ante a possibilidade de ter se encontrado com um ser de outro planeta, ele resolveu seguir a instrução que o visitante lhe dera: apagar as fitas que estavam gravadas com as sessões hipnóticas referentes ao caso ufológico que pesquisava. Ele soube, pouco depois do episódio, que a tal organização de pesquisas ufológicas de Nova Jersey não existia e, para seu grande alívio, nunca mais voltou a ver o esdrúxulo visitante.
Afinal, o que se passou?
A história de que Albert Bender foi coagido a não revelar o que sabia acerca dos UFOs, levando-o posteriormente a fechar sua instituição de pesquisas, pode ser levada a sério? Do modo como vemos, há três possibilidades básicas para o Caso Bender. Primeiro, ele disse a verdade. Segundo, descobriu algo e sofreu um ataque agudo de esquizofrenia, levando-o a perder o senso de realidade e confundir verdade com fantasia. E, terceiro, toda a história de descobrir a verdade sobre os discos voadores e a posterior advertência para se calar foi pura invenção de Bender. No cenário da terceir
a hipótese é perfeitamente possível que Albert Bender, por algum motivo, impossibilitado de prosseguir com seus trabalhos — talvez com sérias dificuldades financeiras —, tenha apelado para uma espécie de golpe final, justificando-se ao público de “discófilos” com a história de conspirações e ameaças, ao mesmo tempo plantando a semente de um futuro e tremendo mistério, totalmente enganoso, mas capaz de conquistar cada vez mais defensores sinceros ou apenas ávidos por publicidade.
Neste cenário, seriam igualmente inválidos todos os depoimentos, em solo norte-americano ou não, de pessoas que se dizem coagidas por indivíduos desconhecidos a não revelarem o que sabem — ou pensam saber — sobre UFOs e seres extraterrestres? De modo algum! É perfeitamente lógico que os governos ou grupos de segurança a eles ligados estudem os UFOs e não vejam com bons olhos a divulgação de um tema que consideram do âmbito da segurança nacional. Procuram, por diversos meios, silenciar aqueles indivíduos inoportunos que não querem se calar — e por inoportunos entendemos ufólogos, testemunhas, abduzidos etc. No caso da primeira hipótese ser verdadeira, Bender teria realmente descoberto, talvez por acaso, alguma coisa acerca do Fenômeno UFO que incomodaria caso a notícia fosse revelada ao grande público.
Verdade, ficção ou mal-entendido, o caso dos homens de preto não é uma brisa temporária. O assunto avançou antes, pelas décadas iniciais da Ufologia, como um furacão, criando adeptos e detratores. E promete não desaparecer de cena tão cedo
Tal descoberta nem precisaria necessariamente ser algo de grande envergadura, capaz de mudar a base da filosofia, religião, ciência e sociologia modernas. Talvez o fato de que as forças armadas reconhecem oficialmente que os UFOs só podem vir de outros mundos, uma vez que a tecnologia mais avançada da época era incapaz de produzir as proezas de tais objetos. Ainda nesse cenário, é possível que Bender não resistisse ao gosto de possuir um conhecimento importante, mas, em meio à redação de seu boletim especial, teria sido contatado por autoridades a tempo de impedir o “desastre” da divulgação. Qualquer indivíduo empolgado em uma monumental tarefa se sentiria frustrado, e poderia apresentar prolongados efeitos psicossomáticos colaterais, se fosse procurado por agentes oficiais vestindo ternos pretos e impedido de prosseguir com a missão que reservara para si mesmo.
Já no caso da segunda hipótese — descoberta verdadeira de algo insólito e importante, seguida de choque emocional profundo —, um maior desatino psicológico estaria envolvido. Por mais inteirados que Bender e seus colegas estivessem sobre o Fenômeno UFO, sempre haveria algo que mesmo as mentes mais abertas não seriam capazes de suportar. A revelação, por exemplo, naquele ano de 1953, de que os governos do mundo, particularmente dos Estados Unidos, mantinham guardada uma nave extraterrestre e cadáveres de seres extraterrestres poderia tirar um homem de seu normal. Ou uma evidência, por mais inverossímil que parecesse a princípio, de que seres de outro planeta teriam disseminado a vida humana há milhões e milhões de anos na Terra, poderia levar um indivíduo a entrar em choque fatal com suas crenças. Daí à sequência de um surto psicótico, com suas devidas alucinações e fobias, não seria um passo muito grande.
Estas são apenas especulações. Mas, como em várias áreas da Ufologia, a especulação é a melhor ferramenta inicial de trabalho. Cabe-nos, porém, não nos contentar com ela nem martelar os dedos na pressa em fixar na parede um quadro que nos agrada. Verdade, ficção ou mal-entendido, o caso dos homens de preto não é uma brisa temporária. Avançou, antes, pelas décadas como um furacão, criando adeptos e detratores, e promete não desaparecer tão cedo. A hipótese que mais se discute hoje é a de que sejam seres extraterrestres provenientes do futuro.