Quando a Ufologia começou, no final dos anos 40, os UFOs eram entendidos como espaçonaves de outros planetas, na maioria das vezes de Marte ou Vênus, que estavam aqui para fazer contato e, a depender de quem se consultasse, para nos invadir. Seus ocupantes, os famosos homenzinhos verdes, não eram muito considerados, embora já houvesse uma concepção, ainda que rudimentar, de seres baixos, magros, com cabeça e olhos grandes.
Um pouco depois, na década de 50, quando começou a onda dos contatados, entraram em cena os extraterrestres altos, loiros, bonitos e de olhos azuis, que seriam provenientes de Vênus para alguns e para outros de um planeta chamado Methária — que orbitaria uma das três estrelas do sistema Alfa Centauro. Os UFOs eram entendidos como sendo mecânicos, metálicos e fisicamente concretos.
Porém, nas décadas seguintes, outros tipos de alienígenas e de objetos voadores não identificados foram sendo acrescentados ao repertório dos pesquisadores e também da população, com o surgimento de naves com formatos variados, de plasma e de outras dimensões. Além disso, toda uma série de modernidades foi incorporada à cultura que se formou, e ainda está se formando, sobre o assunto. A pergunta básica aqui é porque isso aconteceu.
O UFO e a psique
Diversas culturas pelo mundo relataram interações com objetos voadores não identificados em seu passado, e tudo isso entendido como sendo projeções mitológicas dos povos antigos. Mas se essa definição vale para nossos ancestrais, vale também para nós. Seriam os UFOs apenas uma projeção mitológica? O assunto é tão profundo que até o famoso psiquiatra Carl G. Jung aventurou-se a abordá-lo em seu livro Um Mito Moderno sobre Coisas Vistas no Céu [Vozes, 1958]. Para o eminente cientista, os UFOs são físicos e concretos, porém têm também um forte componente psicológico.
Contrastando entre o tangível e o intangível, lidando com fenômenos reais, porém por vezes imateriais, Ufologia e psicologia se tocam de uma forma inesperada, e ambas permanecem cercadas de mistérios. As interações entre UFOs e seres humanos ocorrem há milênios, de acordo com aquilo que estampam os registros de pinturas rupestres e hieróglifos pelo mundo inteiro. Também sabemos que há milênios o ser humano procura conhecer-se e ao universo que o cerca. As crenças no subjetivo, no imaginário e no transcendente permanecem fortemente arraigadas nas culturas do mundo, ainda que muitas vezes sejam traduzidas por meio de religiões.
Em suma, o estudo do transcendente busca compreender o que acontece naquela parte em que as pessoas não podem tocar e que por vezes não sabem distinguir se é ou não real — nela estão inseridos os sonhos, fantasias, alucinações e estados alterados de consciência. Campos de estudo que podem ser facilmente comparados à eletricidade, pois não têm cor ou cheiro e não se pode pegá-los, mas quando se sabe utilizá-los, podem ser muito úteis. Quando mal utilizados, eles podem causar danos imensuráveis.
Ao analisarmos as interações humanas com o Fenômeno UFO, seja por meio de abduções, relatos e pontos em radares, costumamos separar o fenômeno do indivíduo que o vivenciou. Mas se a primeira questão que vem à mente de quem se depara com o fenômeno é se perguntar se aquilo é mesmo real, como relatar credulamente que algo extraordinário lhe aconteceu? Por outro lado, é necessário colher o relato da testemunha, e ele muitas vezes vem carregado de emoções e de diversos outros fatores que influenciam a maneira como irá ocorrer. E ainda temos a reação do entrevistador diante do relato, que é um dos fatores que determinará, ainda que inconscientemente, a forma como o entrevistado irá expor os fatos.
Aspectos da pesquisa
Para garantir maior fidedignidade às respostas do entrevistado, é necessário conhecer suas condições de saúde no momento do contato com o fenômeno. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa é considerada saudável quando é definida como estando em “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”, o que torna o trabalho do pesquisador ainda mais complexo.
Sabemos que o uso de algumas substâncias pode causar efeitos alucinógenos e também é preciso considerar outros fatores que podem contribuir para enriquecer os relatos, como por exemplo a ação da mídia. Nos Estados Unidos pesquisas constataram que após a exibição de filmes com tema ufológico os registros de avistamentos nos telefones de emergência aumentam em até 40%. Além disso, crenças religiosas, vocabulário e experiências de vida interferem significativamente na pesquisa ufológica. Muitos relatos de avistamentos de luzes se transformam em aparições de santos e, a depender da concepção que a testemunha tenha internalizado, seres com vestimenta brilhante e cercados de luz viram anjos. Uma aeronave pode ser descrita como uma carruagem voadora que produzia o barulho de 1.000 trovões.
Mas esse é somente um viés do estudo. Devemos analisar outros dados que também contribuem para a busca de respostas sobre a autenticidade do fenômeno, como fotos, vídeos, registros de radares, implantes, marcas no corpo etc. Muitos desses dados são passíveis de fraudes e de interpretações distorcidas, o que também deve ser levado em conta no processo de pesquisa. E, claro, não podemos nos esquecer do próprio pesquisador. Quais são suas intenções ao pesquisar determinado caso, quais suas crenças sobre o fenômeno e de que maneira suas crenças e experiências interferem ou podem interferir na coleta dos dados. No que o ufólogo acredita, e não apenas em relação ao fenômeno, mas de maneira geral, muitas vezes dirige sua vertente de pesquisa, influenciando diretamente suas conclusões.
A importância do intangível
Particularmente, pensamos que um pesquisador não deve se dar o direito de acreditar, mas partir de uma hipótese sustentada por fatos. E pensamos que também não devemos ter apego às nossas ideias — é importante estar aberto a mudar suas hipóteses se novos fatos mostrarem alguma divergência com a teoria anterior. O ufólogo, assim como o psicólogo, quando entrevista uma testemunha de abdução ou indivíduo que relata ter experimentado interação com um UFO, deve agir com respeito e acolhimento.
Porém, a entrevista da testemunha feita por um ufólogo é diferente daquela feita por um psicólogo — o psicólogo deve analisar e se utilizar de técnicas para compreensão do estado de saúde e principalmente do estado psíquico do indivíduo, e o ufólogo tem como objetivo levantar dados, coletar informações e verificar a autenticidade dos mesmos. Para o profissional da psicologia não deve interessar se o fato ocorreu ou não, mas sim como o indivíduo se sentiu diante dele. O contato com o fenômeno pode alterar as principais crenças de uma pessoa, abalando assim seu alicerce psíquico, podendo resultar em consequências inimagináveis.
Às vezes um sonho do qual sequer nos lembramos tem a capacidade de alterar nosso humor por um dia inteiro. Em outras ocasiões, acordamos assustados, suados e ofegantes no meio da noite sem saber se acreditamos ou não nos fatos que acabamos de sonhar. Também nos abala quando ouvimos o telefone tocar e não há chamadas ou notificações registradas ou quando avistamos uma luz piscar e fazer movimentos improváveis no céu. Fenômenos comuns, que podem ser interpretados como alucinações, incorporações, efeitos colaterais de medicamentos, estresse etc. Às vezes, o mais importante para a pessoa que vivenciou o fenômeno é simplesmente ouvir uma resposta que vá de acordo com as suas crenças.
Crenças, vocabulário e experiências de vida interferem na pesquisa ufológica. Muitos relatos de avistamentos de luzes se transformam em aparições de santos e, a depender da concepção da testemunha, s
eres com vestimenta brilhante e cercados de luz viram anjos
O estudo da Ufologia faz com que algumas perguntas inquietantes comecem a aparecer com mais frequência em nosso dia a dia. O extraordinário, o extranormal, o diferente, aquilo que vai além do comum, todas são expressões modernas para aquilo que cerca os mistérios mais antigos da humanidade. A falta de respostas para as principais questões da vida muitas vezes nos coloca na busca pelo transcendente, que nesse caso nada tem a ver com as religiões.
Mas religiões, por vezes, podem auxiliar como um meio para o processo, mas não necessariamente o são — na verdade, muitas vezes não o são. Assim como a afiliação a alguns partidos e grupos políticos, seitas e religiões costumam servir como desculpas para disfarçar a preguiça de raciocínio. Nesta era da informação, cada vez mais as pessoas preferem informações mastigadas, interpretadas, temperadas e servidas de bandeja, que lhes poupe o trabalho de pesquisar e tirar suas próprias conclusões. A informação, que é algo cumulativo, está sendo confundida com conhecimento, que é seletivo.
O estudo da alma
A busca pela compreensão do transcendente faz com que nos deparemos com questões sobre a nossa própria individualidade, o que implica conhecermos nosso “lado sombra”, compreender a dualidade, identificar o que realmente é ser autêntico. Não é possível conhecer o que está fora sem antes conhecermos o que está dentro. Esse processo demanda tempo, implica na compreensão de nossa pequena, embora importantíssima, contribuição no cosmos. É uma jornada pessoal e imprescindível para aqueles que buscam uma maior compreensão do todo.
Psique em grego significa alma. Como na Ufologia procuramos compreender fenômenos relativos aos UFOs, deveríamos esperar que a psicologia se ocupasse em elucidar fenômenos da alma. Porém, nas últimas décadas o espírito de nosso tempo, essencialmente materialista, tem moldado esse campo para um estudo de comportamentos. Estímulos e respostas testados em ratos são aplicados a seres humanos. O verdadeiro estudo da alma se distanciou dos meios acadêmicos e permanece reservado para poucos. Diversas vezes distorcidos, perfumados e enfeitados, conceitos essenciais que culturas antigas já haviam descoberto sobre curas da alma emergem e despertam interesses nas massas. Um modelo mecanicista e reducionista está sendo adotado não só para compreender os fenômenos a nossa volta, mas também o funcionamento psíquico humano.
Se a frequência e a intensidade de um comportamento estão causando prejuízos para a pessoa ou ao seu meio, o indivíduo é enquadrado em algum diagnóstico e encaminhado para um psiquiatra, provavelmente medicado e estará apto para se tornar uma pessoa normal em tantos meses. A psicologia pode chamar isso do que quiser, mas de estudo da alma, de psicologia, não dá para chamar.
O estudo da alma não busca trazer o homem para uma normalidade saudável, como já explicava o filósofo e educador indiano Krishnamurti: “Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”. O limiar entre a genialidade e a loucura é uma linha tênue. Leonardo Da Vinci, Nicola Tesla, Jung e muitos outros gênios foram julgados loucos pela sociedade de suas épocas. Pensar nisso nos faz concluir que talvez uma certa dose de loucura nos faça bem, às vezes. Mas, voltemos à Ufologia.
A influência do pesquisador
O pesquisador do Fenômeno UFO que realmente acredita em uma teoria tende a induzir dados, tanto na forma de perguntas como por meio de suas reações diante das respostas. O ufólogo e a sua interação com o entrevistado raramente são levados em conta no processo de pesquisa ufológica, mas são de extrema importância. A empatia e o acolhimento do entrevistador são fundamentais para que o entrevistado possa sentir-se à vontade para contar com maior fidedignidade os fatos que com ele aconteceram.
Outro fator de grande importância na Ufologia atual diz respeito à forma como os dados obtidos são propagados. Em uma era narcísica, onde a autopromoção impera, manter as crenças pessoais ocultas das outras pessoas pode soar como uma tarefa árdua. A divulgação de dados na mídia de forma imparcial é praticamente impossível e a maioria acredita que precisa divulgar, além daquilo que encontrou, sua opinião expandida.
A ética e o respeito com as pessoas envolvidas nos casos ufológicos deve ser o fator primordial e o julgamento deve ser resguardado para a análise dos dados. Assim, partimos do princípio de que para se estudar um fenômeno extranormal, devemos primeiramente ter um conhecimento total do que é o normal, e acabamos percebendo que para estudarmos as vidas que existem lá fora, precisamos primeiro conhecer a nossa vida interior.