Frente ao irracional, é natural negá-lo em princípio. Mas a negação não deve ser sistemática e radical, pois a ciência progride pela reconsideração de fatos à primeira vista inassimiláveis. Ninguém tem o direito de repelir, sem motivação, uma interpretação que se enquadra no âmbito do concebível — uma recusa crítica seria uma atitude insensata. Este novo milênio que se inicia nos colocará inevitavelmente frente a novos paradigmas universais. O abandono de estruturas mentais rígidas, que se opõem insistentemente ao incomum, deverá ser o passo para uma nova era de pesquisas. Um pequeno passo rumo à eternidade, mas um passo à frente.
Em linhas gerais, verificamos duas correntes de pensamento distintas. Primeiro, aquelas de mentalidade cientificista, que tudo pretende justificar à luz de uma explicação ou fórmula matemática da natureza, de modo que nada ocorra ao acaso ou segundo os caprichos do Criador. De outro lado estão os místicos, os esotéricos e os fanáticos do paranormal, sempre prontos a abdicar da própria razão, em uma espécie de atitude de entrega devocional ao primeiro forasteiro que aparecer, seja ele um astronauta do outro mundo, um espírito desencarnado ou o último guru recém-chegado da Índia.
Como, então, manter uma postura imparcial, uma vez que os dois extremos mencionados se unem em paradoxal simbiose? Aceitar o mero acaso e a subsequente evolução natural como sendo a causa da existência do nosso universo e da vida na Terra realmente seria abandonar qualquer tentativa de obter uma explicação significativa. Por outro lado, aceitar que um Criador inteligente esteja por trás de tudo que vemos conduziria a ciência ao seu fim, impedida por uma barreira impenetrável rotulada de “foi ele quem fez”.
Tradicionalmente, somente as religiões e as escolas humanísticas valorizaram a vida humana além da sobrevivência física. As ciências, prisioneiras dos conceitos impostos pela física e pelo realismo materialista, têm sido as sereias tentadoras do ceticismo. Toda experiência de abstração ameaça nosso senso de realidade e, no entender de John Schwartz, físico do Instituto de Tecnologia da Califórnia, “envolve questões filosóficas que os cientistas muitas vezes evitam”. Em vez de suprimir a pesquisa, a Bíblia incentiva a busca de respostas tanto para assuntos científicos como espirituais. Em Jó, capítulo 38, versículo 18, o Criador pergunta ao patriarca: “Consideraste inteligentemente os espaços amplos da terra?” Tal afirmação não sugere nenhuma supressão de pesquisa e investigação. Ao contrário, o mestre faz um convite para que estudemos suas obras.
Ainda limitados na capacidade de compreensão sobre nossa origem sobre a Terra, mais difícil torna-se o entendimento do processo de formação dos mundos e a gênese da vida. Diversos cientistas com sólidas credenciais não aceitam a ideia de que somente a seleção natural — conforme apresentada por Charles Darwin (1809-1882) há cerca de 150 anos — seja a única responsável pela enorme quantidade de espécies que vemos sobre a Terra. Há mais de 500 milhões de anos, um fenômeno tão poderoso e misterioso quanto o Big Bang deixou seus registros fósseis. Ele revela uma súbita expansão da diversidade e da complexidade nas formas primitivas de vida. Foi a Explosão Cambriana. Ao final dela, a vida na Terra passou a ser dominada por animais e plantas como hoje os reconhecemos.
É compreensível que alguns cientistas que estudam a origem da vida concluam que ela é complexa demais para despontar mesmo num sofisticado laboratório, muito menos em um ambiente sem controle como a Terra de outrora. Pergunta-se, então, se é possível existir projeto sem projetista? O astrônomo britânico Sir Fred Hoyle (1915-2001) diz: “Em vez de aceitar a fantasticamente pequena probabilidade de a vida ter surgido por meio das forças cegas da natureza, parecia melhor supor que a origem da vida foi um ato intelectual voluntário”.
O que permanece invisível
Muitas pessoas razoáveis aceitam a existência de coisas que ainda não podem ver. A observação indireta, a fórmula matemática e a teoria racional formam a base adequada para os cientistas aceitarem o que ainda permanece invisível. Temos como exemplos a descoberta de planetas orbitando estrelas vizinhas e os buracos negros. Vem daí que muitos dos que creem em um Criador concluem que têm base similar para aceitar a existência do que não podem enxergar.