\”Vibhishana chegou com o carro aéreo, que parecia uma montanha, e disse: ‘Entrai a bordo, ele está aqui’. Quando todos se achavam a bordo, o imenso carro alçou vôo com o estalar de fogos de artifício e cataratas. Em seguida, silenciosamente, quando já subira a uma boa altura, virou-se para o norte, descrevendo ampla curva ascendente”. Essa curiosa descrição de uma viagem num disco voador poderia se encaixar perfeitamente em centenas de relatos modernos de experiências de seres humanos com ETs. No entanto, esse é um trecho da obra épica hindu Ramayana, que tem mais 8 mil anos. Ele é apenas um exemplo de como a humanidade terrestre tem convivido com seres de outros pontos do universo ao longo de sua existência. E entre os povos da Terra que têm mais consciência disso está, justamente, o hindu, cujas tradições religiosas e históricas descrevem os UFOs como vimanas.
No Brasil, uma das maiores autoridades em hinduísmo é o maharaja Chandramukha Swami, profundo estudioso da cultura védica que representa em sua religião – a Vaishnava, que a maioria das pessoas identifica como Hare Krishna – praticamente o mesmo que um bispo representa para a Igreja Católica. Chandramukha Swami atua na comunidade Vrajabhumi, situada no município de Teresópolis, na região das serras cariocas, estando instalada num vale onde os adeptos e simpatizantes da filosofia Vaishnava podem participar de cerimônias, palestras, cultos e ritos em meio a uma paisagem paradisíaca. Ele recebeu nosso enviado, o consultor João Oliveira, para uma longa entrevista, em que fala abertamente de objetos voadores não identificados e seres extraterrestres. “O maharaja é uma pessoa de grande cultura e sabedoria, e ainda assim simples e acolhedora. Ele tem profundos ensinamentos sobre nosso relacionamento com ETs no passado”, relatou Oliveira, que também é comunicólogo, publicitário e graduando de psicologia em Campos dos Goitacazes (RJ). Vamos à entrevista.
Maharaja, o que é o hinduísmo e como ele funciona no Brasil? O termo hinduísmo não é encontrado na literatura védica, por ser mais recente. A história nos conta que existia um rio chamado Sindhu, que dividia a antiga Pérsia da Índia, e os persas que tentavam pronunciar seu nome, quando não conseguiam, falavam hindu. Por isso, começaram a chamar os povos do lado de lá daquele rio de hindus. Hoje em dia, o que se chama de hinduísmo é um complexo religioso, pois a literatura védica é muito profunda e reconhece diferentes níveis de consciência dos seres humanos – além de diferentes tipos de caminhos espirituais que cada um tem a capacidade de seguir. Existe uma divisão muito grande de opções religiosas para que uma pessoa vá gradativamente se elevando, até chegar no nível de perfeição que é o amor a Deus, a prática mais elevada. Existem três caminhos: Karma, Jnana e Bhakti.
O Romayana é repleto de referências a UFOs, como \’…e de Brahma ele recebeu o imenso carro aéreo, que era movido pelo pensamento e capaz de voar com cavalos ou sem eles, do tamanho de uma cidadezinha e coberto de flores\’
Poderia nos descrever como são esses caminhos? Karma é o caminho da motivação material, mas também religiosa, no qual a pessoa se aproxima de Deus ou de seus agentes – os semideuses – em troca de benefícios materiais. Na Índia você encontra adoração a Kali, Shiva e a Ganesha em diferentes templos, praticada por adoradores que já têm com tais entidades uma relação e aceitam sua autoridade superior. Eles passam a ter um intercâmbio e recebem deles opulências materiais. É depois disso – e muitas vezes esse processo pode durar várias vidas – que a pessoa chega ao segundo estágio, Jnana. Nesse ponto a pessoa já não está mais interessada em benefícios materiais, grosseiros, mas sim em conhecimento espiritual, que é justamente a Jnana. Existem outros caminhos para se chegar lá, com austeridade, penitências, meditação e sacrifícios. A fase final é Bhakti, também conhecida como Prema ou o amor a Deus. Neste ponto a pessoa tem um caminho ligado diretamente à adoração a Deus, quando a renúncia e o desapego às coisas grosseiras, se tornam algo natural.
E como esse processo se reflete no movimento Hare Krishna? Bem, são várias as formas e os processos disponíveis, e todas elas misturadas passam a ser chamadas de hinduísmo. Já o movimento Hare Krishna está ligado a este último caminho, Bhakti, a parte da devoção amorosa a Deus, numa visão politeísta. Existem na cultura védica os semideuses, como os Devas, que são agentes de Deus com funções específicas. Também temos Surya (o deus do Sol), Indra (da chuva) e Vayo (do vento), e assim por diante. São todos agentes de Deus.
Como podemos saber quando buscar a Deus ou a um semideus? Mesmo que uma pessoa tenha desejos materiais a serem satisfeitos – e isso é normal – ela pode tentar atingi-los buscando a Deus. Por exemplo, uma criança, na medida em que se desenvolve e cresce, começa a pedir coisas para o pai, que vai achar o fato interessante e até apreciar, pois isso faz parte do avanço natural da criança. Porém, chegará um momento em que a criança cresce a tal ponto que não tem mais que pedir, e sim servir. Ela desenvolverá com o pai uma amizade e depois ela o servirá. Existe um estágio em que você é motivado materialmente a inverter sua posição, quando Deus passa a ser um servo e as pessoas vão à igreja com uma lista de coisas que gostariam que Ele lhes desse. Há muitas religiões que colocam as coisas justamente assim, sendo Deus meramente como um supridor de seus desejos. Mas na verdade, como crianças, se formos filhos mais maduros e evoluídos, vamos também nos preocupar com o pai e ver o que ele precisa. E ele quer que tenhamos esse relacionamento de amor, para que também possamos ajudá-lo a distribuir esse conhecimento espiritual e alertar outros filhos. Essa é a nossa função.
Na literatura védica existem casos de observações de objetos voadores não identificados, assim como é freqüentemente citada a existência de outros planetas e criaturas vivendo neles. Fale-nos um pouco sobre isso. No conceito da cosmologia védica, nosso universo material, embora muito grande, é limitado. Temos uma divisão entre planetas superiores, que são chamados de celestiais, os intermediários – dos quais a Terra faz parte –, e os inferiores, chamados de infernais. Nos planetas superiores vivem os Devas, que são seres muitos qualificados e têm nível de consciência superior. Nos inferiores existem os Asuras, seres que agem sob influência de uma natureza demoníaca, nefasta. E nos intermediários, como o nosso planeta, há um meio-termo, uma paixão material. Assim, embaixo há a ignorância, acima está a bondade e aqui predomina a paixão.
Como a Terra se situa ante os planetas superiores e os inferiores? Os planetas ditos intermediários, como a Terra, são sempre visados pelos Devas e pelos Asuras. Todos a desejam, assim como outros mundos intermediários, e há uma forte competição. A literatura védica, que remonta há milhões de anos, traz muitas histórias sobre tal disputa. Os Puranas, escribas que contam as histórias mais antigas da tradição védica, deixam claro que essa luta entre os demoníacos Asuras e os Devas sempre aconteceu – e ambos sempre tentaram conquistar a Terra, porque ela é um lugar positivo, agradável e cheio de recursos naturais. Em outras eras – hoje estamos na era Kali, que começou há 5 mil anos – os semideuses e os humanos viviam numa grande comunhão e havia um intercâmbio de visitas entre seus mundos. Naquelas épocas, os humanos eram mais qualificados, detinham poderes místicos e viajavam através de naves chamadas vimanas, que não eram grosseiras, mas feitas de elementos sutis. Mana significa mente e a palavra vimana quer dizer “nave de elemento refinado e sutil, quase mental”.
A humanidade terrestre convivia com outras civilizações? Sim, os seres humanos tinham acesso aos planetas celestiais quando executavam atividades piedosas, que chamamos Punya ou Sukrti. Quando acumulavam tais qualidades, eles eram premiados com visitas aos mundos superiores. Por sua vez, os semideuses também visitavam a Terra para poder não somente transmitirem conhecimento e uma tecnologia espiritual, mas também para se associarem com os sábios de nosso mundo, da mesma forma que, em planetas inferiores, outros seres faziam visitas exploratórias – é a prática dual do explorar ou servir, ou se faz uma coisa ou outra. Os que vivem em planetas inferiores querem explorar, e os que vivem nos superiores querem servir. Essa realidade sempre existiu. Por exemplo, quando Krishna veio à Terra, há 5 mil anos, a situação era exatamente essa. Em nosso planeta havia, naquela época, uma deidade chamada Bhumi, muito pesarosa. Os reis que governavam a Terra eram demoníacos e faziam de tudo para destruir seus recursos, quando então Bhumi se aproximou de um dos seres mais elevados da hierarquia celeste – Brahma – e, juntamente com outros semideuses, orou e pediu ajuda.
E o que aconteceu a partir daí, então? Brahma ouviu as preces de Bhumi e conduziu seu pedido a Deus, Vishnu, que tomou providências. Segundo as traduções védicas, Vishnu teria mandado uma mensagem à Terra, de que viria até aqui para dar proteção aos seus habitantes. Disse também que todos os semideuses deveriam nascer em nosso planeta para ajudá-lo na missão de proteger seus habitantes bem-intencionados e remover os elementos perturbadores. Remover significava matar tais elementos, só que, como a alma é eterna, eles apenas abandonariam seus corpos terrenos e seriam transferidos para planetas infernais. Essa batalha entre o bem e o mal ocorreu com a ajuda dos semideuses, que vieram à Terra e participaram desse processo. Existe um diálogo muito famoso no Baghavad Gità, que descreve o que teria acontecido alguns minutos antes desse conflito devastador, que acabou sendo chamado de Batalha de Kuruksetra.
Foram utilizadas naves espaciais nesta batalha? Sim. Eram armas as quais nós não tínhamos acesso e mesmo hoje não podemos entender, artefatos com poderes completamente sobrenaturais. Por exemplo, a Bramastra, que significa arma espiritual, era na verdade um dispositivo lançado contra as pessoas, com grande poder de destruição. Muitos semideuses participaram do conflito.
Essa batalha é relatada nas escrituras védicas. Mas também está lá que os semideuses chegavam à Terra em naves espaciais? Sim. Para nós, que estudamos os Puranas e o Srimad Baghavatam, esse é um assunto completamente aceito e não nos surpreende. Para quem conhece as tradições védicas, a vinda de naves com semideuses ao nosso planeta é assunto quase banal. Assim como nós temos nossos veículos e os usamos para visitar alguém, seres superiores que faziam o mesmo no passado – ainda fazem. Eles têm seus veículos, só que não são iguais aos nossos, pois não possuem a mesma tecnologia limitada que possuímos na Terra. Seus veículos são muito superiores, até porque as distâncias que eles precisam percorrer são muito maiores. Há centenas de histórias relatadas na literatura nas quais se descreve como os sábios que viviam noutros planetas se valiam de seus veículos para nos visitar.
Interessante. Não há também uma história nas tradições hindus em que um semideus viria voando em sua nave e, passando sobre uma casa, teria visto um cidadão com sua esposa e resolvera roubar-lhe a mulher Sim, existe um relato assim. Há até histórias mais curiosas, como aquela que descreve que um ser caiu de sua nave porque ficou contemplando uma mulher terrena. Isso está nos livros hindus de milhares de anos de idade.
O que é Garuda? Garuda é uma palavra feminina. É o transportador de Vishnu, que tem a aparência de uma águia, rosto de águia e corpo de ser humano. Garuda é também considerada um Deva ou ser divino. Assim como Brahma é transportado por um cisne e Shiva por um touro, todos os semideuses têm um veículo. Alguns dizem que são naves, outros têm a tendência de projetar sua experiência ao formato desses transportadores, vendo-os como aviões ou pássaros. Mas o fato é que são seres que têm uma consciência pessoal, porque inclusive nas escrituras védicas eles conversam entre si e dão até instruções espirituais.
As vimanas eram reluzentes e poderosas, mas acercar-lhes significava grande perigo. O prudente era esperar autorização de seus vistosos proprietários. Muitos de nós eram levados por eles para conhecer as belezas celestiais
O senhor quer dizer que além de veículos as Garudas são seres vivos com consciência? Sim, com consciência completa. Essas naves são uma espécie de seres vivos que transportam os semideuses.
No decorrer dos últimos 5 mil anos de história ainda é possível que tenha havido a manifestação destes objetos de transporte em nosso planeta ? Certamente. O problema é que hoje o mundo está muito conturbado e as pessoas são muito ignorantes. Por isso, as naves têm que se camuflar em suas ações na Terra, pois pode lhes acontecer de tudo se não o fizerem. E também, esse não é um momento tão importante para os semideuses. Estamos num “subperíodo” que teria começado há 10 mil anos, muito positivo e auspicioso do ponto de vista espiritual, embora também seja o final de uma era muito complicada. Este é um momento em que o divino e o demoníaco estão muito presentes e já começam a aparecer com mais regularidade. Quem sabe daqui a algum tempo, quando a natureza divina se manifestar, sua presença vai ser mais sentida. Até porque, nesse estágio teremos uma compreensão melhor de nossa condição e saberemos lidar com ela. Mas também haverá na Terra a presença de seres mal-intencionados. Nosso guru Prabhupada nos fala que muitos viriam de dentro da Terra e não seriam evoluídos, muito pelo contrário. E outros viriam de planetas superiores.
Outra questão intrigante sobre os seres que visitaram a Terra no passado, descrita em certas fontes bibliográficas, diz respeito ao tempo. Parece que o tempo para esses seres não tinha o mesmo sentido que tem para nós. É como se os nossos últimos 5 mil anos pudessem ter sido apenas algumas horas para eles. É verdade. E há outro exemplo desse fenômeno, que se dá quando uma pessoa entra em coma. Ela pode ficar nesse estado por muito tempo, mas o que acontece é que, quando isso ocorre, seu Karma não está definido. Ela pode permanecer assim, sem definição, porque a dimensão em que sua consciência está é outra. Da mesma forma, o tempo nos planetas celestiais é muito mais longo do que nos intermediários, como o nosso, assim como o dos planetas infernais também é diferente. Há insetos que vivem apenas algumas horas aqui na Terra e sua sensação é de uma vida inteira.
Quantos universos existem de acordo com a literatura védica? Uma infinidade, qualquer coisa sem número. Não é possível contar. E, incontáveis, eles saem dos poros de Vishnu, o Deus. Quando ele exala ar, os universos se manifestam. Quando ele inspira, eles são aniquilados. Só que a duração disso é inconcebível para nós.
O senhor diria que a literatura védica e a física quântica estão muito próximas? A física quântica é um aspecto da filosofia védica. Um aspecto chamado Sankya, ligado à ciência védica. Quando nosso mestre espiritual Prabhupada esteve aqui na Terra, entre nós, ele escreveu um livro muito interessante, A Vida Vem da Vida, no qual trata minuciosamente de ciência – que naquela época era muito materialista. Mas de 30 anos para cá isso mudou muito e a ciência já está bastante espiritualizada. Lógico, há sempre uma linha cética em seu meio, mas ela está se abrindo. Quando houver uma combinação da ciência material com o processo crescente de obter conhecimento empírico – descendente da literatura védica –, e a comprovação de certas realidades, teremos um momento especial em nossa história. Essa ponte entre Ocidente e Oriente, cada dia mais forte, é o que há de mais importante para nós. É o que realmente está criando uma revolução.
O senhor diria que a literatura védica é algo mais subjetivo e introspectivo ou mais físico e científico. Os livros védicos podem ser considerados científicos? Existem inúmeros livros védicos, sobre todos os assuntos. Há os que são bem objetivos e científicos, pés-no-chão mesmo e até com uma visão material prática e pragmática das coisas. E há os que têm um aspecto completamente sutil e refinado, que tratam de espiritualidade pura. Lembre-se, Veda significa conhecimento, e sabemos que há todo tipo de conhecimento na literatura hindu – política, direito, cosmologia, astronomia, astrologia etc.
Mas a literatura védica fala de universos interdimensionais muito antes da ciência tradicional. Como isso é possível? Sim, porque essa é uma realidade e tudo que é real você encontra nos Vedas. Assim como você pode se tornar um iogue, manter seu corpo aqui e viajar para outros planetas em espírito, sem naves. Isso é possível através do Yoga, embora não recomendável, por estar a situação externa desfavorável para tal prática. Porém, em outras eras os iogues se valiam de poderes místicos, viajavam a diferentes planetas, voltavam e seus corpos estavam onde os haviam deixado, tranqüilos.
O senhor disse que podemos ser visitados por seres superiores e inferiores, mas existe alguma forma de sabermos como reconhecê-los a distância? O problema é que eles se disfarçam [Risos], pois querem se passar por divinos. Essa é uma característica que todos os seres neste mundo material têm – pelo menos os humanos e os inferiores. Os superiores não têm esse problema. Por isso não podemos ficar só presos a conceitos e devemos buscar um conhecimento referencial. Se você tem o conhecimento védico, tem o entendimento da verdade. Então, se um ser aparece a sua frente, o fato dele vir de outros planetas não importa. Se ele está agindo de acordo com o conhecimento védico, isso sim é que importa – e nesse caso ele é bem-vindo. Agora, é interessante que você tenha acesso ao Baghavad Gità, que é uma forma de contato direto com Deus. Você não precisa ter contato com outros seres intermediários. Vishnu veio à Terra há 5 mil anos e deixou todos os seus ensinamentos num livro, e este livro não é diferente dele. O contato com essa literatura é o contato direto com o Ser mais elevado do mundo espiritual, que nem é dos planetas celestiais, mas mais além. Esse contato direto podemos ter através do Baghavad Gità.
Os meios de transporte mais comuns eram o cavalo e os carros puxados por cavalos. Mas havia também carros aéreos de vários tamanhos, como o Pushpaka Vimana, que era grande como uma cidade e dirigido com a força da mente
Então não há duvidas quanto à existência de vida em outros planetas, de acordo com a literatura hindu. Mas quem sou eu e quem é o senhor, de acordo com tais tradições? Você é uma alma infinitesimal. Você não é fulano, você está fulano. Você esteve outras coisas antes e poderá estar novas coisas nas próximas vidas. Mas vive dentro de seu corpo, um Jivatma ou alma infinitesimal. Deus é Paramatma, a alma infinita. O que significa isso? Significa que você está dentro só deste corpo, não está dentro do meu corpo nem dentro do corpo de ninguém mais, e cada um de nós tem essa característica, que é estar limitado ao seu corpo e ter sua consciência limitada à sua atual condição.