Talvez ainda seja do conhecimento de poucos que vários governos do mundo estabeleceram nas últimas décadas organismos oficiais de pesquisas ufológicas, ora totalmente militares, ora mistos e compostos tanto por militares quanto civis. Este é o caso de praticamente todas as entidades do gênero criadas na América do Sul desde que surgiu a Era Moderna dos Discos Voadores, no final dos anos 40. Somente em nosso continente existem em atividade regular ou com alguma paralisação, hoje, pelo menos seis órgãos dedicados à investigação oficial do Fenômeno UFO, fundados entre 1979 e 2010. As duas mais antigas entidades são justamente as que têm o maior volume de atividade: a uruguaia Comissão Receptadora e Investigadora de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (Cridovni), criada em 1979, e a chilena Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA), de 1997.
Em 2011, a Revista UFO foi até Montevidéu conversar com o comandante da Cridovni, o coronel Ariel Sánchez [Que também é consultor da Revista UFO], o que resultou na longa entrevista publicada em nossas edições 185 e 186, O Uruguai é um dos Poucos Países que Admitem Investigar UFOs Oficialmente. No texto da seção Diálogo Aberto de ambas as edições se dizia que o exemplo uruguaio deveria ser levado em consideração por todas as nações onde existam militares dispostos a realizar um tratamento imparcial, sério e dedicado da presença alienígena na Terra. Mais recentemente, em 2012, este editor e o coeditor Francisco Pires de Campos fizeram o mesmo trabalho entrevistando o diretor do CEFAA, em Santiago, o general Ricardo Bermúdez, que, como seu colega uruguaio, está à frente de um grupo de especialistas civis e militares em várias disciplinas, que vão da física à psicologia, para analisar ocorrências ufológicas.
Pensamento oficial sobre UFOs
O objetivo da publicação em fazer entrevistas com militares a cargo de entidades oficiais de pesquisas de discos voadores — que vários deles chamam de “fenômenos aéreos anômalos” — fica óbvio de partida. O que se busca é mostrar como pensam sobre o Fenômeno UFO homens de farda que realizam seu trabalho investigativo como parte de sua função militar, ao mesmo tempo em que expomos à Comunidade Ufológica Brasileira a forma como atuam em seus procedimentos, para que nossos ufólogos civis possam entender um pouco mais da complexidade do tema e como abordá-lo. O “efeito colateral” disso, digamos assim, é também mostrar aos nossos militares interessados pela questão que a investigação oficial do tema é tarefa rotineira em vários países, como forma de estimulá-los a implementar o mesmo processo aqui.
O Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA) talvez seja, hoje, o exemplo mais completo que qualquer nação poderia ter, porque, além de seguir uma criteriosa metodologia de investigação científica do Fenômeno UFO, o faz de maneira absolutamente transparente, inclusive contando com um site em que são apresentados aos visitantes detalhes que poucas vezes se veem em pesquisas ufológicas. No endereço www.cefaa.cl o leitor encontrará reproduções de conversas de rádio entre pilotos em voo e torres de controle relatando avistamentos, assim como vídeos, fotos e suas análises, e ainda — pasmem — resultados de exames laboratoriais de evidências ufológicas. “Aqui no Chile temos a Lei da Transparência e a levamos muito a sério. Tudo aquilo que apuramos sobre casos de UFOs no país vai para nosso site para que a sociedade tenha conhecimento imediato”, diz o general Bermúdez.
Volume de informações
Suas palavras podem ser tomadas literalmente. Durante as mais de três horas de entrevista que este editor e o coeditor Pires de Campos fizeram com o militar, ele não evitou qualquer pergunta e não hesitou em apresentar um volume surpreendente de informações. Sempre acompanhado de seu braço direito e número dois no CEFAA, o ex-controlador de tráfego aéreo Gustavo Rodríguez, o general Bermúdez explicou em detalhes como são feitas as investigações de casos de discos voadores no país, preferindo, naturalmente, usar o termo análogo acima descrito. “Até que saibamos exatamente a origem deste fenômeno, preferimos chamá-lo de anomalias aeroespaciais”, diz cauteloso. A entidade que comanda está dentro da estrutura aeronáutica de seu país, precisamente subordinada à Diretoria Geral de Aviação Civil (DGAC), que, em última instância, está na composição da Força Aérea Chilena (FACH).
Aqui no Chile temos a Lei da Transparência e a levamos muito a sério. Tudo aquilo que apuramos sobre casos de UFOs no país vai para nosso site para que a sociedade tenha conhecimento imediato. Não guardamos nenhum arquivo secreto.
O CEFAA, seu diretor e integrantes são os grandes responsáveis por fazerem do Chile o país mais vanguardista do mundo no tocante à presença alienígena na Terra, não somente admitindo sua manifestação, como também auxiliando a população a entender o que são os tais “fenômenos aéreos anômalos”. A instituição funciona em um anexo do Museu da Aeronáutica Chilena, em área militar, e em 2012 deu um passo significativo para a história da Ufologia Mundial. Durante a concorrida Feira Internacional do Ar e do Espaço (FIDAE), ocorrida na capital do país de 27 de março a 01 abril, a organização protagonizou um importante marco ao compor com sua congênere uruguaia Comissão Receptadora e Investigadora de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (Cridovni) o primeiro acordo de cooperação internacional para tratamento do Fenômeno UFO.
Parcerias que crescem
O termo foi assinado pelo general Bermúdez e pelo coronel Sánchez em solenidade que contou com ampla cobertura da imprensa. Nunca se viu nada assim na história da Ufologia Mundial. Mas o CEFAA não ficou por aí. Em julho deste ano, a entidade também estabeleceu parceria com o Grupo de Estudo e Informação sobre Fenômenos Aéreos Não Identificados (GEIPAN), seu congênere francês, identicamente com o objetivo de promover novas investigações. Desta vez, representantes dos dois organismos se encontraram nos Estados Unidos e chegaram à conclusão de que uma cooperação seria benéfica para ambos. O fato foi comemorado até pela jornalista Leslie Kean, consultora da Revista UFO e autora de UFOs: Militares, Pilotos e o Governo Abrem o Jogo [Ideia, 2011], que saudou o anúncio desta forma: “Um acordo oficial para a pesquisa de fenômenos aéreos não identificados entre Europa e América do Sul é um grande passo. Agora precisamos que os Estados Unidos também colaborem com esse esforço”. Assim, Chile, Uruguai e França — justamente países pioneiros na pesquisa ufológica oficial no mundo —, estão unidos por laços de parceria para troca de informações sobre casos de relevância, intercâmbio sobre metodologias de pesquisa e análise conjunta de manifestações.
Na entrevista realizada com o general Ricardo Bermúdez, em 2012, a parceria com o GEIPAN ainda não havia sido concretizada, razão pela qual não é tratada neste texto, mas apenas a aliança com o Uruguai. O militar, apesar de nunca ter vivido um avistamento, diz se interessar pelo assunto desde cedo em sua carreira militar. “Quando fui diretor da Escola Técnica da Aeronáutica, me juntei ao professor Gustavo Rodríguez para dar mais vida ao tema. Não tínhamos dedicação exclusiva, mas formamos um grupo de pesquisa que foi reativado em 2010”, conta. Rigoroso em seus métodos, ele só diz acreditar naquilo que apresenta evidências claras, afirma que o fenômeno existe e apresenta características semelhantes em todas as partes do mundo. Nesta entrevista, o general Ricardo Bermúdez discorre, entre outros tópicos, sobre os principais termos e expectativas com relação ao acordo firmado com a entidade uruguaia — que se estima valerem também para a aliança com os franceses — e revela suas perspectivas para o futuro da Ufologia não só na América do Sul, como também em todo o mundo.
Troca de informações
O que significa para o Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA), em termos práticos, o acordo que foi assinado com a Cridovni, do Uruguai?
Significa colocar em forma protocolar o que já estávamos fazendo antes. Estamos trabalhando com a Comissão Receptadora e Investigadora de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (Cridovni) há muitos anos, especialmente no que diz respeito a seus procedimentos. Como eles foram a primeira entidade oficial de pesquisa ufológica do continente a ser criada, em alguns momentos seguimos seus métodos de trabalho. Eles também nos ajudaram para que pudéssemos implementar nossa própria conduta de estudo. Com o estabelecimento dessa aliança, esperamos realizar um intercâmbio de dados e materiais de investigação, além de promover atividades em conjunto. Ninguém é dono da verdade no que diz respeito ao Fenômeno UFO. É necessária a cooperação internacional para obter esclarecimentos.
Há algum episódio que já esteja sendo pesquisado em conjunto pela sua entidade e a uruguaia?
Sim, há um interessante. Como se sabe, aqui no Chile, a cada quatro anos é empossado um novo comandante da Aeronáutica. E na última vez que isso ocorreu, em 2010, estavam presentes na cerimônia o presidente Sebástian Piñera, o ministro da Defesa e outras autoridades, quando passaram os aviões Falcão sobre os presentes, como parte dos festejos. No momento que os caças riscaram o céu, surgiu ali um objeto voador não identificado. Ele executou uma trajetória interceptando o voo dos jatos, saindo e voltando a se colocar em frente deles outra vez. Depois vieram os F-5 e os F-16 e o artefato voltou à cena. Nosso Comitê está estudando as imagens obtidas por pessoas independentes naquela hora. Sabemos que em algumas ocorrências do gênero é comum que se tratem de pássaros ou de insetos, mas alguns de nossos assessores externos têm a opinião de que o evento precisa ser mais bem esclarecido. Também costumamos enviar material para o exterior e fazemos consultas ao doutor Richard Haines [Entrevistado de UFO 168, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], especialista em casos aeronáuticos, entre outros. Nossa delegação técnica é composta de membros de universidades — cientistas e até céticos — e das Forças Armadas Chilenas. Temos hipóteses sobre o assunto, mas ainda não chegamos a uma conclusão.
Vocês tentarão fazer acordos semelhantes com países que já tenham organizações oficiais ou civis de pesquisas ufológicas?
Sim, já temos acordo com o Centro Aeronáutico Nacional de Registros de Fenômenos Anômalos [National Aviation Reporting Center on Anomalous Phenomena, Narcap], dos Estados Unidos, e vamos assinar um acordo com o Grupo de Estudos e Informação de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados [Groupement d’Etude et Information des Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés, GEPAN], da França. Com esta última Comissão pretendemos realizar uma intensa troca de informações, pois há no país uma boa equipe de cientistas e de pessoas que se dedicam ao estudo dos objetos voadores não identificados, há muitos anos. Também queremos firmar convênios com outras forças aéreas das Américas, a fim de podermos formar uma base de dados que nos permita esclarecer os fatos. Nesse momento temos contato com 15 países e chegamos à conclusão de que os acontecimentos se apresentam em todo o planeta com características similares.
Contatos oficiais
Além dessas iniciativas, o CEFAA parece ter planos para levar o tema ufológico para a Organização das Nações Unidas (ONU), é verdade?
Sim. Em minha última conferência no Congresso Internacional de Ufologia, em Phoenix, nos Estados Unidos, em 2011, apresentei uma moção propondo a criação de um órgão ou seção para a averiguação de casos ufológicos no Departamento para o Espaço Exterior da Organização das Nações Unidas (ONU). Na época eu não sabia, mas um documento parecido havia sido apresentado na década de 70 ao órgão, propondo essencialmente a mesma coisa. Mas, na ocasião, ele infelizmente acabou não sendo votado e o assunto morreu lá. Lee Spiegel, que escreve para o Washington Post, trabalhou na proposta feita no passado e gostou tanto de nossa nova proposição que vai resgatar a moção antiga para apresentá-la novamente.
Parece-me que a República San Marino, através do ufólogo pioneiro Roberto Pinotti, também tem uma moção como essa. Ele vai unir forças com vocês? E com outros países?
Falamos com Pinotti e pretendemos fazer um acordo com sua entidade, o Centro Ufologico Nazionale (CUN). Estivemos em contato também com entidades e ufólogos da Inglaterra, por meio de Nick Pope, mas ele já não está mais trabalhando no Ministério da Defesa daquele país, o que facilitaria as coisas [Ambos Pinotti e Pope são consultores da Revista UFO]. Como se sabe, Pope dirigiu o UFO Desk daquele Ministério. Conversamos igualmente com autoridades do México e com o jornalista Jaime Maussán, mas eles não têm uma representação ufológica oficial, e estamos buscando alianças com outros países e também com comitês sérios que possam ter respaldo científico. Queremos privilegiar os contatos oficiais com os governos que tenham um departamento de investigação e órgãos civis comprometidos como a pesquisa do Fenômeno UFO, como a Nova Zelândia, onde há um grupo de controladores de tráfego aéreo que pesquisa os avistamentos, o que nos parece bastante importante. Fazemos também um intercâmbio de ocorrências com uma biblioteca da Suécia. Enfim, queremos contatos e intercâmbio com entidades sérias.
Em minha conferência no Congresso Internacional de Ufologia, em 2011, apresentei uma moção propondo a criação de um órgão para a averiguação de casos ufológicos no Departamento para o Espaço Exterior da Organização das Nações Unidas (ONU).
Entendo, mas como vocês definem quais são estas entidades ditas sérias?
Primeiro, optamos por aquelas que se identifiquem abertamente e digam quem são, o que fazem e quais são as especialidades de seus integrantes. Segundo, que estudem de forma concreta e objetiva o material que estão apresentando. Terceiro, que possam provar o que falam e que não afirmem que seres extraterrestres existem e que estão nos visitando simplesmente “porque sim”. Não somos contra essa posição — ao contrário, pensamos que é uma das possibilidades —, mas é preciso ter provas científicas sustentáveis para tratar dela com a sociedade. A meu ver, assim como não podemos dizer que extraterrestres não existem, também não podemos dizer que existem, pois não há evidências que nos permitam afirmar isso. Contudo, podemos citar alguns casos e projetos, como o Comitê Cometa, da França, que chegou à conclusão de que o fenômeno ocorre em todo o mundo, apresenta um comportamento aparentemente inteligente e que a tecnologia envolvida com os objetos voadores não é de nosso conhecimento atual — mas isso não quer dizer que seja necessariamente alienígena. Estamos de acordo com o Cometa quanto a isso [O Comitê Cometa resultou no Dossiê Cometa, traduzido e lançado no Brasil em forma de livro pela Biblioteca UFO, sob código LIV-021. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br].
Mas quando se fala em entidades sérias de pesquisa ufológica há um grande problema, pois em quase todas as instituições encontramos pessoas que estão mais à frente, desenvolvendo um bom trabalho, enquanto às vezes também há nelas grupos que não são tão sérios. É possível que o CEFAA encontre isso pela frente?
Sim, é possível. Mas para formalizarmos acordos nós antes observamos nestas entidades, em primeiro lugar, o nível educacional que seus investigadores apresentam. Um grande número deles — 90% ou mais — não possui nenhuma qualificação profissional. São, em geral, pessoas aficionadas por discos voadores e nesses casos qualquer coisa pode acontecer. Os pesquisadores precisam aprender a se unir àquelas organizações que realmente têm conhecimento científico e que seguem uma metodologia. A maioria dos envolvidos não está alinhada a nenhum método, o que é ruim. Não sou contra isso e, aliás, muitos vivem disso de maneira honesta, inclusive ganhando a vida assim. Não há problema. Mas o Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA) busca outro tipo de parceria. Aqui no Chile creio que não temos muitos problemas. Claro que há discrepâncias com as opiniões de ufólogos civis e é assim que tem que ser, pois isso é enriquecedor.
Não somos donos da verdade.
A estrutura do Comitê
Como a entidade trabalha, de que estrutura dispõe e qual é sua capacidade de realização?
Temos como missão averiguar as atividades insólitas que ocorrem dentro de nosso espaço aéreo e analisar de que maneira elas podem interferir na aviação civil e militar. Nossas principais fontes de informações são, em primeiro lugar, os pilotos e os controladores de voo. Temos também as comunicações e os relatórios que recebemos quando algo anormal acontece em alguma cidade. Tomamos conhecimento dos fatos através de nosso sistema de controle de tráfego aéreo, que ocupa cerca de 31 milhões de km2. São informações muito boas e fidedignas, pois pilotos relatam tecnicamente aquilo que veem. E os controladores de voo, que estão em terra, também têm informações técnicas sobre as detecções. Este é um trabalho em equipe e em tempo real, o que é muito importante. Quando apresentamos um caso em que afirmamos a presença de um UFO é porque temos respaldo para isso.
No Chile há segredos quanto ao que é descoberto sobre fenômenos aéreos anômalos, ou tudo é transmitido à sociedade abertamente?
Não, no Chile não há hoje qualquer segredo ou mesmo arquivos secretos. O que acontece é que as Forças Armadas Chilenas têm casos que ocorreram em algum momento da história, foram registrados e ficaram restritos devido à burocracia ou às normas de então. Mas as informações sobre tais episódios estão saindo para a população agora através dos membros do CEFAA, dos militares da Aeronáutica e dos órgãos policiais, como pode ser visto. No entanto, é importante entender que não é a missão das Forças Armadas investigar o Fenômeno UFO, não é um de seus focos. Por isso os militares nomeiam seus delegados para atuarem neste nosso Comitê.
De quantos membros o Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA) dispõe hoje? Todos são voluntários ou alguém é pago?
São cerca de 20. Há entre nós pessoas da Diretoria Geral de Aviação Civil (DGAC) que estão trabalhando em período integral aqui no comitê interno, onde também estão os especialistas que consultamos. Eles são controladores de tráfego aéreo, investigadores de acidentes, inspetores de voo, meteorologistas etc. Também há um comitê externo formado por pessoas do meio acadêmico e por integrantes das Forças Armadas Chilenas. Neste meio há até céticos, além de físicos, especialistas em imagens de satélites, astrônomos, químicos e uma variedade de indivíduos que nos ajudam em nossas avaliações. Também recebemos apoio de membros das Forças Armadas, da polícia e de seu departamento científico. Sim, há voluntários, mas o comitê interno do CEFAA é formado por funcionários da DGAC. Eles atuam aqui, mas também trabalham lá, vindo nos auxiliar quando precisamos deles — ninguém recebe salário e as pessoas doam seu tempo a esta missão.
Então o CEFAA é um organismo que pertence à Aeronáutica?
No fundo, a entidade é da Força Aérea Chilena (FACH), porque o chefe da Diretoria Geral de Aviação Civil (DGAC) é um general ativo da Força Aérea. Mas todos os que trabalham nela, com exceção de dois ou três oficiais — um diretor, um chefe de planificação e um terceiro —, são civis. Todos nós temos alguma relação com os controles de operações de tráfego aéreo. O Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA) foi fundado em 1997, mas passou por um período de paralisação em suas atividades, sendo reativado em 2010. Estamos funcionando de forma temporária em algumas dependências do Museu da Aeronáutica e considerando nos mudar para outro prédio em breve, onde também vamos ter outras instalações de trabalho, pois queremos nos desenvolver como um centro de pesquisas com mais pessoal e com um orçamento maior para manter esses profissionais. São planos para o futuro.
Participação de civis
Vocês creem que é possível, também para o futuro, ter ufólogos civis convidados para participar do CEFAA?
Já temos. Há pesquisadores da Ufologia Chilena convidados por nós, por exemplo, para análise de imagens. Todos estão convidados a participar do CEFAA, mas é preciso diferenciar algumas coisas: existem aqueles que vêm à procura de material de nossos arquivos e outros que nos atacam. Estes primeiro nos reconhecem como um órgão científico, mas depois dizem que somos “milicos” nos metendo com UFOs. Isso não é verdade. E há também os que misturam questões políticas com Ufologia. Nós não entramos em conflito com essas pessoas, apenas tratamos de não nos envolver. Para o CEFAA, um estudioso civil competente e sério é sempre muito bem-vindo e já trabalhamos muito com eles. Há aproximadamente um ano, no norte do país, um homem nos contou sobre um caso ufológico e nos pediu ajuda. Claro que lhe respondemos que sim. A polícia não queria lhe dar informações, a Força Aérea também não, mas nós lhe abrimos as portas.
Vocês também recebem e avaliam informações provenientes dos ufólogos civis?
Sim, e quando trabalhamos com seus casos ou publicamos algo deles, o fazemos com a aprovação do referido investigador. Respeitamos sua propriedade intelectual e o esforço com que alcançam seus resultados, pois temos grande vantagem sobre eles por dispormos de mais recursos. Para nós interessa saber a verdade, venha ela de onde vier. Não nos interessa sair na TV e se às vezes saímos é porque a Lei de Transparência do Chile nos obriga. Por exemplo, temos ordem de todos os meses darmos uma conferência no auditório da Escola Técnica Aeronáutica, na qual falamos abertamente sobre UFOs e oferecemos a tribuna a todos, para que possam apresentar suas ideias. Este trabalho é aberto ao público. Quando assinamos convênio com Richard Haines, da National Aviation Reporting Center on Anomalous Phenomena [Centro Aeronáutico Nacional de Registros de Fenômenos Anômalos, Narcap], a única condição que nos foi exigida foi a de que não trabalhassem com pesquisadores civis, pois a experiência que Haines vinha tendo com eles não era boa. Respondemos-lhe que isso não ocorreria no Chile.
Temos como missão averiguar as atividades que ocorrem dentro de nosso espaço aéreo e analisar de que maneira elas podem interferir na aviação civil e militar. Nossas principais fontes de informações são, em primeiro lugar, pilotos e controladores de voo.
Como é, enfim, a relação do CEFAA com a comunidade ufológica civil?
É transparente e amigável. Por exemplo, se um ufólogo civil nos pede dados de um determinado episódio que lhe interesse, nós os entregamos sem problemas. Mas, se ele usar nossas informações, terá que dizer que o Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA) foi sua fonte. E ele também não pode nos envolver em suas opiniões pessoais sobre o fenômeno. Enfim, pode usar as informações que lhe cedermos objetivamente para seus estudos. Se usando nossos dados tal pesquisador quiser dizer que ETs são amarelos, verdes, vermelhos ou anões, problema dele, mas que deixe claro que esta é uma hipótese dele. Dizemos a todos os investigadores bem intencionados que se aproximem do Comitê, e o mesmo que oferecemos a vocês, da Revista UFO, oferecemos a outros — falamos igualmente com todos.
Metodologia investigativa
Qual é o procedimento de trabalho adotado pela sua instituição?
Nossa primeira missão é ver como as ocorrências ufológicas afetam o tráfego aéreo [Isso porque já foi dito que no Chile os avistamentos colocam em risco a aviação civil e militar]. Recebemos formulários específicos com tais registros, ou até mesmo informações diretas dos controladores de voo, e pedimos que nos mandem um e-mail ou um relatório com cada caso constatado. Chegando aqui, fazemos contato com o Centro de Controle de Tráfego Aéreo do país para sabermos exatamente a hora em que se deu um determinado fato, qual é o piloto envolvido e sua companhia aérea, quem era o copiloto e toda a tripulação da aeronave. A partir daí iniciamos a investigação contatando os protagonistas do evento. Também gastamos uma grande parte de nosso tempo com relatos de pessoas comuns, ou seja, que não tenham ligação com a aviação. Mas, de acordo com nossa experiência, nada do que recebemos delas vale à pena, exceto quando há material fotográfico. Por essa razão, também temos psicólogos, porque há muita gente louca ou mesmo paranoica relatando coisas. Enfim, perdemos muito tempo com isso, mas respondemos a todos que nos procuram.
Vocês têm um formulário específico para coleta de informações de avistamentos?
Sim, temos um bem elaborado, de duas páginas, que usamos principalmente para coletar informações de avistamentos de pilotos e de controladores de tráfego aéreo. Nele as testemunhas relacionam as condições da observação, as características do fenômeno visto, sua trajetória, altitude, manobrabilidade etc. Isso tudo é muito bem analisado depois, e ainda segue para um departamento em que é digitalizado em um banco de dados.
Pode nos citar algum número, alguma estatística de casos chilenos?
Sim. Em 2011 atendemos a cerca de 500 ocorrências relatadas por cidadãos chilenos, a maioria por e-mail. Já episódios aeronáuticos ligados a controladores de voo e pilotos foram 39. Como se vê, os acontecimentos ligados a civis são mais comuns. Fazemos uma pequena investigação delas, porém, na maioria das vezes, os relatos são apenas de avistamentos de aviões sob condições especiais, confundidos com coisas extraordinárias. Mas mesmo assim fazemos as investigações, pois é nosso dever — temos 48 horas para responder a qualquer comunicação que nos façam.
Como o Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA) é visto pelos militares e pela população de seu país?
Nosso Comitê é visto por todos como uma entidade séria, transparente e muito profissional. O organismo é de conhecimento da maioria da população chilena, tanto que há pouco tempo foi feita uma reportagem no principal canal de TV do país na qual se falou a respeito de nossas atividades. Não sei como o Governo Federal nos vê, pois não nos comunicamos diretamente com o presidente Piñera e nem com o ministro da Defesa, mas eles nos conhecem porque somos um órgão oficial. Fazemos conferências, temos uma página na internet [Endereço: www.cefaa.cl], vamos aos colégios, às escolas das Forças Armadas Chilenas, às brigadas militares, aos principais aeroportos etc. Temos um programa para conscientizar as pessoas de que o que estamos fazendo é um estudo sério.
Nuvem com forma discoide
General Bermúdez, voltando o assunto agora para o lado pessoal, quando e por que começou seu interesse pela Ufologia? Teve algum avistamento?
Não, nenhum, mas lembro-me claramente de um acontecimento interessante que me ocorreu em 1979, em Punta Arenas, no sul do continente. Lá há geralmente muita nebulosidade, e alta, com nuvens do tipo cirrus em forma de lentilha. Enquanto pilotava um caça F-5, olhei para o lado e vi um disco voador perfeito. Fui até o local do céu onde ele parecia estar, a fim de ver o que era, e o atravessei completamente — claro, era apenas uma nuvem lenticular com forma discoide. Enfim, nunca vi nada. Mas gostaria. Moro no 16º andar de um prédio com vista para a Cordilheira dos Andes, de onde consigo até avistar as pessoas esquiando. Tenho um telescópio, um par de óculos alemães, uma filmadora e um celular Blackberry, tudo pronto para registrar algum fenômeno, mas ainda não avistei nada. O assunto, porém, sempre me interessou. Quando fui diretor da Escola Técnica da Aeronáutica, juntei-me ao professor Gustavo Rodríguez para dar mais vida ao tema. Não tínhamos dedicação exclusiva, mas formamos um grupo de investigação que foi reativado em 2010.
Seres mais avançados não teriam que pedir licença aos Estados Unidos ou à Russia para virem ao nosso planeta e fazerem o que bem entendem (…) Da maneira como vamos, é preciso mudar o mundo e pode ser que essas inteligências tenham justamente essa intenção.
O que o senhor acredita que ainda falta aos cientistas para que aceitem o Fenômeno UFO?
Faltam justamente organizações como o CEFAA, sérias e comprometidas. Estamos fazendo Ufologia com ciência, dando palestras em todas as partes aonde podemos chegar e mostrando nosso engajamento com a questão dos fenômenos aéreos anômalos. Tenho falado regularmente com cientistas, e quando lhes mostro as conversas que ocorrem entre pilotos e controladores de tráfego aéreo, eles pelo menos já concordam que há algo não explicável cientificamente nestes diálogos. Pois então, que venham investigar. Mas falta-lhes consciência. Mesmo assim, eu os compreendo nesse aspecto, porque o tema está muito desprestigiado, assim como os ufólogos estão desgastados, tudo por causa de muita bobagem divulgada, sobretudo na televisão. A comunidade científica não gosta do que aparece ali e alguém tem que lhes mostrar que a questão ufológica vai muito além do que a mídia apresenta e está sendo estudada devidamente, como fazemos aqui no Comitê.
Como o senhor se sente sendo um dos poucos militares do mundo que tratam da questão ufológica de maneira oficial?
Hoje feliz, mas antigamente eu me sentia incomodado porque meus companheiros viviam me perguntando se eu vivia por aí perseguindo naves espaciais e homenzinhos verdes, fazendo piadas e esse tipo de coisas. Agora eles já não riem mais, pois já proferi algumas conferências demonstrando que estamos trabalhando sério no CEFAA. Eles já mudaram sua maneira de pensar, pois, afinal, estamos lidando com pessoas inteligentes. Ademais, trabalhamos na Diretoria Geral de Aviação Civil (DGAC) e temos entre nós, neste projeto, gente muito séria, como meteorologistas, controladores de tráfego aéreo, investigadores policiais etc. Dá gosto reunir-me com todas essas pessoas.
O fenômeno é real
Após tantos anos de dedicação ao seu estudo, o que o senhor acha que são os UFOs?
Acho aquilo que a minha experiência como investigador me diz: que está ocorrendo um fenômeno real, que nos é desconhecido e que precisa ser investigado. No Comitê nós não pesquisamos de onde vêm ou o que são os UFOs, mas os analisamos como uma manifestação que pode nos afetar. Claro que não descarto a possibilidade de que possam ser extraterrestres, porém essa é apenas uma das alternativas — e para cada afirmação é preciso haver uma boa prova. Há muitos indícios de que poderiam ser realmente naves alienígenas visitando a Terra, mas não há ainda uma boa evidência incontestável que seja aceita pelo mundo científico.
Ainda assim, se admitirmos que haja outras formas de vida nos visitando, o que o senhor imagina que querem conosco?
Interessante questão. Uma senhora idosa se aproximou de mim uma vez, em uma conferência, e o que ela me disse ficou dando voltas em minha cabeça. Referindo-se a seres extraterrestres, a senhora afirmou: “Sabe, tenho contato com os irmãos maiores”. Eu respondi: “Ah, sim? E por quê?” Afinal, a gente tem que escutar tudo o que as pessoas dizem. E ela respondeu: “Sabe o que nós somos pra eles? Para os irmãos maiores? Somos o mesmo que os macacos no zoológico, quando vamos lá passear”. Isso nunca saiu da minha cabeça. Hoje penso que, se essas inteligências extraterrestres realmente existirem, com a tecnologia que possuem, já teriam nos conquistado há muito tempo. Seres mais avançados não teriam que pedir licença nem aos Estados Unidos, nem à Russia, nem a ninguém para virem ao nosso planeta e fazerem o que bem entendem. Muita gente também diz que, quando há explosões atômicas, eles aparecem. Pois bem, isso me leva a pensar que, da maneira como vamos, é preciso mudar o mundo e pode ser que essas inteligências tenham justamente essa intenção. Mas essa é uma hipótese que necessita ser provada.
Qual o caso ufológico chileno que o senhor investigou e que considera como de maior destaque?
Um episódio ocorrido em Punta Arenas há alguns anos. Nesta ocorrência houve detecção por radar. Você sabe que um radar primário é aquele que emite um sinal para o espaço e, se houver um objeto em seu raio de ação, ele retorna o sinal, que é então captado e analisado, e assim o tamanho, a trajetória e as características do referido artefato são determinados. Os controladores do voo trabalham pouco com o primário, pois preferem o radar secundário, por causa das informações complementarem que eles captam das aeronaves — o radar secundário, além de tudo o que o outro faz, ainda tem a capacidade de receber informações precisas de voos.
Para que tudo isso funcione, os aviões têm um aparelho chamado transponder, que emite um sinal que diz qual é o tipo de aeronave que está sendo detectada, de onde vem e para onde vai. Bem, discos voadores não têm transponders para passar essas informações, o que faz uma grande diferença. No episódio de Punta Arenas, o radar primário, que capta ao redor de 150 km de raio, enviou um sinal e ele retornou, o que significava que havia algo ali no céu. Com base nisso, o controlador de voo emitiu uma advertência a um avião que cruzava dizendo que havia um tráfego próximo, a cerca de 7 km dele. Segundo o piloto, que conseguiu ver o objeto detectado, ele tinha uma forma irregular e estava entre Punta Arenas e Porvenir, no Estreito de Magalhães — o aviador o localizou também usando seu radar meteorológico de bordo. Outro piloto em terra, que estava esperando para sair com seu avião, também viu o artefato uns 20 minutos antes. Esse caso é importantíssimo, pois há dados mensuráveis e não subjetivos.
Assustando a população
Relata-se um grande número de avistamentos de supostos UFOs sobre a capital chilena, Santiago. São muitos casos, muitas afirmações e muitas testemunhas, inclusive fotos. O que diz o Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA)?
Dizemos que é a Força Aérea Chilena (FACH) que está assustando a população. Sim, porque todos os anos, nas noites de 15 a 21 de dezembro, acontece a graduação de novos pilotos na Escola Técnica Aeronáutica e eles começam a praticar com suas aeronaves antes, para poderem passar em formação à noite, na cerimônia. Em outras épocas do ano também ocorrem treinamentos em voos noturnos. Enfim, de tudo o que pesquisamos sobre os supostos avistamentos de UFOs sobre Santiago, não temos nenhuma atividade que possamos dizer que se trate de algo desconhecido ou inexplicado. Não há nenhuma área de Santiago onde haja maior incidência de avistamentos. Já no país todo, na verdade, considerando os episódios que temos aqui, em primeiro lugar em relatos está o norte, onde o céu é muito mais claro e limpo. No sul também há muitos avistamentos. Mas dizer que o Chile é um país privilegiado em ocorrências ufológicas é mentira, algo inventado pelos ufólogos daqui. No Peru é a mesma coisa e no Brasil também. Enfim, em todas as partes do mundo há eventos por todos os lados.
É fato que está ocorrendo um fenômeno real, que nos é desconhecido e que precisa ser investigado. No Comitê de Pesquisas nós não investigamos de onde vêm ou o que são os UFOs, mas os analisamos como uma manifestação que pode nos afetar de alguma forma.
Fala-se muito sobre bases de UFOs nas regiões abissais no Oceano Pacífico, na costa do Chile. O que o senhor pensa a respeito disso?
Embora seja verdade que haja registros de atividades estranhas no mar chileno, não me consta que tenham origem em qualquer coisa extraordinária. Em um caso examinado pela Armada [Marinha] há alguns anos, um objeto voador não identificado muito luminoso passou entre duas lanchas de patrulhamento. Não sabemos o que era, pois não captamos com nossos instrumentos — e exatamente por isso estamos trabalhando com a Armada neste episódio, pois queremos saber o que eles têm em seus arquivos que nós não temos no nosso. Eles estão checando e procurando especialistas para que possam obter mais informações a respeito da estranha manifestação.
UFOs e terremotos?
Dizem que no Chile, onde ocorrem terremotos, há mais avistamentos de UFOs do que em outras partes do mundo. O senhor concorda?
Não concordo, pois há não dado científico claro atestando isso. Como se sabe, a Terra “respira” e, quando vai haver um terremoto, antes se produz a liberação de energias, inclusive de energias luminosas. Ou seja, saem luzes do solo e isso é visto em todas as partes do mundo, mas tratam-se de manifestações explicadas. Isso não quer dizer que não tenham ocorrido avistamentos nessa situação, mas aqui não fazemos essa associação.
O senhor acha que a população estaria preparada para receber a informação de que estamos sendo visitados por seres de outros planetas?
Acho que, se isso for verdade, não apenas aqui no Chile, mas também em outras partes do mundo, é preciso dar a notícia à população. Porém, não de modo integral. Penso que é preciso dividir a informação, entregando-a de uma forma distinta a cada momento específico, quando nossa inteligência for capaz de assimilar esta nova realidade. Pois se as pessoas não estiverem preparadas, podemos provocar um alarme mundial. Enfim, as informações devem ser fornecidas oportunamente, pouco a pouco, de forma que se prepare a população para tal situação. Essa é uma das coisas nas quais também trabalhamos — e as pessoas já estão sendo preparadas inconscientemente para dizer “bem, parece que isso é verdade”.
Ufologia Mundial
O que o senhor conhece a respeito da Ufologia Brasileira?
É de opinião geral que no Brasil ocorrem muitos episódios, mais do que em qualquer lugar no mundo, por ser um país muito grande. Quando estive em Curitiba, tive a oportunidade de me informar a respeito da Operação Prato e do Caso Varginha, entre outros. Mas tenho a impressão de que no Brasil está ocorrendo algum receio por parte das autoridades de se fazer algo de maneira oficial. Outro grande problema do país são as muitas seitas ufológicas, numerosas no país. Mas sem dúvidas é preciso fazer uma investigação oficial do Fenômeno UFO lá, pois é necessário informar as pessoas. Creio que no Brasil esse processo será bastante complicado, pois haverá uma oposição política à criação de uma entidade oficial muito maior do que aquela que houve aqui no Chile, no Uruguai ou na Argentina quando se tentou o mesmo.
Falando de generalidades, o que o senhor acha da Área 51?
Que é uma localidade dos Estados Unidos onde são feitos experimentos secretos, onde os norte-americanos fabricavam seus discos voadores. Há pessoas que estiveram lá e os viram voar, mas também os viram cair. Aquela região existe e é onde acontecem muitos testes ocultos de aeronaves avançadas. Mas são todas terrestres. Já sobre os militares aposentados que trabalharam na Área 51 e hoje afirmam que o governo capturou algum artefato alienígena, não posso emitir uma opinião porque não os conheço. Sei quem são, mas não os investiguei e só creio naquilo que pesquisei com meus procedimentos.
Qual é a sua opinião a respeito dos processos de abertura ufológica que ocorreram na França e Inglaterra recentemente?
Bem, acho que há algo interessante ocorrendo nestes países. Lord Doyle, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, atuando na defesa da Inglaterra, disse que a Força Aérea Real Britânica (RAF) tinha registros de mais de 10 mil avistamentos inexplicados. Isso prova que existe desde aquele período algo que não conhecemos e corrobora o que dizemos em nossas investigações, que o fenômeno ocorre em todo o mundo. Conhecendo bem os ingleses, não acho estranho o fato de terem realizado uma abertura ufológica de seus documentos, mesmo sendo aliados dos Estados Unidos. Já sobre os norte-americanos eu não posso opinar, pois se tratam de outro país e são outros os interesses. Nisso chegamos a uma situação sobre estas liberações de documentos, que é analisar o que os governos procuram com elas. E a resposta é o bem comum das pessoas.
Os Estados Unidos são o país que detém hoje a maior parte das informações sobre UFOs. O senhor acredita que algum dia os norte-americanos serão forçados a abrir seus arquivos, a revelar o que sabem sobre os discos à população?
Creio que sim. Em algum momento eles darão a conhecer à sociedade mundial esses fatos, mas de forma trabalhada, parcelada, como creio que deve ser feito. Se for necessário liberar informações muito importantes, terão que fazê-lo de forma periódica, gradual. É evidente que eles têm muitos registros para compartilhar. O Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA) já tentou um acordo com a Força Aérea Norte-Americana (USAF) tempos atrás, creio que em 2002.
Aliança mundial
Falamos rapidamente há pouco sobre a implantação de novos debates sobre Ufologia na Assembleia Geral da ONU. O que mais o senhor tem a dizer sobre isso?
O mais importante a se considerar é que isso pode levar ao compartilhamento global de informação. Como se sabe, é muito difícil nos colocarmos em acordo entre diferentes países, e uma entidade como a ONU pode solucionar entraves. Digamos que ocorra um contato com estas inteligências aqui na América do Sul, quem irá presidir o encontro com elas? O Brasil, que é um dos maiores países do continente? O Uruguai, porque foi o primeiro a pesquisar tais fenômenos oficialmente? O Chile, que também o faz de maneira concreta? Não sabemos quem seria. Mas a ONU já está estabelecida e tem seu Departamento para o Espaço Exterior, onde se trata de tudo que se refira ao espaço, como a regulamentação do uso de satélites. Dentro disso poderia haver uma seção onde se estudasse esses fenômenos aéreos anômalos. Em primeiro lugar, se recompilaria toda a informação sobre o tema, que então seria entregue a todos os governos da Terra. Daí se iniciaria um estudo científico sobre a questão. Como se vê, não precisamos inventar nada, já está tudo aí. Basta a ONU se interessar em fazer isso.
O Brasil é uma potência e poderia fazer um trabalho muito bom na área. Se se convencessem os militares brasileiros a adotar um modelo de pesquisa ufológica semelhante ao do Chile, com muito prazer estaríamos dispostos a treiná-los para isso.
Desde 2007, oficiais do Vaticano, que não são apenas religiosos, mas também astrônomos, como José Gabriel Funes, têm feito declarações contundentes afirmando que os discos voadores existem, que os alienígenas são nossos irmãos e que não reconhecer isso é menosprezar a capacidade criativa de Deus. Como o senhor vê essas declarações?
Parece-me que vocês andaram conversando sobre isso com Roberto Pinotti e já sabem a resposta [Risos]. Eu também estive com ele e Pinotti tem uma opinião que acho muito corajosa. Ele diz que os UFOs estão fazendo a Igreja Católica perder seu negócio, sua fonte de renda. Ele era amigo do monsenhor Conrado Balducci, assim como do antigo diretor de astronomia do Observatório Astronômico do Vaticano. Pinotti acha que os religiosos da Santa Sé estão preparando o mundo. É como se a Igreja estivesse dizendo: “Estão vendo? Nós dissemos a vocês”. Mas o fato é que nada impede que Jesus tenha de fato estado na Terra. Porém, como os padres são tão conservadores, eles estão preparando essa situação de alguma forma.
O futuro da Ufologia
O que o senhor pensa da recente implantação da Comissão de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais (CIFA), da Força Aérea Argentina (FAA)?
É muito interessante e é sempre muito bom que mais governos se mobilizem para fazer pesquisas sérias sobre o assunto. Mas eles também irão passar pelo que todos nós passamos, ou seja, pelas dificuldades iniciais. Os argentinos precisam se organizar bem e montar um orçamento para que possam ter suas instalações, seus equipamentos e seu pessoal especializado para o trabalho. Estamos dispostos a cooperar, se eles nos pedirem por ajuda — basta que nos digam o que lhes interessaria compartilhar que nós o faremos.
Se agora temos Argentina, Chile, Uruguai, Peru e Equador, tantos países no continente tratando do assunto, o Brasil também não precisa entrar neste clube? O que o senhor acha?
O Brasil é uma potência e poderia fazer um trabalho muito bom na área. Se se convencessem os militares brasileiros a adotar um modelo de pesquisa ufológica semelhante ao do Chile, com muito prazer estaríamos dispostos a treiná-los para isso. Somos generosos, não guardamos a informação só para nós. Queremos compartilhar nossa experiência com outros países, pois é valiosa. Passamos por todas as etapas, desde as brigas com ufólogos civis até a fase atual, em que temos um bom entendimento com eles. Essa experiência tem que ser transmitida e com militares é preciso falar em linguagem militar. Como eu sou general aposentado da Força Aérea Chilena (FACH), não tenho nenhum problema em dizer a um general brasileiro “o senhor está errado, tem que analisar isso de outra maneira”. No Chile há cooperação total entre todas as Forças Armadas. O que ocorre é que ainda há alguns medos a serem vencidos. Ainda existem, nas instituições militares e nas companhias aéreas comerciais, pessoas que não se atrevem a falar de discos voadores por terem medo do ridículo a que podem ser expostos. Ainda resta um percentual de pessoas que pensam assim, mas não há arquivos secretos sendo liberados que garantem que o assunto é coisa séria.
O que o senhor pensa que vai acontecer com a Ufologia no futuro? Vamos chegar a um tempo em que se reconhecerá que estamos sendo visitados por outras espécies? Vamos conviver com elas?
A Ufologia não tem futuro se não se aproximar de um método científico, pois a populaç&a