A rigor, o termo Ufologia sempre apresentou um problema conceitual. A palavra vem da junção de unidentified flying object, que significa objeto voador não identificado em inglês, com a palavra grega logos, que, segundo Platão, designa Deus como fonte de ideias. Ou ainda, de acordo com algumas interpretações, “um dos aspectos da divindade, consoante os neoplatônicos”. Já neoplatônicos vem de neoplatonismo, que se refere especialmente à filosofia de Plotino, que viveu em Alexandria, entre os séculos III e IV, e seus adeptos. Sua filosofia era caracterizada pelo dualismo entre espírito e razão, natureza e Deus.
Uma transformação da filosofia platônica, acrescida da contemplação mística, era considerada pelos neoplatônicos como o único meio que leva ao conhecimento. Logia sempre foi uma palavra atribuída à ciência de alguma coisa, como biologia, tecnologia etc. Mas isso não está incorreto. O conceito por trás da palavra logia encerra muito mais do que o simples conhecimento sobre uma área de estudo qualquer, como explicado acima. Nos dias de hoje, falar em logia significa associá-la a algum mecanicismo, o que para nós, ocidentais, é perfeitamente natural — fomos assim ensinados a interpretar o conhecimento nas escolas, nas faculdades etc.
Segregando valores e crenças
Então, com olhos e conhecimentos adquiridos nos estudos científicos e com a visão ocidental do conhecimento, como olhar para a palavra Ufologia e identificar uma ciência? E como encarar o conceito, as ações, teorias e tudo mais que ela envolve? A Ufologia atual não incorpora, na íntegra, o verdadeiro conceito da palavra logia, pois exclui a expressão do sentimento, do dualismo e do feeling, para ser mais moderno. Baseia-se hoje na segregação de valores e crenças, no uso e abuso do poder, na luta de vaidades, na ridicularizarão do que não se compreende. A Ufologia ainda está muito longe da integração entre o espírito e a razão. Muito longe de ser ciência, pelo exato significado desta palavra.
Sob esta visão percebe-se que falta algo de substancial, pois o estudo por trás da Ufologia não utiliza seu próprio conceito. Falta algo aqui. Como, então, queremos chegar a ter conhecimento de alguma coisa a seu respeito? Como construir uma ponte faltando pilares? É natural que um dia comece a ceder e caia. Ou melhor, nem possa ser erguida. Chegamos assim a uma primeira conclusão: a de que a Ufologia, em seu conceito original e intrínseco, como ciência, não existe. Pois para existir seria preciso um todo e não somente as partes. Logo, conceitualmente, a figura do ufólogo tampouco existe — mesmo que se alegue que se está estudando as partes para atingir o todo.
Seria isso verdade? Buscando no fundo da consciência, que ufólogo pode de fato afirmar que estamos considerando neste estudo todas as partes envolvidas? Não estamos, assim, nos esquecendo de algo mais? Estudando somente umas poucas partes e ignorando outras, é possível afirmar algo de concreto e definitivo? Essa primeira conclusão é surpreendente e leva a uma constatação: se a Ufologia não existe, o que os ufólogos estão pesquisando, exatamente? Qual é o objetivo de todo este esforço? Na verdade, podemos verificar que estamos estudando apenas um apanhado de informações muitas vezes desconexas, sem sentido — um punhado de evidências, de fotos, filmes e relatos de observações de UFOs.
Mas, isso nos leva de fato a algum lugar? E se levar, esses resultados parciais realmente interessam? Quem, além de nós, pesquisadores, estudantes e simpatizantes, se interessa pelo chamado Fenômeno UFO? Deve-se reconhecer o esforço do batalhão de pessoas que o pesquisam de longa data, os que deram e os que ainda dão sua valorosa contribuição para o entendimento da questão através de revistas, jornais, programas de televisão, congressos ufológicos etc. Sem este esforço não poderíamos estar aqui, agora, discutindo sobre o fenômeno. Não haveria elementos suficientes para isso.
Igualmente, deve-se reconhecer o aumento da divulgação da fenomenologia ufológica nos meios de comunicação, e isso é importante. Mas há tempos andamos em círculos, sem muitos resultados práticos. Marketing é bom, mas não pode ser só isso, pois, sem conteúdo, não durará muito. Não há, enfim, o desfecho necessário para um engajamento maior de toda a população e, principalmente, da comunidade científica. Simples notícias de avistamento de UFOs, de obtenção de novas fotos e filmes, de depoimentos de celebridades etc, já não sustenta mais algo que pretende ser uma ciência.
Surgem seitas e fanáticos
Mas a pergunta que sempre fica no ar depois dessas notícias é: e daí? Simplesmente, o que elas acrescentaram ao estudo do assunto? O que essas notícias veicularam que já não tenha sido falado antes? Enfim, mudam as cenas e os personagens, mas as perguntas permanecem: E daí? Qual a conclusão? O que isso vai mudar? Os ufólogos têm contribuído para o aumento do conhecimento existente hoje sobre o Fenômeno UFO, mas, igualmente, têm contribuído para afastar as pessoas dele. Extremistas se encarregam disso, sejam os da razão ou os do espírito. É necessário um equilíbrio, que ainda não existe — as dificuldades e resistências impostas pelo surgimento de seitas e fanáticos ao redor do tema, bem como de céticos intolerantes, têm contribuído para o atraso das descobertas.
Pior do que isso, elas têm afastado pessoas que poderiam contribuir com seu conhecimento, que preferem continuar na sua busca solitária a expor suas ideias diante de pessoas extremistas. Portanto, não há comunhão de ideias, não há diálogo e, mais uma vez, não há união entre espírito e razão. Assim, chegamos então à segunda questão: por que a Ufologia não decola? Porque ainda não usamos a ciência no seu real significado. Estamos apenas brincando de fazer ciência, construindo um castelo de areia.