A revista australiana The UFOlogist, em seu exemplar de março/abril 2009, apresenta um trabalho sumamente interessante do pesquisador britânico e consultor da Revista UFO Philip Mantle, sobre a suposta autópsia extraterrestre que tomou conta da atenção dos meios ufológicos na década de 90. Apesar de considerado um evento com nexo para ufólogos e interessados no Fenômeno UFO em todas as partes do planeta, o “filme de Santilli” – como ficou conhecido – semeou dúvidas e controvérsias desde que foi divulgado em 1995.
Mantle começa seu artigo dizendo que chegou a conhecer Ray Santilli pela primeira vez exatamente nesse ano (1995) e, em 2007, reuniu-se com ele e seu sócio, Gary Shoefield. Durante o almoço que compartilharam, Santilli lhe mostrou algumas imagens contidas em uma espécie de material tipo perspex e insistia que eram dos originais tomados em 1947. Dias após, recebeu um telefonema de um homem chamado Spyros Melaris. Esse sujeito afirmava ter dirigido o grupo que falsificou todo o suposto filme da autópsia. Era um mágico e cinematografista que estava disposto a falar. “Ofereceu o que, quando, como e onde de todo o caso”, escreve Mantle. “Devido a minha participação no assunto, em poucos dias encontrava-me em contato com Spyros Melaris”.
Ao longo de uma série de contatos, o autor descobriu que o tal Melaris estava interessado em dar a conhecer sua participação no assunto, então coordenou seu aparecimento na conferência Roswell 60, organizada pela UFO Data Magazine, ocorrida em outubro de 2007 na cidade de Pontefract, West Yorkshire (Inglaterra), divulgando seu envolvimento na confecção da película. Apesar de alguns permanecerem céticos, a grande maioria ficou fascinada pelas revelações. Segundo Mantle, Melaris nasceu em Chipre, vindo depois com a família para Inglaterra. Fascinado pelos truques de magia que seu avô lhe ensinava, o jovem chegou a colocar seu interesse em prática, quando pôde exercer profissionalmente a carreira de mágico e cinematografista, possuindo seu próprio estúdio de televisão em Londres e realizando produções independentes. Em 1995, encontrou-se com Santilli e este lhe disse pela primeira vez que tinha obtido cópia de algo extraterrestre. Quando viu que Santilli não caçoava, Melaris aceitou o convite para ver o material.
Assim se concebem as fraudes – “Alguns dias depois”, escreve Mantle, “Spyros foi para Londres e, ao chegar, encontrou Ray totalmente desolado. O filme que tinha comprado era de péssima qualidade. Pôde ver e reconhecer que se tratava de uma gravação em videotape”. A fita estava efetivamente em formato VHS. Pensou: “Este cara está louco. Quer fazer uma jogada. Pensei nesse momento que tudo estava acabado”. É muito possível que a Ufologia tivesse saído ganhando se, como pensava, houvesse terminado, mas não foi assim. A sorte quis que Melaris se comunicasse com seu amigo e colega John Humphries, escultor graduado da Real Academia, cujos trabalhos às vezes se mesclavam com a televisão e cinema. Propôs ao artista a idéia de esculpir um extraterrestre. O conceito era bastante singelo: utilizar o ET como seu cartão de apresentação para projetos de maior calibre, colaborando primeiro com Santilli no documentário da autópsia e, posteriormente, um segundo que mostrasse como tinham criado o filme. Humphries manifestou interesse e Melaris comunicou o conceito a Santilli, quem segundo Mantle “parecia um homem que tinha voltado a viver”. Com um orçamento de aproximadamente 30 mil libras esterlinas, assinaram os contratos e o projeto foi colocado em andamento.
Melaris encarregou-se do desenho, direção e administração, sendo responsável pela parafernália empregada na produção, como a mesa da autópsia, os “trajes de descontaminação” etc. Mantle assinala no artigo que Geraldine (pseudônimo), a noiva de Melaris, se desempenhou como documentarista, consultando textos de medicina, entrevistando patologistas e especialistas, chegando até a interpretar o papel de enfermeira no filme. O corpo do famoso alienígena foi criado por Humphreys, que utilizou para o molde seu filho, com 10 anos de idade. Outros amigos de Melaris – Greg Simmons e Gareth Watson – interpretaram os médicos. A escultura, no entanto, sofreu um defeito: uma borbulha de ar na goma-espuma empregada para criar sua pele tinha deixado uma área oca na perna. Em um golpe de inspiração, lembraram em utilizar a conjuntura de uma pata de cordeiro para sanar o defeito. Fizeram ligeiras queimaduras ao seu redor e o alienígena apareceria como se tivesse sofrido uma ferida na perna durante o suposto choque de sua nave com a superfície terrestre. Os criadores valeram-se dos órgãos internos do animal para criar as tripas do malogrado visitante do espaço, alterando-os com um bisturi e revestindo-os de látex. “A massa encefálica do alienígena foi feita com base em três cérebros de cordeiro e parte do cérebro de um porco, moldado em gelatina”, segundo Mantle.
Melaris teve que se encarregar de outro detalhe: a entrevista com o suposto cameraman que tinha presenciado a autópsia. Já que não existia tal personagem, este aspecto também foi confeccionado para o projeto. Deslocou-se a Los Angeles para se reunir com Gary Shoefield, o sócio de Santilli, e nessa cidade encontraram alguém que – por outro golpe de sorte – tinha sido ator em sua juventude. À custa de uma boa soma em dinheiro, o idoso leu o guia e utilizou o nome de uma personagem que tinha interpretado em Hollywood muitas décadas antes. Até hoje, ninguém conseguiu identificar o sujeito, e Melaris afirma que dará esta informação em breve. Mantle escreve: “Perguntei a Spyros qual era o plano mestre. Tinham feito a investigação, tinham rodado a filmagem, o que vinha depois? Parece que o plano era bastante singelo. Entregar o filme a uma mídia que o difundisse, pedir que pesquisassem e ver o que acontecia depois. A razão pela qual isso não se produziu foi o dinheiro. Spyros tinha assinado um convênio de confidencialidade com Santilli, e o mesmo insistia que era necessário recuperar o investimento inicial. Santilli disse que tinha investido uma grande quantidade de dinheiro no filme e que agora tinha que recuperar seus fundos antes de publicar o projeto. Aproveitou a ocasião para recordar a Spyros o termo de confidencialidade, e que não poderia dizer nem fazer nada. Além de um cheque de 10 mil libras esterlinas, que Spyros dividiu com sua equipe, não houve regalias, já que Santilli afirmava que, tendo manifestado publicamente que se tratava de um filme militar, copiada por terceiros sem permissão e sem pagamento, os direitos estariam reservados pelo Exército Norte-americano e não por ele. Com o passar do tempo, Spyros esqueceu-se de tudo e seguiu com sua vida. Trabalhava constantemente em outros projetos com Santilli, e acabou por esquecer do assunto”.
Naturalmente, há quem defenda que todo o material é real e que Spyros Melaris é um mentiroso. Mantle informa que um amigo seu, veterano de efeitos especiais para o cinema e televisão, concorda que as técnicas e materiais utilizados pela equipe na confecção do alienígena são corretas 100%, não existe dúvida de que o boneco ten
ha sido realizado na forma que indica Melaris. Até Robert Kiviat, o célebre produtor de sensacionais documentários ufológicos dos anos 90 – e seus posteriores desmentidos –, declara em entrevista reproduzida por Mantle: “Não posso encontrar nada contraditório em seus argumentos que sirva para descartar seus depoimentos como incríveis. Ainda que fico perguntando como pôde ter sido tão ingênuo sobre a quantidade de dinheiro que Santilli estava ganhando em todas partes do mundo. Este detalhe me parece raro, como se estivesse jogando como tonto, quando é muito esperto. E se deu-lhe suficiente trabalho posteriormente, para mantê-lo calado, segue me intrigando por que permitiu que Santilli embolsasse tanto dinheiro sem exigir o seu. Isso sei que não faz sentido”.
“Fica claro”, conclui Mantle, “que partindo desta breve entrevista com Bob Kiviat, existem pequenas diferenças no que John Humphreys descreve como sua participação na fraude e o que argumenta Melaris. No entanto, Humphreys indica sem rodeios que Spyros Melaris era o encarregado do dinheiro, e que foi ele quem lhe contratou para o projeto. Também confirma, sem sombra de dúvidas, que nunca houve um filme original, senão que tudo se tratou de uma montagem absoluta”.
Saiba mais:
Livro Quedas de UFOs