A psicóloga Mônica Borine é a única especialista em todo o país no tratamento de pessoas quese dizem raptadas por alienígenas, contabiliza mais de 70 casos atendidos e cria a primeira clínica do país para abduzidos.
Era agosto de 1996. Às 18h00, como de costume, o técnico de máquinas de lavar roupa Robson de Oliveira, 54, chegou em casa, na zona sul de São Paulo. Exausto, foi ao quarto se deitar, enquanto a mulher terminava o jantar. Da cama observou, através da janela, luzes rosa, verde e azul florescente iluminando o céu.
Não havia barulho. De repente, algo estranho apareceu no batente da janela e pulou diante dele. O intruso media cerca de 1,40m de altura, o corpo era delgado e furta-cor e ele tinha grandes olhos amendoados, compensando a falta de orelhas e boca. Paralisado na cama e aterrorizado.
Robson tentou chamar pela esposa, mas a voz ficou presa na garganta. Três meses depois, fatigado pela insônia e medo, ele procurou a psicóloga Mônica Borine, por indicação de um primo. Enquanto narrava a experiência inusitada, Robson se coçava e sentia tremores no corpo, sintomas existentes desde que o suposto ET o teria visitado.
“Me dê o número de seu celular”, pediu à terapeuta, após a primeira sessão de hipnose. “Se ele aparecer de novo, quero ligar imediatamente para a senhora”. Nos últimos dez anos, Mônica ouviu dezenas de relatos parecidos com esse e contabiliza mais de 70 casos atendidos.
Pode parecer ficção científica, mas para ela é tão real que no começo do ano decidiu criar em Atibaia, a 70 km de São Paulo, a primeira clínica brasileira especializada em tratar pessoas que se dizem traumatizadas por terem sido raptadas por ETs – abduzidas, como preferem os ufologistas -, como Robson – nos Estados Unidos existem mais de 400.
Casada e mãe de dois filhos, Mônica, 45 anos, começou a se interessar por contatos extraterrestres em 1987. Ela e uma amiga observavam o céu em uma das praias de Peruíbe, litoral sul de São Paulo. Quando perceberam, estavam diante de um imenso objeto redondo com o núcleo alaranjado que se movia lentamente e emitia flashes coloridos. “Nunca tinha visto nada igual na vida”, recorda Mônica. “Fiquei com medo”.
No ano seguinte ocorreu outro fato marcante. A terapeuta foi visitar um dos pacientes em um hospital psiquiátrico e lá conheceu um rapaz de 28 anos. Ele estava internado porque dizia que, após avistar um disco voador, passou a ouvir vozes e enxergar bolas coloridas de luz. “Acreditei na história dele e fiquei sensibilizada”, diz Mônica.
“Foi quando resolvi usar meu conhecimento clínico para ajudar essas pessoas. Elas não precisam de remédio de tarja preta”. Depois disso, por uma estranha coincidência, Mônica – especializada em psicoterapia corporal e bioenergética – começou a receber pacientes que se encaixavam no quadro de seqüestro por alienígenas.
“Deve haver uma ligação entre meu avistamento e meus pacientes”, arrisca. Ex-instrutor técnico da Embraer, Yugi Sugi, 57, procurou a ajuda de Mônica porque teve a rotina alterada depois de seu carro ser acompanhado, na estrada, por uma imensa bola de luz, em 1997. Na mesma noite ele sonhou com um ser que tinha a cabeça triangular e enormes olhos negros. “Comecei a ter insônia e perdia com freqüência a noção de tempo”, conta Yugi.
“Fiquei com medo porque era algo desconhecido”. Após algumas sessões de hipnose, Mônica concluiu que ele havia sido abduzido. Desde então, Yugi se trata com psicoterapia e meditações em grupo com outros abduzidos. “Já vi o estranho alienígena enquanto meditava”, afirma ele. Segundo Mônica, em geral, quando alguém observa uma luz estranha no céu significa que foi abduzida.
Ela mesma, no entanto, não sabe se foi seqüestrada por alienígenas quando avistou um OVNI na praia. Além da hipnose, ela sustenta que sintomas físicos e psicológicos podem confirmar o caso. As teorias de Mônica misturam ainda alienígenas com vidas passadas. “Se alguém foi abduzido, isso deve ter acontecido também em suas cinco encarnações anteriores”. Esse seria o caso da artista plástica Maria Helena Bittencourt, 48, outra paciente da psicóloga.
Nas regressões hipnóticas, além de seqüestro alienígena, ela também visitou civilizações antigas. “Chequei nos livros o que ela disse e está condizente com a História”, confirma Mônica. Para Ana Mercês Bahia Bock, presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, os profissionais da área podem se especializar no tratamento de pessoas que se dizem abduzidas – independente de isso ser verdade ou não.
Ela alerta, porém, para o envolvimento entre paciente e terapeuta: “É proibido ao psicólogo expressar aos pacientes a crença em extraterrestres, pois não há confirmação científica de que existam. Se fizer isso, está ferindo a ética profissional e poderá ser punido pelo CRP”, afirma. Se depender de Mônica, mais psicólogos e psiquiatras se especializarão no tratamento de abduzidos.
Ela está montando em sua clínica um curso direcionado aos profissionais da área, auxiliada por psicólogos americanos. Pelas contas de Mônica, o mercado potencial é grande: a terapeuta estima que uma em cada dez pessoas são seqüestradas por extraterrestres e terapia é o único tratamento.
“Pessoas podem ser abduzidas em qualquer lugar e a qualquer hora, sem terem consciência do fato”, diz Mônica. “A terapia pode ajudá-las a aceitar o fato em suas vidas e a manterem o equilíbrio emocional”.