Foi com enorme satisfação que recebi a incumbência de preparar uma edição de UFO Especial sobre o Projeto SETI [Search for Extraterrestrial Intelligence at Home – Pesquisa de Inteligência Extraterrestre]. Pela primeira vez no Brasil um espaço desse porte está sendo aberto à questão da busca por vida inteligente extraterrestre. Vivemos em uma realidade diferente. Enquanto países do primeiro mundo têm dezenas de estações operacionais montadas, aqui se trabalha arduamente para criar a primeira e talvez única estação brasileira. No exterior, por exemplo, obtêm-se com facilidade equipamentos de rádio, feedhorns [Dispositivo que fica no foco da antena e se destina a transmitir o sinal coletado ao sistema de análise] e pré-amplificadores. Em nosso país tudo precisa ser importado a alto custo, com exceção da antena parabólica e dos microcomputadores, que são encontrados no mercado nacional com facilidade.
Fazer o SETI é um grande desafio. Trabalhar nesse projeto fora do primeiro mundo é um desafio maior ainda. E as dificuldades não param por aí. Tal pesquisa pode ser enquadrada na radioastronomia, já que é uma análise que utiliza mecanismos como as ondas de rádio e radiotelescópios. Porém, nessa ciência o SETI é visto com reservas. Afinal, que trabalho mais estranho é esse de procurar sinais de rádio emitidos por extraterrestres? Na astronomia, a radioastronomia também é vista com outros olhos, já que o astrônomo convencional trabalha na janela da luz visível, embora, com proporções restritas, constitui uma atividade clássica e mais aceita do ramo. Eles também acham muito estranho esse fascínio por ouvir estrelas…
Na preparação dessa edição senti dificuldade em incluir o trabalho de autores convidados. O motivo: puro preconceito, fruto de uma visão limitada. Grande parte deles sequer respondeu ao convite, pois, afinal, o SETI seria tratado em uma revista de Ufologia. Claro que a esmagadora maioria das pessoas não vê sentido em procurar sinais das estrelas se as naves e os extraterrestres já estão rondando por aqui. Será? Talvez tal projeto seja a única forma da ciência enxergar essa realidade.
A partir do instante que se comprovar que existem outras civilizações no universo, além da nossa, ficará mais fácil aceitar que muitas delas possam ser bem mais evoluídas e estão enviando suas naves e tripulantes para nosso planeta. Por que não? Se nos limitarmos a pensar que somos a única forma de vida inteligente no universo, se considerarmos que não podem existir civilizações mais avançadas capazes de realizar viagens interplanetárias, ou talvez até mesmo interdimensionais, para que nos preocuparmos com o SETI? Para que a busca?
Expansão da consciência — É muito comum ouvirmos que as viagens interplanetárias são impossíveis por causa das grandes distâncias interestelares. Afinal, realmente, uma de nossas naves demoraria cerca de 76 mil anos para chegar à Próxima Centauri, estrela localizada mais perto da Terra, à cerca de 4,3 anos luz. Mas não podem existir civilizações com tecnologia mais avançada? Também é comum escutar que tal planeta não tem condições de abrigar formas de vida, mas só se leva em conta nessas afirmações seres parecidos conosco, humanóides constituídos basicamente de carbono. Num universo tão imenso, não será possível existir seres diferentes, que não sejam necessariamente da mesma base que a nossa e bípedes, capazes de viver numa atmosfera diferente da terrestre ou em condições inóspitas? Por que sempre precisamos procurar formas de vida parecidas conosco?
O desafio maior do que fazer SETI ou procurar por outras formas de vida, é mudar a maneira que temos de pensar. É também não limitar a mente e permitir uma expansão da consciência, necessária para entender um universo muito mais rico e complexo do que conseguimos imaginar. A Terra não é mais o centro de tudo há séculos e já não se queimam pessoas por terem formas de pensamentos diferentes, como ocorreu com Giordano Bruno (1548-1600), monge dominicano que morreu na fogueira por defender a idéia da pluralidade dos mundos habitados.
Sempre designei o SETI como a maior aventura do homem. Nesta edição vamos encontrar os motivos da busca, as técnicas, os diferentes projetos, instruções para montagem de uma estação caseira, entre outras coisas. Vamos saber o que são os sinais candidatos e como os responsáveis pelo projeto lidam com eles, além de conhecer mais do famoso sinal Wow!, captado nos Estados Unidos, em 1977, e sem explicação até hoje. Também serão discutidas as descobertas da ciência sobre os planetas extra-solares. Esta edição de UFO Especial é um convite a você leitor para fazer parte dessa aventura, seja construindo sua estação, participando do SETI@Home ou simplesmente divulgando essa empreitada magnífica conhecida como SETI. Junte-se a nós e boa leitura!