A associação entre os discos voadores e a mitologia pode parecer um tema já relativamente desgastado ou até mesmo esgotado. A intenção deste texto não é fazer paralelos entre avistamentos ou casos descritos na Antiguidade com o conhecimento da Ufologia que temos hoje, mas buscar uma fundamentação teórica a respeito do impacto que o fenômeno ufológico vem causando em grande parcela da população mundial. Procuraremos, através de uma abordagem sociocultural, focar esta pesquisa na tênue camada que se localiza entre o mundo real e a imaginação humana, procurando por elementos que nos ajudem a compreender a construção deste imaginário.
O ex-consultor da Revista UFO e um dos maiores pensadores da Ufologia Brasileira Carlos Reis, na edição número 09 da referida publicação, há quase 30 anos, disse que “o Fenômeno UFO, como já sabemos, é um só, mas a sua conceituação vem sofrendo profundas modificações ao longo dos tempos, dada a essência cultural dos povos em todas as épocas e em todos os quadrantes da Terra”. Será através desta perspectiva que iremos aprofundar nossa pesquisa, procurando construir uma reflexão a partir de elementos conhecidos da Ufologia, associada àliteratura teórica existente sobre o tema. Partiremos em nosso pensamento pelo início da história moderna dos discos voadores, datado de 24 de junho de 1947, quando um norte-americano nascido em Sebeka, Minnesota, chamado Kenneth Arnold (1915-1984), enquanto voava sobre o Monte Rainier, no estado de Washington, a procura de uma aeronave de transporte militar C-46 que se acidentara na região, avistou o reflexo de nove objetos desconhecidos sobrevoando o local a cerca de 25 km ao norte de seu avião, realizando movimentos a uma velocidade que nenhuma outra aeronave conhecida daquele tempo poderia realizar.
Arnold tomou como referência o tempo em que eles se deslocaram do Monte Rainier para o vizinho Monte Adams para calcular a velocidade de cruzeiro dos objetos, e chegou ao resultado de cerca de 1.900 km/h, ou seja, mais do que a tecnologia daquela época. Oficialmente, a barreira do som só foi ultrapassada pouco mais de três meses depois, em 14 de outubro daquele mesmo ano, em um protótipo experimental Bell X-1 pilotado por Charles Yeager, porém voando a 15.000 m de altitude, bem acima dos 3.000 m em que Arnold estava.
Denominações originais
Ao descrever seu encontro para a imprensa e classificar os movimentos dos inusitados objetos como erráticos, “como quando se lança um pires sobre a água”, o termo pires voador logo se popularizou. Para o português, esta expressão foi traduzida como disco voador. A partir deste seu relato, muitas outras aparições de objetos com semelhantes características foram descritas, porém não se sabe ao certo quando se iniciou a atribuição de extraterrestre a elas. Como não se sabia — e ainda não se sabe — exatamente do que se tratava, e para deixar aberta uma possibilidade de explicação natural para cada avistamento, foi dada a eles a nomenclatura de objetos voadores não identificados, simplificado pela sigla OVNI, ou então UFO se nos referirmos ao termo em inglês unidentified flying object. No entanto, a aplicação deste termo leva à associação e interpretação imediata de tratar-se de objetos extraterrestres.
A partir de então, muitos outros casos foram relatados, documentados, discutidos e investigados. Muitas teorias foram elaboradas por diversos campos da ciência para tentar solucionar este mistério, mas ainda nada de definitivo surgiu. Seitas lideradas por ditos contatados pregando as mais variadas possibilidades de integração cósmica surgiram e cada vez mais aficionados se unem a elas buscando a salvação. Duros debates são realizados entre partidários de uma teoria contra os partidários de outra, porém, enquanto não formos capazes de aumentar o nosso conhecimento para uma base mais sólida do saber, isento de crenças pessoais, este quadro tende a se manter inalterado.
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