Em 2001, a Força Aérea Peruana (FAP) decidiu abraçar a pesquisa da presença alienígena na Terra e criou uma entidade oficial dedicada ao assunto, a Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA) — na verdade, um escritório [Oficina em espanhol] para receber relatos de avistamentos ufológicos e centralizar atividades de investigação dos mesmos. Esse foi o primeiro órgão governamental encarregado de tratar da questão dos objetos não identificados naquele país andino. Alguns de seus membros eram civis, outros militares, e eles relatam como realizavam suas pesquisas no Peru, país reconhecidamente ativo em termos ufológicos. Entre as ocorrências mais impressionantes estão o encontro que um grupo de militares armados teve com vários UFOs e o “sequestro” de um caça de combate em voo por um estranho veículo discoide.
Ação da opinião pública
Apesar da garoa que quase sempre cobre o céu de Lima, a capital peruana, avistamentos de UFOs são frequentes na cidade — onde, inclusive, há regiões consideradas hot spots de manifestações ufológicas. O último acontecimento significativo, e que aumentou ainda mais o interesse dos peruanos pelo tema, ocorreu ao anoitecer de 09 de setembro de 2010. Wilson Tafur, um jornalista que se encontrava no bairro limenho de San Juan de Miraflores, gravou dois vídeos nos quais se pode ver um objeto não identificado que se movimentava e emitia uma luz semelhante a de uma estrela. Em 15 de abril do mesmo ano, outra testemunha na região de San Borja captou imagens nas quais se observa mais um UFO sobrevoando as casas e mudando de cor.
Anos antes desses fatos, em abril de 2001, aconteceu um caso especialmente relevante para a Ufologia Peruana, quando Honório Bazalar, morador do bairro limenho de Las Viñas, filmou uma estranha aeronave durante as madrugadas dos dias 25 e 26. O brilho do objeto, que estava suspenso no céu, podia ser visto por cima dos postes de iluminação pública e se esvaecia ao amanhecer. O que esse caso tem de mais significativo — apesar de, à primeira vista, ser muito similar a outros que costumam passar despercebidos — foi o interesse que despertou em alguns meios de comunicação, fazendo com que fosse noticiado na capa do jornal El Comércio, um dos mais importantes do país, e uma televisão transmitisse o avistamento ao vivo.
Foi justamente essa circunstância peculiar que provocou as Forças Armadas Peruanas, que se viram praticamente obrigadas a tomar uma posição e a emitir uma declaração sobre a intensa incidência ufológica no país — uma clara cobrança da opinião pública. E assim, no segundo semestre daquele ano, engrenagens foram colocadas em movimento e criou-se o primeiro órgão oficial encarregado do estudo do Fenômeno UFO no Peru, a OIFAA. A entidade surgiu subordinada à Direção Nacional de Interesses Aeroespaciais (DINAE), pertencente à Força Aérea Peruana (FAP), e foi inicialmente comandada pelo general Jorge Del Carpio. Suas atividades regulares, no entanto, foram entregues ao comandante Julio Chamorro, ex-piloto militar, atual piloto civil e consultor da Revista UFO em seu país.
Participação da CIA
A equipe investigativa da OIFAA era formada, em seus primórdios, pelo especialista em direito espacial Abraham Ramírez Lituma, o engenheiro aeronáutico Hernán Rivas Machuca, a especialista em biblioteconomia Patrícia Mezet, o antropólogo Fernando Fuenzalida [Sem ligações com o ufólogo chileno Rodrigo Fuenzalida] e pelo pesquisador e advogado Anthony Choy Montes, correspondente internacional da Revista UFO no Peru. Com o passar do tempo, outros ufólogos foram sendo incorporados ao Escritório, como Mario Zegarra, membro pioneiro da Ufologia Peruana. Hoje a entidade mantém vínculos com congêneres do Peru e do exterior, como o Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA), no Chile, a Comisión Receptadora y Investigadora de Denuncias de Objectos Voladores No Identificados (Cridovni), no Uruguai [Veja artigo nesta edição], e a Comissión Ecuatoriana para la Investigación del Fenómeno UFO (CEIFO), criada em 2005 pelo Ministério da Defesa daquele país.
O objetivo da Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA) é pesquisar qualquer acontecimento ufológico com olhar crítico e objetivo. No ato de sua inauguração, que contou com a participação do autor e pesquisador espanhol J. J. Benítez, os militares da FAP fizeram referência a determinados registros de objetos voadores não identificados em poder do órgão desde os anos 40. Um deles, mencionado na ocasião, relata a experiência de um engenheiro da cidade de Arequipa que avistou um objeto metálico de forma discoide, do qual saíram “uns seres amorfos que pareciam de plasma ou gelatina”. Com casos assim, o caminho do Escritório estava aberto e a declaração de intenções da nova instituição ufológica era promissora: “Tudo será devidamente estudado e não teremos nenhum problema em comunicar à sociedade o resultado de nossas pesquisas”, declarou o general Del Carpio. Mas não foi bem assim.
Parecia, como também afirmou Fernando Fuenzalida em seu discurso, que a criação da OIFAA indicava o começo de “uma era de transparência e colaboração com os meios acadêmico e científico, com a comunidade civil e com a opinião pública do país”. Mas, foram cumpridos esses objetivos? Havia algo mais que estimulara a criação da entidade ou que a mantivera ao longo de sua primeira década de existência? Segundo Choy Montes, antigo membro do Escritório, os motivos de sua concepção são menos claros do que se poderia supor. “Os Estados Unidos tiveram papel importante nesse processo”, diz. O advogado afirma que existe uma conexão entre os serviços de inteligência e segurança daquele país, especialmente através da CIA, com todos os governos latino-americanos, “que são uma espécie de ‘quintal’ da superpotência”. Choy Montes, em entrevista à revista espanhola Año Cero, confirmou o que afirmara no Brasil anos atrás, onde fez conferência. Disse que os serviços de inteligência e segurança dos Estados Unidos se relacionam, no Peru, com o Ministério da Economia e o Comando Conjunto das Forças Armadas. “Os EUA se interessam por ocorrências ufológicas no Peru e chegaram, inclusive, a recuperar misteriosas aeronaves acidentadas — mas isso nunca será levado à opinião pública
”.
Em todo o continente
Para o estudioso, a criação do Escritório foi uma ação para acalmar a população, especialmente em um momento em que aconteciam muitos casos na região andina. Choy Montes crê que a influência norte-americana foi decisiva para sua criação. “Na realidade, foi parte de um processo que também aconteceu em outros países”, declarou. Já para o comandante Julio Chamorro, a criação do Escritório tem mais a ver com a questão da segurança aérea no país. “Estamos em uma região de muitos conflitos e a manutenção da soberania do espaço aéreo peruano é responsabilidade de nossa Aeronáutica. Assim, os UFOs, como tudo o que voe sobre nosso território sem identificação, devem ser monitorados”, afirmou Chamorro. Entre outros motivos, o comandante também acredita que o narcotráfico tenha tido alguma influência para a criação do órgão: “Na época em que se fundou a OIFAA, nós derrubávamos aviões civis que transportavam droga. Havia até uma região na qual, se alguém voasse depois das seis da tarde, era derrubado sem aviso prévio. Era necessário dar a essas ações um marco legal”.
Ufólogo veterano, Chamorro reconhece que a questão ufológica em seu país é de grande gravidade. Um dos casos mais famosos do Peru aconteceu em 11 de abril de 1980, quando o oficial da Força Aérea Peruana (FAP) e aviador Oscar Santa Maria Huertas decolou com seu caça da Base Aérea La Joya, em Arequipa, para interceptar um UFO. Chamorro — que naquele dia estava na instalação militar — lembra que todos os presentes estavam em formação quando surgiu uma nave no final da pista de pouso e decolagem. Como o país acabara de receber novos caças soviéticos, as aeronaves interceptadoras Sukhoi 22, um deles foi despachado para perseguir o UFO. Chamorro informou, inclusive, que havia dois mil homens em operações militares no deserto. “Todos na base puderam ver o UFO se aproximar e voar sobre nós. O piloto que foi ao seu encalço, Santa Maria, nos disse assim que aterrissou que tinha passado a uns 20 m da estranha aeronave, podendo vê-la muito bem. E toda essa movimentação ainda ficou registrada
no radar”, declarou.
O comandante também viveu experiências ufológicas marcantes, inclusive uma situação em que ele e outros militares tiveram que atirar contra estranhos aparelhos voadores que os sobrevoaram. “Foi espetacular, um combate real contra aeronaves desconhecidas”. Ele conta que UFOs chegaram a iluminar um quartel situado no meio do deserto, como se fosse dia. Meses depois da criação do Escritório, acabaram sendo conhecidos detalhes de alguns casos ufológicos investigados secretamente pela FAP.
Fujimori testemunha um UFO
Um dos mais interessantes teve como principal testemunha o ex-presidente Alberto Fujimori. Ele estava pescando na selva, na região de Iquitos, quando, de repente, ele e seus seguranças contemplaram o surgimento de uma nave que se movia sobre o lago e emitia um som parecido com o de um aspirador de pó. Um dos presentes contou ao comandante Chamorro que todos se olharam entre si, como se perguntando como deveriam agir. E então, Fujimori, já partindo do local, simplesmente disse: “Isso não aconteceu”.
Anthony Choy Montes relata a empolgação inicial dos integrantes do Escritório quando, no começo de suas atividades, recebiam uma média de quatro ou cinco relatos semanais — às vezes eram três casos por dia. Em fevereiro de 2002, Ivan Iza, um jovem que havia filmado vários objetos não identificados no norte do país, ligou para a OIFAA para relatar os fatos, e Choy Montes começou sua investigação dos casos, que acabaram chamados de Incidente Chulucanas [Veja artigo nesta edição]. O primeiro vídeo de Iza datava de 13 de outubro de 2001, ao anoitecer, e foi obtido durante a famosa procissão do Senhor de Ayabaca, em Chulucanas, uma cidade a quase 1.000 km ao norte de Lima, quase na divisa com o Equador. Ali, mais de 300 pessoas viram a manifestação de oito bolas de luz alaranjadas que evoluíram lentamente no céu durante duas horas e meia.
Em 25 de outubro, Iza obteve uma nova filmagem na qual se viam bolas de luz em grupos de duas ou três, que apareceram e desapareceram durante 25 minutos. Depois surgiu um objeto em forma de lágrima e duas esferas que aparentemente pousaram em um campo. Em 15 de novembro, um terceiro vídeo mostra outro objeto luminoso se movimentando em zigue-zague no céu. Todo esse conjunto de ocorrências ufológicas elevou a cidade do estado peruano de Piura à condição de um dos mais ativos hot spots do mundo. Choy Montes ainda descobriu naquela região muitos outros casos, como um de 1959 envolvendo um piloto da Força Aérea Peruana (FAP) que teve um encontro dramático com um UFO — que o sequestrou. Segundo o militar, ele esteve por bastante tempo no interior de uma nave e depois seus tripulantes o devolveram ao seu avião. Ninguém soube explicar como pode permanecer no ar por cerca de duas horas, quando tinha combustível para apenas 45 minutos…
Outros pilotos da FAP relataram que, em meados de 2000, quando sobrevoavam a região de Chulucanas e o Cerro Pilán à noite, viram um enorme círculo de fogo em forma de aro luminoso, de 15 a 20 km de diâmetro. Tais casos foram se acumulando até que se tornaram insustentáveis, e as Forças Armadas Peruanas não tiveram outra opção senão lançar a Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA), em 2001. Mas parte das ocorrências ufológicas no extremo norte do país foi investigada por Anthony Choy Montes em caráter particular. “A imprensa ficou excitada com tantas filmagens vindas de Chulucanas e a FAP não teve saída a não ser reconhecer a legitimidade do que hoje chamamos de Incidente Chulucanas”, declarou. O Escritório teve conhecimento formal de todos os fatos através dos relatórios de Choy Montes, e, em 19 de novembro de 2002, o general César Cortez Mansilla e outros dez oficiais admitiram as ocorrências.
Operações secretas e roubos
Apesar da posição oficial da O
IFAA, o advogado, hoje afastado da entidade, continua convencido de que sua criação serviu apenas para dar uma satisfação à opinião pública. “Durante o tempo em que permaneci no órgão, percebi que havia algo estranho acontecendo, pois recebíamos muito poucos casos para pesquisar — os mais impactantes eram examinados por outros canais militares do país”, disse. Ele recebeu da FAP a oferta de um cargo de capitão na arma, mas disse que só aceitaria com duas condições: ter apoio econômico para suas pesquisas e total liberdade para a divulgação de seus resultados. Quando foi informado de que nem tudo poderia ser revelado, Choy Montes recusou a oferta e confirmou, assim, as suspeitas de que a OIFAA não era o que imaginava.
O Incidente Chulucanas era forte demais para ser revelado à sociedade? Estariam os serviços de inteligência dos Estados Unidos por trás de manobras que visaram diminuir a repercussão dos casos? Essas são hipóteses que Choy Montes não descarta e que, se confirmadas, mancham a ideia do Escritório como uma entidade aberta e transparente de pesquisa ufológica. Seja como for, a trajetória da OIFAA é marcada por estranhos acontecimentos, como um roubo em sua sede, em 2004, que até hoje permanece sem esclarecimento. O local fica na Rua José Gálvez, em Lima, e foi arrombado de maneira muito peculiar. “Entraram e levaram apenas cinco computadores da entidade”, contou o comandante Julio Chamorro. Os ladrões podiam ter roubado outros objetos e até armamento que ali havia, mas levaram apenas os computadores.
Além da estranheza do delito, cujo autor nunca foi descoberto, é ainda mais estranho que alguém pudesse ter entrado em um edifício militar, onde se localizava o Escritório, que é sempre guardado por vigilantes e tem medidas de segurança rígidas. Após um mês do roubo, a casa do antropólogo e integrante da OIFAA Fernando Fuenzalida também foi invadida. “Mas só levaram o disco rígido do computador, onde havia todas as minhas informações”, disse Fuenzalida. Finalmente, dois meses depois, um novo roubo aconteceu, agora no escritório do advogado Anthony Choy Montes. Quebraram a porta e levaram todos os computadores — desde então ele mantém cópias de tudo.
Pouco a pouco, os membros fundadores da Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA) foram se afastando, praticamente paralisando suas atividades. Atualmente, apesar de continuar sendo parte integrante da Força Aérea Peruana (FAP), O Escritório está inativo — pelo menos para o público. Sua nova sede fica em uma instalação militar da FAB na Rua Arequipa, na região central de Lima, onde os soldados que guardam o prédio sequer sabem de sua existência.
Com uma história tão recheada de fatos obscuros, as pretensões de transparência do Escritório acabaram ficando pelo caminho. Por esse motivo, nos últimos anos surgiram iniciativas interessantes no Peru, como a criação do grupo Cidadãos Peruanos Contra o Segredo aos UFOs, fundado por Mario Zegarra em 2008. Outra iniciativa notável foi o ofício enviado por Anthony Choy Montes ao ministro da Defesa Antero Flores Araoz, pedindo a liberação de todos os documentos militares sobre objetos voadores não identificados em poder da Força Aérea — mas até o momento não houve qualquer resposta que demonstre vontade de cooperação dos militares.
Peru, país onde o Fenômeno UFO é ainda mais rico e espantoso
por Carlos Tudor
Durante o tempo em que a Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA) esteve ativa, muitas pessoas relataram experiências ufológicas contando com as providências do órgão. O comandante Julio Chamorro, seu administrador de fato e consultor da Revista UFO desde 2009, recorda que um dia recebeu a ligação de uma pessoa muito assustada querendo descrever um fenômeno. “Tinha um espanhol bem complicado e disse que havia andado muito para achar um telefone para nos ligar, e que tínhamos que ouvi-lo”, lembra Chamorro — que já foi piloto militar e hoje é comandante de uma companhia aérea peruana.
A testemunha era de Cuculicote, uma localidade do Estado La Libertad, no noroeste do Peru, e disse que o Escritório tinha que ajudar seus vizinhos, porque todas as noites aparecia “uma nave grande da qual saíam outras pequenas”, que pairavam sobre a cidade a noite toda “até irem embora de manhã”. Chamorro perguntou se tinham tentado atacar os objetos voadores não identificados, e o homem respondeu que não. “Os artefatos não fizeram nada para nós, mas o que acontece é que, quando chegam, os burros relincham a noite toda, as vacas não dão leite, as galinhas não põem ovos, os cachorros latem sem parar e não conseguimos dormir”, disse o homem. Para Chamorro, esse é um claro exemplo da mentalidade dos moradores de algumas regiões do Peru. “Eles não estão preocupados com UFOs, mas não querem ser incomodados por eles”.
A água começou a esquentar
Outro caso interessante narrado pelo comandante foi um dos últimos episódios que ele pesquisou para a Força Aérea Peruana (FAP). O fato aconteceu em abril de 2008, em San Juan de Yarinacocha, uma região de selva. Os moradores do local apresentaram uma denúncia à FAP na qual afirmavam estar sendo amedrontados pela aparição contínua de objetos luminosos que “tentaram levar pessoas” que estavam pescando em diversas oportunidades.
Em uma ocasião, um garoto que estava em sua piragua — uma espécie de bote de pesca pequeno — viu uma nave lançar um feixe de luz sobre sua posição. Assustado, ele se escondeu embaixo do bote, mas a água começou a esquentar. Em seguida, chegaram ao lugar outros moradores, que começaram a atirar com suas armas na direção do UFO, até que o objeto desapareceu. Dias depois, vários militares da FAP viram nas proximidades um artefato voador disforme que pulsava. O comandante Chamorro gar
ante que em toda a região ainda há muitas outras ocorrências similares esperando ser investigadas.