Nos idos dos anos 50 – “a década dos contatados” – o advogado José Carlos Paz Garcia Corrochano começou a interessar-se por assuntos relativos ao espaço, Como astrônomo amador, fazia parte da Associação Peruana de Astronomia. Alarmado com os informes das primeiras grandes ondas de aparecimentos de UFOs, propôs, inutilmente, que a conservadora organização estudasse o fenômeno. Decepcionado com as negativas, resolveu fundar, em 31 de janeiro de 1955, uma entidade própria, que batizou de Instituto Peruano de Relações Interplanetárias (IPRI), congregando de início um grupo de amigos. A essa altura, já era pai de um garoto, Carlos Roberto Paz Wells, nascido no ano anterior.
Em 1956 nasceria Sixto Paz Wells. Por crescerem num ambiente em que as discussões em torno dos discos voadores invadia até a sala de jantar, ambos acabariam seguindo os passos do pai, desempenhando futuramente papéis fundamentais na criação de um movimento que congregaria milhares de seguidores e suscitaria uma polêmica interminável. Durante quase 20 anos, mantiveram-se discretos, até que, no final de 1973, uma notícia vinda da Colômbia, dando conta das experiências levadas a cabo pelo engenheiro Enrique Castillo Rincón, influenciaria decisivamente seus destinos.
Rincón reunira um grupo de sensitivos e intentara estabelecer contato mediúnico com extraterrestres através da telepatia. Um dos médiuns da equipe alegou que havia conseguido falar com seres que se disseram chamar Cromacan e Krisnamerk. Para dissipar as dúvidas dos demais integrantes, o sensitivo resolveu agendar um encontro com as tais entidades. Marcaram um local, onde um IJI-O iria aparecer, para espanto geral.
No início de 1974, José Carlos e seu filho Sixto assistiram a uma palestra sobre telepatia feita pelo doutor Victor Yañez Aguirre – médico do Hospital da Polícia e presidente da Sociedade Teosófica de Lima saindo definitivamente convencidos de que esse meio de comunicação estaria sendo utilizado pelos tripulantes dos aparelhos extraterrestres. Em 22 de janeiro, Sixto convocou seus familiares para tentar estabelecer contato telepático com alienígenas através da psicografia. Munidos de papel e lápis, relaxaram e iniciaram uma concentração.
PRODUTO DO IMAGINÁRIO – Depois de quinze minutos, Sixto sentiu um desejo irresistível de escrever, e o lápis começou a rabiscar algo, surgindo uma série de palavras: “Meu nome é Oxalc e sou de Morlen, lua de Júpiter. Vocês a chamam de Ganímedes. Podemos entrar em contato. Logo nos veremos”. No dia seguinte, seu irmão convocou para a reunião 20 pessoas, todos filhos de membros do IPRI. Mas Sixto ainda pensava que tudo não passava de fruto de sua imaginação e ficou receoso. Não obstante, naquela ocasião, uma nova mensagem dos extraterrestres mencionava a data de 07 de fevereiro, às 21h00, e o Deserto de Chilca, situado a 60 quilômetros ao sul de Lima.
“Na hora e no lugar assinalados, objetos em forma de disco apareceram no horizonte e pairaram a uns 80 metros do grupo. Ficamos em pânico”, afirmou Sixto. Em estado de meditação e relaxamento profundo, sentiu repentinamente uma tremedeira e uma irrefreável vontade de escrever. “Coloquei o lápis no meio da página e de repente deixei de fazer rabiscos sem sentido. Surgiram palavras claras, em letra de forma, que diziam: \’a sala de estar é boa para fazer esta comunicação. Podemos falar sobre os UFOs em seu pais. Eu sou Oxalc, de Mor leu Podemos nos comunicar no futuro…
De volta a Lima, entrou novamente em contato com Oxalc, que marcou uma outra data. No dia combinado, havia unias 40 pessoas, inclusive o pai e o irmão de Sixto e o próprio doutor Yañez. Na hora indicada, surgiram seis objetos que não se aproximaram tanto como na primeira vez, mas mesmo assim permitiram que suas manobras fossem vistas por todos os presentes. Nos meses seguintes, já havia se tornado um hábito irem aos fins de semana para essa região, onde viveram situações cada vez mais alucinantes.
Conta Carlos Paz: “Um dia, estávamos indo ao local de observação e, de repente, no meio do caminho, meu irmão, que estava conversando com outro rapaz, sumiu em pleno deserto. Começamos a procurá-lo, apavora dos, e lá no fundo vimos uma luz entre as dunas”. Naquele lugar eslava Sixto, em estado de transe. Havia se estruturado ao redor dele uma espécie de névoa densa, quase fosforescente, como se estivesse dentro de uma luz estroboscópica.
DISCO METÁLICO – Quando o grupo chegou perto do contatado, que permanecia imóvel, o UFO estava em formação e um ser saiu do interior dele. Era humanóide, com cerca de 1,80 m, cabelo comprido, loiro, alto, vestia uma túnica semelhante a de Luke Skywalker, personagem de Guerra nas Estrelas. Tinha olhos puxados, parecia originário da Mongólia. Ele ficou a sua frente. Sixto deu meia volta, e o ser adentrou a luz, que se apagou. Então, o contatado acordou e perguntou: “O que aconteceu?” Porém, ele mesmo explicou que aquilo fora uma projeção quase holográfica.
Os aliens estavam nos preparando para que nos habituássemos à sua forma física. Na semana seguinte, apareceu outro objeto voador. Como de costume, ficou parado, e em seguida desceu lentamente. Totalmente metálico, ele diferia do primeiro por não possuir janela alguma. Sua porta se abriu e dali desceu uma rampa. Surgiu então uma criatura que gesticulava. \’\’Ficamos apavorados. Depois. um pouco mais calmos, caminhamos rumo ao objeto, até ficarmos praticamente em frente à escada uma espécie de plataforma. Vimos que o ser era humanóide. com quase dois metros de altura, cabelos loiros, quase branco – parecia um norueguês”, narrou Carlos Paz. Só que seus olhos eram muito mais puxados do que os vistos da primeira vez, e um pouco mais separados do que o normal em relação ao eixo vertical nasal.
Antes de produzir contato, os membros da Missão Rama buscam elevar sua vibração através de meditação e exercícios de respiração, ao mesmo tempo em que os guias do espaço descem ao nível dos humanos para difundir sobre o destino da Terra
O ser começou a adentrar o UFO e as testemunhas o acompanharam até a entrada, de onde divisaram um salão circular. Ele vestia um macacão inteiriço, com cinto e botas de cano longo. Os espectadores perceberam então que o ente não estava só: havia mais três. Mesmo um pouco assustadas, as testemunhas continuaram penetrando a nave. Foi então que puderam ver duas mulheres belíssimas vestindo uma roupa similar à dos homens. Elas usavam um capuz e seus rostos não apresentavam maquiagem. De acordo com Carlos, os corpos eram perfeitamente femininos.
Começaram então a ouvir a voz do ser que os estava guiando. “Mas, estranhamente, sua boca não se mexia. Ele conversou conosco: \’Não se assustem, está tudo bem. Não vamos fazer mal algum a vocês\’, acrescenta o contatado. Enquanto isso, eles continuaram avançando nave adentro. Do lado direito, no fundo, um ser eslava sentado numa espécie de poltrona super anatômica e havia um painel que era como uma televisão. O monitor er
a côncavo, e a imagem perfeita. De repente, vimos na tela nossa casa em Uma. Em nenhum momento, percebemos alguma câmera nos filmando, e eles tinham gravações inéditas de nosso cotidiano”.
Depois, começaram a mostrar imagens de vários lugares da ferra. Num dado momento, focalizaram uma área completamente árida, inclusive com “uma cor de céu diferente”. Um dos rapazes do grupo perguntou: “Que planeta é aquele?” Ele respondeu: “Esse não é um outro planeta, não. E o seu provável futuro”. Então, o ser explicou-lhes que sua equipe acompanhava a civilização humana há muito tempo e estava tremendamente preocupada com o homem. Segundo Carlos, essa equipe tinha o objetivo de começar a conscientizar a raça humana com relação ao que representa, como civilização, sociedade, organização tecnológica, em todos os aspectos.
Por outro lado, viam com certa apreensão que a tecnologia terrena estava evoluindo de tal forma que o homem começaria a indagar e a fazer experimentos, nos quais a ordem cósmica superior seria afetada. Eles queriam evitar que certo tipo de tecnologia pudesse colocar em risco sua própria tranqüilidade. Na verdade, tencionavam procurar pessoas na Terra dispostas a partilhar seus conhecimentos de civilização.
Então, ao que tudo indica, surgiu a oportunidade de nós, terrestres, sermos parte desse experimento. “Pensem e depois nos respondam. Se vocês não quiserem, não há problema. A partir daqui acabarão nossos contatos com vocês. Procuraremos outras pessoas no mundo que realmente possam vir a participar dessa experiência”, disseram os extraterrestres. Depois os contatados voltaram para Lima, onde relataram os episódios para os outros membros do grupo. Após aceitarem tal aventura, essa experiência continuou até agosto de 1974.
Durante o transcurso de outro contato anunciado no mês de julho, Sixto vinha caminhando por ChiIca em companhia de umas 20 pessoas, e de repente encontrou-se sozinho, dois quilômetros adiante dos demais. “Quando atravessei uma colina vi uma meia-lua dourada, brilhante, no solo. Era um xendra, uma espécie de porta espaço-temporal. Tinha uns cinco melros de diâmetro e me senti atraído por ela. Em seu interior vi um ser alto, de cabelos longos e traços mongóis. Ele fez gestos para que eu me aproximasse dele”, lembra Sixto.
O ente disse-lhe que iriam viajara Ganímedes. Então, de acordo com o contatado, ele e o ser deram alguns passos e saíram para um lugar muito diferente de Chilca. No fundo havia uma grande cúpula que, segundo Oxalc teria confidenciado a Sixto anteriormente, era a cidade de Cristal ou Matriz, O ser contou-lhe, então, que não eram procedentes de Morlen, mas que vinham de Orion e que haviam estabelecido colônias ali há 20 mil anos.
HOMENS DO ESPAÇO – Noutra ocasião, conta Carlos Paz, tiveram o privilégio de contatar pessoalmente o famoso comandante Ashtar Sheran, da Frota dos Homens do Espaço: “Éramos apenas seis pessoas quando uma nave pousou e apareceu uma figura desconhecida. Apresentou-se como Ashtar Sheran. Era loiro, olhos claros, com semblante sério, mas não tão duro; um olhar penetrante. O cabelo não era totalmente penteado para trás; tinha uma mecha na frente. Foi a única vez que o encontramos. Ele nos disse que, quando voltássemos para Lima, os meios de comunicação iriam servir para divulgarmos o que eslava ocorrendo conosco”.
Não demorou muito para que aquelas experiências repercutissem estrondosamente no mundo inteiro por obra da Imprensa, Sixto atreveu-se a assegurar sem nenhuma vergonha que não só os havia visto, como também tinha visitado seu lugar de origem. O correspondente da Agência EFE na capital peruana, Enrique Valls, foi quem em princípio lançou a transloucada notícia, em 23 agosto de 1974: “Seis membros do IPRI estabeleceram contato com um disco voador procedente de Ganímedes, o maior dos satélites naturais de Júpiter. \’O grupo indicado vem mantendo contato com extraterrestres há oito meses\’, revelou à EFE o presidente da instituição, José Carlos Paz Garcia”.
De modo oportunista, os componentes do citado grupo aproveitaram então para anunciar a criação da Missão Rama, destinada a conscientizar a Humanidade de que nosso mundo estava perto da destruição. “As notícias publicadas logo depois foram supersensacionalistas”, admitiu Carlos Paz. Da Espanha, o jornal La Gaceta dei Norte, de Bilbao, enviou um correspondente internacional, até então totalmente cético, o jornalista J. J. Benítez.
PROVA CABAL – APÓS entrevistá-los, Benítez disse a Carlos, o mais velho e que se considerava o menos místico do grupo: “O que vocês estão falando aqui é muito simpático, agradável, transcendental, mas não vejo nada de extraordinário nisso. Já que vocês são tão íntimos de extraterrestres, por que não posso participar de um encontro com eles? Se o que eles querem é dar a conhecer que estão em contato com um grupo de pessoas, talvez possa divulgar essa notícia ao mundo”. Carlos acabou aceitando, por conta própria, marcar o encontro. Ligou para ele e acertou a data: 07 de setembro. “E dia do meu aniversário!”, exclamou Benítez. “Ótimo”, falou Carlos, “… tomara que você ganhe um presente”.
Quando os demais membros do grupo souberam o que Carlos tinha feito, ficaram deveras irritados com sua atitude. Desencadeava-se aí o primeiro dos inúmeros problemas internos, prenunciando o racha da instituição. No dia combinado, levaram Benítez ao local. O tempo não prometia: o céu de inverno estava coberto pelo nevoeiro. Passaram-se horas e começou a esfriar muito. De repente, uma senhora deu um grito. Ao olharem para cima viram uma luz na névoa, como se houvesse um holofote atrás. Um objeto luminoso começou a descer, irradiando a bruma ao redor.
“Benítez deu um pulo para trás, apavorado, e correu em direção ao grupo. O objeto voltou a subir. No momento em que apareceu um segundo objeto ao lado, o primeiro baixou novamente. Havia um pequeno UFO dando voltas ao redor dele. Foi uma coisa fantástica. No dia seguinte, o jornalista voltou para a Espanha e durante 12 semanas publicou em seu jornal páginas inteiras narrando tudo que presenciara no Peru”, contou Carlos Paz.
As crônicas elevaram a tiragem do jornal em mais de 20 mil exemplares – ele então já exercitava seu dom de vender livros. A convite da Editora Plaza & Janes, de Barcelona, Benítez publicou Ovnis: SOS a la Humanidad, onde narra essa experiência. Em 1975, ele retornou ao Peru com o jornalista e fotógrafo Fernando Mugica. Os dois participaram de outro encontro junto com 12 membros da Rama, em 07 de fevereiro, no Deserto de Chilca.
“Foi como se um cavalo tivesse me dado um coice no estômago. Pulei para trás e, ao me virar, vi entre as nuvens uma luz branca tão intensa que chegava a formar uma auréola. Era 21h15 a hora dada pelos extraterrestres para sua aparição no local”, contou Benítez no segundo livro, 100.000 km trás los ovnis. As reportagens, os livros e um documentário na TV Espanhola foram os responsáveis pela propaga&
ccedil;ão da Missão Rama no mundo. Entrementes, as brigas internas no grupo já provocavam as primeiras divisões.
De um lado, Sixto liderava uma das facções e de outro, seu irmão, que fixou-se no Brasil em 1976, formou o primeiro rebento do grupo Rama. “Sixto estava apenas com um grupinho completamente fechado, e eu fundei as associações. Quando vim para cá, entreguei na mão dele esse trabalho. O Peru tinha ficado como ponto chave, porque foi lá que começaram as experiências. Então, meu irmão começou a fazer a difusão das experiências, dentro de um esquema que eu não aceitei”, contesta Carlos.
E continua: “Ele queria que os grupos se mantivessem economicamente. Era uma linha de trabalho flexível e perigosa, e acabou criando desequilíbrios. Algumas pessoas tiveram problemas familiares, com a polícia, entre outros. Então, meu irmão se conscientizou de que o que ele estava fazendo não era certo e decidiu encerrar suas atividades nesse campo. Ele passou a fazer somente palestras e a dar conferências públicas no exterior”. O grupo original foi pouco a pouco se desintegrando. Numerosos outros segmentos do Rama começaram a surgir.
NOTÍCIA DESMENTIDA – Em 1979, só na Espanha, já se contabilizavam 600 deles, ainda que apenas uns 20 estavam relacionados entre si. Outros seguiriam caminhos independentes, como o caso do Grupo Aztlan. No começo dos anos 80, as dissidências da Rama entraram em decadência. E em 1985 o autoproclamado contatado Juan Ester Pique difundiu o boato em Barcelona de que Sixto, em silêncio há anos, havia se suicidado. Mas ele desmentiu a notícia através de seus amigos e anunciou uma nova visita à Espanha. Ironicamente, o falso anúncio de sua morte serviu para que o grupo renascesse, saindo da letargia de quase uma década. Rama ainda estava atuando, se bem que fracamente, porém correndo inclusive o risco de desaparecer.
Como um remake dos episódios de 1974, a missão voltou à baila. Em abril de 1986, da mesma forma que antes, Sixto comunicou que os guias haviam-no convocado novamente, marcando um encontro no Deserto de Chilca. Lá, um grupo de pessoas viu uma nuvem amarelada da qual partiu um raio de luz que as envolveu. Um ano depois, em 30 de março de 1987, Sixto contou que fizera uma nova viagem a Ganímedes.
O contatado ascendeu a uma cidade distinta daquela que tinha visto em outra ocasião e que estava situada em um vale, o qual unia suas ladeiras mediante túneis de cristal. “Vi muitas pessoas de aspectos diversos transitarem por lá. Alguns seres eram muito altos, com cabeça em forma de pêra invertida e braços quase até os pés. Aquela era a Cidade da Fraternidade, um lugar habitado por uns 12 mil indivíduos de procedências variadas, dentre eles terrestres dados como desaparecidos”, relembra Sixto.
Em mensagens psicografadas posteriormente, os guias extraterrestres asseguraram que alguns desses desaparecidos estavam sendo devolvidos. Em 21 de fevereiro de 1989, Sixto recebeu uma mensagem segundo a qual os jornalistas poderiam assistir, no final de março, a uma aparição no Peru. Na noite de 27 de março, o avistamento ocorreu. Seis espanhóis testemunharam o encontro, entre eles Joan Baseda, da Radio El Vendrell, de Tarragona. Com os novos contatos e depoimentos, Sixto conseguira reativar a Missão Rama. No final dos anos 80, o grupo já contava com seguidores em 33 países. O ressurgir dos grupos havia sido espetacular. Dezenas deles foram criados ou redispostos em tomo de algum núcleo principal, agora em Lérida, lugar que Sixto apontou como possível residência e onde, segundo alguns, possuía uma milionária conta bancária.
Outros, no entanto, alegavam que a tal conta não seria mais do que um fundo mantido pelos grupos para atividades e financiamento de viagens. Em 14 de outubro de 1990, Sixto surpreenderia novamente. Em El Vendrell, durante o transcurso do II Congresso Internacional de Ufologia de Penedés, deu por encerrada a Missão Rama em uma reunião com seus membros espanhóis, na qual os fez ver a preocupante inclinação messiânica que o grupo tomava na América do Sul. Para Sixto, o plano da Rama havia-se cumprido entre 1989 e 1990 com as viagens ao Egito e Taiti, durante as quais estabeleceu-se contato com a chamada Irmandade Branca, um grupo de 32 seres extraterrestres encarregados de uma missão pacificadora.
GESTO DESAFIADOR – Aquela dissolução abriu uma nova polêmica. Carlos Paz, em uma de suas visitas à Espanha, disse que a decisão de desativar a Rama havia sido tomada unilateralmente por seu irmão e não devia ser levada era conta. Em um gesto desafiador, negou-se a fechar os grupos do Brasil. O auge dos embates entre os irmãos ocorreu no dia 31 de março de 1994, no popular programa La Máquina de la Verdad, transmitido pela cadeia espanhola de televisão Tele 5, no qual o protagonista de cada semana é submetido a uma acareação com os demais implicados em algum escândalo, para logo depois ser conectado a um detector de mentiras.
Perguntas comprometedoras são feitas como num interrogatório. Na ocasião, Sixto foi submetido ao polígrafo da verdade, que apontou que era sincero quanto às afirmações de que estaria em contato com extraterrestres, mas mentia quando afirmava ter viajado a Ganímedes. O resultado negativo do teste maculou de vez a reputação já abalada de Sixto. No Brasil, Carlos Paz. também não é bem visto pela comunidade ufológica, principalmente pelos pesquisadores que se dizem da linha científica, que o acusam de montar os cenários dos contatos, falsificar dados e exagerar nas mentiras – como quando afirma poder ir, sempre que deseja, a outros planetas atravessando um portal com vistas a ser encarado como um “guru”.
O fato é que Carlos tornou-se conhecido no Brasil ao co-participar de uma grande farsa. Mal havia chegado no país, apresentou um repertório fotográfico fraudulento à revista Manchete, que o publicou na edição n° 1497, de 07 de abril de 1979, na matéria Encontro marcado com disco voador. O que pareciam UFOs multicoloridos sobre o Bairro do Butantã, em São Paulo, não passavam de fogos de artifício. De acordo com o que nos contou o veterano ufólogo Max Berezovsky, o autor das fotografias era outra pessoa, que tratou logo de desvincular-se delas. Carlos Paz apenas apossou-se das mesmas, reivindicando para si a autoria. Posteriormente, no entanto, comprovou-se a armação, e só então ele passou a negar qualquer tipo de envolvimento no caso.
PREPARO COLETIVO – A revista Manchete publicou em 1996, na edição 2329, de 23 de novembro, na seção Linha Direta, uma carta de Carlos Paz em que diz: “Por equivoco, foi-me atribuída a participação na produção das fotos, coisa que em nenhum momento confirmei. Ocorre que, infelizmente, alé
m de ter sido apresentado como co-autor das fotografias, resulta que as mesmas eram falsas. Nesse sentido, quando fui convidado pela revista Manchete para participar de uma reportagem sobre discos voadores, foi-me requisitado material fotográfico para ilustrar a matéria.
“Razão pela qual apresentei uma relação de fotos, dentre as quais se encontravam as trucadas. Já em 1979 o reconhecimento de minha fenomenologia de contatado havia, em muito, ultrapassado as fronteiras brasileiras. Peço a publicação desse esclarecimento na tentativa de redimir o erro que, sob qualquer condição, foi apenas um acidente, sem responsáveis diretos”. Muitos se perguntaram, todavia, por que 16 anos depois das fraudes Carlos resolveu mandar a carta desagravo?…
Valendo-se de um modus operandi semelhante ao de seu irmão, Carlos Paz prefere os locais ermos – como a Serra da Mantiqueira, que foi usada de 1987 a 1993 e depois descartada, porque muitas pessoas de fora do grupo, atraídas pelas experiências, invadiram a região para estabelecer contatos, também previamente marcados. Há uns dois anos, mudou o nome de Missão Rama para Projeto Amar, com a intenção talvez de livrar-se da pecha de seita. Para não mencionarmos apenas os pontos que lhes são desfavoráveis, evitando parcializar a discussão, citaremos textualmente o que ele próprio pronunciou numa entrevista que concedeu à revista Planeta, em setembro 1993:
“Nossa configuração estrutural é muito simples; todos os elementos do grupo são preparados para ler contatos, que vão desde a experiência telepática até a concreta ver o disco voador e conversar com seus tripulantes. Quando chegam a esse nível de comunicação, os membros são obrigados a montar outra ramificação. A experiência vem como comprovação do processo, e só a partir de três anos. aproximadamente, a pessoa terá um contato, que vai evoluir. Uma vez considerada apta. essa pessoa passará a colaborar com a formação de outros grupos.
“Integramos uma equipe de contato que esta se rei acionando com cerca de 15 sociedades alienígenas. Dessas. apenas cinco têm se manifestado mais freqüentemente. Idas são de um leque de planetas próximos, entre Alfa do Centauro e Orion. O mais próximo orbita ao redor da estrela Alfa na constelação de Centauro, a -1,5 anos-luz daqui, tem uma tecnologia muito louca que. na verdade, transporta-os não apenas a velocidades superiores à da luz, mas através de umbrais de tempo”.
Em 1974, aconteceu um fenômeno extraordinário com Carlos Paz, conforme ele mesmo relata: “Numa viagem, saí daqui da Terra e fui para o planeta deles em segundos. Permaneci lá durante 15 dias, mas quando retornei tinham-se passado apenas 15 minutos. Teoricamente, eu estaria coexistindo em dois lugares do universo ao mesmo tempo – só que, pelas distâncias, não provoquei nenhum tipo de mudança nessa relação de tempo e espaço. Se eu tivesse me encontrado comigo seria um absurdo; ai teríamos criado um paradoxo de tempo. Biologicamente, estou 15 dias mais velho, não apenas 15 minutos. Loucura, não?!”
ETs HOSTIS – Carlos critica a posição dos muitos investigadores que acreditam que os terráqueos são cobaias de ETs. “Se isso fosse verdade, eles estariam fazendo um jogo extremamente perigoso conosco. Afinal, estão nos dando a possibilidade de conhecê-los. A partir do momento em que temos nítida e clara a sua presença, temos a condição do revide a qualquer instante. Qual seria a vantagem de eles nos submeterem a alguma coisa? Os extraterrestres são fundamentalmente vegetarianos e sintetizam seu alimento no próprio universo. Não precisariam, portanto, vir à Terra para retirar fontes e recursos de alimentação. Então, essa história não se justifica. Podem existir extraterrestres cujo nível de evolução é apenas tecnológico Filosoficamente, talvez não sejam tão transcendentais. Mas duvido que sua condição de relacionamento seja hostil”, sugere.
Indagado, na mesma entrevista, se sua atuação no campo profissional como dono da agência de publicidade F/Nazca e gerente de propaganda da empresa Philco não entrava em choque com as convicções que os extraterrestres lhe infundiram, respondeu: “Não tenho qualquer tipo de conflito ético, pois tenho trabalhado sempre em empresas voltadas a produtos que não ofendem de modo algum o consumidor. Não vou promover uma atividade de marketing em cima de um produto em que não acredito”.
Entretanto, ao inserir a figura de ETs – tipo alfa, os cinzentos ou grays – numa campanha, envolveu-se em outra polêmica. Conforme reportagem de Renato Pires e Marcelo Queiroz, publicada no jornal Propaganda & Marketing, em 30 de julho de 1996, uma liminar do Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (Conar) determinou, no dia 26 de julho, a suspensão da veiculação dos comerciais da campanha ETs, criada pela F/Nazca S&S para uma nova linha de videocassetes da Philco.
O documento foi assinado pelo publicitário Enio Basile Rodrigues, conselheiro relator da Câmara de Ética da entidade. A suspensão foi feita depois que o Conar recebeu cartas condenando as cenas de tortura apresentadas na campanha. Os filmes mostravam seres extraterrestres sendo torturados por funcionários de fábricas de produtos eletrônicos, que não acreditavam que o aparelho da Philco tinha sido produzido no planeta Terra. De acordo com Ednei Narchi, diretor executivo do Conar, as reclamações que levaram à abertura de processo foram feitas por Fábio Magalhães, presidente do Memorial da América Latina, e por um representante da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.
As cartas afirmam que as cenas exprimem grande violência, “… o que afronta a cidadania, a ética e os direitos humanos”. Também um jornal de Recife publicou que o Ministério Público solicitou à TV Globo cópias dos comerciais que, segundo denúncia da Rede Estadual de Entidades pelos Direitos Humanos, contêm cenas de tortura e racismo. Fábio Fernandes, presidente da F/Nazca e diretor de criação da campanha, rebateu as acusações dizendo que a suspensão era “uma atitude autoritária e arbitrária, configurando censura”. Para ele, a campanha era nitidamente bem-humorada.
O jornal Propaganda & Marketing voltaria ao assunto em 06 de agosto, dizendo que em apenas 18 horas a F/Nazca foi obrigada a criar, produzir e colocar no ar um novo comerci
al – intitulado Tortura nunca mais – para substituir os filmes com os ETs da Philco, suspensos pelo Conar. Cenas do universo eram mostradas, e uma locução em off lia o seguinte texto: “Em respeito aos direitos humanos dos extraterrestres, a Philco numa atitude inédita vem revelar o segredo dos seus videocassetes. Concorrentes, larguem as orelhas dos ETs, e anotem: \’A Philco usa a tecnologia xizbedozeintergaláticaglacialciberpslonv4spartrektotal\’. Pronto. Os ETs não têm culpa. Liberdade para os ETs. Tortura nunca mais”. Na cena final, surgiam seis ETs dizendo: “Obrigado, Philco”.
MÁQUINA PUBLICITÁRIA – Em entrevista ao jornal Propaganda & Marketing, de 27 de agosto do ano passado, Carlos Paz falou ao repórter Renato Pires qual era a sua opinião sobre a decisão do Conar de suspender sua campanha: “Esse descompasso com o Conar é coisa do passado. Felizmente não arranhou a imagem da Philco e nem da agência, claro. Seria o fim, se isso ocorresse. Quanto ao ganho na mídia, sem dúvida houve repercussão positiva. Mas foi apenas uma decorrência de uma boa publicidade. Esta, sim, planejada. O resto, aconteceu…”, lamentou-se.
Destarte, em muitos ufólogos ficou a impressão de que a campanha intencionava, subliminarmente, transmitir através da poderosa máquina publicitária uma idéia de cunho maniqueísta: “Os ETs bons são os altos e loiros. Os baixinhos e cinzentos são maus por natureza e, por isso, não há nenhum problema em torturá-los”. Não por acaso, os ETs de conformação ariana são o protótipo dos “messias espaciais” que vieram nos salvar de nós mesmos e dos ataques dos “cinzentos nefastos”. Uma reedição moderna da eterna batalha entre deuses e demônios.
Missão Rama ou Projeto Amar
A HISTÓRIA DO GRUPO de contatados e simpatizantes Missão Rama começou com uma mensagem telepática que o peruano Sixto Paz recebeu, em 22 de janeiro de 1974, de um suposto extraterrestre chamado Oxalc. Sua experiência no Deserto de Chilca, no Peru, assim como a sensibilidade do método empregado para comunicar-se com seus guias, deu-lhe popularidade. Esse encontro seria aparentemente confirmado duas semanas mais tarde, diante de 12 pessoas, com o avistamento de uma nave em forma de hambúrguer – que os tais guias lhe haviam anunciado.
Dias depois, uma nova manifestação – desta vez, seis naves apareceram diante de 40 testemunhas – serviria para confirmar a um crescente número de pessoas a veracidade dos contatos. O fato do pai de Sixto, Carlos Paz García, presidente de um conhecido grupo de estudos sobre UFOs, estar presente nesta última manifestação facilitou os acontecimentos que chegaram à imprensa local.
Se há algo que pode diferenciar a Missão Rama de outros grupos é o fato de dizerem que as afirmações de seus membros têm sido sempre acompanhadas por constatações físicas de naves alienígenas e portas interdimensionais. E um dos poucos grupos que segue desconcertando as mentes retrógradas dos que negam, à primeira vista, a possibilidade de um contato. Os princípios desse grupo têm sido disseminados em várias partes do mundo, especialmente em áreas hispano-brasileiras.
Rama, conforme Sixto, tem o objetivo de lograr um verdadeiro despertar de consciência e conectar as pessoas num fluxo de informações. Antes de se produzirem os encontros, seus membros procuram elevar suas vibrações através de meditações e exercícios de respiração, ao tempo em que os guias descendem ao nível dos humanos. No entanto, não alentam dependências com ETs nem com mestres das hierarquias brancas. O outro lado da moeda é seu irmão Carlos Paz Wells que, como Sixto, porém menos reservado, alega ser contatado e vai mais além: viaja em corpo físico a diversos locais de nossa galáxia, sobretudo a Ganímedes.
Polígrafo abala credibilidade de Sixto
As notícias dos aludidos contatos ufológicos de Sixto Paz Wells transcendem as fronteiras do Peru há várias décadas, mas sua popularidade, assim como de seu irmão Carlos, já vem perdendo prestigio desde que as desavenças dentro da Missão Rama levaram á sua dissolução. Além disso, o sectarismo do grupo, que chegou a possuir somente na Espanha, nos tempos áureos, mais de 600 subgrupos, que impedia uma centralização de idéias e ações, enfraqueceu ainda mais a missão. Diversos outros problemas, como casos de separação familiar e doença mental em alguns membros, abalaram as estruturas do movimento.
Entretanto, nenhum golpe foi mais duro – até agora – do que a infeliz apresentação de Sixto no programa televisivo espanhol La máquina de la verdad, em que um renomado especialista britânico submeteu-o a um polígrafo (aparelho detector de mentiras), enquanto fazia-lhe perguntas ao vivo. Quando o contatado foi questionado se já tinha viajado a outros planetas, o especialista revelou que sua resposta não passava de “uma clara mentira”, assim como grande parte de suas declarações.
Equipe UFO