Entre os diversos tipos de manifestações do Fenômeno UFO, uma é de grande importância para a pesquisa: a dos contatos imediatos de segundo grau, o chamados CI 2. Esses casos incluem os pousos de naves e sobrevôos a altitudes extremamente baixas, quando causam interferência direta no meio ambiente. No caso dos pousos, há amassamento de vegetação, depressão do solo, surgimento de marcas inusitadas, calcinação de terra e areia etc. Essas evidências, tal como no caso de uma perícia policial, servem para tentar determinar o tipo do objeto que as causou e em que circunstâncias, assim como seu peso, sistema de propulsão e método de aterrissagem. Por isso, os CI 2 são tão importantes para a Ufologia e estão entre os casos mais apreciados pelos estudiosos. E entre os maiores especialistas do mundo na questão está o entrevistado dessa edição, o ufólogo norte-americano Ted Phillips, diretor do Center for Physical Trace Research [Centro para Pesquisas de Marcas Físicas, CPTR], fundado em 1998.
Phillips é engenheiro civil, fotógrafo profissional, piloto de carros de corrida, músico e espeleólogo. Participou do Programa de Rastreamento do Satélite Vanguard e trabalhou como engenheiro no projeto de mísseis Minuteman, do governo dos EUA. Ele começou a investigar UFOs em 1964 e trabalhou com o J. Allen Hynek de 1968 até sua morte, em 1986. Foi por sugestão de Hynek que Phillips começou a se especializar em evidências físicas da passagem de discos voadores, em 1968. Ele investigou pessoalmente e teve envolvimento direto com cerca de 600 casos de aparição e aproximação de UFOs. Ao lado de Hynek, Jacques Vallée e David Saunders, apresentou seu trabalho pioneiro de investigação de CI 2 na American Association of Aeronautics and Astronautics Aerospace Sciences. Phillips foi também membro de um grupo de elite a se reunir com o secretário-geral da ONU em Nova York. Já participou de programas de tevê das redes norte-americanas NBC e CBS, além de aparecer no documentário UFOs Are Real [UFOs São Reais]. Ted Phillips também já foi entrevistado em vários talk shows, incluindo o do prestigiado apresentador Larry King. Nesta entrevista, conduzida por nosso coordenador de traduções Marcos Malvezzi Leal, os leitores poderão conhecer um pouco de seu minucioso trabalho, envolvendo inclusive casos brasileiros que ele pesquisou.
As marcas físicas deixadas por UFOs que aterrissam ou se aproximam do solo nos revelam alguma coisa sobre a natureza e possível origem desses objetos? Sobre a origem, não, mas certamente essas marcas confirmam que os UFOs são aparelhos incontestavelmente físicos, que têm interação com nosso meio ambiente, especialmente o solo, através de sérios danos causados a árvores e à vegetação na área ao redor de locais de pousos. Há casos em que as marcas de uma aterrissagem indicam que o objeto pesava até nove toneladas, e outros em que UFOs pesavam 20 toneladas. Pudemos determinar isso pela forma como foi feita a compactação do solo nas depressões deixadas pelas naves. Há também casos em que esses objetos provocaram mudanças e danos a veículos e estruturas próximas. Os dados colhidos ao longo das décadas indicam que existem tipos específicos de naves que geram tipos específicos de marcas – como se fossem impressões digitais ou assinaturas dos UFOs.
Quanto a resíduos, como substâncias oleosas, pastosas ou outras, você já analisou e tocou pessoalmente alguma ou conhece alguém que fez isso, e que possa garantir sua autenticidade? Eu investiguei vários eventos em que um resíduo líquido foi encontrado no local de pouso de um UFO, mas somente depois que a substância já tinha sido removida. Que eu saiba, nenhuma análise foi feita nesses resíduos. Em geral, os ufólogos chegam tarde aos locais de pouso e quase não conseguem coletar amostras.
Nos casos que você investigou em seus 36 anos de pesquisa, já deparou com fraudes deliberadas ou erros de interpretação de marcas estranhas, deixadas por agentes desconhecidos? Sim. Menos de 1% dos casos se tratava de fraude. Isso é relativamente fácil determinar quando alguma coisa como gasolina é usada para queimar uma área, por exemplo. Um certo número de marcas que imaginávamos serem de pouso de UFOs tinham, na verdade, sido geradas por raios – o que também é fácil de se averiguar – ou ação de fungos.
Por favor, fale-nos um pouco sobre o Centro para Pesquisas de Marcas Físicas. Trata-se de uma instituição em que tento reunir um grupo de pesquisadores sérios, do maior número possível de países, para coletar dados e trocar informações e idéias para futuras pesquisas. Meu principal interesse é juntar dados e enviar pesquisadores aos locais de pouso de UFOs imediatamente, para obter amostras recentes de materiais líquidos e luminosos enquanto ainda estiverem ativos para análise. Esses dois tipos de resíduos são vitais para a pesquisa.
Através da análise sistemática das evidências deixadas pelos UFOs em locais de pouso podemos determinar muitas coisas a seu respeito, como numa perícia policial
Parece que você conhece casos de pousos de aeronaves desconhecidas até do século 18. Pode dar alguns exemplos desses episódios? Sim, temos casos de várias fases da história recente da humanidade. Essa a que você se refere aconteceu em 12 de junho de 1790, às 05h00, em Alençon, na França. Testemunhas relataram ter ouvido o som proveniente de um globo misterioso, que aparentemente tinha ocupantes ou tripulantes. Vários fazendeiros avistaram o grande objeto e o descreveram como sendo cercado por chamas, emitindo um assobio. O UFO desacelerou, oscilou e se moveu em direção ao topo de uma colina, arrancando plantas da encosta. O calor era tão intenso que a grama e árvores pequenas foram queimadas. À noite, a esfera ainda estava quente. Entre as testemunhas estavam dois prefeitos, um médico e autoridades, além de muitos camponeses. Eles contam que um tipo de porta se abriu e uma pessoa saiu do objeto. Ela estava vestida de modo estranho, usando um traje apertado.
E o que aconteceu então? Como você teve acesso a um caso tão antigo? Bem, vendo todos os estupefatos franceses a observá-la, disse algumas palavras que não foram entendidas e correu para a mata. A esfera explodiu silenciosamente, espalhando pedaços por todos os lugares, que se queimaram até virarem pó. Esse fantástico relato foi retirado de um relatório de 17 de junho de 1790, escrito pelo inspetor de polícia H. Liabeuf, e não deixa dúvidas: tratou-se de um UFO clássico, tal como os que registramos hoje em dia.
Você trabalhou com o doutor J. Allen Hynek. Qual foi a importância dessa parceria para a sua carreira de pesquisador? Hynek foi quem exerceu a maior influência sobre o meu trabalho. Ele me deu a chance de trabalhar com pessoas em várias áreas da ciência para compreender os procedimentos corretos de investigação. Além disso, ele me passava todos os dados sobre marcas deixadas por UFOs, à medida que os recebia de muitas fontes diferentes. Ele foi um amigo muito querido, que partilhava comigo seu vasto conhecimento, de todas as maneiras possíveis.
Mas sabemos que Hynek, a princípio, desconsiderava os casos que envolviam abdução, embora aceitasse a existência dos UFOs. Ele mudou de idéia nos quase 20 anos de pesquisa, antes de falecer? Tornou-se mais flexível quanto a esses casos? Sim. Nós conversávamos muito sobre esse assunto e ele se mostrava aberto a todas as possibilidades. Hynek abordava o tema de uma maneira totalmente livre de preconceitos.
Quando começou a estudar os UFOs, você também era cético ou sentia que havia um fundo de verdade por trás dos avistamentos e relatos, algo que podia ter uma origem não terrestre? Eu era um “cético interessado”, conforme me definia. Conheci muitas pessoas sensatas que estavam vendo esses objetos, e o que elas diziam não podia ser simplesmente descartado. Quando esses eventos podiam ser apoiados por evidências físicas, como no caso das marcas de pouso, mudei minha posição de cético interessado para a do sujeito que fica em cima do muro e olha para os dois lados. É o que sou ainda hoje. Alguma coisa de fato está acontecendo. Mas não tenho certeza sobre quais são as respostas certas.
Você pode nos falar um pouco mais sobre seu trabalho antigo no Programa de Rastreamento do Satélite Vanguard e no projeto dos mísseis Minuteman? Eu fazia parte da equipe de comunicação encarregada de rastrear o Vanguard, que era formada por astrônomos profissionais e amadores do mundo todo. Era ainda muito jovem, mas comecei a me interessar pelos UFOs à medida que ouvia relatos através desse trabalho de comunicação. No projeto Minuteman, fui engenheiro de campo e meu trabalho era o diálogo entre os locais de mísseis e os postos de controle.
Você conhece casos brasileiros envolvendo aterrissagens de UFOs e contatos imediatos de segundo e terceiro graus, que considere autênticos e dignos de pesquisa e estudo? Em meus arquivos, tenho numerosos casos brasileiros. Há vários acontecimentos excelentes, que estudei a distância através de contatos com a ufóloga Irene Granchi [Presidente de honra do Conselho Editorial da Revista Ufo]. Um dos melhores de que tenho conhecimento ocorreu em 1970, envolvendo um guarda de segurança que ficou cego após atirar contra um objeto que deixou marcas. Mas tenho vários outros.
Você acha que os famosos círculos ingleses, que também ocorrem em outros países, têm alguma relação com aterrissagens de UFOs ou outra atividade ligada a estes objetos? Não. Nunca foi feita nenhuma observação direta de um aparelho produzindo os círculos nas plantações. Além disso, os círculos têm tamanhos, configurações e aparências totalmente diferentes das marcas de aterrissagens de discos voadores registradas em todo o mundo.
Na sua opinião, a misteriosa explosão em Tugunska, na Sibéria, em 30 de junho de 1908, foi causada por um UFO? Essa é uma teoria sustentada por muitos estudiosos, inclusive pessoas que não são ufólogos. O que acha dela? É possível. Conversei com o doutor Felix Zigel, um pioneiro ufólogo russo que era também professor de matemática e astronomia no Instituto de Aviação de Moscou, e ele acredita que há indicações de que a explosão foi causada por um objeto controlado artificialmente. Zigel investigou o local e está convencido de que tal objeto tinha procedência do espaço exterior.
Você já conversou com pessoas que tiveram contatos com UFOs ou que se aproximaram demais do local onde um objeto aterrissou, e que posteriormente sofreram problemas físicos ou psicológicos? Sim, tenho um arquivo específico sobre esse tipo de casos. O que eu acho mais interessante são os episódios em que é relatada levitação da testemunha e do veículo em que se encontram. Creio que esses são exemplos excelentes do fenômeno com que estamos lidando, e no Brasil há muitos casos assim.
Os céticos em geral e as pessoas que não têm conhecimento específico de Ufologia e dos tipos de contatos imediatos que ocorrem costumam apelar para um velho clichê, a fim de justificar o ceticismo. Eles dizem que, se os discos voadores existissem, eles pousariam em algum lugar. Mas alegam que isso não acontece. Obviamente, isso não é verdade, pois sabemos que eles aterrissam constantemente. É importante conscientizar as pessoas dessa realidade? Mas como devemos proceder nesse sentido, já que a mídia convencional não parece disposta a se encarregar da tarefa? A conscientização da população é de fato muito importante. E esse é um dos motivos pelos quais estou atualizando meus arquivos de casos envolvendo marcas de aterrissagem, em todos os lugares do mundo. Quero que essas informações estejam disponíveis ao público geral e aos pesquisadores. Espero estimular o interesse da mídia em geral quanto ao assunto, mostrando o grande número de casos disponíveis para estudo.
A próxima pergunta é inevitável: você acredita que os UFOs vêm de outros planetas? Essa questão me fez recordar de minha última conversa com Allen Hynek. Passamos um dia inteiro – a pedido dele – falando justamente sobre isso. O que posso dizer é que devemos examinar todas as respostas possíveis, com imparcialidade. Não tenho certeza de onde vêm esses naves. Tenho certeza, isto sim, de que são aparelhos de uso inteligente e mecânico, e têm origem desconhecida. Os relatos mais antigos indicam que eventos envolvendo UFOs já ocorriam muito tempo antes de termos a capacidade de registrá-los. E eles estão acontecendo até hoje.