Assista a live realizada por Petit, dia 16 de dezembro de 2022:
Abaixo, sua homenagem ao Gevaerd:
“Nesse momento de perda, tristeza e, na verdade, nos últimos dias, desde que tomei conhecimento da hospitalização em estado grave daquele que sempre considerei um irmão (e isso era recíproco), o editor da Revista UFO Ademar José Gevaerd, vivenciei momentos consecutivos de lembrança de nosso passado em comum, tanto no aspecto de nosso relacionamento pessoal dentro dessa perspectiva de irmandade, como a parte mais conhecida do público, relacionado a tudo que juntos, ou em outros momentos com outros grandes nomes da Ufologia Brasileira, fizemos e realizamos, algumas dessas coisas sem paralelo na história, mesmo da Ufologia Mundial.
Me considero um privilegiado pelo nosso encontro em 1981 na cidade de Petrópolis (RJ), durante um dos eventos do saudoso Paulo Fernando Kronemberger. Ambos estávamos começando nossas atividades públicas. De lá para cá, tirando poucos momentos ocorridos alguns anos atrás, sempre estivemos juntos. Foi nesse seminário especial em Petrópolis que conhecemos o então editor da Revista Planeta, Edenilton Lampião, e em pouco tempo passamos a ter conjuntamente nossos trabalhos e artigos publicados naquela que era na época uma referência na divulgação não só da Ufologia, mas de outras área paralelas. Na oportunidade, o editor, em uma ampla matéria sobre o evento, destacou as apresentações de Gevaerd, a minha, de Luiz Gonzaga Scortecci de Paulo e do próprio Kronemberguer, hoje também já saudosos.
Crescemos juntos sob o olhar de nossa grande matriarca, a professora Irene Granchi, de quem sempre tivemos máxima atenção, coisa que sempre nos orgulhamos. Em 1983, em nossa primeira participação em um Congresso Internacional, realizado conjuntamente por Kronemberger com o apoio do estimado General Moacyr de Mendonça Uchôa, outro de nossos grandes mestres, na cidade de Brasília, mais uma vez o trabalho de Gevaerd e o meu foram destacados em um número especial da mesma Revista Planeta e da própria mídia do Distrito Federal, com destaque em seus principais jornais. Isso, entretanto, era apenas o início de nossa jornada comum.
Em 1984 aconteceria algo especial que transformaria nossas vidas e com certeza a própria história da Ufologia Brasileira, com repercussões mundiais. Nossa grande incentivadora continuava a ser a professora Irene Granchi. Em um distante dia daquele ano, Gevaerd me ligou mais uma vez (fazia isso com frequência, assim como eu para ele), mas dessa vez para me comunicar algo especial e fazer também um convite. Digo “comunicar”, e nesse ponto gostaria de ressaltar em sua personalidade, que sempre fez toda a diferença. Ele literalmente me disse que lançaria uma revista ufológica e ao mesmo tempo me fez o convite para ajudá-lo a realizar seu sonho (que passaria a ser nosso). Lembro como se fosse hoje a nossa conversa. Ele me disse que a notícia boa era essa (fazer a revista acontecer), mas existia uma outra “que era a parte ruim”: ele não poderia me “pagar um tostão”. Ele sabia que, como ele próprio, eu ganhava já uma importância mais do que razoável pela venda dos diretos autorais de meus artigos e trabalhos para a “Planeta.” Vocês podem imaginar a resposta que dei a meu nobre irmão.
No início de 1985 foi publicado o primeiro número da revista “Ufologia Nacional e Internacional”, que tinha como único artigo um de minha autoria e mais algumas seções. O lançamento da revista aconteceu “simplesmente” na Academia Brasileira de Letras em seu centro de convenções na cidade do Rio de Janeiro durante um seminário organizado por minha pessoa (e minha primeira mulher, que era amiga pessoal de seu presidente), na cidade do Rio de Janeiro. A revista já nascia com o que de melhor existia na Ufologia Brasileira, tendo como seus membros não só nossa mãe cósmica (professora Irene Granchi), o estimado General Uchôa, como o grande Claudeir Covo, entre outros nomes.
Depois, já com o nome finalmente de “UFO”, a história de realizações de meu irmão e nossa parceria só cresceria e no aspecto pessoal havia algo também especial. Parecia existir algum tipo de contato entre nós em um sentido mais amplo ou oculto. Nas viagens para os eventos ficávamos geralmente juntos no mesmo quarto e trocávamos “confidências”, até sobre nossas vidas pessoais, e havia uma espécie de aconselhamento mútuo. O aspecto mais, vamos dizer, transcendente (eu gosto dessa palavra), era como havia algum tipo de ligação maior. Se eu estava deprimido ou em dificuldades, geralmente por questões pessoais, mas algumas vezes como consequência também da decisão que tanto eu como ele havíamos tomado desde cedo (ambos nos tornamos as únicas pessoas com dedicação exclusiva à Ufologia no país), tocava o telefone e, de alguma forma, eu já sabia que era ele trazendo uma palavra de estímulo, e no outro sentido acontecia esse mesmo “fenômeno”, sempre dentro da perspectiva do que tínhamos já realizado.
Tive a honra de ser, além de coeditor, desde os primórdios da revista, o articulista que mais ocupou suas páginas com artigos e matérias. Hoje, eu não perdi um amigo ou irmão, mas uma parte de minha própria vida e história. Foi também uma honra ser convidado por ele logo após saber que o comandante da Operação Prato, o Coronel Uyrangê Hollanda, estava disposto a prestar os depoimentos que também se tornariam históricos, que acabaram sendo gravados por mim no ano de 1997. Da mesma forma, só para citar um exemplo, quando consegui entrevistar duas vezes o Brigadeiro Otávio Júlio Moreira Lima, ministro da Aeronáutica sobre o caso de maio de 1986, foi na UFO, é claro, que esse material foi publicado inicialmente.
Na campanha “UFOs – Liberdade de Informação Já” estivemos juntos desde os primeiros segundos. A campanha, que conseguiria liberar milhares de páginas de documentos oficias antes classificados como sigilosos pela Força Aérea Brasileira, com a participação decisiva de Claudeir Covo, Fernando Ramalho, Roberto Beck e Rafael Cury, começou em Conservatória (Serra da Beleza), em uma reunião entre eu, Gevaerd e mais dois amigos meus, como resposta a “cobrança” formulada na ocasião por um desses amigos, o empresário Sérvio Consentino, na residência do delegado da Polícia Civil do Rio de janeiro, Ivo Raposo, se não poderíamos fazer alguma coisa contra o acobertamento militar.
Estivemos juntos depois no Cindacta, no Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro e, depois, no Ministério da Defesa (no último já com outros amigos, membros da Comissão Brasileira de Ufólogos e da própria UFO). Gevaerd foi meu primeiro editor (tive quatro dos meus 14 livros lançados por ele), em projetos que sempre foram interativos. Ele me provocava, como fazia também em relação aos meus artigos na UFO, para que certas coisas não deixassem de vir a público. Foi assim não só em um de meus artigos sobre o Caso Varginha, como no meu livro “Varginha – Toda a Verdade Revelada”, o último que fizemos juntos. Ele tinha nessas horas um argumento decisivo. Ele costumava me dizer: “Se você não falar dessas coisas, ninguém vai fazer isso.”
O livro acabou sendo protocolado como denúncia contra o acobertamento do Caso Varginha no próprio Ministério da Defesa por decisão pessoal minha como autor, do Gevaerd como editor, e dos demais membros na época (2015) da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), em procedimento realizado por out
ro irmão, o ufólogo Fernando Ramalho. Depois de cerca de três anos de um afastamento em época recente, período em que mantivemos um reconhecimento mútuo, inclusive público, em maio desse ano, por ocasião do meu aniversário, ele me enviou uma mensagem e, na mesma hora, ambos reconhecemos que essa breve lacuna de nossa jornada mútua, em meio a décadas de amizade e realizações, tinha acontecido, diante de toda a nossa história, sem um motivo que pudesse fazer realmente sentido. Logo em seguida, resolvemos fazer a Live em homenagem a nossa mãe cósmica e grande matriarca (professora Irene Granchi). Foi uma honra dividir com ele esse momento, como também ser convidado por meu irmão de décadas para fazer a conferência de encerramento do grande evento presencial da Revista UFO em setembro, na cidade de São Paulo.
Mesmo correndo o risco de parecer pretencioso, eu diria que não há pessoa nesse mundo no meio ufológico que conheça tanto esse meu irmão quanto eu, e a mesma coisa acontece no sentido inverso. Eu vi certa vez o Gevaerd chorar “simplesmente” pelo fato de as pessoas em um evento não estarem percebendo, apesar de seus alertas, que um determinado personagem continuava a enganar milhares com seus supostos contatos. Ele sempre buscou a verdade que nos envolve e a transmissão de que a vida é algo muito maior do que a pretensão de expressiva parcela da humanidade imagina. Algumas pessoas de maneira equivocada (pelo menos é essa a minha percepção), acham que tanto ele como eu herdamos a missão de nossa matriarca (Irene Granchi). Eu não vejo dessa forma, apesar de toda a atenção que tivemos dela e o que conseguimos realizar.
Ninguém vai fazer algum dia o que que a professora Irene Granchi realizou ao longo de sua vida, pois sua missão, apesar de grandiosa, foi algo decidido por ela, por mais que tenha feito parte de um grande contexto cósmico. A mesma coisa digo hoje de Ademar José Gevaerd, esse meu irmão. Ele não deixa herdeiros. Ele, e apenas ele, poderia fazer o que realizou, como ufólogo, editor, representante da Ufologia Brasileira no exterior, em dezenas de países. Seu legado é imenso e eu diria que da mesma forma que nossa mãe ufológica transformou nossa ufologia de maneira decisiva, hoje podemos dizer, nesse momento de profunda tristeza, que a Ufologia Brasileira pode ser também definida, a partir do dia de hoje, entre o que existia antes e depois de sua passagem entre nós. Assim eu sinto.
Cabe a cada um de nós continuar a fazer suas escolhas, trilhar essa jornada que o universo nos oferece, mas que é própria de cada um de nós, apesar de nos encontramos na Unidade e sermos células de algo mágico e eterno, um nível de consciência superior, que os próprios extraplanetários que nos “visitam” estão longe de poderem ter entendimento ou compreender, responsável pela própria realidade ou manifestação da matéria. Gevaerd não finalizou ainda sua missão. Ela continuará a ser impressa, materializada, onde quer que esteja, seja em níveis mais sutis, ou quando estiver de volta à matéria na Terra, ou em um dos mundos onde o processo evolutivo precisar.
No início dessa mensagem eu escrevi que perdi parte de minha vida e de minha história, mas já é hora de reconhecer que todos que tivemos o privilégio de conhecer esse nosso irmão, ou não, ganhamos. O universo ganhou e o verdadeiro legado nesse momento é o desafio deixado por ele. Fazer de nossa luta e trabalho em busca de nosso verdadeiro lugar no universo a base para a transformação da humanidade.
Meus sentimentos a toda família e a própria Ufologia Mundial.”
Marco Petit