Um caso de maus tratos na infância já é, por si, um quadro triste e delicado para o terapeuta. Impressionei-me quando conheci o primeiro caso de vítima dupla uma pessoa que sofreu maus tratos em casa, durante sua infância, e que foi também raptada por seres alienígenas. Trabalhando com raptados, constata-se que mais da metade é de vítimas duplas. Eles sofreram como vitimas dos pais e como vítimas de não humanos também. Na mente da criança, porém, se o mau trato ocorreu pelas mãos dos pais, ou porque eles falharam na sua proteção, os pais são culpados da mesma maneira.
Para vítimas duplas, o oposto do tratamento tradicional deve ser aplicado. Embora esteja plenamente disponível para a mente consciente do raptado, a história do mau trato terrestre pode ser protegida até ter um relacionamento confiante com o terapeuta, por sentir vergonha e culpa. Deve ser notado que este relato protelado representa retenção consciente de informação, algo foi ocultado embora tenha estado prontamente disponível para a vítima dupla todo o tempo.
O que freqüentemente ocorre, nestes casos, é que a análise do rapto leva o paciente a uma espontânea reavaliação do mau trato terrestre. Uma história clínica serve para ilustrar este ponto: Mike, um terapeuta de 36 anos, passou por numerosos episódios perturbadores e problemas de fobias profundas desde tenra idade. Quando encontrou, por acaso, um dos livros populares sobre raptos, leu duas páginas e explodiu em pranto. Percebeu, então, que seria melhor procurar assistência especializada.
Embora Mike não tivesse memória consciente do rapto, ele certamente tinha dolorosas e penosas memórias de mau trato emocional, físico e sexual. Seus pais foram alcoólatras que tinham acessos de descontrole raivoso e violento durante os quais ele e seus irmãos foram seriamente surrados e maltratados de outras maneiras. Ele descreveu alguns desses episódios em detalhes comoventes. Mike passou alguns anos em psicoterapia, explorando o impacto da desordem familiar em sua própria vida. Impressionava pela visão interior e domínio desta memória infeliz, embora sua sexualidade tenha sido seriamente prejudicada.
A certa altura do tratamento, ele relatou um padrão de mau trato sexual que, ao contrário do emocional e físico, foi vigorosamente negado por sua mãe. Iniciou, a seguir, um tratamento de hipnose. No curso desta reavaliação de sua vida anterior, Mike se convenceu de que o mau trato sexual, que recordou como tendo sofrido nas mãos dos pais, foi de fato um biombo de memória. Sentiu que o biombo fora criado para proteger-se do que sofreu nas mãos dos seus raptores extraterrestres.
Quando compartilhou isto com sua mãe, ela afirmou não ter pensado no assunto, mas não pôde explicar a cicatriz de mais de 7 cm, paralela ao eixo longitudinal da parte interna da coxa esquerda que ambos apresentavam a partir de mesma data. Sentiram que isto poderia ter algo a ver com o mau trato sexual de que ele a havia sempre acusado de ter conhecido e participado. Ao longo deste trabalho, Mike foi capaz de livrar sua mãe da responsabilidade do abuso, o que fez grande a diferença para sua vida.
Este é um caso ilustrativo de desintoxicação de memórias de mau trato, especialmente sexual, após recuperação dos cenários do rapto alienígena. Isto pode se dar através de lembrança ou hipnose. Mike pode ter produzido um novo e interessante tipo de biombo de memória, que diluiu o mau trato real, o qual ocorreu nas mãos de terrestres, incluindo seus pais. Este novo biombo não se fez manifesto antes que fosse restaurada de sua posição obscura no inconsciente, enquanto o evento pelo qual pretendia substituir foi consciente para Mike.
NOS CASOS MAIS COMUNS DE SEQÜESTRO, UM CONJUNTO DE MEMÓRIAS É REMOVIDO E PROVOCA UM SUBSEQÜENTE REPROCESSAMENTO DO TRAUMA
É possível que ele tenha atingido uma clarificação baseada no surgimento de uma compreensão acurada do que realmente aconteceu quando ele era uma criança. Nos casos mais comuns, quando um conjunto de memórias-biombo é removido, não criado, admite a contra-reação e subseqüente reprocessamento do trauma reprimido. Mas, na população de vítimas duplas, parece que o evento do rapto funciona como trauma real e o trauma real funciona como biombo de memória. Sua função, ainda assim, continua sendo proteger a pessoa do trauma real.
Quando uma criança é submetida a experiências de mau trato, especialmente se elas são repetidas severamente e experimentadas pela criança como ameaça à vida, elas tornam-se impotentes de maneira intolerável. Sua própria sobrevivência parece — e pode ser — ameaçada e ela pode ser inundada por uma ansiedade opressiva. Com a finalidade de sobreviver física e psicologicamente, ela deve empreender uma série de manobras intrapsíquicas, para tornar tolerável o assalto à sua vida interior e exterior.
Assim, o raptado na infância tem os mesmos problemas que a criança maltratada por terrestres, cujos adultos de confiança feriram e violaram. Adultos poderosos geram ferida e amor, segurança e perigo, gratificação e excitação sexual, medo e dor, além de outras experiências disruptivas opressivas, tudo junto. Assim, a criança deve buscar apegar-se à crença de que este que pode feri-la tão perversamente, talvez aniquilá-la, é também a fonte de sua sustentação física e emocional. Ele é tão poderoso que pode determinar se a criança vai sofrer ou não. Ela chega a acreditar que o mau trato indica que ela foi escolhida, de algum modo especial e favorecido.
Parece, contudo, que a necessidade de estudo adicional profundamente entrelaçado com a ativa terapia daqueles que têm este conjunto de realidade em suas vidas, é matéria de interesse da saúde pública urgente.