Em meados de 1997, o Brasil experimentou uma situação surrealista já vivida por populações de outras nações. A imprensa passou a noticiar diariamente a morte de animais em circunstâncias misteriosas, que apresentavam supostamente como principal semelhança a inexistência de sangue em seus corpos. O fenômeno chupacabras chegava de maneira repentina. Mas será que há realmente algo de concreto por trás dessas histórias? Existem de fato essas criaturas?
Por algum tempo não se perdeu tempo com relatos dessa natureza, apesar de supostos ataques desses seres em outras regiões terem sido acompanhados através de algumas publicações – inclusive na Revista UFO. Esta falta de interesse pelo tema sempre esteve atrelada à fragilidade das evidências apresentadas, que teoricamente deveriam provar a existência das misteriosas criaturas. Se compararmos as teses relativas à presença dos UFOs com a do chupacabras, veremos que existe um grande abismo no que se refere à qualidade e à credibilidade. Caso comparássemos os depoimentos das várias testemunhas que teriam supostamente avistado esses seres em Porto Rico e no México – onde uma parcela da população beirou o histerismo –, verificaríamos inúmeras contradições. Teríamos que estar diante de um exército de criaturas não classificadas. Algumas teriam quatro pernas, outras duas, enquanto outras teriam até a capacidade de voar. Como um fenômeno sem evidências dignas de crédito conseguiu ser tão discutido?
Ação da imprensa — Se analisarmos a gênese do chupacabras em Porto Rico e no México, notaremos com certa facilidade que tudo começou a partir de alguns casos ligados a mortes de cabras e outros animais de pequeno porte, investigadas o suficiente para se ter condições de afirmar que algo realmente inusitado estava acontecendo. O fenômeno chupacabras passou a existir, na realidade, após o momento em que a imprensa local resolveu apostar no sensacionalismo, produzindo manchetes de forte impacto emocional. Em questão de dias um montante de novos ataques foi relatado dentro de um processo de histeria, gerando outras manchetes.
Cabeça do chupacabras — No México, por exemplo, animais atacados por cachorros, morcegos e outros tipos de predadores comuns eram, sem maiores cuidados, apresentados como vítimas dos assustadores chupacabras. No Brasil não foi diferente. Podemos dizer que, guardadas certas proporções, a “cultura chupacabras” começou a entrar em nosso país através da internet. Porém, o fenômeno se estabeleceu em julho de 1997, após a veiculação do programa Domingo Legal, do SBT, liderado pelo apresentador Gugu Liberato, que pretendia mostrar simplesmente a cabeça de um chupacabras encontrado às margens de um rio na selva amazônica. Durante as quase duas horas que precederam o momento da “grande revelação”, a população brasileira, ainda distante do tema até aquele dia, travava contato de maneira definitiva com o assunto. Foram feitas afirmativas sem o menor cabimento visando apenas a promoção da questão. Os índices de audiência explodiram e foram mantidos durante toda a tarde na marca dos 30 pontos, de acordo com os critérios do Ibope. Especialistas logo perceberam que o crânio se tratava mesmo é da cabeça de um peixe de grande porte, comum nas águas da Amazônia.
Saulo Gomes, jornalista da equipe do SBT, chegou a afirmar que a cabeça era muito semelhante a dos ETs de Varginha. Após a apresentação da figura na TV, houve uma grande decepção. Não havia a menor semelhança, tanto em relação às descrições dos chamados chupacabras, quanto com as criaturas capturadas em Minas Gerais. Posteriormente, um biólogo a identificou como sendo apenas a parte de uma arraia. Mesmo assim, a partir desse programa e de outros que rapidamente o seguiram – nos quais novas testemunhas alegaram ter avistado as misteriosas criaturas –, o fenômeno explodiu em nosso país. O “cardápio” do chupacabras, inclusive, foi ficando cada vez mais variado. Galinhas, gansos, patos e até pintos foram supostamente atacados. No Rio de Janeiro, ele teria feito vítimas até em favelas controladas pelo narcotráfico, na qual nenhuma entrada é permitida sem que seja notada. Numa delas foram feitas até vigílias com o objetivo de esperar os novos ataques, mas ninguém viu, evidentemente, o menor sinal do predador.
Relação ufológica — A ligação do chupacabras com o Fenômeno UFO, defendida por algumas pessoas, é mera especulação. Em Porto Rico, por exemplo, o simples fato de alguns avistamentos de UFOs terem ocorrido na mesma época em que alguns ataques aconteceram serviu rapidamente para que se relacionassem os dois fenômenos. Sabemos que os discos voadores aparecem com bastante freqüência naquela ilha – que aliás é uma das áreas de maior incidência ufológica do planeta –, ou seja, em qualquer época em que os ataques acontecessem poderíamos relacioná-los com o Fenômeno UFO – o que torna esta suposta ligação extremamente frágil, pelo menos numa ótica racional. Até que se prove o contrário, o chupacabras não passa de um fenômeno sociológico, gerado em grande parte pela mídia.
Em Ufologia aprendemos a dar valor às testemunhas, mas também descobrimos como podem ser falhos os seus depoimentos. Nem é preciso dizer que apenas uma parcela ínfima dos casos que averiguamos de avistamentos e contatos mais próximos com UFOs e suas tripulações merecem credibilidade. Praticamente a totalidade dos animais vitimados pela suposta criatura, que foram analisados por veterinários e outros especialistas, não apresentava qualquer singularidade que pudesse ser utilizada para fundamentar a idéia de que algo realmente inusitado teria ocorrido. A própria falta de sangue em seus corpos não passava de ficção. Mas parece existir uma pequena quantidade de casos – talvez menos de 3% do número total – que apresenta detalhes realmente inusitados, incluindo a tão propalada falta de sangue. Este detalhe pode abrir uma nova perspectiva de avaliação, apesar de não podermos negar de maneira definitiva a existência de algum tipo de criatura não classificada, que pudesse estar por trás desses casos – uma hipótese bastante remota.
Há décadas existem casos inexplic&aa
cute;veis de mutilação de animais. Na maior parte deles, os bichos são encontrados sem uma gota de sangue, além de terem vários de seus órgãos retirados com precisão cirúrgica. Bois, vacas, cavalos, entre outros, foram encontrados mutilados, principalmente nos Estados Unidos, mas o fenômeno também foi detectado em outros países, incluindo o Brasil. Um verdadeiro exército de pesquisadores norte-americanos, das mais variadas áreas, investiga o fenômeno, além de autoridades do próprio governo. Uma expressiva parcela dos casos investigados é realmente inusitada e tem deixado as próprias autoridades policiais perplexas.
Documentação — Uma correlação do fenômeno com os ocupantes de naves alienígenas foi progressivamente sendo estabelecida, já que com freqüência a sua presença tem sido não só relatada, como também documentada simultaneamente às próprias mutilações de humanos e animais. Será que os pouquíssimos casos realmente inusitados atribuídos ao fenômeno chupacabras poderiam ser uma variação do modelo clássico de mutilação relacionada aos discos voadores? Esta é uma possibilidade que não podemos descartar, apesar de não possuirmos maiores evidências a esse respeito. Talvez, algum dia encontraremos a verdade, que deverá surgir de investigações e estudos mais profundos e detalhados.