A CIÊNCIA FALA – Não é de agora que o Distrito Federal, mais precisamente a cidade de Brasília, é considerado como o grande paraíso do.s bruxos, místicos, magos e gurus de todos os tipos, que proclamam a quatro ventos a chegada – para alguns até já instalada – da Nova Era! Lá, não se pesquisa UFOs ou se investiga suas incursões, como ainda se faz no resto do Brasil e do mundo… Lá, segundo os adeptos dessa “nova linha” de interpretação da Ufologia, o que se pratica é o contato direto, ou, melhor ainda, uma verdadeira “comunhão” com ETs.
Não é bem certo que isso de fato aconteça, como afirmam os seguidores das dezenas de seitas c agrupamentos filosófico-esotéricos criadas para disseminar “essa verdade”. Para a Comunidade Ufológica Brasileira – aquela “do lado de cá” das tais verdades herméticas – isso dos brasilienses é pura fantasia ou excesso de imaginação. Há, de fato, unia reação muito forte por parte da “Ufologia normal” em se rejeitar isso, só que esta parece ser uma questão que ainda não está perto de ser definida; por um lado há, a bem da verdade, que se penetrar mais fundo na questão c ver se o Fenômeno UFO, para essas pessoas que se dizem “contatadas”, está desvinculado de problemas meramente sociais que, no fim de um processo determinado, leva indivíduos a não só crerem mas a viverem, seguirem e – às vezes – até a difundirem tais “conhecimentos”.
Por outro lado, é possível que, seguindo-se o mais tradicional e bem sucedido dito popular de que “onde há fumaça há logo”…, haja de fato algo cm Brasília acima dos limites normais. E dizemos “limites normais” paru a própria Ufologia, que já é uma área por si só sem muitos limites, mas que, mesmo assim, “do lado de cá”, policia-se a todo o instante para não ver seus 42 anos de pesquisas e estudos (desde 1947, quando surgiu tal proto-ciência!) jogados no lixo… O receio tem fundamento: a prática mostra que, de 100 casos de ditos contatados – pessoas que alegam manter contatos contínuos (verdadeiras amizades) com ETs -, não mais do que 1 ou 2 são reais, apresentam solidez fe-nomenológica e o protagonista é confiável, além do caso ter sido checado. Nos demais, observa-se de tudo um pouco, desde psicopatologias que nem a Psicanálise resolve mais (…) até casos simples de loucura completa, total c deslavada. Por isso a posição da Comunidade Ufológica estabelecida, neste c noutros países.
E por essa mesma razão – a do excesso de exageros, fanatismos e loucura infiltrada na Ufologia – que a área encontra-se sitiada pela sociedade, pela ciência, pelos governos e militares c outras forças conhecidas – além de outras razões inconfessáveis, porém talvez até secundárias. A ciência acadêmica, ortodoxa mesmo, por exemplo, nega-se terminantemente a examinar a sério a Ufologia e trata os ufólogos como meros loucos do Apocalipse. Apenas um ou outro destacado cientista admite em público a questão ufológica. Mas isso é coisa que deverá mudar, quando mais “verdades” – estas de fato e não de papo – vierem à tona, e isso é trabalho de ufólogos que residem seus esforços na linha, digamos, mais séria da problemática ufológica. Ou que pelo menos nesse sentido buscam dirigir suas atividades.
ALGUÉM, ENFIM – Mas, em Brasília, há pessoas que procuram – mesmo que de fora da briga entre “científicos” e “místicos” – trazer alguma luz ao assunto c esclarecer um pouco à população. O trabalho desses indivíduos não deve ser fácil, mas deve ser pontuado pelo máximo bom senso. Eis o que podemos atribuir ao repórter e pesquisador (engenheiro eletricista de profissão, e que já fez de tudo um pouco) Dioclécio Luz, atualmente – e já há anos – escrevendo uma coluna semanal para o melhor semanário de Brasília, o José – Jornal da Semana (Inteira): A Face Misteriosa da Capital Federal, ou “Jornal do Mistério”, como prefere chamar sua seção de 1 página inteira que circula em dezenas de milhares de exemplares, aos domingos, na capital da Nação.
Pois Dioclécio tem trazido pérolas verdadeiras c de grande brilho à sua comunidade leitora, tratando simplesmente de tudo o que sc produz cm Brasília – culturalmente -na área do paranormal e do paracientífico, o que engloba coisas como radiestesia, quiromancia, bruxaria, curas e tecnologias alternativas, curandeirismo, naturalismo, artes marciais e suas similares, yoga, espiritismo, rosacrucionismo, ciências divinatórias, etc, onde também reside, “mais no canto de cá”, as populares Parapsicologia e Ufologia – essa sim o nosso caso!
É incrível o número de assuntos abordados, com profundidade e diversificação, no Jornal do Mistério de Dioclécio. Porém, o repórter ousou além do que se esperava dele c fez uma entrevista com um dos mais destacados pensadores da Nova República, um inquieto intelectual que é também engenheiro, economista e romancista. e que ainda acha tempo para ser o reitor da não menos prestigiosa Universidade do Brasília (.UnB). Cristóvam Buarque, um dos agraciados por José Aparecido de Oliveira. ex-Governador do DF, com a Medalha do Mérito Alvorada, cm 1986, fala sobre uns assunto muito inusitado para um cientista e. por que não dizer, político e reitor de uma universidade brasileira: “A Universidade c os Bruxos”. Vamos passar á sua entrevista, que aqui publicamos em alguns trechos, como cortesia de Dioclécio e do JoSé:
Dioclécio – Brasília é uma cidade de bruxos e curandeiros. A universidade, no entanto, mantém-se à uma razoável distância destas pessoas, seus fenômenos mágicos e de seus depoimentos – muitos – de curas extraordinárias.
Cristóvam – Ela não está tão distante assim. Aqui dentro temos dois tipos de curandeiros: os que usam como magia os conhecimentos científicos (o que não deixa de ser uma forma de curandeirismo) e aqueles que assumem o curandeirismo ao lado de suas ciências. Aqui há muita gente que “põe” tarô, acredita em astrologia, etc. Eu, particularmente, não acredito. Como economista, reajo à todas essas explicações esotéricas. Mas não nego que me senti muito mais economista a partir do dia em que me percebi – não sei como nem por que – que há uma certa mágica no processo econômico. (…) Há até algo de mágico rui própria lógica que acredita explicar este processo.
Dioclécio – Se há curandeiros que comprovam suas capacidades – como o João, de Abadiânia, ou Edson Queiroz, do Recife – por que a universidade ainda não começou a estudá-los?
Cristóvam – Você mesmo coloca a coisa preconceituosamente: “Por que a universidade não \’\’estuda estas pessoas?” Como se fossem \’\’objeto de estudo\’\’. Eu acho que devemos ir mais longe: a universidade nã
o deve apenas estudá-los; nós devemos tentar ver se há algo a \’\’aprender\’\’ com eles. Falta vencer os preconceitos que nós todos temos contra esse povo. E eu não nego que tenho também. Eu tenho uma profunda desconfiança quanto à esse curandeirismo, mas acho que devemos estar abertos à possibilidade dele ter o que nos ensinar. Falta quebrar os preconceitos, os complexos, as desconfianças, o despeito e a arrogância. (…) Eu teria o maior prazer de promover aqui, na UnB, um encontro entre bruxos e cientistas.
Dioclécio – Embora o Ministério da Aeronáutica o negue, o que se configura uma mentira deslavada, é certo que há muito tempo se estuda o fenômeno dos discos voadores no Brasil. Quer dizer: UFO não é só assunto de amadores. Infelizmente, eles mantêm o sigilo. A UnB estudaria isso?
Cristóvam – Sim. Eu gostaria de ver gente daqui estudando o assunto. Embora particularmente não acredite nele.
Dioclécio – Capra, citado por você, afirma em “O ponto de mutação” que o sistema por inteiro está falido. A ele falta sentimento, intuição, espiritualidade, respeito ao ser humano. Você também acredita que é preciso mudar o sistema? (…) Que o momento é este?
Cristóvam – Sem dúvidas. Eu não sei qual é a mutação, mas já estamos neste processo. E, se não estivéssemos nele, certamente seu jornal, o José, não lhe pagaria para conversar comigo e muito menos o reitor da Universidade de Brasília iria falar sobre essas coisas.
Dioclécio – A universidade, enquanto instituição, mantém-se hoje distante da população. Os cientistas, por sua vez, formam um bloco fechado, uma espécie de casta sacerdotal que se acredita imune, uma elite.
A ciência precisa usar a intuição e o sentimento para poder dar saltos
Cristóvam – O problema está mal-colocado. Os gurus formam uma elite. Os santos da Igreja Católica formam uma elite. A universidade tem a obrigação de ser uma elite cultural. O problema é: a quem serve esta elite? O guru de uma religião serve aos seus seguidores. O problema da universidade é estar servindo à uma elite ignorando o pensamento popular; isso quando o ideal é que a universidade seja uma elite comprometida com as massas, com a população. (…) A universidade tem preconceitos contra as formas de pensar que não sejam as decartianas, consolidadas nestes dois últimos séculos.
Dioclécio – Um dos fatos que limitam a atuação da universidade, enquanto universidade, é a metodologia científica, que é calcada no pensamento cartesiano. E preciso mudar este pensamento?
Cristóvam – Não mudar, mas complementar. Os grandes saltos da ciência não são explicados apenas por uma lógica decartiana: eles ocorrem graças à essa lógica, mas, também, quando o cientista usa o sentimento e a intuição. (…) Todos os grandes (cientistas) do passado usaram o sentimento. E se o cientista de hoje não usar esses elementos, será nada mais que um teórico dentro de escolas feitas por outros cientistas – os que deram os saltos. E deram, graças a um “click” que não se explica através da lógica. (…) Na prática, há desconfiança, mas, na teoria, os cientistas da UnB aceitam isso.
Dioclécio – É preciso menos arrogância da parte dos senhores cientistas?
Cristóvam – Sim. Os cientistas criaram a arrogância do saber. Isto permitiu o avanço do conhecimento, sem dúvidas, mas, quando chegamos à teoria quântica, por exemplo, ou ao atual nível de conhecimento, acho que precisamos de modéstia, ao invés de arrogância. A modéstia de saber que não há uma só explicação para o mundo – a que é dada pela ciência – mas que devem existir outras explicações, dadas ppr outros meios. (…) Antes de mais nada, é preciso modéstia.
PARA O BOM ENTENDEDOR… – A entrevista é longa, mas esses pequenos trechos dão uma idéia de que: (a) há pessoas-chaves, ocupando posições importantes em nosso país, que têm mente aberta, ao contrário do que é ainda a postura normal de cientistas nesse estágio: (b) tais intelectuais já aceitam como óbvia a necessidade de uma integralização de conhecimentos entre áreas acadêmicas e “não-acadêmicas”, e que é necessário que se tenha modéstia para assumir isso e praticar essa “fase de mutação”; e (c) depende exclusivamente de tempo – e de abertura de alguns setores – a integralização total destas disciplinas, senão, pelo menos, um confronto para fins pacíficos, onde a área acadêmica use o que a “não-acadêmica” sabe para melhorar seu desempenho e vice-versa.
Embora falou pouco sobre UFOs – que é o que nos interessa – Cristóvam Buarque dá um show em indivíduos de mentes retrógradas que hoje populam observatórios astronômicos, departamentos de Física, institutos de pesquisas tecnológicas e outros centros onde reinam – mas reinam só porque sabem o que todos tem acesso para saber, sc quiserem. Difícil, mesmo, é ser original e trilhar outros caminhos, o que a muito poucos é dado se descobrir… É assim o Fenômeno UFO: antes de um problema tecnológico ou um acontecimento extraordinário de naves de outros mundos e seres esquisitos, é um desafio ao conhecimento e ao comportamento da Humanidade. Vamos ver quem passa no teste? (A.. J. Gevaerd).
Observação: O texto acima foi adaptado por UFO a partir do José publicado em 14 de outubro de 1988, à página 10. Reproduzido aqui com autorização. Interessados em obter a íntegra do texto e de manter contato com seu responsável, devem escrever para: Dioclécio Luz, Caixa Postal 040082, 70312 Brasília (DF). Dioclécio é consultor de UFO e UFO ESPECIAL.