Enquanto a Ufologia Internacional se encontra, em largos e pomposos congressos, ufólogos brigam entre si em nome de status e visibilidade através de muitas denúncias e poucos estudos, lugares antes inexplorados na história da Ufologia nordestina agora estão sendo abertos e estudados com toda dedicação pela União de Pesquisas Ufológicas do Piauí (UPUPI). “Vale lembrar que a UPUPI tem um pequeno diferencial em relação aos outros grupos, os pesquisadores aqui envolvidos não são apenas ufólogos, que na maioria das vezes se prestam a lamentável postura de agir deslumbradamente nas evidências encontradas, elaborando toda uma construção discursiva inocente (na melhor das hipóteses), na velha fórmula do vem-a-ser da Ufologia, achando que tudo que se vê, ou não se ver, é artefato extraterrestre e que \’não estamos sós no universo\’, esparrela do clichê clássico, onde estão inseridos os amadores e ufólogos de escritório”, alerta Aristides Oliveira, integrante da equipe.
Buscam compreender o tema na pesquisa campal (investigação de campo), indo ao ocorrido, através dos depoimentos das testemunhas – reconhecendo suas flutuações e desvios, já debatidos em pesquisas anteriores – e do reconhecimento in loco com uma vigília inicial, no qual são traçados os aspectos gerais que compõem o espaço da região, na tentativa de encontrar elementos que possam auxiliar a trilhar as pistas tortuosas e delicadas do fenômeno em sua particularidade.
Formado por pesquisadores de várias áreas, a pluralidade de prismas faz com que trabalhem em torno de um ideal maior: a Ufologia. Nunca deixando de estar em contato com outros pesquisadores do cenário, estão atentos ao que essa rica região tem a oferecer, infelizmente marginalizada pelos grandes centros de pesquisa no globo, é a UPUPI a grande responsável pela valorização da pesquisa de campo no Piauí e parte do Maranhão, longe de esoterismos e esquemas publicitários, acreditando sempre na perspectiva documental e com metodologia investigativa.
Uma das pesquisas ocorreu no povoado Mandacaru (MA), interior de Matões, nos dias 05 e 06 de julho de 2008, localizado aproximadamente a 74 km da cidade de Timon, correspondendo ao trabalho realizado no Maranhão pelo grupo, por averiguar uma forte presença de supostos casos no Estado vizinho e de testemunhas que os convidam a estudar a região. O local foi visitado com muitas dificuldades estruturais, principalmente as condições de transporte, o ônibus era precário, com bancos defeituosos e fora da capacidade de lotação, passageiros em pé, arriscando a vida de todos de certa forma, pois a estrada não é asfaltada, com inúmeros buracos, o que torna a viagem mais longa e cansativa.
A equipe se deslocou ao local às 08h30 do dia 05 de julho, com ameaças do ônibus em que estávamos não chegar ao destino planejado, mas depois de muita tensão que tornou a viagem estressante, foi possível chegar à parada final às 11h00, depois tiveram que caminhar por 40 minutos de estrada areal até chegar ao ponto de pesquisa do povoado. Às 11h40, foram bem recebidos pela família de Joelson da Silva, que foi o guia e apoiou o trabalho na região.
Logo após a chegada em Mandacaru, conversaram informalmente com os moradores, para que fosse possível uma interação entre todos, o que propiciou uma comunicação gradativa e aproximada entre depoentes e pesquisadores, iniciando os procedimentos de entrevista com as testemunhas locais. Para ter acesso às entrevistas realizadas, a UPUPI informa que os vídeos estão disponibilizados para download na sua página da Internet.
A partir dos depoimentos das testemunhas é possível encontrar vestígios que configuram essa teia imaginária que povoa as versões de avistamentos envolvendo a temática ufológica. Não podemos ter certeza do que esses estranhos acontecimentos significam, mas seria um crime ocultar a voz de pessoas simples que afirmam ter contato com esses tais objetos voadores não identificados, algo que causa estranhamento entre eles e nós, pesquisadores que compartilham com as testemunhas a sensibilidade e angústia de não possuir ainda uma resposta definitiva para os supostos ataques e aparições, restando como alternativa a difícil busca do registro em vídeo para análise e verificação.
Enquanto a captação audiovisual não chega, não podemos desistir de investigar com as ferramentas que temos para informar a Ufologia com suas devidas aproximações com a ciência: através da constante experimentação metodológica e afinação dos estudos, para ser possível a sistematização de quadros de conversão problematizada e avaliada dos casos estudados em todo território (PI/MA) mapeado pelo grupo, para que seja possível uma explicação traduzível, porém, não conclusiva do fenômeno.
Mandacaru é marcado pelo mistério de uma região isolada, vivendo basicamente de pecuária e agricultura, com uma média de 300 a 400 famílias morando em casas simples e vida pacata, onde cada grupo recolhe suas cabeças de gado às 18h00 do pasto solto, longe das maravilhas tecno-informativas da zona urbana, possuindo a TV como única ferramenta de luxo, apenas em algumas casas. A convivência com o Fenômeno UFO já está bem familiarizada entre os habitantes, que transmitem para as gerações que se sucedem histórias das mais diversas sobre luzes misteriosas, perseguições, lendas envolvendo mulheres, animais estranhos que se manifestam no local e o medo de se deparar com tais manifestações pela noite.
Forte e ampla casuística
As narrativas estão bastante imbricadas entre as lendas e a Ufologia, muitas vezes confundindo essas informações com a realidade UFO, tornando a pesquisa complexa, provocando um ruído que deforma sua clareza investigativa: estariam esses indivíduos mantendo um contato ufológico ou seria mais uma lenda popular misturada a uma má interpretação visual? A experiência em Mandacaru esclarece a carência de conceitos para a operação desta e de várias investigações semelhantes na Ufologia como um todo, mas que não impede a percepção de uma formação rizomática da cartografia do medo nas localidades estudadas, que apesar de não nos trazer uma orientação ufológica definida, denuncia um
não-lugar na Ufologia, que desafia os pesquisadores a escavar com mais profundidade dos relatos sua natureza ufológica. “O proposto é que devemos tomar consciência da falta de fixidez da Ufologia e que tudo o que possuímos é residual, desse modo é urgente que as limitações na pesquisa sejam usadas ao nosso favor, num constante exercício de entrevistas, vigílias e teorização pós-pesquisa mais aprofundada, evitando cair no relato pelo relato”, disse Aristides Oliveira.
Os relatos colhidos em Mandacaru participam da inconstância verídica de outros locais, mas convergindo em pontos comuns, como a denominação “aparêi”[Aparelho], típico no Nordeste, a crença de luzes que “sugam” o sangue das vítimas e o fato de que se acender qualquer objeto luminoso à noite eles “baixam” e atacam as vítimas. Como locais tão inóspitos e distantes confluem? As interseções em depoimentos orais, em vez de ser encaradas como meras coincidências, precisam ser problematizadas, pois a Ufologia não corresponde apenas a uma possível realidade extraterrestre, mas a um conjunto de eventos obscuros que precisam de imediato ser revelados entre nós, vítimas do mosaico de impressões esquemáticas que limitam o nosso ver, empobrecendo as perspectivas de análise.
O não-lugar da Ufologia está em cada um de nós, assim como a localidade Mandacaru é um entre milhares de pequenos focos de incidência perdidos na cartografia mal escavada pelos nossos instrumentais dispersos, nesse vasto e incompleto território que não conhecemos em sua completude. A casuística precisa ser unificada, não catalogada e simplificada para o conforto e falsa certeza de uma Ufologia que ainda não tem forças para se sustentar.
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