Autor consagrado, conferencista requisitado e personalidade das mais conhecidas dentro da Ufologia Mundial, o inglês Nick Pope tem ainda um título inusitado: foi durante anos o responsável pelo projeto oficial de investigações ufológicas do Ministério da Defesa (MoD) britânico, o UFO Desk, até que fosse desativado em dezembro de 2009, sem uma explicação razoável e deixando a comunidade ufológica internacional suspeita. A princípio cético quanto ao Fenômeno UFO, Pope acabou convencido de sua realidade através das pesquisas que fez da manifestação ufológica na Inglaterra e, principalmente, por ter acesso aos documentos oficiais de seu governo, que asseguravam que o assunto era sério, verdadeiro e merecia atenção das áreas de Defesa e de Segurança Nacional — especialmente quando as testemunhas envolvidas são militares, pilotos ou quando os discos voadores são captados pelos radares.
O UFO Desk — ou simplesmente Projeto UFO, como era chamado — tinha suas raízes datadas do início da década de 50, quando foi estabelecido por iniciativa do consultor-chefe de Ciências inglês, sir Henry Tizard, para quem os avistamentos de UFOs não deveriam ser descartados sem um estudo científico apropriado. E assim, o Projeto UFO investigou a ação de naves alienígenas, às vezes com tripulantes, dos anos 50 até 2009, recebendo mais de 10.000 relatos de testemunhas. Durante todos esses anos os objetivos do projeto não mudaram muito: sua política sempre foi investigar as observações informadas para ver se havia alguma evidência de ameaça à Grã-Bretanha — ou se algum dado advindo das pesquisas poderia ser usado para fins científicos ou militares.
Visão remota e fantasmas
Quando foi desativado, um anúncio do governo dava conta de que o Projeto UFO não encontrou evidências de ameaças nos relatos e menos ainda subsídios científicos para se continuar a tarefa. “É evidente que o projeto nunca foi verdadeiramente fechado e que continua ativo, porém agora secreto”, declarou, entre outros, o ufólogo inglês Gary Heseltine, policial de Sua Majestade. Para ele, como para muita gente da Comunidade Ufológica Mundial, o Projeto UFO sempre teve uma face pública e outra, bem mais séria, secreta. Isso não muda o posicionamento de Nick Pope. “Ter um projeto de pesquisa ufológica não significa que o MoD acredite que estamos sendo visitados por extraterrestres”, esclareceu. Para ele, a existência do projeto simplesmente refletia o fato de que os ingleses estavam de olho em seu espaço aéreo. “Como nos Estados Unidos, que tinham o Projeto Blue Book, nós tínhamos o Projeto UFO, embora com recursos muito menores, mesmo que com metodologia virtualmente idêntica”.
Os UFOs são coisa séria e os governos há décadas já têm toda a informação de que necessitam para estabelecer padrões de investigação e divulgação da presença alienígena na Terra, para tranqüilizar e preparar a população. Mas eles estão longe de tomar esta decisão.
Nick Pope é um ativista da Ufologia como poucos em todo o mundo. Já participou de dezenas de programas de rádio e TV, como Newslight do canal inglês 4 News, e de documentários como o Timewatch e do famoso programa de entrevistas da TV norte-americana, Larry King Live. Ele é convidado freqüente para séries dos canais a cabo Discovery Channel e The History Channel, como Caçadores de OVNIs. Mas, além da investigação de avistamentos de UFOs, seu trabalho no MoD consistia também em pesquisar casos complexos de abduções alienígenas, círculos nas plantações — os agroglifos —, mutilações de animais e até de visão remota e fantasmas.
O verdadeiro Fox Mulder
Uma das ações de Pope à frente do Projeto UFO foi a reabertura do famoso Caso Bentwaters, ocorrido em 1980 e considerado uma espécie de “Roswell Britânico”. Segundo relatos de testemunhas militares e civis, nas noites de 24 a 27 de dezembro daquele ano, um UFO teria sido visto e até pousado na Floresta Rendlesham, que fica entre duas bases aéreas inglesas, Bentwaters e Woodbridge — que na época eram operadas pelos Estados Unidos [Veja detalhes no DVD Fastwalker, código DVD-030 da coleção Videoteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. Mas o que é considerado como um caso genuíno para muitos ufólogos, para Pope ainda é algo incompleto: “Não consegui chegar a uma conclusão definitiva sobre o que aconteceu naquelas noites, e para mim este evento permanece inexplicado”.
Considerado pela imprensa internacional como o “verdadeiro Fox Mulder”, Pope afirma que o interesse do Ministério da Defesa britânico sobre os UFOs — que justificaram a manutenção do Projeto UFO até 2009 — era mais direcionado a investigar “objetos não identificados vindos da antiga União Soviética do que discos voadores marcianos”. Ele informou que, observando os protótipos voadores soviéticos durante a Guerra Fria, percebeu-se que havia alguns tipos inusitados de aeronaves, às vezes operando no espaço aéreo britânico — e isso era uma preocupação. “Até ser encerrado, MoD recebia cerca de 200 ou 300 relatos anualmente”.
Até ser encerrado, o Projeto UFO do Ministério da Defesa da Inglaterra recebia cerca de 200 ou 300 relatos anualmente. Depois de uma investigação minuciosa de cada caso, nós conseguíamos explicar a grande maioria deles em termos convencionais. Mas alguns episódios permaneceram insolúveis. Esses sim são os verdadeiros Arquivos-X
Os arquivos do MoD contêm material que encheria os olhos de qualquer ufólogo. São casos de todos os tipos, proliferando avistamentos de sondas ufológicas e discos voadores. Pouco disso, entretanto, consta dos arquivos oficialmente liberados pelo governo em 2007 e 2009 [Veja edições UFO 133 e 148, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br]. Um dos casos do MoD que mais impressionavam Nick Pope eram as quase colisões entre UFOs e aviões, tanto militares quanto civis. “Em novembro de 1990, vários caças Tornado da Força Aérea Real [Royal Air Force, RAF] foram perseguidos por um UFO sobre o Mar do Norte, com risco sério de choque. Em 1991 e 1995, por exemplo, Boeings 737 quase colidiram com UFOs próximos do Aeroporto de Manchester”.
Ordem para derrubar UFOs
E quando um contato entre caças a jato britânicos e discos voadores vai além de um “quase”? Haveria ordem para derrubar os intrusos? Ele respondeu citando exemplos estrangeiros. Um deles é o chamado Incidente Teerã, ocorrido em 1976, quando o general da Força Aérea Iraniana Parviz Jafari teve um contato com uma nave sobre o país. Outro foi a perseguição que fez o piloto militar peruano Oscar Alfonso Santa Maria a um UFO nos arredores de Lima. Os casos são referências mundiais e ambos os pilotos participaram do histórico evento no Clube Nacional da Imprensa, em Washington. “Eles relataram ter tentado derrubar os UFOs que perseguiram. Mas, por sorte, saíram vivos desses episódios”.
Além de todo seu trabalho como investigador, Nick Pope — que é consultor da Revista UFO desde 2005 — também escreveu best sellers memoráveis, como The Uninvited [Os Que Não Foram Convidados, Dell, 1999] e Céus Abertos, Mentes Fechadas [Editora Madras, 2007]. Além destes, publicou dois livros de ficção científica mesclada com muitos dados reais retirados de anos de trabalho no MoD. E como se não bastasse tamanha atividade, o pesquisador britânico — que já fez palestra no Brasil — também é regularmente convidado a prestar consultoria para filmes de ficção científica para o cinema, TV e programas de rádio. Ele participou como consultor, por exemplo, do remake do filme O Dia Em Que a Terra Parou [2008], e como promotor do lançamento do DVD comemorativo de 30 anos do clássico Contatos Imediatos do 3º Grau [1977], além de dar suporte para séries de ficção da TV, como Fringe. Com todo este currículo, vejamos qual é a essência do trabalho de Nick Pope nesta entrevista exclusiva.
Começando pelo início, o que você fazia antes de ingressar no Projeto UFO? Entrei no Ministério da Defesa em 1985 e, naquele tempo, era procedimento do órgão remanejar seus funcionários em diversos departamentos a cada dois ou três anos, para que todos pudessem ganhar experiência em diferentes áreas, como em setores que lidavam com política, operações estrangeiras, administração financeira e de pessoal etc. Tive algumas tarefas diferentes no MoD e, antes de ingressar no Projeto UFO, trabalhei numa divisão chamada Secretaria T, sendo o segundo no comando do Escritório de Operações da Real Força Aérea (RAF) no centro de operações de Londres. Trabalhei lá na primeira Guerra do Golfo e também depois do conflito. Foi quando me perguntaram se eu gostaria de comandar o Projeto UFO, e aceitei. Ou seja, não era ufólogo ou coisa assim, apenas um funcionário de carreira do ministério, escalado para a função de coordenar sua área de investigação ufológica.
Como era a metodologia de investigação do Projeto UFO e quais foram as evidências que você encontrou de que havia algo anormal ocorrendo nos céus britânicos? Bem, eu tinha acesso irrestrito a todos os arquivos ufológicos do projeto, alguns ultra secretos. Isso me possibilitava investigar outros programas governamentais que eventualmente lidassem com a questão ufológica, à procura de conexões entre si. Mas a melhor parte do meu trabalho era investigar novos avistamentos, relatados o tempo todo. Recebíamos entre 200 e 300 testemunhos todos os anos e os investigávamos com uma metodologia de trabalho básica. Primeiro, entrevistávamos as testemunhas para obter o máximo de informação sobre suas experiências — como data, local e hora do avistamento, descrição do objeto, velocidade, altitude etc. Depois tentávamos relacionar as observações com alguma atividade aérea conhecida — como vôos comerciais, balões, exercícios militares etc. Nós podíamos checar no Observatório Real de Greenwich se houve algum fenômeno meteorológico que pudesse explicar muitos dos avistamentos relatados. Também verificávamos se algum aparelho não identificado fora detectado pelos radares nas ocasiões das observações. Se tivéssemos uma foto ou vídeo do fenômeno, solicitávamos ajuda a vários especialistas do MoD para analisá-los. E, finalmente, para questões científicas e técnicas, contávamos com o pessoal da Inteligência da Defesa.
Quais foram os resultados das investigações? Quando ingressei no Projeto UFO, descobri logo de início que por volta de 80% dos avistamentos relatados podiam ser explicados convencionalmente, como a interpretação errada de algo normal — tais como luzes de avião, satélites, balões ou planetas. Em 15% dos casos que chegavam ao nosso conhecimento, as informações prestadas pelas testemunhas eram insuficientes para afirmarmos qualquer coisa, e 5% deles permaneceram não explicados. Estes 5% são os casos mais interessantes que tínhamos.
Que tipos de ocorrências se enquadravam nesses 5% de casos não explicados? Bem, eram incidentes ufológicos que tiveram várias testemunhas ou as testemunhas eram observadores treinados — como policiais e militares, pilotos civis ou da RAF etc. Nestes casos estavam também avistamentos com evidências fotográficas ou em vídeo, cujas análises técnicas não encontraram qualquer vestígio de fraude, além de registros em radares e detecções de objetos voadores capazes de voar a velocidades inimagináveis, realizando manobras que desafiavam as nossas leis da física.
Esses 5% teriam origem extraterrestres? Certamente que não descarto essa possibilidade, pois existem evidências intrigantes neste sentido ainda sendo apuradas e seriamente consideradas. Mas falta ainda a derradeira prova para afirmarmos que sejam objetos provenientes do espaço exterior, pilotados por formas avançadas de vida.
Até onde ia sua autorização de acesso aos arquivos do Ministério da Defesa? Você tinha total liberdade para examinar todos os documentos do órgão ou acredita que havia aqueles que estavam além de seu alcance? O acesso a informações sigilosas do MoD depende de dois fatores: primeiro, o seu nível funcional de segurança e, segundo, o tamanho da sua “necessidade”, como funcionário, de ter acesso a tais informações. É o típico need to know. Quando eu trabalhava no Projeto UFO, tinha acesso extremamente amplo a tudo, desde meu trabalho anterior, quando estive envolvido nas operações da Real Força Aérea durante a primeira Guerra do Golfo. Portanto, eu tinha a “necessidade” de acesso a informações relevantes sobre questões ufológicas dentro do ministério, uma vez que era o responsável pelas investigações e pela política de informação sobre UFOs lá. Pelo que sei, todas as pastas do MoD estiveram ao meu alcance. Nunca tive qualquer indicação de que haveria alguma documentação escondida de mim.
As pessoas que auxiliavam nas atividades do Projeto UFO também levavam a sério o assunto? Ou, quando requisitadas para ajudar, demonstravam ver nos casos ufológicos uma perda de tempo e de energia? Quando eu pedia para funcionários do MoD analisarem algum dado de radar, alguma foto ou vídeo de um suposto disco voador, eles sempre faziam seu trabalho de maneira profissional. Se eles acreditavam em UFOs ou não, isso não os impedia de realizar um esforço isento. Para mim é importante começar uma investigação com a mente aberta, sem descartar qualquer possibilidade, a fim de evitar uma idéia pré-concebida ou alguma influência sobre o que vou examinar. Se você começar uma pesquisa já com uma conclusão na mente, ela não será isenta.
O MoD começou a liberar seus arquivos ufológicos há algum tempo, disponibilizando-os no Arquivo Nacional inglês. Você, que trabalhou em muitos dos casos contidos nestes documentos e estava no Projeto UFO quando começou a abertura, pode dizer o que o motivou? O ministério tomou a decisão de liberar os seus arquivos no final de 2007, e assim o fez. E anunciou oficialmente que eram quatro as razões que o levaram a uma abertura deste nível. Primeiro, o MoD estava sobrecarregado com o fato de que recebia mais solicitações de informações ufológicas do que sobre qualquer outro assunto, e elas eram recebidas no órgão de maneira jurídica, com o uso da Lei de Liberdade de Informação inglesa, o que tornava as respostas aos pedidos obrigatórias e causava um transtorno. Segundo, o governo francês também liberou seus arquivos em 2007, criando assim um precedente no continente que seria muito difícil de ignorar. Terceiro, o MoD entendeu que a abertura ufológica seria uma forma de demonstrar à sociedade o comprometimento do governo com a transparência. Finalmente, o ministério esperava que com essa ação as acusações de que promovia acobertamento ufológico fossem dissipadas.
Você contava com um grupo para fazer a investigação de campo de casos relatados, ou o governo tinha algum outro departamento que lhe dava suporte nesta tarefa? Várias pessoas de outras áreas do MoD podiam nos ajudar. Elas trabalhavam em diferentes departamentos no ministério e não faziam parte do projeto. Nós podíamos utilizar seus conhecimentos sempre que necessário. Um exemplo era quando precisávamos de especialistas em registros de radar e análises de foto e vídeo — sempre tínhamos especialistas no órgão para nos dar assessoria nestas áreas.
Qual dessas razões foi a mais contundente para a tomada de decisão, em sua opinião? Certamente a primeira delas. Centenas de pessoas estavam bombardeando o MoD com pedidos através da Lei de Liberdade de Informação, causando um atraso nos trabalhos. O ministério entendeu que, liberando seus documentos, as pessoas poderiam ir diretamente ao Arquivo Nacional e fazer suas próprias investigações, sem atolar o Projeto UFO com solicitações.
E o que continham os arquivos liberados? Eles são 160 pastas, no total, incluindo os do Departamento de Inteligência da Defesa da Inglaterra. E contêm milhares de páginas sobre avistamentos ufológicos, ocorrências de todos os tipos e procedimentos de investigação adotados. Também há nas pastas correspondências públicas, assuntos políticos e instruções de como lidar sobre o assunto junto ao parlamento e a imprensa.
Mas por que o Ministério da Defesa não liberou tudo de uma vez, já que essa se tornou sua política oficial, fazendo-o por partes? Porque antes era necessário verificar tudo o que os arquivos continham. O que era de alcance da Lei de Liberdade de Informação foi liberado, mas o que não era continua mantido em sigilo no órgão, pois existem informações pessoais em documentos que não podem se tornar públicas — além de informações que afetariam a segurança nacional.
Você foi convidado pelo Arquivo Nacional para auxiliar na seleção dos arquivos tornados públicos e virou “garoto propaganda” dele, não foi? Sim. A diretoria do Arquivo Nacional me pediu para fazer um pequeno comercial, um curta metragem, para promover a abertura ufológica, e lá fui eu. Como se sabe, no dia 14 de maio de 2008 o primeiro pacote de arquivos foi liberado, e desde então vários outros chegaram ao órgão. Essa liberação só vai terminar em 2011, quando todas as pastas forem de domínio público.
Você acredita que todos os documentos ufológicos do Ministério da Defesa vão efetivamente ser liberados? E depois de tudo o que você viu neles, qual é sua impressão? Estes são os “verdadeiros Arquivos-X” do governo britânico. Como já disse, a maioria dos avistamentos que foram relatados ao Projeto UFO tem uma explicação terrestre, mas uma pequena porcentagem permanece insólita — e todos os casos, explicados ou não, já foram ou serão ainda enviados ao Arquivo Nacional. Isso inclui até episódios de UFOs vistos por policiais, pilotos e operadores de radar. A mensagem ao cidadão inglês é: o que quer que se pense a respeito dos UFOs, a liberação dos documentos oficiais mostra que este é um dos assuntos mais intrigantes já pesquisados pelo governo britânico.
Você acredita que os governos devam mesmo tornar seus arquivos públicos, mesmo que isso possa afetar sua economia, seu meio militar, sua sociedade e as religiões do planeta? Eu sou inteiramente a favor da abertura total das informações sobre a presença alienígena na Terra. Em muitos casos pressionei pessoalmente meu governo para que fizesse a revelação de certas ocorrências. Mas reconheço que existem dados que devem ser mantidos em segredo, como informações sobre a capacidade do sistema de defesa aéreo britânico, do alcance e funcionamento de nossos radares militares e outras que possam comprometer os métodos ou fontes de informações de outros países. Esses dados devem ser mantidos em segredo [Nota do editor: esta é exatamente a mesma posição dos militares brasileiros que auxiliaram na abertura ufológica em nosso país, como o brigadeiro José Carlos Pereira, que assevera a necessidade de proteger dados de interesse exclusivamente militar].
É, mas o físico Stephen Hawking, seu conterrâneo, disse que devemos evitar o contato com outras espécies cósmicas. Para ele, “se os alienígenas nos contatarem de fato, o resultado seria muito parecido com o que ocorreu com os nativos das Américas quando Colombo lá desembarcou”. Você demonstrou concordar com este posicionamento quando, em janeiro do ano passado, escreveu um artigo intitulado Se o Telefone Cósmico Tocar, Não Atenda, publicado no The Sun. Por quê? Hawking tem um ponto de vista válido e é difícil argumentar contra o exemplo que ele deu. O meu texto foi baseado na visão de outro cientista britânico, o professor Simon Conway Morris, da Universidade de Cambridge, que deu enorme contribuição ao entendimento da evolução planetária com um trabalho sobre a chamada Explosão Cambriana [Fase da Terra ocorrida entre 543 e 506 milhões de anos atrás, período em que surgiram praticamente todas as linhagens animais hoje existentes]. Morris mostrou seu ponto de vista durante uma apresentação na Sociedade Real britânica [Royal Society], intitulada “A Detecção da Vida Extraterrestre e Suas Conseqüências para a Ciência e a Sociedade”.
E qual seria a sua visão sobre um possível contato com outras espécies cósmicas? O escritor Arthur C. Clarke uma vez disse que “existem duas possibilidades: ou nós estamos sozinhos no universo ou não. Ambas são igualmente aterradoras”. Eu concordo com ele. A pergunta se estamos sós no universo é provavelmente a mais profunda que poderíamos fazer. Acho que brevemente teremos uma resposta, mas, em um campo repleto de dúvidas, a única certeza é que, quando esse dia chegar, nosso mundo mudará para sempre.
Sobre esse assunto, surgiu há alguns meses a notícia de que a Organização das Nações Unidas (ONU) indicaria uma pessoa para ser responsável por um eventual contato oficial com extraterrestres. Entretanto, logo a informação foi desmentida. Para você, a ONU deveria se encarregar desse contato, se vier a ocorrer, ou mesmo pela investigação ufológica em nível global? A notícia era de que a astrofísica malaia Mazlan Othman, diretora do Departamento das Nações Unidas para o Espaço Exterior [The United Nations Office for Outer Space Affairs, Unoosa], seria escolhida como uma espécie de “embaixadora terrestre” ante outras espécies cósmicas. A notícia era falsa, como ela mesma disse na reunião da Sociedade Real de outubro passado e em uma conversa particular comigo. Esta história surgiu de uma interpretação equivocada de uma declaração que Mazlan deu. Segundo ela, o Comitê para Uso Pacífico do Espaço Exterior [The Committee on the Peaceful Use of Outer Space, Copuos], também das Nações Unidas, seria o órgão mais indicado para lidar com assuntos relacionados à descoberta de vida extraterrestre. Mesmo que essa ação não esteja diretamente ligada à Ufologia, mas com sinais alienígenas eventualmente captados por nossas antenas e telescópios, acho que seria uma decisão muito importante.
A Ufologia parece estar alcançando mais espaço nos meios de comunicação. Além desta notícia da ONU — mesmo que tenha sido mal interpretada —, outro grande acontecimento foi a realização, em setembro passado, de uma entrevista coletiva no Clube Nacional da Imprensa, em Washington, chamando a atenção do mundo para o interesse que os ETs têm quanto ao uso que fazemos da energia atômica [Veja edição UFO 171, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Certamente isso deu enorme destaque para a problemática ufológica, não é? Sim, certamente. Eu acompanhei atentamente o evento [Que foi organizado pelo ufólogo Robert Hastings, entrevistado da edição UFO 151], mas admito que a política do governo britânico quanto a assuntos nucleares é de simplesmente nada comentar a respeito — especialmente confirmar ou negar a presença de UFOs sobre nossas instalações nucleares, como se fez no evento de Washington. Lá, oito militares norte-americanos aposentados revelaram os casos de que tinham conhecimento sobre naves alienígenas em áreas de silos de mísseis e usinas atômicas. Em vista disso, não posso falar muito, mas certamente um incidente envolvendo uma instalação nuclear é assunto para a segurança e defesa nacional do país envolvido. E é óbvio que isso chama a atenção do mundo todo para a fenomenologia ufológica.
O que pode nos falar sobre os chamados “projetos secretos”, que vários governos teriam para lidar sigilosamente com os UFOs, às vezes investigando, às vezes negando-os? Sim, existem protótipos de aeronaves e de aparelhos de reconhecimento teleguiados remotamente que não são de conhecimento público — os chamados UAVs, veículos aéreos sem tripulação [Do inglês unmanned aerial vehicle]. Mas, como você deve imaginar, este é assunto sobre o qual também não posso falar. De qualquer forma, quando eu estava à frente do Projeto UFO, era informado sobre algum vôo de testes destes protótipos e aparelhos, para saber como descartar avistamentos que nos eram relatados.
Vamos falar agora do que é considerado o “Santo Graal” dos episódios ufológicos britânicos, o Caso Bentwaters, ocorrido nas bases aéreas inglesas de Bentwaters e Woodbridge, próximas da Floresta Rendlesham, em dezembro de 1980. As testemunhas eram em sua maioria militares, inclusive o comandante da base, o tenente-coronel Charles Halt. Em 1994 você reabriu as investigações sobre o incidente, que já tinha sido dado como encerrado. Por quê? O MoD investigou registros de radar que poderiam corroborar com o que foi visto naquelas bases, mas devido a um erro nas datas da detecção, as fitas analisadas foram as erradas, não as que conteriam algo significativo. Mais interessante ainda foi o registro de radiação no local do pouso do UFO, em uma das bases. A leitura medida nos três buracos feitos no solo, que formavam um triângulo onde o UFO teria pousado, mostrava um nível de radiação sete vezes maior do que o normal. Em 1994 eu confirmei isso através de análises do Serviço de Proteção Radiológica da Defesa, e então decidi reabrir o caso.
Apesar da abertura ufológica, os governos continuam encobrindo a verdade sobre os objetos voadores não identificados? Até onde eu sei, não existe acobertamento em andamento em meu país. O MoD sempre procurou desmentir essas acusações de acobertamento ufológico e seus diretores alegam nunca ter mentido sobre isso. Ao contrário, dizem que não têm qualquer evidência que prove a existência de extraterrestres. É claro que existem informações sobre o assunto que não serão liberadas ao público, mas elas são relacionadas à defesa e segurança nacional.
Quais foram as suas conclusões? Foram de que a investigação original, feita na época, estava cheia de erros de procedimentos, com datas e horários equivocados. Também apresentava uma confusão sobre a jurisdição a que pertenciam as operações e denotava a quase inexistente troca de informações entre o MoD e a Força Aérea Norte-Americana (USAF), que controlava as bases aéreas de Bentwaters e Woodbridge — Charles Halt, por exemplo, era tenente-coronel da USAF servindo em uma delas.
Deixe-me adivinhar. Você está querendo dizer que o caso não é ufológico? Calma, não disse isso. O que eu concluí é que não se pode afirmar nada sobre o episódio devido aos erros encontrados na primeira investigação. Os arquivos sobre o caso foram liberados em 2001, com base no Código de Prática para o Acesso à Informação Governamental, precursor da Lei de Liberdade de Informação. Essa liberação só foi possível devido ao pedido de várias pessoas, incluindo a ufóloga Georgina Bruni, falecida em 2008. Ela escreveu sobre o caso no livro You Can’t Tell The People [Você Não Pode Contar Às Pessoas, Macmillan, 2000].
Estudando assuntos para realizar esta entrevista, descobri que houve um acontecimento muito parecido com o Caso Bentwaters, no mesmo local e muitos anos antes. O que nos fala sobre isso? Primeiro, que você fez seu dever de casa muito bem! Em agosto de 1965, um UFO foi detectado pelo sistema de radar das bases da Força Aérea Real (RAF) em Bentwaters e Lakenheath, mas não houve pouso. Dois aviões da RAF foram enviados na tentativa de interceptar a misteriosa aeronave, e o que ocorreu foi um jogo de gato e rato. Os pilotos tentaram “travar” o alvo em seu sistema de mísseis para poderem dispará-los [O sistema só dispara se o alvo está firmemente sinalizado, ou “travado”], mas o objeto era muito mais rápido do que os caças e sempre saíam de seu alcance.
Esta entrevista continuará na próxima edição, UFO 175, de março.