Marte é o planeta da vez, não há dúvida sobre isso. Conforme mais dados sobre nosso vizinho são coletados, mais estudos surgem e com eles novas teorias para explicar o passado do Planeta Vermelho.
O ser humano é fascinado por Marte há milênios. Seu brilho vermelho intenso no céu noturno acabou lhe valendo o nome de Marte, o deus romano da Guerra, uma adaptação do deus Ares, dos gregos. Os romanos glorificavam as guerras, os gregos as temiam.
Esse fascínio pelo Planeta Vermelho e por seus supostos, mas não existentes, habitantes, foi sofrendo modificações ao longo das eras até chegarmos aos dias atuais, onde a discussão se ampliou muito e há um grande investimento para se decifrar os segredos de Marte.
O mais recente deles é sobre a questão de ter havido água corrente no planeta, com rios e até mares fluindo normalmente, o que abria um enorme leque de possibilidades sobre a existência de vida no passado de nosso vizinho.
Água corrente ou apenas uma grande capa de gelo?
Imagem de alta definição mostrando o polo norte de Marte Crédito: NASA
Mas segundo um estudo recente pulicado na revista Nature Geoscience, o grande número de redes de vales que marca a superfície de Marte foi esculpido pelo derretimento da água sob o gelo glacial, não por rios de fluxo livre como se pensava anteriormente.
As descobertas efetivamente jogam água fria na hipótese dominante de um ‘Marte antigo quente e úmido’, que postula que rios, chuvas e oceanos já existiram no Planeta Vermelho.
Para chegar a essa conclusão, a autora principal Anna Grau Galofre, ex-aluna de doutorado no departamento de ciências terrestres, oceânicas e atmosféricas da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), no Canadá, desenvolveu e usou novas técnicas para examinar milhares de vales marcianos.
Ela e seus coautores também compararam os vales marcianos aos canais subglaciais no arquipélago ártico canadense e descobriram semelhanças impressionantes.
Água e gelo, sob um Sol mais frio
Os pesquisadores da UBC concluíram que a paisagem marciana inicial provavelmente
se parecia com esta imagem da calota de gelo de Devon. Crédito: Anna Grau Galofre
“Existem centenas de vales em Marte, e eles parecem muito diferentes uns dos outros. Se você olhar para a Terra de um satélite, verá muitos vales: alguns deles feitos por rios, alguns feitos por geleiras, alguns feitos por outros processos, e cada tipo tem uma forma distinta. Marte é semelhante, em que os vales parecem muito diferentes uns dos outros, sugerindo que muitos processos estavam em jogo para esculpi-los”, disse a doutora.
No total, os pesquisadores analisaram mais de 10.000 vales marcianos, usando um novo algoritmo para inferir seus processos de erosão subjacentes.
“Esses resultados são a primeira evidência de extensa erosão subglacial impulsionada pela drenagem de água derretida canalizada sob um antigo manto de gelo em Marte”, disse o coautor Mark Jellinek, professor do departamento de ciências terrestres, oceânicas e atmosféricas da UBC.
“As descobertas demonstram que apenas uma fração das redes de vales correspondem aos padrões típicos da erosão hídrica superficial, o que contrasta fortemente com a visão convencional”, explicou o professor.
“Usar a geomorfologia da superfície de Marte para reconstruir rigorosamente o caráter e a evolução do planeta de uma forma estatisticamente significativa é, francamente, revolucionário“, completou Jellinek.
A teoria de Grau Galofre também ajuda a explicar como os vales teriam se formado 3,8 bilhões de anos atrás em um planeta mais distante do Sol do que a Terra, em uma época em que o Sol era menos intenso.
Para ler a matéria original publicada pelo site Science Daily, em inglês, por favor clique aqui