A tendência dos relatos de raptos de seres humanos por alienígenas passou a mudar a partir de 1966, com a famosa história de Barney e Betty Hill, que deu origem à publicação do livro A Viagem Interrompida. Nele era relatada a suposta abdução do casal de New Hampshire, cinco anos antes. O livro foi seguido por uma ampla difusão, nos Estados Unidos, de um filme para televisão baseado na experiência, que levou ao público daquele país uma fascinante seqüência de acontecimentos, que em nada se pareciam com os descritos, até então, na literatura sobre contatos com seres extraterrestres. Os Hill contavam como foram arrancados de seu carro por ETs provenientes de um UFO, submetidos a exames físicos aterrorizantes e depois devolvidos ao veículo, sem qualquer memória consciente das provações. A história tinha a maioria das características que os pesquisadores classificariam depois como típicas dos casos de seqüestro alienígena.
Quando a saga dos Hill chegou aos meios de comunicação, foi aberta a temporada dos raptos ou, mais propriamente, dos relatos de seqüestros. Os elementos da história de Barney e Betty e de outra semelhante, contada pelo brasileiro Antonio Villas-Boas, que afirmava também ter sido raptado em 1957, logo começaram a aparecer em número cada vez maior de relatos feitos aos ufólogos e, às vezes, à imprensa. Várias dessas ocorrências eram aparentemente muito anteriores à experiência dos Hill e de Villas-Boas, mas foram mantidas em segredo pelos raptados. Só depois de observar a atenção dada a esses casos é que os indivíduos envolvidos teriam se sentido confiantes o bastante para admitir publicamente suas próprias experiências. Algumas das vítimas, como Villas-Boas, relembravam de forma consciente o que lhes acontecera. Outras, não. Estas registravam apenas anos depois uma estranha impressão de tempo perdido, sendo necessárias sessões de hipnose para que suas traumáticas lembranças do rapto fossem recuperadas.
Estranha Sala Branca — Da mesma forma que surgiam cada vez mais relatos de abdução, algumas poucas viagens a outros mundos passaram a ser descritas por testemunhas. Mas nenhuma com tantos detalhes quanto as supostamente feitas por uma mulher da Nova Inglaterra (EUA), chamada Betty Andreasson. Reprimidas durante anos, as lembranças de Betty sobre suas viagens cósmicas foram descobertas em sessões de hipnose realizadas entre 1977 e 1980, e se parecem com uma visita a um museu de espécimes humanos. Betty teria sido contatada por seres extraterrestres pela primeira vez aos sete anos, e de novo aos 12. Nas duas ocasiões, ela desmaiou. Depois disso, vozes encheram sua cabeça e disseram-lhe que estava progredindo bem as experiências. Seu caso, assim como o de Villas-Boas, é bem conhecido da Ufologia Mundial.
Os discos voadores podem ser mesmo espaçonaves alienígenas, reais, feitas de porcas e parafusos, que deram origem a um arquétipo ao longo dos séculos
– Jung
Outra dessas interessantes histórias indica o rapto de um ser humano e sua rejeição pelos alienígenas. Foi o que aconteceu ao petroleiro Carl Higdon, então com 40 anos de idade, que fazia uma caçada na floresta Medicine Bow, no Estado norte-americano do Wyoming, na tarde de 25 de outubro de 1974. Avistando um alce macho e 4 fêmeas, mirou no macho e atirou, mas a bala chegou até uns 15 m adiante e caiu abruptamente. Higdon foi recuperá-la e descobriu entre as árvores aquela espécie de homem, ali parado. A presença da figura humanóide, que se identificou como Ausso, deve ter sido impactante, pois quando ele mostrou a Higdon uma caixa de comprimidos, o petroleiro engoliu um sem questionar. Ausso então fez um gesto com o braço direito e, de repente, Higdon estava sentado ao lado de seu raptor, dentro de um cubículo transparente, com os cinco alces numa jaula atrás deles. Quando a nave partiu, segundo Higdon, ele ficou olhando para a Terra, que se afastava gradualmente. Então, quase de imediato, pousaram numa superfície escura, que ele supôs que fosse o planeta do alienígena.
Higdon viu-se perto de uma enorme torre que emitia uma luz brilhante que doía seus olhos, no ar cinzento e brumoso daquele planeta. Não muito longe dali, cinco seres de aparência humana conversavam e não se aperceberam da chegada de Higdon. Mas ele teve pouco tempo para observar a cena, pois logo foi levado para uma sala de exames, dentro da tal torre. Lá chegando, Ausso passou um grande escudo sobre o corpo de Higdon e disse: “Ele não serve para o que precisamos”. Mais tarde, Higdon especulou que fora rejeitado porque, como fizera uma vasectomia, não servia para reprodução.
De volta ao cubo viajante, em pouco tempo ele se viu novamente na floresta, duas horas depois de ter disparado sua arma contra o alce. Os estudiosos acreditam que as abduções representam muito mais do que sabemos ou podemos imaginar. Para alguns, os UFOs sequer são espaçonaves, mais se parecendo com verdadeiros seres vivos. De qualquer forma, o período dos anos 70 até o início dos 80 foi fértil em matéria de histórias de raptos por seres extraterrestres. Só em 1975 surgiram 25 casos. Em 1979, 27 casos vieram à tona e mais de 40 foram registrados em cada um dos dois anos seguintes. Havia tantas histórias de norte-americanos que afirmavam ter sido raptados por discos voadores que o assunto estava assumindo proporções de fenômeno psicossocial.
Assim, brotaram em diversas partes do país grupos de apoio nos quais supostas vítimas de seqüestro faziam discussões terapêuticas de seus problemas. Foi criada até uma conferência anual para os raptados, reunida pela primeira vez em 1980 na Universidade de Wyoming, sob os auspícios de um pioneiro ufólogo, Leo Sprinkle, que freqüentemente servia como consultor da extinta Aerial Phenomena Research Organization (APRO). Em 1991, 137 pessoas participaram da conferência, que acontece até os dias de hoje. Estava criada, naquela época, a cultura dos contatados, que se acredita serem pessoas escolhidas por ETs e que com eles se encontram uma ou várias vezes. Hoje em dia, há milhares de pessoas em todo o planeta que alegam estar em contato permanente com seres extraterrestres.
Contatos — Foi para tentar impor um pouco de ordem à profusão de incidentes com extraterrestres relatados naquela época, que o astrofísico J. Allen Hynek desenvolveu no início dos anos 70 uma classificação hierárquica de tipos de contatos com ETs. Seu sistema começava com três categorias inferiores de visões de UFOs a distância. A mais simples era a visão de luzes no céu noturno, seguida por discos avistados à luz do dia e por visões apoiadas por leituras de radar. As categorias mais importantes e
ram os envolvimentos diretos, que ele chamou de contatos imediatos ou CI. Um CI-01 era a visão de um UFO a não mais de 180 m de distância, sem qualquer interação entre ele e o observador ou o ambiente. Um CI-02 era aquele tipo de caso em que fossem registrados efeitos físicos discerníveis atribuídos a UFOs, tais como vegetação esmagada ou queimada em campos cultivados ou o colapso de sistemas elétricos. Já o CI-03 era o caso em que seres alienígenas eram vistos em suas naves, ou próximos a elas.
Guerra Fria — A Força Aérea Norte-Americana (USAF), depois de acompanhar por longo período essas histórias, achou que era tempo perdido ficar examinando todos aqueles relatos de avistamentos de UFOs e concluiu que seria muito mais útil, naquele momento, centrar suas atividades na missão de monitoramento da União Soviética, pois era época da Guerra Fria. Segundo os relatórios que emitiam, as pesquisas da USAF pouco haviam encontrado de palpável sobre naves e seres alienígenas. Em vez disso, seus investigadores partiam do princípio de que a maré de visões de discos voadores era o resultado direto do rápido avanço da tecnologia na época, da constante tensão política e de grandes sucessos radiofônicos ou cinematográficos, como Guerra dos Mundos, de Orson Wells. Para os céticos, esses relatos – que muitas vezes incluíam sessões de exames físicos e mesmo fecundação por ETs – não passavam de alucinações.
Por outro lado, alguns pesquisadores mais ousados já teorizavam que, se as histórias de raptos fossem verdadeiras, talvez os alienígenas estivessem desenvolvendo estudos dos humanos a longo prazo, e realizando experiências genéticas na esperança de criar um híbrido humano-alienígena. Essa hipótese foi bastante aproveitada pela tevê, como na conhecida série Arquivo X, em que seus autores, na ânsia de aproveitar o germe de visitas extraterrestres que ficou inculcado na humanidade ao longo dos tempos, criaram programas bem amparados em recursos virtuais – embora muitos deles não apresentem um fim definido, deixando simplesmente o epílogo por conta da sensibilidade do telespectador que, imbuído na sua crença, idealizava uma continuação da história.
Enquanto personagens como Hynek pressionavam o governo dos EUA para que os UFOs fossem estudados com mais seriedade, outros cientistas apareciam com novas hipóteses para explicar o fenômeno como um todo. Alguns diziam que se tratava de um problema psicológico. Alegava-se, por exemplo, que a maioria das pessoas que observam UFOs tinha deficiência de status, ou seja, que suas posições na vida não correspondiam às suas expectativas. Segundo esse raciocínio, o relato de avistamentos de naves e ETs podia ser gratificante para elas, porque passariam a se sentir mais importantes.
Outras hipóteses foram sendo emitidas sobre o problema das visitas extraterrestres. Alguns pesquisadores – verdadeiros céticos – inspiraram-se em cientistas como o falecido Donald Menzel, um astrônomo de Harvard que, nos anos 60, afirmou que todas as aparições de UFOs se resumiriam a uma fraude descarada, a algum fenômeno natural ou a um efeito atmosférico incomum. Segundo essa definição simplista, as lembranças de um encontro com alienígenas não passariam de uma aberração mental de observadores perturbados. Uma interpretação psicológica mais complacente foi proposta, pela primeira vez, por ninguém menos que Carl Jung, famoso psiquiatra que foi pupilo de Sigmund Freud e depois fundou seu próprio sistema de psicanálise. Jung achava que as histórias de visitantes alienígenas brotavam do fundo do inconsciente coletivo da humanidade.
Para ele, os viajantes espaciais seriam uma emanação de antigos temores e desejos humanos, atualizados para as mentes do século XX. Seriam anjos e demônios em trajes espaciais. Essa equivalência, como se pode entender, tem duas faces. Ou os visitantes alienígenas seriam mitos modernos, ou, como o próprio Jung admitiu, os discos voadores podiam ser espaçonaves reais, feitas de porcas e parafusos, que deram origem ao arquétipo ao longo dos séculos. Essa última alternativa, é claro, é até hoje a preferida de muitos entusiastas da Ufologia, que afirmam sem rodeios que o Fenômeno UFO é exatamente o que parece ser – os discos voadores são de fato naves alienígenas do espaço sideral, pilotadas por seres com muito mais miolos e conhecimento tecnológico do que nós.
Mas as posições dos ufólogos se dividem quanto às abduções, como podemos observar nos dias de hoje. Alguns vêem os relatos de raptos como fantasias complexas e às vezes absurdas, que interferem no bom andamento da pesquisa ufológica legítima – ou como indícios, de essência irrelevante, de um fenômeno totalmente diferente. Outros pesquisadores até defendem uma posição diametralmente oposta e acreditam que os relatos de contatos imediatos com alienígenas são a chave para a compreensão do fenômeno ufológico. Enquanto os cientistas tentam encontrar uma explicação natural aceitável para as abduções, ufólogos mais entusiasmados esforçavam-se para identificar as origens dos pilotos destas aeronaves. Alguns deles, ampliando consideravelmente as antigas lendas sobre a Atlântida, sugerem que os UFOs pertençam a uma civilização submarina, que a exploração oceanográfica moderna até hoje não detectou.
Teoria Conspiratória — Outros chegam a especular que os veículos vêm de uma parte oca da Terra, que os geofísicos também têm certeza que não existe. E ainda garantem que os UFOs seriam pilotados por seres que vêm de planetas próximos da Terra, com a capacidade de se esconderem no chamado hiperespaço. Há teorias para tudo, e é importante frisar que muitos ufólogos as apóiam atualmente. Jacques Vallée, um cientista francês que passou a se interessar pelo assunto no início da década de 60, teceu uma teoria conspiratória segundo a qual o Fenômeno UFO se deve a uma organização internacional que viria operando secretamente desde o final da
Segunda Guerra. De acordo com o elaborado enredo imaginado por Vallée, hoje abandonado, essa singular agência utilizaria o que se denomina tecnologia psicotrônica, uma combinação de hipnotismo e tecnologia para pré-programar pessoas suscetíveis para terem experiências com UFOs, espaçonaves que
Vallée julga reais. Essa trama descrita por ele implicava em levantar a teoria de que os UFOs seriam armas sofisticadas, terrestres ou não, pertencentes às grandes potências.
Mas há ainda muitas outras versões e variados ufólogos chegam a afirmar que existe uma espécie de governo paralelo mundial, para os quais os mistérios dessas naves são conhecidos e geridos. Ufólogos mais ousados sugerem até que existam membros desse governo paralelo que esperam obter vantagens tecnológicas estudando as naves desses pretensos invasores alienígenas. Pode parecer muito imaginativa essa teoria, mas também se pode verificar, no momento, que as ocorrências extraordinárias que passaram a existir desde a atual crise de terrorismo, lançada mais diretamente por facções tribais do Afeganistão, de certa forma anulam qualquer possível interferência extraterrestre. As grandes potências estão apavoradas com o desdobramento dessas ocorrências, e é evidente que nenhuma delas se sente protegida por prováveis ETs, que possam ter feito algum conluio especial com elas.
Com o meio ufológico abarrotado de teorias, não chega a surpreender que muitos pesquisadores ativos façam questão de manter a nossa consciência aberta a esses problemas. O professor Michael Swords, da Universidade de Michigan e antigo editor do Journal of UFO Studies, chegou a afirmar, em 1989, “que o fenômeno dos UFOs está destinado a produzir descobertas cientificamente importantes, e que todas as teorias eram prematuras”. Swords insistia num ponto sobre Ufologia: “Deixemos os fatos falarem, e não as opiniões”.
Os UFOs, como decorrência lógica de serem visitantes alienígenas, tocam cordas sensíveis da psiquê humana – sensíveis e essencialmente contraditórias. Não deixa de ser agradável para nós encontrar outros seres inteligentes na galáxia, se eles forem benignos, prestativos ou até messiânicos. Por isso vemos sua vinda ao nosso planeta como prenúncio de uma grande aventura. Mas ao mesmo tempo nós os tememos, pois o desconhecido é intrinsecamente atemorizante. A própria idéia do advento de intrusos extraterrestres pode provocar xenofobia em estado puro em segmentos da humanidade. Muitos pensam na hipótese de nossos visitantes não serem amistosos, deles não serem exatamente a promessa de um início, mas de um fim. A cultura popular, notadamente através do cinema e dos livros de ficção científica, reflete bem essa ambivalência.
Seres Benignos — Vejamos, por exemplo, o clássico A Guerra dos Mundos, em que humanos rastejam diante da destruição trazida pelos marcianos em suas naves, com a emissão de crescentes raios mortíferos. Já em Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de 1977, a nave assassina dá lugar a um grande festival feérico em que pequeninos seres benignos comunicam-se musicalmente conosco e sugerem uma série de aventuras fantásticas. No encantador filme ET, de 1982, aquele ser alienígena, com sua alma afetuosa, é contraposto à crueldade de alguns humanos. Em Os Vampiros Invadem a Terra, os visitantes são ao mesmo tempo maus e bons. Começam a usurpar corpos humanos, mas depois se descobre que são viajantes inofensivos, obrigados a descer à Terra para reparos.
Ainda não se pode dizer, com certeza, que saibamos a verdade sobre os ETs e suas intenções. Porém, a forma como eles são imaginados pode revelar verdades sobre nós mesmos. Pelo que se sabe, não existe até hoje fotos comprovadas de seres alienígenas, e sim apenas de suas naves. Mas há muitos esboços, feitos pelos próprios contatados ou visionários, desenhados por artistas que seguiram suas descrições. Na tipologia de seres extraterrestres e seus veículos já existe, atualmente, uma extrema diversidade de formatos. Há diferenças consideráveis entre alguns e, também, características bastante comuns entre muitos deles. Numa edição especial da Time Life Books, intitulada O Fenômeno UFO, inúmeros esboços desses tipos de seres e suas naves são apresentados em profusão.
Em incontáveis documentários de tevê, relatos de testemunhas, livros sensacionalistas, manchetes de tablóides, filmes sobre supostas autópsias de extraterrestres, entrevistas com pessoas raptadas etc, sempre emerge aquela figura constante de um “extraterrestre padrão”. Ele nos é apresentado pequeno, frágil, pálido, com olhos e cabeças grandes, em sua maioria consistindo em pequenas variações do protótipo do corpo humano. O mito de que a forma desses seres em outros planetas deve ser semelhante a dos seres humanos, foi em parte estimulado pelos extraterrestres representados nos filmes. Não obstante muitos dos contatados terem alegado relações sexuais com ETs, inclusive mulheres que disseram ter sido possuídas à força, o fato é que em boa parte dos desenhos exibidos desses seres raramente se nota uma diferenciação nítida de sexos. Eles se mostram, na maioria dos casos, como assexuados. A roupagem uniforme que apresentam impedem, em quase a totalidade dos casos, a perfeita visualização de diferenças morfológicas.
É interessante também notar que o grande volume craniano, que se vê constantemente nos desenhos de ETs, faz supor que devam ser mais inteligentes que nós. Mas isso pode não ser uma verdade automática, pois embora o tamanho de nosso cérebro possa parecer pequeno, o fato é que só utilizamos pouco mais de 10% de sua capacidade. Com os ETs pode acontecer o mesmo. Também se deve levar em consideração que caminhamos num processo intensivo e rápido para um sistema de compactação e minimização. É muito provável, assim, que nosso cérebro possa usufruir, no correr dos próximos séculos, das vantagens de uma melhor compactação de informes colhidos pelos nossos sentidos, permitindo melhor aproveitamento do raciocínio.
Possibilidades — São intensas as discussões entre pesquisadores que tentam determinar com precisão o que foi esse ou aquele caso relatado. Nas raras ocasiões em que há disponibilidade de evidências físicas – quando o objeto é encontrado, por exemplo, e se verifica tratar-se de um fragme
nto de satélite –, o mistério pode ser considerado resolvido. Só que, na maior parte dos casos, as observações de UFOs não possuem chaves tangíveis, pois se apóiam apenas em relatos de testemunhas ou exibição de fotos, em que grande parte é considerada falsa.
Nessas ocasiões, intervêm dois elementos complicadores. O primeiro é a confiabilidade da testemunha, pois, mesmo quando são consideradas confiáveis, em geral é difícil ou impossível reconstruir exatamente o que foi visto. O ato objetivo de ver pode ser profundamente diferente do ato subjetivo de interpretar o que foi visto. O observador normalmente forma juízos até no ato de observar – juízos esses que depois podem se alterar com o correr do tempo, ao passarem pelo filtro distorcido da memória.
Instituto Gallup — Outro fator complicador é a linha de ação do estudioso envolvido no caso. As conclusões de céticos relutantes e de pessoas que acreditam piamente na existência de UFOs são inevitavelmente distintas diante de um caso ambíguo. Isso não impede, entretanto, que um número extremamente elevado de pessoas acredite nesses objetos. Se pressionados, muitos dos que crêem nos UFOs dirão mesmo que já viram um. Uma pesquisa do Instituto Gallup, nos Estados Unidos, em 1987, demonstrou que 49% dos norte-americanos informados sobre a questão acreditavam na existência de naves alienígenas. 30% acharam que elas eram imaginárias, e 21% mostraram-se indecisos. Em pesquisa anterior, verificou-se que um em cada 11 norte-americanos adultos diziam que realmente haviam visto um UFO. Em 1996, a última pesquisa do Gallup quanto o assunto determinou que pouco mais de 50% dos norte-americanos acreditavam em UFOs. O interessante é que a pesquisa também revelou que 72% dos entrevistados acreditam que existe vida no universo, e mais de 71% crêem que o governo esconde informações sobre o assunto.
Muita gente vê os UFOs exatamente como os veículos que são descritos na maioria dos filmes e livros de ficção científica: naves espaciais que transportam seres extraterrestres pertencentes a mundos tecnologicamente desenvolvidos. Ao longo dos séculos, essas visões adquiriam entidades diferentes, reveladoras do imaginário de cada época. Na Antigüidade, por exemplo, as pessoas entendiam os UFOs como carruagens divinas. Já no século XIX, viam dirigíveis sob a forma de charutos. Atualmente, observadores presenciam as mais variadas formas de veículos, muitos até já conhecidos como naves-mãe. Desde as épocas mais remotas até a atual, um fato constante permeia essas visões. Os seres humanos olham para o céu e sentem prazer em poder penetrar no campo daqueles infinitos pontinhos brilhantes que vêem à noite, e pressentem que não estão sós na imensidão do Cosmos. A maioria de nós deseja, no íntimo, que os alienígenas sejam seres superiores, e bastante inteligentes para oferecer soluções aos problemas que têm fugido totalmente ao nosso controle, fato talvez relacionado, numa constatação histórica, com nossa incapacidade ética e moral de lidar com outros irmãos aqui na Terra.
Imaginar que a Terra fora escolhida como alvo de visitas regulares de seres de outros mundos é presumir que o planeta tivesse algo de único no universo inteiro
— Carl Sagan
Ao mesmo tempo, sentimos medo de sermos muito menos inteligentes do que os membros dessas civilizações extraplanetárias. O resultado é que nos encontramos numa situação ambígua: seremos os dominadores ou seremos os dominados? Vimos tentando descobrir quais as melhores formas de agir eticamente, mas seremos capazes disso? Nesse sentido, vale a pena comentar o que o falecido cientista Carl Sagan declarou num simpósio realizado em 1969, na Universidade de Cornell, em Nova York, sobre o fenômeno dos UFOs. A partir de diversos pressupostos lógicos, Sagan calculou quantas civilizações avançadas seriam capazes de realizar viagens siderais – cerca de um milhão. E fez a seguinte projeção: a civilização que quisesse verificar todas as outras com regularidade – por exemplo, anualmente – teria que lançar 10 mil naves por ano.
“São vôos demais”, disse Sagan. “Além disso, consumiriam todo o material de 1% das estrelas do universo na produção das espaçonaves necessárias para que todas as civilizações se buscassem umas às outras. Imaginar que a Terra fora escolhida como alvo de visitas regulares é presumir que o planeta tivesse algo de único no universo inteiro. Ora, essa suposição vai de encontro à idéia de que há muitas civilizações por aí. Porque se elas de fato forem muitas, o desenvolvimento de nosso tipo de civilização tem que ser bastante comum. E se não somos bastante comuns, não haveria um número suficiente de civilizações avançadas para enviar visitantes”, finalizou, num duro ataque à crença de que os UFOs sejam pilotados por extraterrestres. Esse argumento, chamado por alguns de Paradoxo de Sagan, contribuiu para o estabelecimento de uma nova escola de pensamento na ciência, ou seja, a crença de que há vida fora da Terra, mas que os UFOs nada têm a ver com ela.
Sagan, entre outros, estava convencido de que, com todas as estrelas do universo – “bilhões de bilhões”, dizia ele –, haveria uma enorme probabilidade de existir civilizações altamente desenvolvidas. Ele simplesmente duvidava, no entanto, que “emissários dessas civilizações cultivassem o hábito de vir passear em fazendas isoladas ou descer em rodovias desertas, como tantas pessoas alegavam”. Esse pensamento teve um efeito salutar sobre os estudos ufológicos, já que contribuiu para separar os pesquisadores apenas desejosos de identificar objetos não identificados dos que queriam identificar os tripulantes. Além disso, deu aos cientistas a oportunidade de buscar vida inteligente no universo, livre do estigma associado à Ufologia.
Salto Quantitativo — De fato, na década de 1970, houve um crescimento da energia científica aplicada ao que ficou conhecido como Projeto Seti ou Search for Extraterrestrial Intelligence [Busca por Inteligências Extraterrestres]. O que chama a atenção, no entanto, é que apesar dos radioastrônomos estarem fazendo minuciosas varreduras em busca de ondas de rádio provenientes de estrelas num raio de 100 anos-luz em torno da Terra, eles não encontraram absolutamente nada. Oras, nosso planeta vem emitindo radiação eletromagnética nos últimos 50 anos. Em conseqüência, formou-se em volta da Terra uma esfera, com um raio de 50 anos-luz, que se expande na velocidade da luz. Essa esfera em expansão contém um vasto corte transversal representativo das realizações culturais do planeta. Qualquer outro mundo que estivesse a 50 anos-luz do nosso conseguiria detectar nossos sinais. “É intrigante, então, que não tenhamos registrado nenhuma emissão extraterrestre”, diz o físico Mic
hio Kaku, autor de inúmeros livros sobre o hiperespaço e da Teoria da Supercordas. “Mas isso não está impedindo as pessoas de especular sobre o aspecto de outros seres”.
A humanidade vem se convencendo há algum tempo de que devem existir outras culturas e que existem tempos futuros. Essa confiança no amanhã ficou perfeitamente ilustrada quando se enviou pelo espaço, num veículo espacial, a Cápsula do Tempo, uma câmara hermeticamente fechada, cheia de jornais, livros e artefatos de 1939, para ser aberta e mostrada automaticamente em época longínqua. Fizemos isso pois sabíamos que o futuro seria diferente do presente. Porque as pessoas do futuro gostariam de ter informação do nosso tempo, assim como nós temos curiosidade em relação ao tempo de nossos antepassados. Havia algo de muito mais fascinante naquele gesto. Mãos que atravessariam os séculos, um abraço para nossos descendentes.
Domínios das Estrelas — Nos dias 20 de agosto e 05 de setembro de 1977, duas extraordinárias naves espaciais chamadas Voyager foram lançadas. Após uma minuciosa e impressionante exploração do Sistema Solar exterior, de Júpiter a Urano, entre 1979 e 1986, esses veículos lentamente continuam deixando o nosso sistema, como emissários da Terra nos domínios das estrelas. Afixado em cada uma das Voyager encontra-se um disco fonográfico de cobre coberto de ouro, com uma mensagem a possíveis civilizações extraterrestres que possam um dia encontrar a nave num ponto distante no espaço e no tempo. O outro disco embutido nesses satélites contém, também, 118 ilustrações do nosso planeta, de nós mesmos, de nossa civilização. São quase 90 minutos da mais bela música, uma seleção evolutiva dos sons da Terra, saudações em quase 60 idiomas diferentes (uma na linguagem das baleias).
Um dos pensadores mais objetivos a participar da controvérsia em torno dos UFOs, Hynek passou quatro décadas dirigindo um apelo aos pesquisadores. Pedia-lhes que aceitassem o fenômeno como digno de estudo, que tentassem não se deixar enredar em preconceitos impossíveis de serem verificados e que estudassem os dados com o máximo cuidado. E que, acima de tudo, permanecessem conscientes da própria ignorância. “Seja qual for a explicação para esse fenômeno, ela nos parecerá tão incrível quanto a tevê teria parecido para Platão”, dizia. Ele chegou a uma conclusão fascinante: “A explicação para os UFOs, quando finalmente descoberta, será mais que um pequeno passo na marcha da ciência, mas um salto qualitativo pujante e totalmente inesperado”.
Uma prolongada “infância cósmica”
por Francisco Claussen
Será que realmente temos vizinhos no Cosmos? Ou seria essa idéia apenas um espelho de nossas fantasias? São perguntas que sempre fazemos, porque talvez estejamos ainda na infância de nossa espécie, como crianças num quarto escuro. Ao procurarmos nos habituar a essa escuridão, sentimo-nos amedrontados. Mas ao mesmo tempo, estamos esperançosos de que alguma coisa surja para provarmos que não estamos sós. Alguma intuição nos diz que, em algum lugar do espaço, devem existir seres semelhantes a nós, talvez até mais sábios, com uma moral e ética bem superior à nossa. Sentimos necessidade de crer.
Alguns cientistas afirmam que estamos sós, que a inteligência humana é produto de um processo tão sutil e intrincado que seria impossível sua repetição em outro lugar. Enquanto isso, outros afirmam que o universo deve estar repleto de diferentes formas de vida inteligente. Pensar que somos os únicos neste universo parece ser até um absurdo, um egocentrismo cósmico. Aprofundando-nos nos mistério dos Cosmos, encontramos evidências dos buracos negros, cujos campos gravitacionais têm tamanha intensidade que absorvem totalmente a própria luz e deforma o contínuo espaço-tempo. Alguns astrônomos teorizam que vários deles formariam uma rede de túneis chamados de buracos de minhoca, portas de entrada para outros universos ou dimensões. Seriam passagens onde as regras conhecidas de espaço e tempo, causa e efeito, não vigoram. A ciência já nos permite imaginar que alienígenas possam percorrer esse caminho para encontrar-se, instantaneamente, em algum outro lugar, em algum outro tempo.
Vamos supor que nossos vizinhos cósmicos não precisem vir até nós. Podemos até imaginar que já estejam aqui. Nosso universo pode ter um gêmeo pelo avesso, onipresente mas invisível, pelo qual a luz atravessa. Um universo que só tem em comum com o nosso a gravidade, e que possa atrair outros corpos celestes sólidos. Seria possível, assim, existirem seres inteligentes nesse reino de sombras, que nos veriam também como sombras. A ciência estima que devem existir inúmeros outros universos e, supostamente, cada um poderia ter sua própria vida inteligente, seu próprio padrão de realidade, multiplicando, assim, as possibilidades de não estarmos sós. Pode-se ainda considerar a possibilidade de um universo com quatro ou mais dimensões, onde passado, presente e futuro existissem ao mesmo tempo, e onde as viagens entre os planetas fossem instantâneas.