A humanidade sempre contemplou o céu com fascinação. Desses primórdios vieram grande parte das especulações filosóficas, os mitos, crenças, mas principalmente uma infinidade de perguntas sobre fenômenos mais concretos, como os meteoritos, a chuva e o granizo. Do céu também chegaram certas teorias, como vincular o espaço aos objetos voadores não identificados, mais conhecidos por UFOs.
Há quem ache que UFOs são sempre naves extraterrestres. Isso seria divertido ou perigoso, porém, em qualquer caso, apaixonante. Mas é necessário provar. Também há quem diga ter viajado em uma destas naves, sendo capaz de definir com detalhes seu interior, os controles, as alavancas, o painel de comando e supostamente aos seus tripulantes.
Contudo, um UFO [Unidentified Flying Object] segue sendo singelamente isto: um objeto voador não identificado, algo que se resiste a ser definido com certeza, desde uma sacola de plástico ao léu da brisa, ou uma ave em ação – captada por câmeras e parecendo outra coisa -, até equívocos, embustes e fraudes das mais variadas.
Igualmente, pode se tratar de algum curioso fenômeno atmosférico ou – obviamente também é uma possibilidade – uma nave extraterrestre. Afinal de contas, há mais estrelas no universo que grãos de areia em nosso planeta.
Com o propósito de jogar um pouco mais de luz sobre este assunto na América do Sul, ocorreu nos dias 12 e 13 de novembro um prestigiado e respeitado evento, o I Congresso Internacional de Pesquisa de Fenômenos Aeroespaciais e Terrestres (Ciifat 2010), no Clube da Força Aérea Uruguaia em Montevidéu, reunindo especialistas, pesquisadores e sociedade sobre a discussão da presença e gravidade do Fenômeno UFO.
Organizado pelo Centro Regional Investigador de Fenômenos Aeroespaciais e Terrestres (Crifat) e a Comissão Receptadora e Investigadora de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (Cridovni), contou com a participação, além do Uruguai, da Argentina, Brasil, Chile e Perú. “Fizemos questão que o encontro fosse o mais aberto possível”, disse o coronel Ariel Sánchez, responsável pela Cridovni, departamento oficial criado em 07 de agosto de 1979 pela própria Força Aérea do Uruguai (FAU).
Sánchez deixou bem claro que sua forma de abordar o tema é científica. E a decepção, ao menos para os fantasiosos, pode ser grande. “Até o momento”, comentou o coronel, “não encontramos evidência definitiva de encontros extraterrestres”. Até hoje, seu escritório recebeu mais de 2.000 denúncias de objetos voadores não identificados.
Cidadãos podem chamar por telefone e relatarem ter visto algo. Às vezes, a denúncia apoia-se em uma foto ou vídeo. Sem ir muito longe, quando a caravana da seleção uruguaia ia pela Avenida del Libertador, no meio da multidão alegre e os festejos graças ao quarto lugar atingido no Mundial de Futebol da África do Sul, um aficcionado fotografou um objeto escuro e semicircular recortado contra o céu. Durante alguns dias, foi um UFO, depois de um estudo regular, terminou sendo uma bexiga desinflada de um vendedor de balões. A imagem é um tanto patética.
Ufologia Oficial e preparada
“Ao longo desses anos temos presenciado pilotos militares, civis e gente relacionada à Aeronáutica, como controladores de vôo e radares, denunciando diferentes manifestações de origem ufológica. Isto é, existe um Fenômeno UFO legítimo, chamando de uma maneira convencional, que se produz no espaço aéreo e, inclusive, pode deixar variações químicas no terreno, mas não temos resposta”, precisou Sánchez.
Um radar detecta uma aeronave repleta de armas ou narcóticos, mas também um objeto estranho que não corresponda a coordenadas conhecidas. A cada ocorrência, implica estudar e decantar variáveis. A maioria dos casos não possui mistério ou vericidade, seja pela saúde mental do denunciante ou porque se trata de um objeto reconhecível perante análise imediata.
“Além do mais, hoje em dia existem muitas possibilidades de trucagens e engodos”, esclarece Sánchez. “Porém, se após uma profusa investigação o caso siga revestindo estranheza, é necessário segui-lo e, para isso, mover pessoal e recursos”.
Há pouco tempo, ele foi até a cidade de Colônia del Sacramento, devido à possível ocorrência de um UFO. Ao final, não era nada, somente luzes de outros aviões, luzes de outros aeroportos, mas nada extraterrestre. O trabalho do “controlador aéreo do não identificável” consiste nisso: checar, checar e checar.
Segundo Sánchez, houve três encontros emblemáticos que bem poderiam pertencer à série Arquivos X. Um deles ocorreu em 25 de setembro de 1975 e corresponde a um Fokker da FAU. O avião vinha do Paraguai, a uma altura de 4.300m e velocidade cruzeiro de 450Km/h, com umas vinte pessoas. Em determinado momento, foi acompanhado por uma luz brilhante que ascendeu a uma velocidade vertiginosa. Todos os passageiros viram e inclusive foi fotografado. “O fenômeno também ocasionou um considerável reaquecimento na cabine”, disse Sánchez.
Os pilotos reportaram e, do controle de tráfego em terra, disseram que não havia nenhum outro trânsito aéreo na zona. Ante algo assim, até o mais cético fica malhado. O que era essa coisa? Não se sabe. Semelhante velocidade pode ser tecnologia norte-americana, russa, chinesa? Alienígena? Não se sabe, ainda que soe improvável.
“Até o momento, só pode ser dito que é um objeto voador não identificado, e vivamos com isso. Para além deste ponto, cientificamente, ainda não é possível ultrapassar”, discorreu o coronel.
O segundo caso refere-se a um avião de passageiros da empresa Pluna, que regressava de Buenos Airess, sem clientes, em 01 de março de 1979. Só estavam os dois pilotos e duas aeromoças. À altura de Colônia, no Rio da Prata, uma luz brilhante decidiu acompanhar o vôo na mesma velocidade. Os pilotos perguntaram à torre de controle se tinha alguma nave não reportada em vôo, mas lhes indicaram que não.< /span>
O UFO acompanhou ao avião durante 45 minutos. Quando a aeronave teve que descer no aeroporto de Carrasco, os pilotos se comunicaram com a torre de controle e solicitaram sobrevoar a pista à 300m antes de aterrissar, com a intenção de que a luz pudesse ser detectada em solo.
E, efetivamente, foi percebida por outras testemunhas do aeroporto, possuindo “forma elíptica e a luminosidade do mercurio”. No entanto, o mais interessante é que um dos pilotos, quando já estava em terra e se dirigia para sua casa, de automóvel, viu a luz no horizonte, suspendida, para depois desaparecer a uma grande velocidade.
O terceiro caso foi em 1986, quando dois aviões Pucará – cada um com dois pilotos – detectaram um objeto circular com luz amarela radiante sobre a represa do Rincón del Bonete. Quando tentaram persegui-lo, a coloração do UFO virou para laranja, depois tendeu para o vermelho e saiu disparado, sob velocidade vertiginosa.
O UFO também foi visto por pessoas que trabalhavam na central hidroelétrica. Imediatamente ocorreu uma falha na represa e, como conseqüência, provocou um grande apagão em Montevideu. Pode ter sido casualidade, ou não.
Brasil também teve seu sistema oficial de investigação
Portanto, no vizinho Uruguai, membros da Cridodvni estão sempre de plantão para qualquer acontecimento com UFOs. Aplicam à exaustão o método de investigação científica, que, inclusive, já exportaram para outros países, como o Peru, onde a Oficina de Investigações de Fenômenos Aéreos Anômalos (OIFAA) os aplica. São um dos poucos grupos ufológicos oficiais do planeta Terra, cuja existência se conhece abertamente.
“Está sendo uma emoção muito grande saber como funciona esta estrutura. E pensar que o Brasil fez isso num nível idêntico em 1969, com o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), em São Paulo!”, exclamou A. J. Gevaerd, ufólogo e editor da Revista UFO, que esteve presente no I Ciifat representando a Ufologia Brasileira e entrevistou com exclusividade o coronel Ariel Sanchez [Veja galeria de fotos, clicando aqui. Matéria em breve, nas páginas da UFO e aqui no Portal da Ufologia Brasileira].
O Sioani era exatamente como o Cridovni, mas surgiu anteriormente – 10 anos antes – e era muito maior, evidentemente devido ao tamanho continental de nosso país. Arquivos do Sioani podem ser baixados no Portal da Ufologia Brasileira, no endereço: http://ufo.com.br/documentos/novos/. Organograma e detalhamento da Central de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Cioani) também estão disponíveis.