Londres ? Cientistas da Austrália e da Indonésia anunciaram a descoberta de uma espécie humana nanica, que viveu até 18 mil anos atrás, entre elefantes pigmeus e lagartos gigantes. A nova espécie de hominídeo, que alcançava 1 m de estatura quando adulto, recebeu o nome de Homo floresiensis, porque seus restos foram encontrados na Ilha de Flores, na Indonésia. Os autores da descoberta, porém, gostam de chamá-los de hobbits, uma referência ao povo pequenino a que pertencem alguns dos heróis da trilogia O Senhor dos Anéis. O achado da menor espécie conhecida do gênero humano foi saudado por cientistas como um dos mais importantes dos últimos 100 anos. A descoberta muda a história da evolução da espécie humana, porque mostra que o homem moderno conviveu com outros hominídeos até muito mais recentemente do que se imaginava. Cientistas estão convencidos de que outras espécies de seres humanos extintas recentemente poderão ser encontradas em breve. A criatura foi contemporânea do Homo sapiens sapiens ? que, até agora, pelo que se sabia, havia convivido apenas com o Homem de Neandenthal, extinto há 30 mil anos na Europa. ?É uma descoberta extraordinariamente importante?, descreveu o professor Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, na entrevista coletiva em que o achado foi anunciado. ?Isso desafia toda a idéia do que nos faz humanos?. Num abrigo de pedras que os moradores locais chamam Liang Bua, cientistas do Centro Indonésio para Arqueologia e das universidades de Wollongong e da Nova Inglaterra em Armidale, na Austrália, acharam um esqueleto quase completo e partes de outros sete indivíduos. O esqueleto, que se acredita que seja de uma fêmea, tem o crânio inteiro, com mandíbula e a maioria dos dentes. “Meu queixo caiu até os joelhos”, relata ao site o paleoantropólogo Peter Brown, um dos autores do estudo. “A descoberta desses hominídeos numa ilha isolada da Ásia e com elementos de comportamento humano moderno na fabricação de ferramentas e na caça é verdadeiramente extraordinária e não poderia ter sido prevista a partir de outras descobertas”, relatou Brown num comunicado. Lendas locais descrevem criaturas semelhantes a hobbits vivendo na Ilha de Flores num passado distante. Mas nunca havia sido descoberto indício delas. Segundo a revista Nature, por causa da descoberta está crescendo a busca por sítios paleontológicos nas ilhas do sudeste da Ásia, onde poderiam ser achados outros exemplares da mesma espécie de mini-humanos, num contexto de “convivência” com o Homo sapiens. Já se sabia que o Homo erectus viveu na Ilha de Java há até 1,6 milhão de anos. Agora, os cientistas especulam se o mini-humano não seria um descendente dele. O achado revira noções importantes sobre a evolução humana. Mostra, por exemplo, que “os seres humanos estão sujeitos às mesmas forças evolutivas que fizeram outros mamíferos encolherem até um tamanho anão quando em isolamento genético e sob pressão ecológica, como numa ilha com recursos limitados”, descreve o site de notícias da revista científica britânica Nature, onde a descoberta foi publicada.