Batizada com o nome de dois astrônomos, um italiano e outro holandês, contratados pelo rei Luís 14 em busca de prestígio para as ciências francesas, a sonda de exploração planetária, projeto conjunto das agências espaciais norte-americana (NASA), européia (ESA) e italiana, passou em 26 de outubro a 1.200 km de Titã, 250 vezes mais perto que durante sua passagem anterior, em julho passado, pela órbita desta lua congelada. Segundo os cientistas, a atmosfera de Titã se parece à existente na Terra no início dos tempos, quando os primeiros organismos viveram e respiraram. Para o atual diretor do Observatório de Paris, o astrônomo Daniel Egret, a principal contribuição francesa para esta missão é a concepção e realização dos instrumentos e módulos de observação que a sonda leva a bordo, em especial as câmeras. A aproximação de Titã tem como objetivo obter uma vista melhor de sua superfície e preparar a descida da sonda, programada para o dia de Natal. A sonda Cassini-Huygens é a missão espacial mais sofisticada já lançada em busca de dados sobre um planeta, no caso Saturno. Com participação de cientistas de 18 países, que uniram seus conhecimentos para construir este “olho titânico”, a nave de observação se desloca pelos céus há sete anos. Christian Huygens (1629-1695), sábio protestante contratado por Colbert, conselheiro do chamado “rei sol”, descobriu Titã ? a maior das 32 luas de Saturno ? em 1655, graças a um grande telescópio que conseguira fabricar. Membro da então recém-criada Academia de Ciências da França, Huygens viveu vários anos na Paris de Molière, mas devido a problemas de saúde, teve que voltar à Haia, na Holanda. Jean Dominique Cassini (1623-1712), nascido em Perinaldo, no condado de Nice, a quem o rei Luís 14 concederia a nacionalidade francesa em 1673, está ligado à história do Observatório de Paris desde 1669. Segundo o atual diretor do observatório, o nome de Cassini se relaciona, sobretudo, com a observação de Saturno, “o planeta das revoluções mais lentas”, descobrindo quatro de suas luas: Japet, Rhea, Tetis e Dioné. A Cassini atribui-se também à descoberta das leis do movimento de rotação da nossa Lua e uma série de observações que levaram à elaboração de um atlas (1678) e de um grande mapa do nosso satélite natural (1692). Em 1675 este astrônomo, admirador das poesias gregas e latinas, pôs em evidência a descontinuidade dos anéis de Saturno, fenômeno que até hoje é chamado de “a divisão Cassini”. “Cassini não foi um teórico, mas um observador, e suas descobertas são suficientes para fazê-lo estar entre os grandes astrônomos da geração pré-Newtoniana”, escreveu um de seus biógrafos. Deve-se ainda a Cassini uma obra geográfica importante, participando ativamente das medidas da Terra. Dono de excelente saúde, Cassini conseguiu continuar suas pesquisas até 1711, quando ficou cego. Cassini morreu aos 87 anos, no Observatório de Paris, onde morava, deixando uma verdadeira dinastia de astrônomos, pois seu filho, Jacques Cassini, seu neto, Cesar François Cassini de Thury, e seu bisneto, Jacques-Dominique Cassini, dirigiram esta instituição até 1793. Sede da Escola de doutorado em Astronomia e Astrofísica, o Observatório de Paris, que conta com três sedes (Paris, Meudon, nos Altos do Sena, e Nançay, em Cher), é o maior do mundo em função do número de pessoas que ali trabalham: 350, entre elas, um terço de pesquisadores, astrônomos e professores, tanto franceses quanto estrangeiros. As pesquisas realizadas no Observatório de Paris cobrem quase todos os campos da astronomia: a medida de espaço e tempo, o Sol e os planetas do Sistema Solar, as estrelas e seu ambiente, as galáxias e a origem do universo.