Por cerca de duas décadas, de 1948 a 1969, o doutor Joseph Allen Hynek foi o consultor de astronomia da Força Aérea Norte-Americana (USAF). A área de sua consultoria, no entanto, não se referiu ao projeto espacial dos Estados Unidos ou mesmo a estrelas e planetas, mas sim aos objetos voadores não identificados, OVNIs, UFOs ou simplesmente discos voadores. É assim que ficaram conhecidas publicamente as luzes fantasmas que cortavam os céus e atemorizavam uma nação ainda sofrendo com o choque da Segunda Guerra Mundial e o início da escalada atômica, em meio à crise iminente com a Guerra Fria. Como cientista, as credenciais de Hynek eram significativas.
Em 1935, recebeu seu doutorado em astrofísica pela Universidade de Chicago e partiu diretamente para seu primeiro estágio no magistério, ocupando posição na Universidade Estadual de Ohio. Foi também astrônomo do observatório da Universidade Perkin, quando a USAF o requisitou. Posteriormente, Hynek passaria a ser professor visitante em Harvard, chefe da Seção de Estudos Extra-atmosféricos e Rastreamento de Radar, e depois atuaria como diretor do famoso Observatório Astrofísico Smithsonian. De 1960 até seu desligamento da magistratura, em 1975, foi também o diretor do Departamento de Astronomia e diretor do Observatório Dearborn, ambos da Universidade Northwestern.
Tendo iniciado como cético suas atividades relacionadas aos UFOs, Hynek passou a aceitar completamente o assunto anos depois. Suas experiências junto à USAF, especialmente nos projetos Sign [Sinal], Grudge [Rancor] e Blue Book [Livro Azul], inevitavelmente o convenceram de que havia mais no Fenômeno UFO do que poderia ser explicado pela então política de ridicularização e acobertamento movida pelos militares norte-americanos. Hynek passou então a acreditar que os discos voadores de fato existiam. Mas sua trajetória na área não foi fácil ou lucrativa, como esta entrevista revelará. Ele sofreu na própria pele o ridículo e as privações devido às dificuldades financeiras que passou em sua busca por respostas.
Os ETs estão jogando uma espécie de xadrez conosco, mas de uma maneira interativa: eles estão nos ensinando as regras do jogo
Em 1972, enquanto revia suas experiências obtidas com o Projeto Blue Book, Hynek publicou o livro The UFO Experience: A Scientific Inquiry [A Experiência Ufologia: Uma Pesquisa Científica, Marlowe & Company Press], que conteve sua classificação para as experiências ufológicas – a primeira do gênero até então, válida até hoje –, em que o diretor Steven Spielberg se baseou para criar o filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau [1977], sucesso mundial incontestável. Em 1973, Hynek criou o Center for UFO Studies [Centro para Estudos de UFOs ou CUFOS]. A entidade ganhou notoriedade e foi a inspiradora para a criação, em todo o mundo, de dezenas de organizações similares, voltadas para o lado científico da questão ufológica. Com esse propósito, Hynek recebeu centenas de convites para fazer conferências em dezenas de países. Esteve em todos os que pôde e transformou verdadeiramente o status que a Ufologia daqueles países tinha até então.
Somente no Brasil Hynek veio três vezes. A primeira, em 1975, para participar do Simpósio Internacional de Ufologia, em Curitiba, organizado pela doutora Irene Granchi. A segunda visita aconteceu quatro anos depois, em 1979, durante o I Congresso Internacional de Ufologia, promovido pelo general Alfredo Moacyr de Mendonça Uchôa. Já em 1983, Hynek foi a Brasília, onde participou do 2º Congresso Internacional de Ufologia, organizado por Paulo Fernando Kronemberger. Em cada caso, sua participação foi brilhante e, mais do que isso, trouxe enorme incentivo à Comunidade Ufológica Brasileira.
Hynek faleceu em 27 de abril de 1986, vítima de um tumor cerebral maligno, com o qual lutava havia anos. Sua morte foi muito sentida e seu legado, reverenciado em todo o mundo, serve até hoje de inspiração à muitas gerações posteriores de ufólogos. Seu falecimento teve profundas repercussões no cenário internacional da Ufologia. Até chefes de Estado e autoridades do mundo inteiro prestaram, ao lado dos ufólogos, suas homenagens ao homem que iniciou suas pesquisas como cético e que se tornou o “Galileu da Ufologia” ou mesmo o “Papa dos Ufólogos”, títulos com os quais muitas vezes o rotularam.
É certa também, e verdade seja dita, a participação de Hynek nos primórdios da política de acobertamento de informações ufológicas, empreendida pelos militares de seu país – mas felizmente durante pouco tempo. Com isso também concordam a maioria dos renomados estudiosos norte-americanos. Com sua morte, ficou evidente que uma lacuna se abriu no mundo dos que pesquisam os UFOs. Em sua homenagem, o CUFOS, que Hynek criou em Chicago, passou a se chamar The J. Allen Hynek Center for UFO Studies, título muito merecido, tanto por Hynek, inegável baluarte de pioneirismo no setor, quanto para o CUFOS, um centro de pesquisas verdadeiramente exemplar. Vamos à entrevista.
Doutor Hynek, como o senhor, sendo um cientista cético, pôde ir tão longe na fenomenologia ufológica? Esta é uma história simples. Durante a primavera de 1948 eu estava ensinando astronomia na Universidade Estadual de Ohio, na cidade de Columbus. Um dia, três homens, que não estavam vestidos como os famosos homens de preto, vieram me visitar. Eles eram da Base Aérea de Wright-Patterson, próximo da cidade de Dayton, e chegaram falando sobre o tempo e sobre assuntos do gênero, até que finalmente me perguntaram o que eu pensava sobre os discos voadores. Eu lhes disse o que pensava a esse respeito na época, que eram um punhado de especulações sem sentido. Isso pareceu ter agradado meus visitantes, que revelaram finalmente o motivo da visita. Disseram-me que precisavam de alguma consultoria na área de astronomia, pois eram suas obrigações saber e achar uma explicação para as histórias de UFOs relatadas pela população na época.Em alguns casos tratavam-se de meteoros e, em outros, poderiam ser estrelas, e assim por diante. Por isso, necessitavam de um astrônomo. Naquela época, o projeto da Força Aérea Norte-Americana (USAF) que estava em andamento era o Sign e algumas das pessoas envolvidas nele estavam tratando o assunto com seriedade. Na ocasião, duas escolas de pensamento travavam uma grande batalha dentro da USAF. A escola séria preparou uma estimativa realista da situação, que depois foi repassada ao general Hoyt S. Vandenburg. Mas o lado oposto, a escola que pretendia a ridicularização do assunto, ganhou a questão e os sérios foram transferidos para outros postos e localidades. Ou seja, os que pretendiam tratar o assunto sem a devida seriedade ganharam a batalha.
Qual foi sua posição, quanto a isso, então? Minhas investigações pessoais do Fenômeno UFO para o Projeto Sign apenas somaram-se às idéias negativas reinantes na época. Mesmo porque, eu era bem negativo quanto aos UFOs naquela ocasião. Eu me esforçava para dar uma explicação natural para muitos fenômenos, mesmo quando pareciam que tais explicações não eram cabíveis. Lembro-me de um caso ocorrido na região de Snake River Canyon, no Idaho, quando um homem e seus dois filhos viram um objeto metálico aproximar-se do rio, o que causou danos às árvores do local. Em minha tentativa de achar uma explicação natural para isso, disse que o fenômeno poderia ser algum tipo de distúrbio atmosférico. Claro que nunca havia visto um distúrbio como aquele e nem tinha razões para crer que um dia houvesse existido. Mas estava tão ansioso para achar uma explicação natural, porque estava convencido de que deveria haver uma, que dei essa ao fenômeno em Snake River. Mas não foi preciso passar muito tempo para eu começar a mudar minhas idéias…
Houve alguma pressão legítima, por parte da USAF, para que o senhor achasse explicações convencionais para os fenômenos? Havia uma certa pressão, sim, definitivamente.
Em outras palavras, o senhor se surpreendeu, como muitos de nós, numa situação em que era preciso agradar seu patrão? Bem… Você pode colocar nestes termos, mas também, simultaneamente a isso, eu não estava indo contra os meus princípios científicos. Como astrônomo e físico, eu simplesmente sentia que deveria haver a priori explicações naturais para os fenômenos. Não havia “se” ou mesmo “mas” sobre isso. Quanto aos casos que eu não podia resolver, pensava que, se tentasse com mais esforço ou com uma investigação mais profunda, certamente acabaria por achar a resposta para eles – natural, é claro. Minha média chegava a ser de 80% e eu acreditava que atingir esta marca significava fazer um trabalho realmente eficaz. O restante, os 20% que não podiam ser resolvidos por mim, se transformavam em 3% ou 4% para a USAF, pois eles usavam determinadas estatísticas e fórmulas de uma maneira que reduziam ainda mais a porcentagem. Eu jamais me permitiria fazer o mesmo. Casos rotulados por mim como “de insuficiente informação”, por exemplo, eram considerados como “resolvidos” para a Força Aérea. Os militares tinham alguns pequenos truques também. Se uma luz fosse relatada, eles pensavam: “Aviões têm luzes, assim, provavelmente o fenômeno era um avião”.
O que começou a mudar sua percepção sobre os UFOs? Na realidade, foram duas coisas. Uma era a total posição negativa e improdutiva da USAF. Os militares não dariam aos UFOs uma chance sequer de existirem realmente, mesmo se estivessem voando sobre as ruas da cidade em plena luz do dia! Tudo tinha que ter uma explicação natural. Isso me fez pensar que, mesmo sentindo daquela maneira o assunto, porque ainda pensava o mesmo, a USAF não estava agindo com seriedade, da maneira certa. Você simplesmente não pode dizer que tudo é preto e não se importar se as coisas não forem desta cor. Em segundo lugar, o calibre das testemunhas começou a preocupar-me. Alguns casos eram relatados por militares e pilotos, por exemplo, e eu sabia que estes eram bem treinados. Foi aí que comecei a achar que, talvez, poderia haver alguma coisa real por trás de tudo o que se falava sobre UFOs. O famoso Caso do Gás de Pântano [Fenômeno em que misteriosas luzes foram vistas no Michigan, em 1966, classificado como simples efeito de queima de gases emitidos pela decomposição de matéria orgânica em águas paradas], ocorrido posteriormente, empurrou-me para o fundo da questão. Daquele momento em diante, passei a ver os depoimentos de observação de UFOs por um novo ângulo, o que corresponde a dizer que os UFOs poderiam ser verdadeiros.
Quando sua atitude mudou, por acaso a atitude do pessoal da Força Aérea também passou a ser diferente? Certamente, mas apenas um pouco. Como pano de fundo, posso dizer que o doutor James McDonald – um grande amigo meteorologista da Universidade do Arizona – e eu tínhamos algo em mãos sobre isso. Ele costumava acusar-me dizendo que, como consultor da USAF, eu deveria estar batendo na porta dos generais e exigindo um trabalho mais completo e profundo sobre o Fenômeno UFO. Mas eu lhe dizia, e essa é a verdade, que eu apenas estava entre eles e lá só recebia ordens. Os generais tinham instruções vindas do Pentágono, seguindo as do Comitê Robertson, de 1953, segundo as quais toda a problemática ufológica tinha que ser mistificada, despistada e obscurecida. Não havia questão sobre isso, essa era a atitude que prevalecia. O Comitê Robertson, por sua vez, foi organizado e patrocinado pela CIA. Estive presente, mas não assinei as resoluções as quais se chegou, porque não me pediram. Se me pedissem, não teria assinado, pois elas estavam voltadas exclusivamente para atitudes negativas quando aos UFOs. Assim, quando McDonald acusou-me de parcialidade, eu dizia que se fosse até os generais, eles não me dariam ouvidos. Eles estavam mesmo é ouvindo o doutor Donald Menzel, um terrível cético da Universidade do Colorado, e outros da Universidade de Harvard. Havia muito pouco a ser feito…
Parece que os militares chegaram a lhe mostrar a porta da frente da questão, mas não o convidaram a entrar? Por um período, sim. Você conhece o caso dos famosos astrônomos medievais Tycho Brahe e Johannes Keppler, ícones da história da astronomia? Veja, Brahe tinha suas observações documentadas e não sabia o que fazer com elas. Já Keppler, que não tinha como fazer observações astronômicas como as de Brahe, sabia como usá-las. A situação de meu envolvimento com os projetos da USAF era semelhante. Essencialmente, fiz o papel de Keppler para os militares, que seriam Brahe. Eu sabia que a Força Aérea estava obtendo as informações e queria ter acesso a elas, para poder examiná-las. Assim, fiz uso completo das máquinas xerográficas do escritório em que trabalhava. Mantive comigo uma duplicata de quase tudo que havia nos registros oficiais, pois tinha conhecimento de que um dia esse material seria de grande valor. Lá pelo fim das minhas relações com os militares, eu pouco falava com o major Hector Quintanilla, que era o encarregado do setor. Nós começamos juntos como bons amigos, mas as coisas pioraram porque ele tinha um tenente extremamente ignorante – para ele, tudo tinha que ser Júpiter ou Vênus. Você não faz idéia de que atitude fechada, que mente fechada isso significava. Fiquei curioso com isso, mas posso dizer que durante todo meu tempo na USAF procurava sempre trazer as coisas para o campo do diálogo, um bom diálogo científico.
Quando soube que Spielberg estava fazendo Contatos Imediatos de Terceiro Grau, lhe telefonei e tivemos uma conversa muito agradável. Eu rejeitei sua oferta financeira e ainda ofereci-me para ajudá-lo gratuitamente, como consultor técnico do filme. Não ganhei quase nada com Contatos Imediatos, como sempre me acusaram
Os militares não estavam muito interessados em investigar o assunto a fundo? Eles diziam que estavam, é claro, mas faziam de tudo para impedir a divulgação de um bom relato ufológico. No entanto, quando “resolviam” seus casos, sempre de maneira forçada, faziam o possível para que as informações chegassem à imprensa. Isso era muito triste, eles buscavam a todo custo ridicularizar os testemunhos. Acho que seu maior erro, realmente, foi não levar o assunto para ser discutido em universidades ou grupos acadêmicos. Consideravam toda a questão ufológica como assunto de inteligência [Espionagem]. Como conclusão, nós, norte-americanos, pagamos muito dinheiro em impostos para que a Força Aérea resguarde nosso espaço aéreo de invasões desconhecidas, para que um dia esta mesma Força Aérea venha confessar publicamente que os UFOs existem de fato – mas que, apesar disso, nós estamos “a salvo” deles… É claro que os militares nunca poderiam fazer isso. Então, agiram como humanos normais, protegendo seus interesses, o que significa negar tudo sobre o que não tinham controle. O que diziam oficialmente era que 96% de todos os casos de UFOs estavam explicados e que o restante – 4% – fora motivo de enorme “esforço” investigativo, mas sem resultado.
Foi a famosa observação ufológica em Michigan, em 1966, que foi tratada como o Caso do Gás de Pântano, que fez a USAF recorrer a uma universidade de reputação reconhecida? Sim. Como você sabe, o caso deu início a uma onda nacional de piadas sobre o assunto, e Michigan passou a ser o Estado do Gás de Pântano. Naturalmente, isso resultou numa intervenção no Congresso e uma sessão foi solicitada pelo então deputado Gerald Ford, do Michigan, que mais tarde viria a ser presidente dos Estados Unidos. Naquela sessão, foi recomendado que os UFOs fossem levados do âmbito exclusivo da USAF para grupos científicos e departamentos de universidades, para que os estudassem o mais amplamente possível. Os debates acabaram chegando ao conhecimento e recebendo os cuidados de um cientista considerado verdadeiramente sério, o doutor Edward Condon, da Universidade do Colorado. Foi assim que começou as ser erigido o Comitê Condon e seu relatório foi redigido, hoje histórico.
O senhor foi chamado para trabalhar ou assessorar o comitê? No início, sim. Chamaram-me para conversar e apresentar a questão, mas foi só. Certamente, não se interessaram por nenhuma das minhas opiniões.
Em 1968, o relatório do Comitê Condon, em grande parte negativo, foi tornado público e os militares usaram suas considerações para extirpar de vez o Fenômeno UFO das discussões nacionais. O senhor ainda era consultor da USAF nessa época? Sim, eu trabalhei para a Força Aérea até o fim de tudo, mas nessa época era só no papel. Costumo dizer que ninguém precisou cortar fora a cabeça da galinha, pois ela já estava morta na ocasião. Os últimos dias no Projeto Blue Book foram somente de burocracia.
Em termos de UFOs, estava ainda ocorrendo algo neste setor na ocasião? Bom, como se sabe, o Relatório Condon dizia que um grupo de cientistas havia investigado a fundo a questão dos UFOs e o assunto estava encerrado. Mas os ETs não pareceram se intimidar com as “conclusões científicas” do documento e durante a grande onda ufológica de 1973 eles voltaram com força total. Na época, eu já estava totalmente perturbado com a questão. Parecia para mim que, de um ponto de vista científico, uma quantidade imensa de dados estava se perdendo na política de acobertamento militar. Ninguém se importava mais com os UFOs, devido à sua campanha negativa, enquanto os objetos apareciam cada vez em maior número e mais lugares ao mesmo tempo. Então, em lamentar que tal política estivesse em andamento, decidi fazer algo. Desliguei-me por completo da USAF e fundei o Center for UFO Studies (Centro para Estudos de UFOs ou CUFOS). Ainda em 1973, escrevi para três organizações ufológicas existentes, informando a fundação do centro e comunicando que ele seria associado a cientistas, a fim de estudar o assunto a fundo, mas que nós não teríamos investigadores de campo em nossa equipe.
Não teriam investigadores de campo? Como assim? Não, nosso sistema seria diferente. Ao contrário de investigadores de campo, nós tínhamos uma linha direta com a polícia, para ligações 24 horas por dia, sem custos para quem ligasse. Esse serviço foi patrocinado pela Universidade de Northwestern, onde lecionava. E nas cartas que enviei àquelas entidades, disse aos seus dirigentes que quando tivéssemos informações sobre um caso interessante, chamaríamos a que estivesse mais próxima e tivesse um pesquisador ou um investigador de campo preparado para ir ao local do acontecimento. Esse pesquisador seria designado a fazer um levantamento do caso e um relatório padronizado para sua própria organização, e tudo o que o CUFOS desejava era tão somente uma cópia do relatório para nossos estudos e arquivos. Nada mais. Não desejávamos que houvesse competição entre as organizações contatadas e, por isso, até reunimos uma equipe de 100 ou mais investigadores de campo.
Como esta estratégia foi vista pela comunidade ufológica, então? Bem, o que veio a seguir foi interessante. A Aerial Phenomena Research Organization [Organização de Pesquisas de Fenômenos Aéreos, APRO] teve receio de que o CUFOS repassasse sua lista de investigadores de campo para outra organização que contatamos, a Mutual UFO Network [Rede Mútua de Pesquisas Ufológicas, a MUFON], e recusou-se a ajudar. De forma semelhante, a maior organização ufológica da época, o National Investigation Committee on Aerial Phenomena [Comitê Nacional de Investigação de Fenômenos Aéreos, NICAP] rejeitou nossa proposta e comunicou que não participaria nestas operações porque seus membros só deveriam atender aos seus interesses, os da NICAP. O doutor Walt H. Andrus, diretor da MUFON, foi o único a aceitar nossa oferta de parceria, mas só com grande esforço conseguiu que a diretoria de sua organização também aceitasse.
Provavelmente, sua maior contribuição para um esclarecimento público do Fenômeno UFO foi a classificação dos contatos com UFOs, de 1º a 3º graus, o que culminou com a adoção, por Steven Spielberg, do tipo mais profundo para lançar seu filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau, em 1977. Como o senhor chegou a criar seus sistemas de classificação? Por volta de 1970, após o fiasco da investigação da USAF, achei interessante escrever algumas experiências pessoais, relatando alguns casos. Primeiramente, os dividi em grupos distintos. Não estava pretendendo criar nenhuma classificação que dependesse de uma teoria para a origem dos UFOs. Queria algo que fosse completamente dependente apenas das circunstâncias da observação em si. A primeira consideração óbvia foi de que você pode ver um UFO próximo ou longe de onde está, e assim decidi chamar os contatos que se dessem próximos de imediatos [Do inglês close encounters, que significa próximos ou imediatos]. Desta forma, os contatos imediatos se dividiriam em três novos grupos: aqueles que não apresentavam qualquer interação com o observador e o meio ambiente, os que se davam tão próximos que resultavam em alguma interação com o observador e com o meio ambiente, e aqueles caracterizados pela observação de criaturas próximas ou no interior dos UFOs, supostamente seus tripulantes. Assim, na ordem, criei os tipos de contatos de 1º, 2º e 3º graus. Mas não pensava que esta classificação ganharia tanta notoriedade, como ocorreu. Era apenas para meu uso em pesquisas.
Como surgiu a idéia do filme? Por acaso Spielberg pediu para usar o nome Contatos Imediatos de Terceiro Grau? Não, foi de outra forma. Eu soube que Spielberg estava fazendo um filme com este nome, então lhe telefonei e tivemos uma conversa muito agradável. Ele aparentemente queria fazer algum tipo de acerto financeiro comigo, para uso do nome, e foi aí que eu cometi um grande engano. Eu rejeitei a oferta e ainda ofereci-me para ajudá-lo gratuitamente [Posteriormente a esta entrevista, soube-se que as atividades de Hynek passavam por dificuldades de manutenção devido à falta de recursos]. Que engano! Spielberg não pagou um centavo pelo uso do nome, mas foi educado ao ponto de, em retribuição, convidar-me para ser consultor técnico do filme, o que funcionou muito bem [O doutor Hynek aparece duas vezes no filme, justamente quando a nave-mãe desce no local preparado para o encontro. Hynek é o senhor de cavanhaque e fumando um cachimbo que surge detrás dos demais quando o UFO abre sua porta e dela descem os ETs].
O senhor recebeu algum pagamento pela sua consultoria técnica? Recebi uma quantia bem pequena, mas depois gastei muito mais que isso, do meu bolso, quando meu editor não pagou os US$ 25 mil [Cerca de R$ 52 mil] de royalties a que teria direito com a venda de meu livro The UFO Experience: A Scientific Inquiry. Sua explicação foi a de que eu tinha vendido os direitos do filme para Hollywood. Disse, então, que por mais burro que pudesse ser, eu sabia que direitos de filmes não custam apenas alguns milhares de dólares. Finalmente, acertamos as contas e recebi US$ 15 mil, tendo que pagar US$ 9 mil apenas de impostos. Ou seja, não ganhei quase nada com Contatos Imediatos do Terceiro Grau, ao contrário do que sempre me acusaram…
Qual foi sua opinião sobre o filme, quando acabado? Spielberg, é claro, tinha suas próprias idéias e sabia o que queria, e eu era apenas um consultor. Dei informações sobre radiotelescópios e sobre como os militares diriam certas coisas, e outros detalhes menores. Nós nos sentamos por horas para passar o script do filme. Logo de cara não gostei muito do início dele, quando acham os aviões Avenger da Marinha [O famoso Caso Vôo 19, de 05 de dezembro de 1945, em que 5 aviões se perdem num vôo de treinamento na área do Triângulo das Bermudas] naquele deserto mexicano. Mas quando o filme estava acabado, vi que ficou maravilhoso, com uma abertura dramática, com vento, ruído e tudo o mais. Veja, o filme não pretendia ser um documentário, mas uma obra de entretenimento do tipo hollywoodiano. Muitos colegas me criticaram por ter tomado parte dele, dizendo que o filme feria minha imagem científica. Porém, naquela ocasião, eu estava mesmo é impressionado com tudo o que se fazia, com o glamour de Hollywood e apreciando como um longa-metragem era produzido. Tive muitos bons momentos e bastante descontração. E, afinal, o filme teve um grande impacto sobre o mundo, alertando as populações para algo que poderia ser real. Enfim, o ditado se aplica: missão cumprida!