O Caso Manises é certamente o episódio mais fantástico da Ufologia Espanhola. O incidente ocorreu em 11 de novembro de 1979, quando um imenso UFO provocou a aterrissagem de emergência de um avião Super Caravelle da extinta companhia TAE, com 109 passageiros a bordo, no aeroporto valenciano de Manises, poucos minutos depois de decolar de Sont San Juan, em Mallorca, rumo a Tenerife, nas Ilhas Canárias. Como se não bastasse, mais de 40 pessoas observaram estranhas luzes sobrevoando o aeroporto e um caça de combate perseguiu três estranhos artefatos voadores durante quase duas horas por quase toda a Espanha. Dias depois, quando uma comissão oficial investigava o sucedido, outro piloto militar espanhol perseguia um gigantesco objeto não identificado, e vários corpos anômalos sobrevoaram Madri com tal atrevimento que quase provocaram um conflito aéreo sobre a cidade. Tudo isto em 17 dias.
O incidente começou a acontecer duas horas antes da decolagem do Caravelle, quando o Serviço de Alerta e Resgate Aéreo, baseado em Madri, informou o piloto sobre a existência de um sinal de rádio de alarme na freqüência 121.5, 70 km a noroeste de Valencia, em pleno Mediterrâneo. O comandante Javier Lerdo de Tejada solicitou então informações sobre o tráfego não identificado, pois parecia voar em rota de colisão com sua aeronave. Ele também escutava através do canal de emergência o estranho sinal de rádio. O evento duraria oito minutos, durante os quais o objeto — “do tamanho de um jumbo e com duas intensas luzes vermelhas de ambos os lados”, segundo Tejada — subiu e desceu em relação ao avião, depois adiantou e retrocedeu até ficar à perigosa distância de 200 m dele. Com medo, o piloto desistiu. “Não continuarei a viagem com isto me seguindo”.
Enquanto o avião ainda sobrevoava o Mediterrâneo, os operadores do radar da Base Aérea de Torrejón, em Madri, procuravam o intruso não identificado, mas não o encontraram. Porém, o radar militar de Benidorm localizou, durante todo esse tempo, até cinco ecos desconhecidos voando sobre a região a uma altura aproximada de 10 km. A Espanha estava vivendo uma autêntica invasão, pois algo estranho e físico estava violando o espaço aéreo do país. O diretor do aeroporto valenciano Miguel Morlán e os 40 empregados das instalações, acreditando que se tratasse de um avião que vinha para pouso, acenderam rapidamente as luzes das pistas. Contudo, o objeto esférico que acompanhava o Caravelle levantou vôo quando parecia que tinha a intenção de aterrissar. Em seguida, o Comando Aéreo de Combate ordenou a decolagem de um Mirage F-1 da Base Aérea de Los Llanos, pilotado pelo capitão Fernando Cámara, ainda alheio à natureza de sua missão.
Velocidade do som
Os militares que controlavam a situação solicitaram ao piloto que preparasse o farol de policiamento e o armamento do caça. Cámara então já deveria supor que aquilo não era um treinamento ou mesmo uma brincadeira, visto que nem seus olhos, nem o sofisticado radar infravermelho de bordo registravam algo estranho. De repente, um alarme ecoou por todos os canais de rádio do avião, no momento em que os radares detectaram um UFO afastando-se em direção a África. Os oficiais que se encontravam à frente das operações instruíram Cámara a seguir o objeto, o que o Mirage F-1 fez a velocidade próxima à do som. A partir daquele momento, o UFO começou a brincar com o caça espanhol, obrigando Cámara a segui-lo de um ponto a outro do país em sua perseguição, circulando quase toda a Espanha.
Praticamente ao mesmo tempo as interferências ficaram mais fortes, e justo quando começaram a diminuir, o radar detectou um novo objeto sobre Valencia. Tinha formato de sino e mudava sua cor do verde para o vermelho e para o branco. Ao aproximar-se, o alarme voltou a ecoar e o misterioso artefato acelerou a uma velocidade extraordinária, até desaparecer. Antes disso, alguma coisa bloqueou os sistemas de ataque do Mirage, que não conseguia captá-lo com seu equipamento de infravermelho, como se o UFO não emitisse calor ao se deslocar. O piloto o perdeu de vista em seguida. Entretanto, o comando registrou algo estranho na direção de Sagunto, e Cámara, que neste momento estava vendo os dois objetos, um à altura de Valencia e o outro sobrevoando Sagunto, foi até lá. Mas os mesmos fatos se repetiram: nada detectado no radar, aceleração espantosa e travamento dos sistemas do avião. Minutos depois, apareceu nas telas do centro de tráfego aéreo um novo UFO, que obrigou o piloto a voltar novamente para o leste do país, perseguindo o intruso até Mahón, novamente sem êxito e sem poder identificá-lo.
Investigação confidencial
O caso não tem paralelo em lugar algum no mundo, ou talvez apenas com a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil [Veja edição UFO 160]. Cámara chegou a pensar que se tratasse de uma situação de guerra, mas depois de uma hora e meia de perseguição o combustível do caça acabou e ele teve que retornar a Los Llanos. Ainda assim, quando já alinhava seu Mirage para voltar à capital, o misterioso objeto surgiu novamente e posicionou-se atrás do Mirage. Se fosse um avião militar estrangeiro em uma situação de guerra, aquilo teria significado o início de um combate aéreo. Mas por trás da atitude do UFO não parecia haver agressividade. Assustado, Cámara aterrissou.
A situação pode ser qualificada como grave sob diferentes pontos de vista. Os acontecimentos foram testemunhados por tantas pessoas que geraram rumores que passaram a circular na mesma noite. O espaço aéreo espanhol foi violado e um avião com mais de uma centena de passageiros desviou-se da rota, enquanto outro, militar, varreu o país atrás de UFOs impossíveis de serem alcançados. Obviamente, as autoridades abriram diligências. “Um avião da TAE fez um pouso de emergência devido à perigosa proximidade de um objeto não identificado”, escreveu o coronel chefe do Setor Aéreo de Valencia a seu superior, em Madri. Este, por sua vez, levou os fatos ao conhecimento do então ministro da Defesa Agustín Rodríguez Sahagún. Em 13 de novembro, um juiz da III Região Aérea chegava de Zaragoza para interrogar as testemunhas e buscar explicação para o fato que tivera impacto na opinião pública espanhola.
O informe oficial do caso permaneceu em segredo durante quase duas décadas, até sua liberação em 29 de julho de 1994. Apesar de contar com 142 páginas, a informação apresentada ao público é incompleta. Faltam até os dados de Fernando Cámara, o piloto que perseguiu os UFOs por todo o país. Mas pelo documento se soube de outros testemunhos que provam a presença de luzes não identificadas naquela noite. Evidentemente, a população não foi informada sobre a investigação
oficial, mas graças aos meios de comunicação se soube do ocorrido, ainda que de forma simplista devido à pouca transparência dos militares quanto a casos do gênero. Em março daquele ano, a junta de chefes do Estado-Maior espanhol tinha elevado à categoria de “matéria reservada” tudo o que se relacionasse com o Fenômeno UFO. E ainda, a partir de 1992, o Exército do Ar [Equivalente à Aeronáutica Brasileira] se viu obrigado a liberar alguns informes sobre o tema, entre eles um documento relativo ao Caso Manises. Mas ainda assim o segredo continuou.
Meses depois, o político Enrique Mugica, informado dos acontecimentos, fez uma interpelação ao governo perguntando sobre a natureza do artefato que provocou o pouso de emergência do Caravelle da TAE. Sua pergunta jamais foi respondida pelo ministro Sahagún. No entanto, graças ao extenso relatório oficial do caso, ficamos sabendo que também foi elaborado um texto menor, de quatro páginas, exclusivamente para instruir a liberação de informações pelo governo espanhol. O documento, que conteria uma fria análise das ocorrências, sem muitos detalhes e sem reconhecer sua importância, nunca se tornou público. Seu conteúdo pretendia minimizar sutilmente os fatos. Curiosamente, antes disso, os próprios militares haviam manifestado que o acontecimento fora provocado por uma “nave dotada de tecnologia desconhecida”. Hoje sabemos que o governo espanhol, desde os anos 60, oferece explicações falsas sobre o Fenômeno UFO ao público, enquanto investiga secretamente sua manifestação.