Cinquenta anos depois da missão Apollo 11 pousar na Lua pela primeira vez, chegou a hora de voltar. Novas viagens tripuladas estão previstas, além da criação de uma base orbital e da chegada da primeira mulher ao satélite. Qual é a razão de tudo isso? Se aproximar de um projeto de “Lua colonizável” e, assim, criar um lugar para fazer escala antes de chegar até Marte.
A agência espacial americana (NASA) quer estabelecer presença humana permanente na Lua na próxima década. A nave Gateway está em fase de projeto e deverá orbitar o satélite natural. Ela será um “escritório” para os astronautas a cinco dias de viagem da Terra.
A primeira parte da Gateway deverá ser lançada em 2022. Depois, o Sistema de Lançamento Espacial (SLS, sigla em inglês) levará dois novos módulos para acoplar à nave orbital. Toda essa infraestrutura será o núcleo para a exploração humana da Lua, transformando-a em uma base para a próxima missão. Os testes devem começar em uma missão não tripulada no ano que vem.
ISS – Lua – Marte
A viagem até a Lua é mil vezes mais distante do que até a Estação Espacial Internacional (ISS) – a atual estrutura de pesquisas na órbita da Terra. O próximo passo da NASA será incentivar mais o uso de recursos privados para manter a ISS e investir dinheiro americano (de parceria público-privada) nas pesquisas lunares.
O governo deve incluir 1,6 bilhão de dólares (R$ 6 bilhões) a mais no orçamento da agência em 2020. As novas ferramentas, instrumentos e equipamentos implantados precisam abrir caminho para a chegada até Marte. Jim Bridenstine, diretor-administrativo da NASA, anunciou em abril deste ano que os planos de exploração têm duas etapas principais: levar a primeira mulher à Lua até 2024 e estabelecer missões sustentáveis até 2028.
A primeira astronauta
O envio da primeira mulher à Lua é questão de igualdade. Até hoje, doze seres humanos pisaram no satélite, e todos são homens. As missões Apollo, que há meio século encabeçaram a corrida espacial dos Estados Unidos contra a União Soviética, não extravasaram para uma discussão de igualdade nas agências espaciais.
Na verdade, isso nem era possível, porque a carreira de astronauta na década de 60 exigia testes militares. E o exército americano, assim como acontecia na maior parte do mundo, não aceitava mulheres. “Com o final da Guerra Fria, os orçamentos dos programas espaciais minguaram e a aventura humana no espaço ficou cara”, explicou o professor de astronomia da USP João Steiner. Dali em diante, as missões usaram robôs e sondas. Com a ajuda da tecnologia, o homem já chegou a Marte, Plutão, Saturno, Júpiter e até ao Sol.
Uma missão americana com uma mulher só ocorreu em 1978, com Sally Ride; os russos foram os pioneiros e enviaram Valentina Tereshkova, em 1963. Desde então, o mundo já realizou 138 lançamentos, com 60 mulheres a bordo. Mas até hoje nenhuma pisou na Lua.
Protótipo de como será o pouso futuro do ser humano na Lua — Foto: NASA
Artemis
Essa reparação histórica está prevista para acontecer até 2024. A agência americana vai lançar a Artemis, a nova missão para o satélite. O nome é uma homenagem à gêmea de Apollo, a deusa da Lua. “O retorno do ser humano tem a ver com a parte humana das descobertas, nem tanto política. O homem, quando pisa em alguma coisa, entende melhor.
Na realidade, robôs fazem coisas maravilhosas sem a presença humana, mas gostamos de ir lá e ver com os próprios olhos.” – Daniela Lazzaro, pesquisadora do Observatório Nacional. Em toda a história, o homem ficou 80 horas sobre superfície lunar. Por isso, ainda não houve contato científico maior com o regolito, material disponível no solo.
A Artemis pretende descobrir:
- Como se mover com segurança e desvendar o material do solo da Lua;
- Como conseguir montar uma estrutura em solo lunar;
- Testar tecnologias que podem ser aplicadas nas pesquisas em Marte;
- Como manter seres humanos mais tempo fora da Terra.
O plano inclui também a tentativa de chegar pela primeira vez ao polo Sul da Lua, onde há evidências de gelo, mas ainda sem comprovação se isso de fato representa uma reserva aquática extraterrestre. “Na realidade, sobre a Lua, uma coisa de que ainda temos dúvida é sobre a quantidade de água. Isso é muito importante para uma possibilidade de ter realmente uma colônia fora da Terra. Se não tiver água, vamos levar. A mesma coisa em Marte, e isso é importante também para estabelecer custos”, explica Daniela.
Novas tecnologias
Para chegar mais longe, é preciso mais tecnologia. A cientista Parvathy Prem, formada em Cingapura e que trabalha no Laboratório de Física Aplicada de Johns Hopkins, projetou um software para a Nasa que pode contribuir com essa nova fase. Seu programa é capaz de pulverizar cerca de 30
0 litros de água e outros gases a quilômetros do pouso. Isso pode ajudar os astronautas a andar uma distância maior. Parvathy, segundo a NASA, trabalha para entender como a água se comporta na Lua. Ela se acomoda na superfície? Como fazer um reservatório? São algumas respostas que a Artemis pode vir a responder.
Caminho até Marte
Mineiro, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, Ivair Gontijo trabalha na missão Mars 2020. Essa não é a primeira experiência: ele ajudou na descida do robô Curiosity. Essa missão triunfou desde 2012 e encontrou moléculas orgânicas, desvendou detalhes sobre as estações climáticas marcianas e detalhou as variações de temperatura do planeta – faz -90ºC nas noites de inverno e 0ºC nas noites de verão.
Só de descobrir a temperatura é possível entender que colonizar Marte não é uma missão simples. Por isso, Gontijo conta que a permanência na Lua pode ajudar no desenvolvimento de tecnologias para produzir oxigênio e alimentos para chegar até o planeta vermelho no futuro.
“É importante levar as matérias primas para a Lua e depois usar as mesmas até Marte”, disse. Gontijo escreveu um livro, o “A caminho de Marte: A incrível jornada de um cientista brasileiro até a Nasa”, onde comenta essa relação e explica as comprovações científicas da chegada do homem à Lua.
Ivan Gontijo, brasileiro que trabalha nas missões espaciais a Marte — Foto: Carolina Dantas
Segundo Gontijo, são movimentos paralelos nas pesquisas espaciais. A missão Mars 2020 também levará instrumentos para a produção de oxigênio. Eles pretendem observar reações químicas, um caminho para encontrar vida no planeta vermelho.
Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional, explica que o grande problema para mandar missões tripuladas para Marte é o tempo que demora para chegar até lá. A Lua pode funcionar como uma estação antes de chegar.
“O nosso corpo não aguentaria. Se você quebra uma perna no espaço e fica 15 dias parado, o seu músculo já afina. Imagina meses e meses sem gravidade. “Uma base na Lua poderia ajudar a ir mais longe. Seria uma escala e também um laboratório para a gente se adaptar às viagens no espaço”, diz Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional.
Fonte: NASA, G1
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