O processo de Galileu Galilei, a bula de excomunhão de Martinho Lutero, passando pela “confissão” dos Templários: pela primeira vez o Vaticano revela ao público alguns de seus inúmeros segredos, numa exposição excepcional, aberta nesta quarta-feira (29) nos museus do Capitólio, em Roma. No total, mais de 100 documentos originais foram selecionados, por ocasião dos 400 anos de criação desses arquivos secretos, pelo papa Paulo V.
Intitulada “Lux in arcana“ [Luz sobre os segredos, em latim], a exposição permite ao visitante descobrir o pedido de anulação do casamento de Henrique VIII e Catarina de Aragão, e o Dictatus Papae de Gregório VII, um manuscrito do século XI afirmando a supremacia dos papas sobre todos os outros poderes na Terra. Há também um pergaminho de 60 metros, remontando a 1308 e contendo a confissão dos templários diante de três cardeais enviados por Clemente V ao castelo de Chinon (centro da França).
“É a primeira vez na história e, talvez, também a última, que esses documentos deixam o interior do Vaticano”, afirmam os organizadores. Sinal da importância do evento, o número dois do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, abriu a exposição ao lado do “ministro” da Cultura do Vaticano, Gianfranco Ravasi, do prefeito de Roma, Gianni Alemanno, e do ministro italiano da Cultura, Lorenzo Ornaghi. Ouvido pela imprensa sobre o que o teria mais impressionado nesta exposição, o cardeal Bertone respondeu: “Certamente, a verdade histórica”.
Revela também documentos que defendem a atitude de Pio XII, criticado por ter mantido silêncio ante o Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial. Entre eles, está um relatório do núncio apostólico de Francesco Borgongini-Duca, que visitou sete campos de concentração na Itália, em 1941, e uma carta de agradecimentos de pessoas detidas nos campos, endereçada ao Papa.
Entre os outros documentos está a nomeação ao trono papal do eremita Pietro da Morrone (século XIII), que se tornou Celestino V e foi o único Papa da história a se demitir. Há também um documento do século XV no qual Alexandre VI divide o Novo Mundo entre a Espanha e Portugal, após a “descoberta” da América por Cristóvão Colombo. Ou ainda o decreto de Leão X que selou o cisma com os protestantes, conduzindo às guerras de religiões fratricidas na Europa.
Outros tesouros
As cartas de Michelangelo sobre a construção da Basílica de São Pedro ou um documento confeccionado em seda pela imperatriz da China Helena Wang, convertida ao cristianismo. Mais curiosa, a missiva do chefe da tribo indígena Ojibwa datando do século XIX a Leão XIII, a quem chama de “grande mestre das preces que cumpre as funções de Jesus”.
Outra raridade, uma carta de Maria Antonieta presa depois da Revolução, na qual pode-se ler: “os sentimentos daqueles que partilham minha tristeza (…) são a única consolação que posso receber nestas tristes circunstâncias”.
Lux in arcana ficará exposta até 09 de setembro. É possível saber mais informações em sua página da Internet.
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