Uma das odisseias espaciais mais espetaculares de todos os tempos teve seu ponto culminante neste último 12 de novembro de 2014. Pela primeira vez na história, um engenho construído pela humanidade realizou um pouso em um cometa. O módulo de pouso Philae se separou da nave-mãe Rosetta às 07h03 de Brasília e iniciou a lenta queda de quase sete horas, percorrendo os últimos 22,5 km até o toque suave na superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Os dois robôs foram lançados em 02 de setembro de 2004, realizando três sobrevoos da Terra e um de Marte, percorrendo 6,4 bilhões de km até o encontro com o cometa no último 06 de agosto.
O histórico feito aconteceu a 510 milhões de km da Terra e, às 14h03, horário de Brasília, foi confirmado que o Philae pouso com sucesso na superfície. As duas naves fotografaram uma a outra como uma despedida e o módulo de pouso já enviou imagens da região da aterrissagem. Aconteceram alguns problemas técnicos entretanto, visto que o propulsor que deveria disparar no sentido contrário ao cometa, para auxiliar a manter o Philae firme, não funcionou. Também há dúvidas quanto aos arpões que deveriam fixar a sonda na superfície e os cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) ainda estudam a possibilidade de tentar dispará-los novamente.
De acordo com as informações enviadas pelos instrumentos, o Philae tocou o solo às 13h33, com uma velocidade de cerca de 1 metro por segundo. Porém o módulo quicou, sendo lançado para cima a 30 cm/s, e somente tornou a tocar a superfície às 15h26, tendo então percorrido 1 km. Philae novamente quicou, mas finalmente pousou definiticamente às 15h33, horário de Brasília. Graças à baixíssima gravidade do 67P/Churyumov-Gerasimenko, a sonda não sofreu danos. Porém restam algumas preocupações, visto que as primeiras imagens da superfície mostram que o Philae não está paralelo com o solo, tendo uma das três traves do trem de pouso no ar. Além disso ele pousou ao lado da parede de um penhasco, e embora esteja estável, a posição é um tanto delicada. Enquanto isso, os cientistas orientaram a Rosetta para tentar fotografar o módulo na superfície, mas ainda não obtiveram sucesso.
MESES À FRENTE PESQUISANDO O COMETA
Existe certa preocupação também pelo fato de a telemetria de Philae mostrar que o módulo está recebendo somente uma hora e trinta minutos de exposição solar. Esperava-se que seus painéis coletores recebessem ao menos 6 ou 7 horas, o que pode comprometer a missão. Os cientistas da ESA pretendem nos próximos dias tentar realizar pequenos movimentos para um melhor alinhamento da sonda, a fim de melhorar a captação de energia. O Philae possui 10 instrumentos científicos, incluindo uma broca para pesquisar a superfície e os cientistas esperam que colete dados sobre o cometa até ao menos março de 2015. Enquanto isso a Rosetta deve prosseguir acompanhando o astro até pelo menos dezembro de 2015, observando as mudanças que ocorrem conforme ele percorre sua órbita ao redor do Sol. O periélio, ponto de máxima aproximação com a estrela, aliás, ocorrerá em agosto de 2015.
A Rosetta leva o nome da Pedra de Roseta, um tablete que auxiliou arqueólogos a decifrar os hieroglifos, a escrita do Antigo Egito. Philae é o nome de um obelisco encontrado em uma ilha de mesmo nome no Rio Nilo e o local de pouso recebeu o nome de outra ilha, Agilkia. Espera-se que a missão possa desvendar os mistérios dos cometas, que são restos da formação do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos. Além disso, as mais modernas teorias dão conta que um período de intensos impactos desses corpos, há 3,6 bilhões de anos, trouxe para a Terra pelo menos metade de toda sua água. A missão Rosetta-Philae também irá procurar por compostos orgânicos, que os cometas podem também ter trazido para a Terra, possibilitando o surgimento da vida em nosso planeta. Missões anteriores deram também contribuições decisivas para o entendimento desses corpos, como a Giotto, da ESA, em seu encontro com o cometa Halley em 1986. A Stardust da NASA trouxe em 2006 amostras de matéria cometária para a Terra e o cometa Tempel 1 foi o primeiro cometa atingido por um engenho terrestre, o módulo de impacto da Deep Impact da NASA em 04 de julho de 2005.
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