Toda a vida na Terra é formada pelas mesmas bases moleculares, o DNA ou ácido desoxirribonucleico, e as proteínas. Fazendo o transporte de informações está o RNA, ou ácido ribonucleico, que copia dados do DNA e os leva aos ribossomos, que formam as proteínas. Existem provas convincentes de que a vida na Terra teve início nos oceanos primordiais, contudo tanto as moléculas do DNA e RNA quanto das proteínas têm dificuldades para ser formadas em meio aquoso. As altas temperaturas da Terra primitiva também dificultariam ou mesmo impediriam o processo. Contudo, um novo experimento comprovou que o RNA pode se formar no espaço, na mesma nuvem de gás e poeira primordial em que foram formados o Sol e os planetas.
Com base nas informações transmitidas pela nave Rosetta e pelo módulo Philae, cientistas da Universidade de Nice reproduziram na Terra amostras de gelo similares às do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. As amostras continham substâncias que já estavam presentes na nuvem de gás e poeira que deu origem ao Sistema Solar, como água, metanol e amônia. Expondo-as ao vácuo e baixas temperaturas, e irradiando-as com energia simulando as emissões muito maiores do jovem Sol, além de raios cósmicos, os cientistas obtiveram reações químicas que terminaram por produzir diversos compostos, incluindo a ribose, peça central do RNA. Açúcares, alguns tipos de álcool e aminoácidos também foram encontrados, comprovando que essa molécula essencial à vida pode ser formada naturalmente ao mesmo tempo que estrelas e planetas, a partir de compostos simples já existentes.
Para completar a molécula de RNA, ainda restaria adicionar a ela vários fosfatos e bases nitrogenadas, que, entretanto, outros experimentos semelhantes já comprovaram que também podem ser formados em ambientes espaciais. Assim, as teorias que apontam os precursores da vida como moléculas de RNA podem de fato estar corretas, sendo que este já possui as capacidades de se autorreplicar de sistemas biológicos próprias. Os cientistas apontam que, no chamado “mundo de RNA” primitivo que provavelmente existia na Terra primordial, moléculas cada vez mais complexas foram se formando até atingirem a autorreplicação. Assim, a evolução faria prosperar e deixar mais descendentes entre as moléculas que fizessem a mais eficiente replicação, aperfeiçoando-se a cada geração e crescendo em complexidade, até o surgimento do DNA.
AS SEMENTES DA VIDA SURGINDO NATURALMENTE NO MEIO CÓSMICO
Em pouco tempo, em termos de eras geológicas, a vida unicelular teria assim surgido. Cornelia Meinert, da Universidade Nice e participante do estudo, comentou: “Essa é evidência do ‘mundo de RNA’, um episódio na história terrestre onde o RNA era o único material genético. Em um certo ponto da evolução pré-biótica, a disponibilidade da ribose foi essencial para o início da vida”. Dessa forma, pode ter sido respondida uma questão fundamental, sobre como surgiram essas moléculas complexas essenciais à vida. Estando disponíveis já quando os planetas ainda se formavam, esses compostos foram provavelmente trazidos à Terra, e talvez à Marte, por asteroides e cometas e iniciaram as reações químicas que em muito pouco tempo dariam origem à vida. Com a descoberta de nuvens e discos de formação planetária, compostos por gás e poeira, em vários locais do Universo, torna-se ainda mais evidente que tais compostos podem estar disponíveis em todos os lugares, comprovando que a vida deve ser muito comum no Universo, sempre que as condições propícias a seu desenvolvimento se apresentarem.
Leia o artigo descrevendo a descoberta na Science
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