No último 14 de março decolou do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, a missão Exomars 2016. A bordo de um foguete russo Proton-M seguiu a nave da Agência Espacial Europeia (ESA) chamada de Trace Gas Orbiter (TGO), e o módulo de pouso Schiaparelli, batizado em honra ao astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli (14/03/1835-04/07/1910). Entre suas inúmeras realizações, ele fez um completo levantamento topográfico de Marte, e acreditou ter localizado grandes formações de estruturas retas que batizou como “canali”.
O termo foi erroneamente traduzido para o inglês como “channels”, canais, indicando formas artificiais, o que incentivou muitos a achar que seriam obra de uma civilização marciana, engano foi logo corrigido nas décadas seguintes. O módulo Schaparelli, de 660 kg, é um demonstrador tecnológico com o fim de experimentar meios de pousar em Marte, que serão utilizados na segunda fase da missão em 2018. Seus instrumentos irão analisar a meteorologia de Marte, tanto durante o pouso por paraquedas, ao longo de várias camadas da atmosfera do planeta, quando após o pouso. Dados sobre vento, umidade, pressão e temperatura serão recolhidos, e como a descida ocorrerá na estação de tempestades de areia no Planeta Vermelho, espera-se colher informações sobre estas, essenciais para missões futuras. Sua missão leverá alguns dias, até que as baterias se esgotem.
A nave principa, TGO, irá lançar o Schiaparelli três dias antes da chegada a Marte, em 16 de outubro deste ano. Em 19 de outubro, a nave de 3.730 kg entrará em órbita de Marte, iniciando as manobras que a colocarão a uma distância quase constante de 400 km de sua superfície. A TGO irá utilizar um grande pacote de instrumentos científicos em sua missão primária de cinco anos. O grande objetivo é encontrar metano na atmosfera de Marte, e determinar em quais locais de Marte este é produzido. Como se sabe, boa parte do metano na atmosfera da Terra é produzido por organismos vivos, portanto o gás, detectado pela primeira missão europeia a Marte, a Mars Express, é visto como uma evidência da existência de vida. O rover Curiosity da NASA igualmente detectou metano, entre o final de 2013 e início de 2014, mas sua origem permanece incerta.
BUSCANDO POR VIDA EM MARTE E PREPARANDO NOVAS MISSÕES
A TGO ainda irá mapear o hidrogênio que existe abaixo da superfície do planeta, a cerca de um metro de profundidade, hidrogênio este ligado ao oxigênio, formando gelo de água. Isso se dará por meio de um instrumento russo chamado Frend, capaz de detectar nêutrons que reagem com o hidrogênio. Tais nêutrons são produzidos por raios cósmicos que atingem a superfície do planeta e reagem com os diferentes tipos de átomos ali presentes, e o hidrogênio reage com os nèutros de uma forma específica. Além de um pacote de espectrômetros, construídos em diferentes países, a TGO leva a câmera CaSSIS, construída na Suíça e que obterá fotos da superfície com resolução de 4,6 metros por pixel. Todas essas informações servirão para preparar a segunda etapa da missão Exomars, o lançamento de um rover dedicado à busca por vida marciana em 2018.
A NASA era parceira da missão Exomars até sair do projeto em 2012 alegando restrições orçamentárias. A ESA se voltou então à Agência Espacial Russa (Roskosmos), que além de prover os foguetes Proton para lançamento, também irá fornecer a plataforma de pouso para o rover em 2018, além de vários instrumentos científicos. Um dos cientistas principais do projeto é o engenheiro argentino Jorge Vago, doutor em física planetária pela Universidade de Cornell, Estados Unidos. Ele afirmou, em entrevista ao jornal argentino Clarin: “Ainda não sabemos se existiu vida em Marte. Vamos buscar um local no qual sabemos que há alta probabilidade de encontrar provas da existência de vida. Exomars busca encontrar essas evidências no passado de Marte, há cerca de 4 bilhões de anos, quando era muito similar à Terra. Há grandes chances de que encontremos evidências sobre se houve ou há ainda vida em Marte”. Cerca de 12 horas após o lançamento a TGO entrou em contato com o controle da missão e desdobrou seus paineis solares, estando tudo funcionando perfeitamente para a jornada de sete meses até Marte.
Visite o site oficial da missão Exomars
Infográfico do projeto Exomars da ESA
Assista ao lançamento da missão
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