Instalações militares secretas não são novidade para ninguém e mesmo o mais radical teórico conspiracionista há de concordar que elas são necessárias para muitas nações. É importante que países mantenham seus desenvolvimentos tecnológicos em segredo e que possam testar novas tecnologias em paz sem que os avanços conseguidos sejam conhecidos de seus rivais comerciais e ideológicos. Da mesma forma, não é novidade para ninguém que, mesmo antes de a Guerra Fria começar, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética trancavam seus segredos a sete chaves.
Com o final da Segunda Guerra Mundial e a subsequente divisão ideológica do mundo, aquilo que era oculto em termos de tecnologia e desenvolvimento militar tornou-se supersecreto e guardado sob tamanho sigilo que muitas vezes pessoas em cargos importantes desconhecem o que se passa sob seu comando, simplesmente porque não há necessidade de que saibam de determinados assuntos, e assim não têm acesso a eles. Esta é a política do necessitar saber — ou need to know, de sua origem em inglês —, segundo a qual um governante só tem acesso àquilo que seus militares acham que ele precise saber. Também vale a pena lembrar que nos anos 50 o desenvolvimento tecnológico militar já passava para as mãos das grandes corporações privadas, o que acabou colocando muitos governos sob controle de pessoas que visam o lucro, não o bem de uma nação. Este detalhe é importante, pois voltaremos a ele mais tarde.
Na segunda metade dos anos 40, os locais escolhidos para o desenvolvimento de tecnologias sigilosas foram bases militares já existentes, mas com o passar do tempo instalações próprias foram construídas com esta finalidade e não é arriscado afirmar que, de todas as instalações secretas do mundo, nenhuma é tão famosa e conhecida como a Área 51, encravada no Deserto do Nevada, a três horas de Las Vegas por carro. Não há como não ver a ironia da situação, pois seria de se supor que algo tão secreto não fosse conhecido, e menos ainda famoso, mas assim é a Área 51, cercada de boatos e mistérios.
O que é a Área 51?
Situada no município de Lincoln, próxima ao Lago Groom, a unidade militar conhecida como Área 51 se constitui em uma série de prédios, galpões e pistas de teste, não havendo lá, à primeira vista, nada que possa chamar a atenção ou diferente de qualquer outro local de utilidade semelhante. Obviamente, os andares subterrâneos da Área 51 não são vistos nas imagens aéreas e qualquer coisa de diferente ou especial que lá exista está muito bem escondida pelas autoridades — mesmo assim, o governo norte-americano negou a existência dessas instalações até 1994.
Muitas pessoas relatam ter visto objetos voadores não identificados e luzes estranhas ao redor das instalações da Área 51 desde que ela foi construída, e comentários, boatos e teorias sobre a presença de UFOs na região se tornaram cada vez mais frequentes. No entanto, as conjeturas e suspeitas sobre extraterrestres atingiram seu ápice quando o físico norte-americano Robert Scott Lazar — ou Bob Lazar, como é mais conhecido — começou a alardear que havia trabalhado durante alguns meses no local e que lá vira discos voadores e cadáveres de aliens, seus tripulantes. Lazar alegou ter trabalhado entre1988a1989como especialista em física nuclear em uma unidade chamadaS-4, localizada perto do Lago Groom epróxima da Área 51. De acordo com ele, “a S-4 servia como um refúgio militar para o estudo dediscos voadores”. Ele também forneceu detalhes sobre o modo de propulsão das naves.
Lazar informou ainda que o governo dos Estados Unidos estava pesquisando nove discos voadores na Área 51 e que tentava adaptar sua tecnologia a projetos terrestres com o uso da chamada engenharia reversa. Por suas declarações, ele e sua mulher receberam várias ameaças de morte. Assim, evitando correr riscos, em novembro de 1989 ele decidiu aparecer em público e confirmou o que havia vazado até então. Segundo Lazar, há um lugar secreto no interior da Área 51 onde as naves alienígenas eram guardadas — seu trabalho se dava justamente naquelas instalações, junto a uma equipe de 22 engenheiros contratados para estudar os sistemas de propulsão dos discos voadores em poder do governo norte-americano.
Independentemente de as afirmações de Bob Lazar serem ou não verdadeiras, elas foram como um fósforo aceso jogado sobre gasolina em relação à Área 51. Por outro lado, sabemos que alguns dos maiores e mais secretos aviões militares foram desenvolvidos e testados no Deserto do Nevada, e que vários projetos, como aqueles envolvendo aeronaves não tripuladas (VANT), também nasceram ali. Isso sem falar daquilo que não conhecemos e que ainda não vazou para o público. Com ou sem os discos voadores, a Área 51 guarda muitos segredos, entre os quais o fato de que ela tem uma unidade irmã, apelidada de Área 52, que possui seus próprios mistérios.
Descoberta a Área 52
Embora não seja tão secreta quanto sua irmã “mais velha”, uma vez que podemos encontrá-la em alguns mapas, a Área 52 é uma área proibida para a maioria dos civis devido ao trabalho sigiloso lá desenvolvido. A base recebeu bombardeios, explosões, produtos tóxicos e armas nucleares em busca de uma tecnologia de ponta que provavelmente não pôde ser testada em qualquer outro lugar. Toda a extensão de quase 900 km2 da base é mais conhecida como Área de Testes de Tonopah (ATT) — o nome se refere a uma pequena cidade localizada no estado do Nevada, mais ou menos a meio caminho entre Reno e Las Vegas e a apenas 100 km da Área 51.
A conexão entre as Áreas 51 e 52 é mais do que frequente. Joerg Arnu, dono do site Dreamland Resort [Endereço: www.dreamlandresort.com], afirma que “documentos oficiais se referem à ATT como Área 52. Em muitas ocasiões, projetos confidenciais foram transferidos da Área 51 para lá, sendo a primeira, é claro, uma instalação supersecreta e, a segunda, um pouco menos reservada. Ainda assim é um lugar secreto, mas não supersecreto”. Arnu está no centro de uma rede mundial de observadores aeronáuticos que compartilham informações online sobre o tão falado mundo obscuro, incluindo as Áreas 51 e 52. Empregados de ambas as bases viajam para trabalhar a bordo de a
viões sem identificação que partem de um terminal do Aeroporto de Las Vegas. Arnu e outros observadores escutam as conversas do tráfego aéreo à procura de pistas sobre o que está acontecendo.
A indicação mais óbvia de que a Área 52 é menos secreta do que a 51 é um sinal no mapa, 32 km a leste de Tonopah, apontando sua localização. Diferentemente da Área 51, a Área de Testes de Tonopah (ATT) está listada em várias cartas geográficas, embora a estrada pavimentada que leva até lá não esteja. Em seu portão principal, forças de segurança armadas param qualquer visitante sem autorização, e com uma boa razão. O pesquisador de aviação John Lear afirmou que “há sempre algo acontecendo lá, algum projeto secreto em andamento”. Antes de se interessar pelos discos voadores da Área 51, o célebre piloto demarcava os limites da Área 52 em busca de aviões secretos, que alguns pensam nunca terem sido construídos. “Quando o F-117 foi lançado, ele tinha o propósito de acobertar outro avião, o F-19, construído para a Marinha. Foram montados 62 deles”, disse Lear.
Lugar perfeito para o sigilo
A Área 52 é gerenciada pelos Laboratórios Nacionais Sandia, de caráter privado, uma corporação subsidiária de outra, a Lockheed Martin, que é a maior fabricante de materiais bélicos do mundo — 95% de seu orçamento anual vêm do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e de outras agências governamentais. Lembre-se o leitor que chamamos a atenção sobre a atuação destas corporações logo no começo do texto. A base serve tanto ao Departamento de Energia como ao de Defesa. Devido ao seu grande isolamento, é o lugar perfeito para se ter liberdade de experimentar novas tecnologias. É lá que novos mísseis são testados, bombas são lançadas, canhões são disparados, bunker busters são desenvolvidos etc. Enfim, todo tipo de coisa que provoca estrondos é usado ali. Como Arnu diz, lá é o lugar “onde os militares podem explodir as coisas e ninguém se importa”.
Documentos oficiais se referem à Área 52. Em muitas ocasiões, projetos confidenciais foram transferidos da Área 51 para lá, sendo a primeira, é claro, uma instalação supersecreta e, a segunda, um lugar secreto, mas não supersecreto
Levou décadas para imagens da Área 52 serem reveladas, e serão necessárias outras tantas para podermos ver o que está acontecendo lá neste momento. Acredita-se que um experimento em curso na Área de Testes de Tonopah (ATT) seja o armamento dos veículos aéreos não tripulados. Lá os militares descobriram como prender mísseis a estes engenhos e acredita-se que o trabalho com drones é a maior aplicação da Área 52. Quando o tema vem a público, geralmente gera ceticismo. Nestes momentos, é bom pensar no coronel Gail Peck, que liderou o programa confidencial apelidado de Constant Peg. Entre 1978 e 1988, Peck comandou um time de pilotos que voavam em Migs russos furtados da União Soviética, simulando combates contra aviões de guerra norte-americanos. Há muito tempo se sabe que a Área 51 tinha tais aeronaves para testes de radar.
Os segredos do Nevada
Peck colocou os Migs em ação de combate a partir da Área 52. O coronel da reserva afirma: “Isso foi compartimentado no que chamamos de política da ‘necessidade saber’ [Need to know]. Ou seja, se alguém fosse participar das operações, era colocado no programa, informado, participava do processo e depois era interrogado. Posteriormente, a porta era fechada atrás da pessoa e ela estava excluída de tudo”. Para tais testes, foi construída uma longa pista de decolagem na Área de Testes de Tonopah (ATT), mas não para aviões como o Stealth, como por muito tempo todos acreditaram, e sim para a frota de Migs em posse do governo norte-americano. Durante 10 anos e 15 mil incursões militares, o público nunca soube destes dados. Gail Peck disse que “o fato de o sigilo ter sido mantido é um reflexo do respeito que todos os pilotos que participaram tinham pelo seu valor. Não eram delatores”.
Pelo que se sabe, a Área 52 não recebeu nenhuma das estranhas naves em forma de disco voador que pessoas afirmam ver ao redor da Área 51 — entretanto, há mais segredos sobre os exóticos programas na base, coisas supostamente escondidas nas profundezas do solo, em muitos andares subterrâneos. Os desertos do estado de Nevada guardam muitos mistérios, incluindo os militares. É lá que estão algumas das instalações mais sigilosas do mundo. A Área 52 tem inspirado uma grande quantidade de histórias incríveis sobre si própria ao longo dos anos, inclusive sobre o que acontece em suas unidades subterrâneas.
Quando o jornal The Washington Post publicou, em 1997, uma caricatura satirizando que é na Área 52 onde o governo esconde seus elfos e gnomos, a publicação não sabia que a Área de Testes de Tonopah (ATT) de fato existia. Ela pode não abrigar elfos e gnomos, mas é o lugar em que os militares lidam com coisas muito mais bizarras. Por exemplo, a exploração de avançadíssimos drones ou o uso de paraquedas inteligentes para lançar bombas nucleares sobre países inimigos. Os Laboratórios Nacionais Sandia, que controlam a Área 52, estão trabalhando em um reator de fusão nuclear lá, incisivamente anunciado como “não sendo da Área 51”, uma forma jocosa de dizer que não é perigoso e que é feito com tecnologia terrestre, coisa da qual não podemos estar certos.
De áreas ao redor é fácil avistar a grande infraestrutura da Área 52, com acomodações para milhares de pessoas e a longa pista de decolagem que foi construída para a frota de Migs russos. A primeira aeronave Stealth — com tecnologia de invisibilidade ao radar — acompanhou o modelo e formato dos Migs, igualmente em completo sigilo. Moradores das proximidades, como José Gonzalez, proprietário do Restaurante Ciscos, dizem ver dezenas de rastros de avião vindos da base todos os dias, provavelmente das aeronaves que carregam os trabalhadores até lá. Mas eles trabalham em quê?
O subsolo e os grandes segredos
Gonzalez contou que “a primeira vez que vim para cá, os trabalhadores da base estavam conversando sobre um avião que iria ao espaço e voltaria à Terra, a ser constru&iacu
te;do pela NASA e testado ali”. Projetos para aviões espaciais têm sido abertamente discutidos em periódicos de aviação e muitos se assemelham bastante a algo de outro planeta, o tipo de nave há muito associada à outra base, a Área 51, onde Bob Lazar e John Lear disseram haver diversos discos voadores sendo desmontados e reconstruídos com engenharia reversa. “As pessoas pensam que sou absolutamente louco. E tudo bem para mim”, declara Lear, que de louco não tem nada.
Lear, piloto famoso cujo pai desenvolveu a poderosa companhia Lear Jet, que construía jatos particulares de alta performance, ajudou a popularizar histórias sobre naves alienígenas na Área 51, mas também passou anos sondando o perímetro da Área 52. Ele afirma que existem outras instalações desconhecidas escondidas nas áreas de teste. Imagens de satélite tendem a apoiá-lo. “Elas estão por todo o lugar no Nevada”, diz. Contudo, os grandes segredos estariam no subsolo. Lear alega, por exemplo, que um dispositivo nuclear foi usado para criar um espaço de trabalho sob a região de Pauite Mesa, na Área 52, e que uma unidade capaz de comportar 25 mil pessoas está ativa lá. Ele afirma também ter ouvido parte disso de um motorista de um caminhão que trabalhava lá. “Ele levava quatro horas para alcançar o fundo, despejar o cimento e então voltar para a superfície. Por alguma razão, desapareceu da face da Terra depois de ter me contado essa história”, continuou Lear.
O piloto também garante que há um trem de alta velocidade no subsolo que vai da Área 52 a Las Vegas. Lear declara que pilotos lhe descreveram pistas secretas que se abrem e fecham como zíperes. “Alguém a bordo de aviões sobrevoando a Área 52 olhará para baixo e verá uma floresta, um deserto ou uma paisagem natural, sobre o local onde se camufla uma pista de decolagem”. Conseguimos confirmar algumas evidências para uma das suspeitas de Lear, a que remonta às reivindicações de Bob Lazar, que declarou ter trabalhado em discos voadores na área S-4. Descobrimos haver mais de uma área S-4, e uma delas está na Área de Testes de Tonopah (ATT). Trabalhadores alegam que a área S-4 dentro da ATT requer acesso especial — acredita-se que pesquisas sobre um radar altamente avançado sejam feitas ali. Observadores de atividades do Exército e da Aeronáutica dos Estados Unidos dizem crer que exista uma grande operação no subsolo. O citado Joerg Arnu afirma: “Há unidades subterrâneas na Área de Testes de Tonopah (ATT) onde são desenvolvidas bombas atômicas de características muito diferentes das que conhecemos”.