Um grupo de homens se distinguiu, no início da Era Moderna dos Discos Voadores, por estranhas narrativas de contatos com UFOs e seres extraterrestres. São eles Orfeo M. Angelucci, Giampiero Monguzzi, George van Tassel e Howard Menger, que, por suas extravagantes histórias, quase que se complementando em exotismo, foram por algum tempo chamados pela Comunidade Ufológica Mundial de “quarteto fantástico”. Vamos examinar rapidamente o que fizeram eles para merecerem este apelido.
Angelucci, operário da fábrica de aviões Lockheed, afirmou em 1952 ter travado relações com um casal procedente de Vênus, que lhe proporcionou uma agradável viagem ao espaço, de onde contemplou a Terra. O homem, que se chamava Netuno, instruiu-o a respeito das “verdades universais” e o fez portador de mensagens pacifistas. Angelucci também descreveu um encontro com uma alienígena em plena estação de ônibus da empresa Greyhound. Curiosamente, enquanto no mito grego o poeta e músico Orfeu desceu aos infernos, este Orfeo moderno pretendeu ter ascendido aos céus…
Pouso de nave na geleira
Já Monguzzi, que foi o protagonista de uma farsa clamorosa, trabalhava como engenheiro na Sociedade Edison. Em 31 de julho de 1952, passeava com a mulher nas proximidades da geleira Scerscen, na Itália, quando subitamente um objeto cintilante surgiu no local e pousou silenciosamente sobre a neve — era um prato argênteo, com 10 m de diâmetro. Mal começara a fotografar, notou uma criatura vestida de capacete e roupas de astronauta desembarcando lentamente do disco. Ela às vezes parava, observava o aparelho e recomeçava a inspeção. Passados alguns minutos, voltou ao objeto, que entrou em ligeira rotação e imediatamente alçou voo.
O caso foi divulgado sensacionalisticamente. Dezenas de jornais e revistas qualificaram as fotos de Monguzzi, tiradas com uma Kodak Retina, de “o documento do século”. Mas, para sua desventura, nem todos se convenceram da autenticidade das mesmas e a fraude veio à tona — Monguzzi confessou que, na verdade, usara um pequeno modelo fabricado por ele com dois pedaços de papelão prateado medindo 30 cm cada. O ET era simplesmente um bonequinho de plástico.
Mas por que ou para que o engenheiro forjara a história? Ele mesmo explicou: “Queria me tornar jornalista e nada melhor do que um furo sensacional para despontar na carreira”. É quase certo que teria ele se baseado no exemplo dos jornalistas brasileiros Ed Keffel e João Martins, respectivamente fotógrafo e repórter de O Cruzeiro, que pouco antes, em 07 de maio de 1952, haviam se notabilizado ao fotografarem um suposto disco voador sobre a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Melhor sorte tiveram estes últimos, haja vista que só muitos anos mais tarde é que sua fraude foi desvendada. Porém, a essa altura, já haviam sido consagrados e promovidos a pioneiros da Ufologia no Brasil. Teria Monguzzi se inspirado em ambos, considerando que inventou sua fábula apenas dois meses depois? Certamente que sim.
Disco em forma de sino
Já George van Tassel pregava que os anjos eram entidades físicas e que personagens bíblicos, como São João Batista, andavam circulando em carne e osso pelas ruas da Terra. Às 02h00 do dia 24 de agosto de 1953, uma criatura de 1,80 m de altura apareceu perto do leito, interrompendo seu sono. Aquilo não o assustou, pois, operando no Aeroporto Público de Giant Rock, por ele arrendado, era de esperar que alguém o procurasse altas horas da noite. O que o surpreendeu foi ver, através da janela aberta, um disco em forma de sino flutuando a cerca de 2,50 m do solo, e logo depois apareceu um ET.
“Meu nome é Sogonda”, disse o intruso. “Gostaria de lhe mostrar nosso aparelho”. Tassel tentou acordar a esposa, mas esta se encontrava sob algum tipo de controle mental. Sem alternativas, acompanhou Sogonda até a nave, que media cerca de 10 m de diâmetro e se parecia com a de George Adamski. As paredes, de material opalescente, eram rodeadas por um sofá retrátil. Havia mais três tripulantes e Tassel permaneceu no interior do aparelho durante 20 minutos, período em que Sogonda mostrou-lhe os painéis de controle e explicou-lhe, telepaticamente, os princípios de navegabilidade. E, como é típico em casos do gênero, proferiu sermões ressaltando a paz e a fraternidade. Nos dias subsequentes, as pessoas que lancharam no restaurante próximo do local do pouso do disco sentiram-se mal, queixando-se de dor de cabeça e náuseas.
Evangelho interplanetário
Profundamente influenciado pela pretensa experiência, Tassel, então com 44 anos, congregou um séquito de ingênuos que a partir da primavera do ano seguinte passaram a realizar encontros anuais no aeroporto que dirigia, no Deserto de Mojave, no sul da Califórnia e onde a NASA construiria pistas de pouso para ônibus espaciais. Por mais absurdo que pareça, milhares de pessoas acorriam para lá dispostos a ouvir o evangelho interplanetário e a gastar dinheiro em patéticos souvenires, como mechas de pelo de um cão São Bernardo venusiano.
A primeira Convenção Espacial Anual de Giant Rock reuniu mais de cinco mil devotos. Ao longo do dia eles ouviam uma série de palestras e, à noite, ficavam de vigília na esperança de avistar algum disco voador — quase todos os contatados da época compareceram às convenções, incluindo Adamski e Truman Bethurum [Veja artigo nesta edição]. Tassel construiu no local uma máquina de quatro andares em forma de cúpula, batizada de Integratron, capaz de, segundo ele, “rejuvenescer velhos e impedir que os jovens envelheçam”. A engenhoca era coberta por uma armadura eletrostática de 17 m de diâmetro. Tassel, falecido em 1970, desfrutou de uma longa carreira como representante dos homens do espaço — participou de nada menos do que 409 programas de rádio e televisão, proferiu 297 palestras nos Estados Unidos e no Canadá e escreveu cinco livros.
Nave de reconhecimento
Howard Menger, um pintor de cartazes de 34 anos, despontou no cenário ufológico ao aparecer no Tonight Show, de Steve Allen, levado ao ar no outono de 1956. O repórter Jules Saint Germain descreveu a cena na edição de novembro de 1957 da revista Argosy: “A plateia, que inicialmente reagiu com deboche, abafou o riso quando Menger começou a falar. Ao final, suas expressões eram de espanto, perplexidade e vivo interesse pelo tema”. Menger afirmou ter viajado em uma “nave de reconhecimento” e aprendido a usar a telepatia para contatar os alienígenas. Mostraram-lhe, por teleprojeção, uma cidade de Vênus, “muito mais organizada, calma e bela do que as nossas”.
A maior parte dos seres com que se relacionava eram venusianos
, embora Marte e Saturno também fossem habitados. Graças ao rádio e à tevê, Menger virou uma celebridade — centenas de pessoas se aglomeravam em sua casa em Highgate, Nova Jersey. Certo dia a polícia precisou ser chamada para conter e dispersar a multidão. Menger tirou cinco fotos de um vulto escuro parado tal qual uma múmia diante da silhueta de um disco voador praticamente idêntico ao de Adamski. Ele os legendava com os dizeres: “Um venusiano em frente à sua nave de reconhecimento”. Tassel também escreveu o livro Do Espaço para Você [From Outer Space to You], revelando que quando criança visitou a Lua, onde respirou sem dificuldade, e que se apaixonou por Marla, uma jupiteriana reencarnada na Terra.
“Venusianos são angelicais”
O pioneiro ufólogo e ex-militar Donald Keyhoe, da National Investigations Committee On Aerial Phenomena (NICAP), enviou uma carta de refutação a Menger: “Fomos informados que durante suas palestras e em outras ocasiões o senhor declarou que esta comissão apoia suas afirmações e pontos de vista. Certifico-lhe que esta comissão jamais endossou nenhuma das alegações feitas pelo senhor ou por qualquer outro contatado”. Após décadas de ostracismo, Menger reapareceu em 1991 por ocasião do 27º Congresso Ufológico dos Estados Unidos, organizado pelos diretores da revista UFO Magazine, de Miami.
Em sua conferência, reafirmou as velhas fantasias procurando revesti-las de uma aura pretensamente religiosa: “Os venusianos que contatei são seres angelicais. Se eles quisessem aparecer aqui, poderiam fazê-lo em menos de 30 segundos. E eu os vi aparecer e desaparecer diante de mim muitas vezes. Eles me concederam poderes paranormais que duraram duas semanas. Podia até caminhar sobre as águas, eu juro”. Menger também apresentou a maquete de um disco voador comandado por controle remoto que construíra seguindo as indicações de seus amigos venusianos.