Certamente, os leitores já estão familiarizados com a trágica história da seita americana Heaven’s Gate, que numa tradução livre pode ser interpretada como “portal do paraíso”. Marshall Applewhite, seu líder, levou a si e mais 38 seguidores à morte em 1997, em um suicídio coletivo no estado norte-americano da Califórnia. Sem entrar nos detalhes cronológicos da evolução desta seita de fundo ufológico, vamos mostrar alguns fatos e características que irão ilustrar claramente o estudo feito no texto principal desse artigo. Solicito aos leitores que façam as conexões. Vamos aqui analisar o que foi dito por alguns parentes, amigos e pelo próprio Applewhite.
Poderíamos começar por sua irmã, Louise Winant, que declarou textualmente para agências noticiosas na época que “ele [Applewhite] sempre foi um líder nato e muito carismático. Ele podia fazer as pessoas acreditarem em qualquer coisa”. Bebe Kok, ex-seguidora da seita, disse: “Acho que ele era o tipo de pessoa que realmente acreditava e tinha muito carisma. Então outras pessoas o seguiram”. O carisma e o fato de acreditar no que prega ficam claros aqui como instrumento de persuasão. Em 1974, quando Applewhite e sua segunda esposa cortaram todas as relações com suas famílias, ficou claro o processo já em andamento da perigosa mudança de personalidade. Quando foi questionado que tal atitude não era típico dele, o guru respondeu: “Vocês não conhecem meu real eu”.
Reino Celestial — No ano seguinte, ele e sua esposa convenceram um grupo de pessoas a segui-los, descrevendo a si mesmos como “extraterrestres em contato com aliens de um reino celestial”. Note-se aqui a eficácia do poder de convencimento de um indivíduo a caminho ou já em estado patológico. Na década de 90, tendo a nefasta seita passado alguns anos no anonimato, seus líderes se apresentaram. “Em 1975, duas pessoas vieram a público e disseram que eram do reino dos céus… Ela retornou ao reino celestial [Faleceu] e me deixou com a responsabilidade dessa tarefa”, disse Applewhite, referindo-se a ele e sua segunda esposa, também guru da seita.
É notório o enfoque dado na declaração, de que ele tinha a responsabilidade de ajudar terceiros, conforme sua visão de mundo. “Não podíamos levar esses estudantes a menos que estivessem prontos a largar seus comportamentos que não estivessem em acordo com o reino dos céus, como sexo, bebida, fumo, drogas”, disse o suicida noutra oportunidade, direcionando o comportamento de seus seguidores para mantê-los, de alguma forma, sob seu controle. “Quando Jesus foi enviado do reino dos céus, foi enviado pelo mesmo objetivo que o meu”, completou, deixando clara sua tentativa de traçar um paralelo com alguém que já é reconhecido por muitos como realmente especial, procurando dar credibilidade às suas afirmações. Propositalmente, deixamos por último a seguinte citação por uma razão especial. “O fim dos tempos está próximo. Não quero parecer um profeta, mas minhas entranhas e tudo mais que eu sei indicam que vá acontecer antes da virada do século. Começamos procurando escritos e tudo que nos caía nas mãos para abrir nossas mentes, mas percebemos que toda essa procura era superficial”.
Este trecho das declarações de Applewhite é consistente com o que foi tratado no artigo, que a profusão de informações mal trabalhadas e, talvez, até intencionalmente distorcidas pode ser um arsenal para a criação de mentes deformadas, se já tiverem uma propensão para tal. Cabe aqui um alerta àqueles que lêem tudo sem senso crítico ou conhecimento de causa para analisar os fatos, e também àqueles que entulham os meios de comunicação com falsas informações, ainda que nem sempre com más intenções.
Alerta — E para espanto de quem ainda não sabe, o site da seita Heaven’s Gate continua no ar na Internet [http://www.heavensgatetoo.com], ainda que desatualizado, incluindo uma página onde a possibilidade de eventual suicídio não é recomendada, porém não descartada definitivamente. Nela se faz, inclusive, alusões a passagens bíblicas para justificar tal atitude. Precisa dizer mais? Sim, é preciso se dizer mais alguma coisa: é preferível errar por eventual incapacidade a errar por omissão. Faça você também sua parte no processo de conscientização e alerta contra as seitas, não só no contexto ufológico mas também nos demais, onde tais situações possam acontecer.