Já é tradição os agroglifos se manifestarem todos os anos no Oeste Catarinense, como vem ocorrendo desde 2008, quando as duas primeiras formações surgiram na cidade de Ipuaçu, a 520 km de Florianópolis, no início de novembro. Na ocasião, os locais escolhidos foram as lavouras dos agricultores Inézio Trentin e Nilson Biazzotto, que receberam enormes círculos com anéis ao redor, somando mais de 25 m de diâmetro cada [Veja edição UFO 149, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. De lá pra cá, sem que haja uma só falha, o fenômeno vem se repetindo de forma constante e crescente — e inexplicavelmente sempre na mesma região e na mesma época.
Não foi diferente em 2012, mas, desta vez, a primeira figura surgiu com pelo menos duas semanas de antecedência com relação à data em que normalmente ocorre o fenômeno, que vai da última semana de outubro à segunda de novembro. Nesta meia década de manifestação dos agroglifos no Brasil — exclusivamente no oeste de Santa Catarina —, cerca de 30 formações foram registradas, surgindo a cada ano com formatos mais complexos e arrojados, e também crescendo em tamanho. Dos “simplórios” círculos nas fazendas de Trentin e Biazzotto, passaram a formações variadas e com inúmeros elementos, como ocorreu logo no ano seguinte, 2009, com um conjunto de triângulos e círculos encontrado em 30 de outubro na propriedade de Ângelo Aléssio, também em Ipuaçu [UFO 161].
A primeira formação deste ano foi registrada na manhã de sábado, 13 de outubro, por moradores da área rural de Ipuaçu. Era uma figura belíssima e exótica que apareceu em uma plantação de trigo de uma propriedade na entrada da pequena cidade, ao lado da rodovia de acesso e a não mais do que um quilômetro do centro do município. Mas o espantoso agroglifo teve vida curta, pois a dona das terras onde surgiu, a senhora Liana Faccio, irritada com o assédio de curiosos e da imprensa, colheu sua lavoura menos de uma semana depois da descoberta da figura.
Afirmações ignorantes
Durante este período, ela chegou a proibir a entrada até mesmo dos vizinhos em sua fazenda — nem o prefeito Denilso Casal conseguiu convencê-la a permitir que a imprensa e pesquisadores registrassem devidamente a formação. Liana até registrou boletim de ocorrência na delegacia municipal e declarou que, para ela, “o que danificou o trigo não tem nada de extraterrestre, mas é algo causado por gente daqui mesmo, de quem vou buscar indenização”. A senhora até contratou um vigia para evitar que curiosos aumentassem ainda mais os danos à sua lavoura. Seu nome é Vilson Cunico, que, sem conhecer nada do assunto, apoiou sua patroa na desqualificação do fenômeno. “Não tem grande coisa não. É só trigo amassado”, disse sem fazer ideia, assim como Liana, do significado do tema. Igualmente, chamados para investigar o mistério, o delegado da vizinha Abelardo Luz, João Luiz Miotto, e o investigador Renan Gatti estiveram no local. “É uma brincadeira de mau gosto”, afirmou Miotto. “É coisa de desocupados”, completou Gatti. Nenhum dos dois poderia estar mais equivocado.
O delegado Miotto ainda afirmou que os responsáveis pelo estrago à lavoura de Liana Faccio seriam identificados e punidos, o que até agora evidentemente não ocorreu — e nem irá, como nos anos anteriores, pois nunca foram encontrados responsáveis e os agroglifos permaneceram sem explicação. O princípio aqui é elementar: para haver uma fraude, como se está alegando ter ocorrido neste e nos anos anteriores, são necessárias duas coisas, um fraudador e uma motivação. Mas, desde 2008, nem uma coisa nem outra surgiu para corroborar as alegações de farsa, que, assim, continuam infundadas.
Ignorando seu tamanho e complexidade, João Luiz Miotto e mais alguns curiosos que tiveram contato com o agroglifo deste ano em Ipuaçu chegaram a emitir uma opinião absurda e despropositada, como se verá a seguir com a descrição da formação: “Provavelmente, o amassamento na plantação foi feito com corda e tábuas”. As manifestações dos policiais são um disparate em sua origem, porque eles afirmaram de antemão terem uma explicação para o mistério antes mesmo de procederem a uma investigação policial, razão pela qual foram chamados ao local. Também desconhecem e não buscaram se informar sobre o fato de que os agroglifos vêm sendo examinados por especialistas há décadas e que suas características, identificadas em muitas partes do planeta, se confirmam exaustivamente em Ipuaçu.
Mau jornalismo catarinense
A desinformada versão de que o agroglifo da propriedade de Liana Faccio teria sido feito com paus e cordas também foi a que se apresentou desastrosamente na edição de 16 de outubro do único jornal de grande circulação a tratar do caso, o Diário Catarinense, de Florianópolis — além dele, somente alguns poucos jornais locais e sites de acesso restrito trataram do assunto. O Diário fez uma cobertura simplesmente lamentável e deu um exemplo acabado de mau jornalismo. Sem permissão para fotografar a formação mais de perto, os repórteres se limitaram a republicar fotos fornecidas originalmente por Marcelo Franzosi, morador de Ipuaçu e pesquisador que acompanha o fenômeno e que também informou os fatos à Revista UFO.
O texto do Diário, que também pretendia sepultar o agroglifo de Ipuaçu como uma simples fraude, é um desserviço à pesquisa de um fenômeno tão cientificamente desafiador e interessante. Intitulado Círculos em Plantação no Oeste de Santa Catarina Viram Caso de Polícia, o artigo contou mais uma vez com o inusitado auxílio de céticos de plantão — que, como nos anos anteriores, novamente demonstraram não conhecer os fatos e nem ter interesse de ir a Ipuaçu averiguar o agroglifo in locu, como manda a boa prática científica. Este é o caso particular do presidente do Grupo de Estudos de Astronomia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Adolfo Stotz Neto, que disse que os agroglifos “são pura brincadeira, como ocorreu desde a década de 70 na Europa”. Não, ele não saiu de sua sala para ir a Ipuaçu antes de emitir sua opinião.
Figuras mais complexas
Desconhecendo completamente a natureza e as ca
racterísticas do fenômeno, tanto aqui como no exterior, e ignorando que o mesmo vem sendo estudado há décadas por ufólogos, cientistas, técnicos em várias áreas e até militares, Stotz Neto é o mesmo que, em anos anteriores, desqualificando os moradores de seu próprio estado, disse que “os agroglifos são coisa de brincalhões”. Definindo como vandalismo a formação deste ano, o astrônomo dá ainda mais demonstrações de sua ausência de conhecimento do assunto quando diz que as figuras só ocorrem nos finais de semana ou em feriados. Ora, em anos anteriores, desde 2008, as formações foram encontradas nos mais diversos dias da semana, como na quinta-feira, 30 de outubro de 2009, em Ipuaçu [UFO 161], ou na sexta-feira, 04 de novembro de 2011, em Ouro Verde, como publicou a Revista UFO em variados artigos [UFO 185].
Por sua vez, a proprietária Liana Faccio, em vez de gastar sua energia buscando respostas para a colossal figura que surgiu em sua propriedade, passou a única semana em que o agroglifo esteve visível, antes de a plantação ser colhida, apenas tentando evitar que curiosos aumentassem o estrago em sua lavoura de trigo. Ela ignorou, como também o fez o astrônomo da UFSC, que o fenômeno vem se repetindo ano após ano no município, cada vez apresentando figuras mais complexas — a de 2012 é a recordista neste aspecto, como se verá a seguir. “Vou cobrar tudo o que eu tiver direito dos vândalos que destruíram minha lavoura”, disse ao Diário, que nem sequer consultou um estudioso do fenômeno ao publicar matéria a respeito.
Proibidos de entrar na propriedade, e depois com a colheita do trigo, infelizmente os pesquisadores muito pouco puderam averiguar e descobrir sobre este novo caso em Santa Catarina. E apesar de mobilizados, os ufólogos não conseguiram fretar um avião para fazer fotografias aéreas, essenciais nesta situação. Restam apenas as poucas imagens produzidas por Franzosi e as medições do agroglifo realizadas pelo repórter da Rede Princesa Ivo Hugo Dohl, que em anos anteriores também fez investigações das formações. “O caso que temos agora, no entanto, é imensamente mais interessante. Pena que não pudemos analisá-lo direito”, lamenta Dohl. Ele, que acompanha o fenômeno desde seu surgimento, também fica indignado com as manifestações céticas de pessoas que não conhecem os fatos.
O pouco que se apurou sobre a nova formação é que apresenta tamanho significantemente maior do que os agroglifos dos anos anteriores. A figura que se encontrou na plantação de Liana Faccio era um conjunto geométrico em formato de halter. Mas, apesar de surgir à margem da rodovia de acesso à cidade, a não mais do que 200 m dela, da estrada era impossível ver a formação, pois estava localizada a uma depressão ao longo de um aclive. O agroglifo era composto por dois conjuntos ligados entre si por um “corredor” de cerca de 10 m de comprimento por 2 m de largura, onde as plantas estavam amassadas linearmente.
Sentido horário e anti-horário
Em uma extremidade da figura estava um conjunto constituído por um círculo de cerca de 40 m de diâmetro com as plantas dobradas em sentido horário, em volta do qual, dele separados por cerca de 2 m de plantas intactas, havia nada menos do que 30 círculos menores dispostos como satélites, com as plantas em seu interior dobradas alternadamente em sentido horário e anti-horário [Veja imagem]. Este primeiro conjunto se ligava por meio do citado corredor a outro de dois anéis concêntricos ao redor de um novo círculo, menor do que o anterior, com cerca de 3 m de diâmetro. Afastado dele cerca de 2 m estava o primeiro anel, com 9 m de diâmetro. E afastado deste por outros 2 m estava o segundo anel, com cerca de 15 m de diâmetro — os anéis tinham uma largura de aproximadamente 1 m de plantas amassadas em seu interior.
Como não foram feitas fotos aéreas da formação, não há um panorama geral da figura, e análises das plantas e do solo também não foram realizadas. Relatos provenientes de moradores de Ipuaçu dão conta de que houve intranquilidade na cidade com a descoberta do agroglifo. Um funcionário da prefeitura local disse ter passado na tarde de sexta-feira, 12 de outubro, perto do local e que nada observou de estranho. Assim, tudo indica que a figura surgiu em algum momento da noite ou da manhã de sábado, 13 de outubro. E mais uma vez um fenômeno se repetiu neste novo agroglifo: a observação de luzes não identificadas na noite que antecedeu sua descoberta. Desta vez, um pescador do município, que não quer ser identificado, relatou ter visto uma estranha luminosidade na noite de sexta-feira para sábado, justamente sobre o local, o que é um padrão nestes casos.
Com o primeiro agroglifo de 2012 descoberto, os ufólogos ligados à Revista UFO — a única publicação brasileira a acompanhar o fenômeno desde seu surgimento, cinco anos atrás — ficaram em estado de alerta, pois, por seu tamanho e formato, que mostrava uma escalada do fenômeno com relação aos anos anteriores, parecia evidente que a presente temporada seria intensa. No entanto, até o fechamento desta edição, em 02 de novembro, nenhum outro caso chegou ao conhecimento deste autor.
Ainda sem explicações
Como já foi dito, o fenômeno vem se registrando no Brasil apenas desde 2008, apesar de ter surgido no planeta — a princípio concentrado na Inglaterra — há mais de três décadas e ter se espalhado por dezenas de países, geralmente do Hemisfério Norte. Hoje já são contabilizadas mais de 12 formações autênticas em todo o globo, e somente algumas dúzias foram encontradas no Brasil — aqui as figuras se repetem a cada ano sempre durante o período de duas a três semanas entre o final de outubro e o começo de novembro, sem que se saiba por quê.
Igualmente curioso é o fato de que o mistério tem endereço fixo para surgir, o Oeste Catarinense, precisamente a cidade e o entorno de Ipuaçu. Simplesmente, todos os agroglifos já registrados no país estão em plantações de trigo e triticale — uma variedade mais rústica do primeiro cereal — da cidade e de municípios situados no máximo a 40 km dela, medida que é geograficamente desprezível, deixando claro que sua manifestação tem a ver com algo existente justamente naquela localidade. Em nenhum outro local do Brasil o fenômeno foi registrado até hoje.
Apesar das infundadas manifestações em contrário, como a do citado astrô
nomo, o que se tem como certo é que tais formações são manifestações de inteligências superiores e não são produzidas por amassamento mecânico das plantas. O que parece haver nestes casos é um trabalho meticuloso e preciso de dobra dos caules das plantas a poucos centímetros do solo, aparentemente com o uso de alguma forma de energia desconhecida. As formações contêm uma evidente mensagem que precisa ser decifrada, tarefa a que se dedicam milhares de circólogos em todo o planeta. A figura que se encontrou em Ipuaçu em 13 de outubro é uma obra verdadeiramente caprichosa de autores desconhecidos, evidentemente não terrenos.
Até quando irá o preconceito e ignorância quanto ao fenômeno?
por A. J. Gevaerd
Nota-se uma série de situações desastrosas que se repetem há cinco anos do mesmo jeito, desde que os agroglifos de Santa Catarina começaram a surgir, em 2008. O primeiro deles está ora no desinteresse, ora nos equívocos com que a imprensa trata do tema. Por exemplo, o principal jornal do estado, o Diário Catarinense, para falar de um fenômeno que ocorre em uma plantação de trigo, inusitadamente chama um astrônomo, o que é no mínimo uma bizarrice. Já pensou o leitor quando a imprensa tiver que consultar um agricultor para falar sobre galáxias e constelações?
O segundo problema é a própria manifestação do referido astrônomo sobre o assunto. Posando de conhecedor do tema, ele não consegue disfarçar — e nem tenta — sua completa ignorância e preconceito quanto às enigmáticas figuras, a ponto de não se sentir embaraçado ao fazer as mais tolas afirmações sobre o que desconhece. E ainda declara sem qualquer constrangimento que, para emitir suas opiniões, nem sequer foi a Ipuaçu examinar as formações. Estamos falando do astrônomo Adolfo Stotz Neto, presidente do Grupo de Estudos de Astronomia (GEA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Stotz Neto está no centro do terceiro e pior problema relacionado aos agroglifos de Santa Catarina. Mesmo vendo o fenômeno ocorrer há cinco anos consecutivos, e sendo constantemente consultado nesse período para falar à imprensa, ele ainda não se entusiasmou a se dar o trabalho de ir até o local averiguar o que se passa. Mesmo assim, fala alegremente bobagens como “aquilo ali não passa de uma brincadeira dos moradores” ou, pior ainda, “basta uma corda e uma estaca para se produzir os círculos”.
Ele não é o único a se demonstrar ignorante na questão. Praticamente nenhum cientista ou pesquisador de ciências de Santa Catarina tem ou tenta ter qualquer conhecimento sobre este espantoso fenômeno. Isso, por si só, já é um grande absurdo. Como é possível que algo de magnitude ocorra no estado e ninguém do meio científico ou acadêmico se anime a investigar? Mas Stotz Neto é o caso mais flagrante, pois recorrentemente é flagrado condenando o que não conhece. São raros os casos de tão pouco compromisso com a seriedade como o desse senhor.
Ora, se é assim tão fácil explicar os agroglifos como “feitos com paus e cordas”, a grande questão que fica no ar é por que ele e seus colegas, igualmente céticos, não decidem demonstrar a eficácia do que afirmam, usando seus paus e cordas para, diante da imprensa — até mesmo do Diário Catarinense —, mostrar como a população de seu próprio estado está enganando a opinião pública brasileira.