O coronel Antonio Celente Videira, da Reserva da Aeronáutica, professor da Escola Superior de Guerra e consultor da Revista UFO, traçou nas edições 155 e 156 um quadro perfeito do olhar estratégico dos militares e das circunstâncias históricas que levaram à criação do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), o órgão oficial e confidencial da Força Aérea Brasileira (FAB) para pesquisar a manifestação ufológica no país. Mostrou ainda seu modus operandi, objetivos e resultados, descritos nos boletins 1 e 2 da entidade, que circularam restritamente no meio através de vazamentos, desde os anos 80, e que foram agora liberados oficialmente através da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já [Veja edição UFO Documento 01].
Disse Celente no início de sua matéria, com toda a razão, que o órgão, criado na década de 60 e que teve suas atividades estendidas até 1972, representou uma das maiores redes humanas de detecção, pesquisa e investigação do Fenômeno UFO. Ao final do texto, citou a necessidade de a Aeronáutica recriar novo projeto oficial em moldes semelhantes, cuja estrutura funcional encaixava-se, já naquele tempo, nos mais modernos conceitos de inteligência estratégica. Com o auxílio dos membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), usando a complexa malha de informação proporcionada pelo Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV) – que produz a UFO – e entidades ufológicas coligadas, a nova versão do Sioani se tornaria ainda mais poderosa, obtendo, estudando e distribuindo para o mundo, em tempo real, informações confiáveis sobre a ação de seres extraterrestres no Brasil. Seria algo incomparável no mundo globalizado.
Foi exatamente este um dos objetivos da CBU quando deu início à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, exposto no Manifesto da Ufologia Brasileira, entregue ao brigadeiro Telles Ribeiro, comandante do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cercomsaer), em 20 de maio de 2005. Ao reforçar tal objetivo, a única coisa que lamentava o professor Celente era o fato desta vitoriosa campanha ainda não ter conseguido abrir todos os arquivos do Governo, principalmente os mais específicos do Sioani, pois não se sabia onde eles se encontravam. O aparecimento das pastas que originaram seu boletim número 2 certamente daria consistência integral às suas palavras.
Antes tarde do nunca
Coincidência ou não, o que Celente não sabia, ao escrever seu texto, é que logo em seguida começariam as negociações que possibilitaram, no final de julho de 2009, o aparecimento e entrega à CBU de boa parte dessa documentação original e comprobatória a que se referia, permitindo que se fizesse, agora, um raio-X dos procedimentos de levantamento e catalogação das pesquisas empreendidas pelo Sioani.
A cessão dos novos documentos foi proporcionada pelo ufólogo paulista Edison Boaventura Júnior, presidente do Grupo Ufológico do Guarujá (GUG) e antigo colaborador da Revista UFO, e já que vinha sendo ensaiada antes do III Fórum Mundial de Ufologia, ocorrido entre 11 e 14 de junho passado. Com a conclusão das negociações, durante o evento, os resultados apareceram um mês depois, com o envio à CBU e à Coordenadoria Regional do Arquivo Nacional, no Distrito Federal, de mais de 1.300 páginas de documentos referentes às atividades do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani). O montante dos arquivos copiados num CD era muito mais do dobro do que o Governo disponibilizara até então sobre todas as suas atividades ufológicas oficiais – e não apenas do Sioani –, cerca de 1.200 páginas.
Este ato era esperado por duas razões simples. A primeira é que, se papéis tão importantes foram entregues por militares a um ufólogo, é porque achavam que com ele estariam mais seguros do que na própria corporação – além do que, com uma pessoa da área, tais documentos um dia deveriam ser tornados públicos. A segunda razão é que, se até então os originais do Sioani não eram conhecidos da Comunidade Ufológica Brasileira – o que já deveria ter ocorrido há muito tempo –, do atual momento não poderia passar. Uma vez que com a campanha empreendida pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) abrira três grandes lotes de informação sigilosa, inclusive com o reconhecimento da existência do Sioani ainda em outubro de 2008, não faria o menor sentido Boaventura continuar segurando tal material. Ademais, à medida que outros papéis do Governo vão parar no Arquivo Nacional, procedimento que tende a continuar, qualquer ato de retardo na divulgação de material governamental militar sob posse de ufólogos civis, por qualquer que fosse o interesse, deporia diretamente contra o seu praticante – no caso, o próprio GUG e seu presidente. Em conseqüência, também o meio ufológico como um todo sofreria seus reveses.
Recônditos da administração pública
De qualquer forma, ainda que tardiamente, Boaventura tomou a decisão correta. Agora, com os papéis do Sioani tornados públicos, pudemos novamente confirmar o que já se sabia, ou seja, que o grau de importância e de seriedade que a Ufologia despertou na Aeronáutica durante anos é um fato incontestável. E se tal interesse não teve sua ação na prática prolongada até os dias atuais, como já se suspeitava, isso se deu por várias razões que vão da falta de efetivo humano à disponibilidade de verbas ou à mudança de prioridades da FAB. Entretanto, nenhuma das razões sequer toca na diminuição das ações de seres alienígenas e seus meios de transporte em Território Brasileiro, como a própria Aeronáutica constataria anos depois do encerramento do Sioani. A Operação Prato e seus documentos disponibilizados no Arquivo Nacional configuraram a prova mais cabal desta assertiva.
A Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), assim como parcela significativa da comunidade ufológica, sempre soube deste interesse militar, e como fruto dele, que muitos documentos comprovando tais fatos existiam, inclusive outros tantos que ainda estão inacessíveis em recônditos da administração pública, ou nas mãos de cidadãos. Negar esses eventos, como fazem alguns setores minoritários do seguimento ufológico brasileiro – que se dizem céticos quanto à fenomenologia baseando-se em frágil
argumentação –, é o mesmo que negar a existência dos papéis, que inclusive entraram como destaque nas páginas eletrônicas do Arquivo Nacional. Com a nova documentação do Sioani, o acervo total, composto de documentos da FAB e mais o que os ufólogos levantaram por vias não oficiais desde o início da campanha liderada pela CBU, chega hoje perto de 4.000 páginas. E se a quantidade já é suficiente para colocar a Ufologia Brasileira entre as mais ricas em detalhes levantados pelo Governo, a qualidade dos documentos faz do Brasil um líder absoluto no assunto. Não existe hoje em qualquer parte do mundo, catalogado nos arquivos públicos e nas mãos dos ufólogos, provas tão consistentes levantadas por militares sobre a visita de seres extraterrestres a um único país.
Essas estatísticas, encabeçadas inicialmente por documentos da Operação Prato, e agora também pelos levantamentos do Sioani, mostram que além dos dois outros principais carros-chefes da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, a Noite Oficial dos UFOs no Brasil, e o Caso Varginha, vários acontecimentos investigados pela Aeronáutica no final da década de 60 merecem o mesmo tratamento. Alguns deles discutiremos mais detidamente a frente. Entretanto, algumas especificidades dos novos documentos enviados ao Arquivo Nacional merecem ser ressaltadas. O pacote é composto por exatas 1.310 páginas de documentos inéditos do Sioani, além de 28 croquis coloridos e 64 fotos produzidas pela Aeronáutica nos anos 60. Também o compõem 137 páginas de dossiês coloridos com três croquis, tudo material oficial. Boa parte das páginas entregues à CBU são formulários de pesquisa de casos ufológicos pelos militares, numerados até 099, que se estima serem apenas parte do total coletado e avaliado pelo Sioani.
O primeiro detalhe que nos chama a atenção, ao vistoriarmos os documentos entregues por Boaventura, é a ausência de vários casos pesquisados na seqüência ordinária. Na numeração que vai de 001 a 099, faltam 34 casos, de cinco só temos os croquis e apenas um com o desenho de um suposto ufonauta. Há também sete casos sem numeração, cujas pesquisas foram executadas por Núcleos de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados, chamados de Nioani pelo órgão [Veja edição UFO 156]. Apesar da lacuna, Boaventura garante que todo o acervo que possuía sobre o Sioani foi disponibilizado. Com quem estariam então os casos faltantes? O próprio ufólogo arrisca um palpite: se não está com o Comando da Aeronáutica (COMAR), poderia estar com uma terceira pessoa, “um ufólogo do Paraná não identificado”, para quem um militar do Sioani cedera a outra parte do material, da mesma forma como o fizera ao presidente do Grupo Ufológico do Guarujá (GUG).
Fatos desconhecidos
Aliado a esse detalhe da ausência de algumas informações, nota-se que, enquanto alguns casos investigados são cópias em preto e branco semelhantes aos arquivos enviados pelo COMAR ao Arquivo Nacional em 2008 e 2009, outros são cópias tiradas diretamente dos originais, totalmente coloridas. Nestas últimas estão informações até então desconhecidas da Comunidade Ufológica Brasileira, que nem em significativos vazamentos apareceram no passado, como fotografias de testemunhas ao lado de investigadores, de locais de pouso de UFOs e seus efeitos na vegetação, croquis feitos em aquarela colorida de naves de vários formatos, a maioria discóide, artisticamente elaborados pelos próprios investigadores oficiais com base nos depoimentos. Um material como nunca se vira antes, nem no Brasil, nem cunhado por militares em qualquer outro país.
A primeira conclusão que se tira é a de que alguns dos originais continuariam arquivados no GUG, levantando uma questão de ordem legal sobre o direito de posse e guarda dos mesmos, uma vez que foram gerados por instituições governamentais e não foram por elas, de forma oficial, transferidos à instituição paulista. Conforme nos informou a coordenadora do Arquivo Nacional, Vivien Ichaq, no entanto, esta situação não é incomum. Vários outros casos se encaixam no mesmo problema, ou seja, muitos civis têm posse de material oficial, de forma não esclarecida. Por esta razão, o Governo estuda o lançamento de uma campanha para estimular os cidadãos que possuam documentos de valor histórico produzidos pelo Estado a devolvê-los ao Arquivo Nacional.
Não obstante a questão legal, outra conclusão lógica deste fato é a de que, estando várias partes de documentos originais nas mãos de pesquisadores civis não ligados à Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), pode-se explicar o porquê de a Aeronáutica não ter enviado imediatamente ao Arquivo Nacional todas as informações classificadas num dos graus de sigilo, conforme pede ao Governo o Dossiê UFO Brasil [Veja edições UFO 148, 150 e 151]. O Comando da Aeronáutica simplesmente não poderia enviar cópias de material que não possui. Desta forma, encontramos mais um problema na identificação de onde realmente estão originais e cópias pertencentes à história da Ufologia Brasileira.
Os casos ufológicos do Sioani
Novamente reportando-nos à matéria do coronel Antonio Celente, nela pudemos ter uma idéia bem próxima de como funcionava o complexo aparato para levantamento de dados do Sioani, e como se deu a primeira triagem dos casos mais significativos para efeito de estudo, os quais fatalmente deveriam constar no segundo boletim do órgão, editado em agosto de 1969, e outros mais, caso o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani) prolongasse suas atividades até o final da década de 70. Ficamos a imaginar como teria sido a Operação Prato se o Sioani entrasse desde o início com todo seu aparato investigativo. Certamente ela não teria seus procedimentos suspensos prematuramente. E do ponto de vista da divulgação oficial dos fatos, os resultados seriam muito mais significativos.
É bom lembrar, com as próprias palavras impressas no boletim número 2 do órgão, que só o fato de a Aeronáutica ter tomado para si a responsabilidade das pesquisas ufológicas, assumindo a frente neste tipo de investigação e de divulgação, já afastava os “farsantes e aventureiros”, atraindo pessoas “altamente categorizadas”, o que evidentemente contribuiu para que os resultados das pesquisas se revestissem da mais alta credibilidade
pelo público e, evidentemente, pela ciência. Mas como isso não ocorreu, hoje, 95% do efetivo daquela arma sequer sabe que o Sioani existiu, muito menos têm idéia dos resultados da Operação Prato.
Voltando à questão das provas, como dissemos, apenas o boletim número 2 do órgão, uma espécie de relatório resumido contendo os casos mais importantes pesquisados pelos militares desde seu surgimento, não conseguiria narrar com riqueza de detalhes o que só os documentos que deram origem a ele poderiam fazê-lo. Quanto mais significativo era o episódio ufológico, mais as respostas às perguntas se tornavam ricas, impondo-se a necessidade de outro relatório com observação psiquiátrica da testemunha, chamada de Xioani pela instituição [Veja edição UFO 156]. Em alguns casos, a soma de documentos resultantes dos questionários e das observações psiquiátricas chegaram a mais de 30 páginas, como se vê na documentação entregue por Boaventura.
Ainda assim, a significância desses casos não se deve só aos importantes detalhes expostos por cada quesito dos relatórios de investigação. O grau de importância de cada caso é creditado também à presença de informações contidas em fotos dos locais de avistamento, dos croquis descritivos dos objetos observados e principalmente da sinceridade das testemunhas, checadas com grande esmero pelos pesquisadores militares. Tais minuciosos relatos deixam absolutamente claro que as testemunhas tiveram contatos com discos voadores e seus tripulantes, cujas tecnologias apresentadas não podem ter suas origens sequer comparadas com os padrões conhecidos pela ciência atual, muito menos aqueles da época de suas ocorrências. E olhe que os testemunhos foram tomados, às vezes, de várias pessoas por oficiais graduados da Força Aérea Brasileira (FAB), com a participação de entidades públicas municipais, da imprensa e até de ufólogos civis ligados ao Sioani.
Hipótese extraterrestre
Portanto, até que surja outra explicação cientificamente aceita, a origem dos fenômenos relatados não pode ser outra senão hipótese extraterrestre (HET). Ao que tudo indica, essa explicação, se sair, sairá da Ufologia, uma vez que até o momento não temos notado movimentos acadêmicos para aceitação e estudo do Fenômeno UFO. Neste sentido, ufólogos que possuírem um mínimo de discernimento lógico e um pouco mais de disposição para pesquisar, seja eletronicamente, através do Portal UFO [ufo.com.br], ou indo diretamente às instalações do Arquivo Nacional, em Brasília, poderão participar efetivamente das conclusões expostas durante anos pelos principais pesquisadores que fizeram a história da Ufologia Brasileira.
Como o lote de documentos aqui tratados representa mais de 1.300 páginas, é impossível entrar detidamente em todos os casos. Contudo, escolhemos alguns que podem ser considerados grandes representantes de nossas afirmações. Um deles recebeu o rótulo de Caso 004, e se deu após contato visual com três estranhas criaturas numa noite de agosto de 1968. A testemunha, um vigia noturno das Centrais Elétricas de São Paulo (CESP), de Bauru, ao fazer sua ronda, notou a presença de duas delas dentro do recinto de controle da estação energética. Dado o aviso aos intrusos para que se afastassem do local, sem que obtivesse respostas, abordou um deles. Conforme sua descrição, “pensou que o ser estava de costas, mas estava de frente, trajava roupas escuras e apresentava apenas os olhos de fora”. O vigia, pasmem os leitores, entrou em luta corporal com o mesmo. Sim, isso consta da documentação original da Aeronáutica.
O estranho ET lutador foi auxiliado pelo outro, que saiu do recinto “passando pela janela”, segundo apuraram os militares do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani). Ambos dominaram rapidamente o vigia, que logo em seguida foi “suspenso e solto várias vezes, para cair no chão”. Notando que não era páreo para aqueles forasteiros, assim que foi abandonado o vigia saiu correndo do local da luta. Mas, antes, levou um tapa nas costas e disse ter ouvido de um deles, “com camisa amarela”, a seguinte frase: “Vá embora seu vagabundo, que nós voltaremos quando esta obra terminar”. A 10 m de distância percebeu que eles entraram numa nave com o “formato de uma Kombi em pé”. O bizarro contato acabou com a visão da porta da nave fechando. Em seguida o veículo alçou vôo e deixou no ar um barulho “semelhante ao de fritura”.
Nave de cor metálica
Igualmente impactante em todo o fantástico acervo do Sioani, finalmente pertencente à Comunidade Ufológica Brasileira, é o Caso 006. O episódio, um dos mais interessantes, foi levantado pessoalmente pelo major-aviador Gilberto Zani de Mello, o segundo homem do órgão, subordinado diretamente ao seu comandante, o major-brigadeiro Vaz da Silva. Zani era piloto experiente, em especial na aviação de caça, além de instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (EAO). Ele contou com o sub-tenente Aragão na análise do episódio, um contato imediato de terceiro grau durante o qual, após o avistamento de uma nave de cor metálica clara, em formato de prato e com cúpula transparente, onde foram registrados dois tripulantes. Conforme descrições, o mesmo objeto parece ter retornado outras vezes a cidade onde o Caso 006 se deu, Lins, no interior de São Paulo.
No episódio ufológico em questão, um dos tripulantes do disco voador, identificado como sendo do sexo feminino, contatou a senhora Maria Cintra, servente do Sanatório Clemente de Ferreira. A nave pairou a 1,5 m de altura do pátio, na madrugada de 25 de agosto de 1968. A distância entre o UFO e a observadora era de cerca de 25 m, e mesmo apenas pairando sobre o chão, o artefato deixou
sua marca no gramado. O relato foi corroborado posteriormente pelo diretor do hospital e sua esposa, que observaram as marcas deixadas pela nave e pela tripulante descrita por dona Maria. A narração do acontecimento foi manuscrita pelo major Zani da seguinte forma: “A testemunha estava dormindo e ouviu um barulho de carro parando. Como tem o sono leve, olhou pela janela do sanatório e viu uma senhora na porta do térreo. Disse-lhe que esperasse que já iria abrir a porta”. Maria Cintra desceu a escada, abriu a porta e perguntou à tripulante: “É internamento?” Como resposta, ouviu uma voz numa língua diferente, que não compreendeu.
Impressionante acontecimento
Então, a tripulante mostrou uma garrafa e a servidora percebeu que ela necessitava de água. “Maria Cintra pegou a garrafa que foi oferecida pela tripulante e caminhou em direção ao bebedouro, enchendo-a. Quando a tripulante recebeu a garrafa cheia, estendeu uma espécie de caneca de vidro, que a funcionária não percebeu de onde saiu”, continuou Zani ao relatar o caso, conforme consta da documentação original. A servente então apertou o pedal do bebedouro, encheu a caneca e ofereceu à estranha mulher, que a empunhou com a mão direita e bebeu o líquido. Em seguida, ambas voltaram em direção à porta, com a tripulante um pouco atrás. De saída, a tripulante, com a garrafa já guardada, agradeceu com a palavra “imbaúra” repetida três vezes, virou-se de costas e andou 20 m. O ser então deu um pulinho e entrou no disco voador. “Foi neste momento que a servente se apavorou e viu uma coisa parecida com o que registra o desenho anexo. Tal coisa clareou quando a tripulante entrou, onde já havia outro ser”, relata Zani em seu relatório, referindo-se a um dos retratos que ilustram este artigo.
O Caso Maria Cintra, como é conhecido pela Comunidade Ufológica Brasileira, é um dos mais extraordinários de que se tem notícia na rica literatura disponível. Porém, os ufólogos só tinham acesso, antes, às pesquisas civis realizadas por vários estudiosos, e nada sabiam sobre as investigações do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), que agora vêm à tona. Apenas hoje podemos saber que o órgão examinou com tantos detalhes tal incidente, a ponto de o major Zani chegar à minúcia de descrever que, “com o clarear daquela coisa, quando a tripulante estava se despedindo da servente, começou novamente o ruído e o artefato começou a elevar-se e a distanciar-se, perdendo em instante sua vista”. Ele registrou que na parte inferior do UFO houve uma intensidade luminosa tão grande que clareou todo o pátio do hospital.
Ao fim do contato, tendo o disco voador já desaparecido, a servente Maria Cintra se afastou andando de costas, apavorada, e daí subiu para o seu quarto, olhou pela janela e ainda viu o artefato distante. Os desenhos e croquis resultantes deste impressionante acontecimento mostram semelhanças com os registros do Caso 013, ocorrido no mesmo local no dia 06 de outubro seguinte, testemunhado pelo interno Leôncio Nunes Viana e estudado pelo mesmo major Zani. Contudo, na análise psiquiátrica deste segundo episódio, o militar atribuiu menor credibilidade ao relato de Viana, por se tratar de um paciente em recuperação naquela casa de saúde – que, por estar enfermo, possivelmente tenha sofrido influência das notícias sobre o contato de dona Maria. Mesmo assim, várias ocorrências foram relatadas aos oficiais da Aeronáutica durante aqueles meses na cidade de Lins, todos dignos de constarem do boletim número 2 da entidade.
Montar vigílias para registrar UFOs
Outro caso ufológico notável pesquisado pelo Sioani é o de número 030, ocorrido em Belo Horizonte (MG). Em 1969, após terminada a ceia de Natal de uma tradicional família católica da cidade, que se reunira a céu aberto no quintal de uma casa, o casal anfitrião já fazia seus preparativos para se recolher quando algo se deu. Por volta das 04h30 começou uma ocorrência de mais de 20 minutos que deixou todos assustados. Dois objetos redondos de intensa luminosidade e do tamanho de bolas de futebol, voando em alta velocidade, chamaram a atenção nos céus. Voavam em linha reta e cruzaram a cidade, em certo momento dividindo-se em V. Um deles tomou a direção do centro industrial e o outro passou a fazer evoluções diante do casal. Este episódio seria mais um dos milhares de avistamentos não comentados de Belo Horizonte, não fosse o fato de as testemunhas gozarem de alta credibilidade na sociedade mineira. O marido, corretor de imóveis e administrador de empresas José Penido de Moraes, membro da Associação Comercial de Minas Gerais, resolveu contar a história em detalhes, o que atraiu a atenção de jornais de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, recebendo especial interesse do Sioani.
Para se ter uma idéia da importância do relato, o episódio foi motivo de troca de correspondências entre o major Zani, o tenente-coronel Aroldo Ribeiro Fraga, então comandante da Base Aérea de Belo Horizonte, e o capitão Antenor Ferrari, na época chefe do Núcleo de Proteção ao Vôo daquela cidade. Esta é mais uma importante ocorrência a qual hoje a Comunidade Ufológica Brasileira tem acesso, embora já pudesse ter conhecimento há cerca de 10 anos, se estes documentos tivessem sido disponibilizados antes.
Esta é a mesma situação do Caso 032, que tem como ponto-alto um alerta repassado pelo tenente J. E. Carvalho Ribeiro, também integrante do Sioani, para o corpo de investigadores do órgão. Depois de uma ocorrência verificada por várias pessoas num campo de futebol da cidade de Lins, novamente Lins, em 14 de março de 1969, o universitário Jairo Goffi remeteu correspondência para o major Zani reconhecendo a validade da idéia do oficial de montar vigílias para registrar os discos voadores que insistiam em aparecer na cidade. Goffi, então um destemido Xioani, como o órgão chamava as testemunhas de episódios ufológicos, parecia dispor de aparato próprio para os pesquisadores da época, além de disposição e acesso livre ao comando do Sioani em São Paulo. Enfim, ele tinha o tipo de apoio da Aeronáutica que muito ufólogo hoje gostaria de dispor.
Pouso de um UFO em plantação
Outro fato digno de nota, que se
pode consultar em detalhes nos documentos agora disponibilizados no Portal UFO [ufo.com.br], é o constante do Caso 036, ocorrido no parque turístico da Serra Negra, interior de São Paulo, que foi palco de um fenômeno ufológico de grandes proporções no dia 12 de outubro de 1969. A ocorrência só foi investigada por causa da persistência do tenente Sérgio Desidério Moisés. O motivo era a testemunha, o português José Augusto de Lima Gonçalves, comerciante formado em administração de empresas, pai de família responsável e totalmente avesso a badalações. Ou seja, o elemento de alta credibilidade típico que os militares procuravam na época. Seu relato se refere a um objeto em formato de disco e com várias antenas nas extremidades, como se vê no desenho que acompanha este artigo, mais uma demonstração da acuidade investigativa dos integrantes do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani).
Por fim, numa relação de eventos que tomaria muitas páginas, apresentamos pelo menos mais alguns com detalhes, como o Caso 037, ocorrido na noite de 15 de fevereiro de 1969, no município de Pirassununga, e o Caso 050, registrado em Ibiúna, em 07 de junho de 1969, ambos no interior de São Paulo, onde o órgão concentrava boa parte de suas atividades. No primeiro episódio, verificado na Fazenda Bela Aliança, seres extraterrestres fizeram uma visita ao proprietário, o senhor Antônio José Fioco. Ele e sua família relataram ao Sioani o pouso de um UFO na plantação da propriedade, com a descida de dois tripulantes que deixaram suas pegadas no solo, uma de sapato tamanho 39 e outra 44, conforme os ufólogos militares apuraram. Sete pessoas da família Fioco foram testemunhas do fenômeno, sendo a nave desenhada em croquis.
O segundo caso, de número 050, também rico em informações, teve como testemunha o senhor Nobutoshi Kaneko, casado e pai de três filhos, que observou durante 40 minutos um disco voador com quatro janelas pousado em suas terras. O artefato, após sua partida, deixou visíveis marcas no solo, inclusive na vegetação, que ficou queimada. Casos de observações com múltiplas testemunhas também abundam nos registros do Sioani, como o que leva o número 068 e se deu com o dono do Alto Posto Andi, em Limeira (SP), senhor Antenor Muniz. Ele narrou a fantástica história de um disco voador visto por dezenas de pessoas, numa situação que só não é mais rica do que duas também pesquisadas pelos militares, que, no entanto, carecem de numeração na documentação agora obtida. Provisoriamente chamado de Caso SN 005, o episódio envolveu uma testemunha que, amedrontada, atirou num UFO e recebeu de volta um raio. E o igualmente provisório Caso SN 007 teve várias pessoas elevadas do solo dentro de uma Kombi por um disco voador com poderes eletromagnéticos.
Da análise das impressionantes 1.310 páginas agora em poder da Comunidade Ufológica Brasileira, tem-se a nítida impressão de que elas não são tudo o que o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani) apurou. Certamente há mais material tão ou mais revelador, porém ainda não disponibilizado. Um observador treinado em Ufologia, que observe os croquis, mapas, desenhos coloridos, fichas preenchidas e toda a parafernália produzida pelos militares brasileiros nas décadas de 60 e 70, fica com a impressão de que se trata de um excepcional trabalho de investigação ufológica, como realizam diariamente tantos ufólogos civis. A grande diferença, no entanto, é de que toda esta documentação – e muito mais ainda por aparecer – não foi produzida por meticulosos pesquisadores, mas por ufólogos militares, fardados e no cumprimento de um dever para o qual foram destacados e estavam sendo pagos. Isso sim é algo que não se vê em lugar algum do mundo.