A Ufologia norte-americana, uma das pioneiras e mais aprimoradas do planeta, já estava claudicando. Talvez pelo desgaste das últimas e bizantinas discussões sobre assuntos como os polêmicos contatos de Ed Walter próximos à baía de Pensacola, na Flórida, onde naves extraterrestres com formato de sino se deixam fotografar continua e curiosamente – com exclusividade até – por suas câmeras Polaróide. Ou ainda, assuntos relacionados a um outro \’Ed\’ polêmico, como o controvertido Eduard Meier, personagem central de debates infindáveis, especialmente no que diz respeito às diáfanas fotos que este fazendeiro suíço tirou de naves das Plêiades, como ele mesmo alega.
Até os mais arrogantes céticos parecem entediar-se com tais mediocridades. Em meio a esse estado de coisas, fazia falta à Ufologia norte-americana – sem dúvidas – algum elemento novo que despertasse os adormecidos investigadores do momento. Pois foi no decorrer do 18° Simpósio Anual da Mutual UFO Network (MUFON), em junho de 1987, na cidade de Washington, que comemorava o quadragésimo aniversário do avista mento de Kenneth Arnold, que estes ufólogos perderam o sono. Durante o evento, foram mostrados pela primeira vez ao público alguns documentos que se tornariam fonte de polêmica até hoje. Tratava-se de um pacote contendo um memorando datado de 18 de novembro de 1952, que o almirante Roscoe H. Hillenkoetter dirigiu ao recém-eleito presidente dos EUA, Dwight Eisenhower, informando-o sobre a existência de um programa ultra-secreto de investigação, denominado Majestic-12.
O memorando – um exemplo de peça importante dentro da burocracia norte-americana – era um documento simplesmente bombástico, e também arrepiador. E não só porque era dirigido a Eisenhower, mas também porque era assinado por um almirante da elite militar num país que prima pelo rigor com que trata seus oficiais. Hillenkoetter foi um dos mais importantes homens que já viveu naquele país, uma autoridade exemplar e que sabia das coisas. E o programa ultra-secreto a que o memorando se referia também é algo impensável para simples mortais. Conduzido por doze cientistas e militares que investigavam os restos UFOs acidentados e encontrados em território norte-americano em 1947 (em Roswell, Novo México) e 1950 (no Texas), o Majestic-12 (também conhecido Majic-12 ou MJ-12) seria uma revelação que mudaria o rumo da Ufologia. Os objetos acidentados, como se sabe, foram transladados para as instalações militares de White Sands e Sandia, respectivamente, e seus ocupantes – mortos ou vivos – são a chave da questão.
O documento de Hillenkoetter foi classificado como Eyes Only, o que significa que é para ser visto apenas (jamais copiado), e somente por quem o recebe em mãos. Eyes Only é, de fato, o nível mais elevado de confidencialidade para um memorando ou outros tipos de documentos secretos, acima até tio Top Secret. Pois, estranhamente, uma cópia aparentemente legítima do documento foi recebida em 11 de dezembro de 1984 por Jaime Shandera, um ufófilo e produtor cinematográfico de Hollywood. A cópia apresentava-se em forma de carretel fotográfico com oito exposições, as oito páginas do documento, e dentro de um invólucro remetido anonimamente. Shandera revelou o carretei e imediatamente enviou as fotos aos seus associados, Stanton T. Friedman e William (Bill) Moore, ambos personalidades reputadas e reconhecidas da Ufologia norte-americana e mundial.
“Em sua essência”, segundo Bill, “o documento informava que 1947 era considerado pelo governo como sendo o princípio de uma onda de avistamentos de UFOs e que basicamente nada se sabia sobre estes objetos até que um deles caiu em uma remota área do Novo México, a uns 120 km a sudeste de Roswell”. Como se sabe hoje, neste ponto, em 7 de julho de 1947, uma operação secreta foi posta em marcha para assegurar a recuperação dos restos deste objeto para estudo científico. “Mas o que mais chama a atenção, no documento, é a menção de que 4 pequenos cadáveres de alienígenas, ocupantes das naves, foram descobertos como resultado desta mobilização…”(1), concluiu o ufólogo, que junto a Friedman e figura absolutamente indispensável nas dezenas de congressos e conclaves ufológicos que se realizam nos EUA a cada ano.
Mas quem são os protagonistas deste fantástico memorando? O documento foi tornado público em sua totalidade por Bill Moore em maio de 1987, e ele próprio admitia que o memorando era um respaldo documental impressionante para a obra que, em 1980, ele próprio publicou junto com Charles Berlitz, The Roswell Incident (2), no qual eram narrados quase todos os fatos que envolveram o UFO acidentado em 1947, no Novo México (dissemos \’quase\’ porque, ao que parece, Moore tinha a intenção de publicar em 1983 uma segunda parte do livro, que se intitularia The Roswell Evidence, onde seria levado a público o resto de sua documentação sobre o caso. Mas Moore jamais chegou a publicá-lo). Igualmente, por conta do surgimento deste fantástico documento, finalmente as indagações de investigadores como Leonard Stringfield se viram confirmadas: os EUA de fato possuíam, em instalações militares secretíssimas, os restos de naves e cadáveres extraterrestres [Editor a publicação precursora de UFO, Ufologia Nacional & Internacional, também do CBPDV, publicou vários artigos com relatórios das investigações de Stringfield, especialmente nas edições 6, 7 e 8, todas já esgotadas).
Além disso, a aparição da notícia beneficiou enormemente o lançamento da obra Above Top Secret, de Timothy Good, que através do dominical londrino The Observer e do periódico norte-americano The New York Times – com base nos documentos MJ-12 lançou nos primeiros dias de junho de 1987 a notícia de que cadáveres de extraterrestres foram recuperados há quarenta anos em território norte-americano. Na Espanha, até a revista Interviu fez eco do assunto (3). Curiosamente, embora os documentos que Good divulgou fossem exatamente os mesmos que Moore descobriu, foi Good quem conseguiu ocupar as primeiras páginas de quase todos os periódicos do mundo. O ufólogo britânico [Editor: os leitores podem conferir seu estilo lendo vasto artigo de sua autoria publicado em UFO 22] se negou a identificar quem lhe proporcionou o memorando – e Moore e seus associados (Shandera e Friedman) também negaram categoricamente que teriam sido a fonte do escritor britânico. Apenas recentemente, na introdução da última obra que lançou, The UFO Report, Good veio a identificar sua fonte como sendo
a própria CIA. Com que interesses? Como vemos, a questão iniciada em 1987, em Washington, ainda rende muita polêmica.
Mas foi de fato a CIA que forneceu o memorando a Good? E teria sido a CIA que forneceu o mesmo documento ao trio Shandera, Friedman e Moore? Por que não? Aqueles documentos, recebidos por Moore a menos de um mês antes da celebração do aludido Congresso Anual da MUFON, uma das organizações ufológicas mais prestigiadas e reconhecidas do mundo, fez com que o resto do evento simplesmente perdesse qualquer importância. E um evento sobre UFOs em Washington, convergindo à atenção da imprensa, não poderia ser melhor para se divulgar informação de tal nível. Mesmo assim, ainda nos perguntamos: por quê? Com que interesses a CIA faria isso? Nós veremos a resposta no decorrer deste artigo. E evidente, no entanto, que a aceitação do documento não seria imediata e nem tampouco unânime: imediatamente após a conferência de Bill Moore, os ufólogos espanhóis Enrique de Vicente e Vicente Juan Ballester-Olmos advogaram a possibilidade de fraude.
Ballester-Olmos, um dos maiores pioneiros da Ufologia européia e mundial, autor experiente de vários livros e homem respeitado em muitos círculos, presenciou em Washington o desenvolvimento dos fatos, declarando em seu regresso à Espanha: “Há numerosos pontos obscuros no tema; o rocambolesco envio do informe a Shandera, a origem do mesmo e de outros relacionados com ele… Algumas provas são excessivamente vagas. Teremos que esperar por mais fatos para contestar ou crer no Majestic-12” (4). A espera, em qualquer caso, se viu recompensada. Apesar de como demonstraremos mais adiante, que o Majestic-12 aparenta ser uma fraude descomunal, convém não nos fecharmos às fantásticas combinações de elementos que nos oferece o memorando. Nele, são citados os doze nomes de cientistas e militares que presumivelmente investigaram os restos dos UFOs acidentados. O próprio Stanton T. Friedman (5), pesquisando suas biografias, descobriu elementos alucinantes que descartam a idéia de que um ufólogo pudesse criar uma fraude desse porte. Em todo, o que podemos concluir é que se trata de uma manobra orquestrada por alguém muito próximo dos serviços de inteligência norte-americanos. Vejamos a engenhosa combinação de personalidades agrupadas no comitê MJ-12:
• Roscoe H. Hillenkoetter, o almirante que supostamente dirigiu o memorando ao presidente Eisenhower, trabalhou para os serviços de inteligência dos EUA durante a 2ª Guerra Mundial e, surpreendentemente, foi o primeiro diretor da CIA desde sua criação, de meados de 47 até 50.
• James Forrestal, segundo dos personagens citados em MJ-12, foi o primeiro Secretário de Defesa dos EUA depois da unificação das três armas, em 1947. Era o homem de confiança do presidente Truman, além de haver protagonizado uma das mortes políticas mais estranhas da história: suicidou-se inexplicavelmente no hospital onde se encontrava internado desde maio de 1949.
• Dr. Vannevar Bush, chefe do Escritório de Investigação e Desenvolvimento Científico (ORSD), órgão que construiu, entre outras coisas, a bomba atômica, o radar e até duzentos projetos mais, utilizados durante a Segunda Guerra Mundial.
• Sidney Souers, o primeiro diretor da precursora da CIA, o então Departamento Central de Inteligência (DCI), em 1946, que em 1947 se converteu no primeiro Secretário Executivo do Conselho de Segurança Nacional (NSC), um organismo mais poderoso que a CIA atual, em muitos aspectos.
• Gal. Hoyt S. Vandenberg, que desempenhou os trabalhos de chefe do secretíssimo Grupo G2 e foi o segundo diretor da DCI, depois de Souers e imediatamente antes de Hillenkoetter. Fazia parte da elite dos primeiros sistemas criados para controlar o mundo.
• Gal. Nathan Twining, chefe da 203 Força Aérea depois de acabar a guerra. Este comando foi o encarregado de lançar as bombas atômicas sobre o território japonês. Além disso, foi chefe do Departamento de Material Aéreo da Base Aérea de Wright Patterson, em 1947 (justamente na época do suposto acidente com os UFOs).
• Gordon Gray, personagem muito envolvido em tarefas de inteligência [Editor: leia-se espionagem]. Assessor da Secretaria de Assuntos Psicológicos da CIA, que um dia sugeriu que a questão dos UFOs fosse usada para propósitos de guerra psicológica pela Central. Seu currículo ainda inclui o cargo de assessor de segurança do presidente Eisenhower.
• Jerome Hunsaker, chefe da secretíssima e ainda obscura agência NACA, com muitas finalidades dentro do submundo da espionagem, substituiu Bush no cargo quando este passou a coordenar as atividades da ORSD, entidade já descrita acima.
• Lloyd Berkner, entre outras coisas, físico e diretor do Laboratório Brookhaven e coordenador do Ano Geofísico Internacional. Esteve colaborando com o infame Painel Robertson, sustentado pela CIA em 1953 para \’desinformar\’ a opinião pública quanto aos UFOs. Sua missão incluía espionagem de grupos dedicados à investigação ufológica nos EUA.
• Gal. Robert M. Montage, chefe da Base Aérea de Fort Bliss, em El Passo, Texas. Na época do incidente de Roswell, este personagem curiosamente se encontrava na diretoria do White Sands Proving Ground, organismo que tinha a função de dar suporte às atividades undercover (secretas) da base.
• Detlev Bronk, homem que dirigiu um dos comitês da ORSD sobre Biologia na época de Bush. Foi diretor da Universidade John Hopkins e, mais tarde, presidente da Rockfeller University, em Nova York. Uma pessoa influente e poderosa.
amoso general Mathan Twining (com várias passagens pela Ufologia). Abaixo, à esquerda, o general Hoyt Vandenberg, que foi diretor da CIA e chefe do Estado-Maior da USAF; à direita, general Walter Bedell Smith. Todos importantes autoridades norte-americanas que passaram anos omitindo a questão ufológica ao público
• Dr. Donald Menzel, sem dúvida o mais conhecido e controverso de todos os céticos dos EUA, desde que foi publicada sua obra Flying Saucers, em 1953. Seu ceticismo e dos mais ferrenhos e agressivos, o que pode ser visto também em suas outras obras publicadas, uma somatória de atitudes e preconceitos reacionários. Paradoxalmente – ou não tanto – prestou freqüentes serviços à CIA e à Agência de Segurança Nacional (NSA) na área ufológica, sempre \’desinformando\’ o público. Para completar, agora se descobre que tomou parte do MJ-12 também.
• Gal. Walter Bedell Smith, sucessor de Forrestal e do almirante Hillenkoetter à frente da CIA. Smith foi um dos que participou do já citado Painel Robertson, porém nos bastidores.
Como era esperado, em poucos meses os documentos MJ-12 ficaram conhecidos, em todo o mundo. Em conseqüência da polêmica suscitada, numerosos meios de comunicação começaram a dedicar espaço a este assunto e, evidentemente, os veículos especializados não poderiam ficar alheios ao mesmo. Assim, Jerome Clark, então diretor da revista norte-americana Fate e hoje editor da publicação International UFO Repórter [Editor: órgão oficial do J. Allen Hynek Center for UFO Studies, de Evanston, EUA], publicou em janeiro de 1988 o primeiro de uma serie de quatro artigos sobre o tema dos UFOs acidentados . A título de tratar de amenidades nas três primeiras partes da história clássica destes incidentes (6) é no último dos seus artigos que o autor deixa cair uma serie de bombas com suficiente continuidade, como que para cortar o alento ao leitor. A série causou verdadeiro furor na opinião pública leiga (não ufológica) dos Estados Unidos, fazendo com que uma quantidade consideravelmente maior de pessoas passasse a saber que algo tinha acontecido, e que esse algo era extraordinário, não terrestre e estaria sendo acobertado pelas autoridades.
Raymond Enright, pseudônimo com o qual Clark encobre um importante produtor cinematográfico e figura destacada do Partido Republicano, e o protagonista inicial de toda uma cadeia de extravagantes acontecimentos. Em 1972, Enright faz contacto com oficiais da Força Aérea Norte-americana (USAF), que lhe propõem realizar um documentário sobre um projeto ultra-secreto. Após aceitar a idéia, segundo declarou, é conduzido à uma base aérea onde lhe mostraram várias dezenas de documentos e fotografias de UFOs, todas de alta qualidade. Segundo Enright, os oficiais pretendiam provar-lhe que seres extraterrestres estavam visitando nosso planeta e que seria necessário realizar um documentário a respeito. Após recuperar-se de sua surpresa inicial, alguns dias depois, Enright – que como quase todo cidadão norte-americano acreditava que a USAF não se interessasse por discos voadores, já que ela própria dizia isso constantemente – foi conduzido à algumas dependências do Pentágono, onde dois oficiais de alta patente lhe mostraram não somente novas fotografias de UFOs, mas também de criaturas com olhos largos, baixa estatura e pele cinza, algumas vivas e outras mortas. “Ali, os oficiais disseram-me que, entre 1949 e 1952, uma entidade alienígena sobrevivente de um acidente com UFO viveu em uma instalação científico-militar top secret, em Los Alamos, no Novo México”, declarou. E isto foi só princípio.
Embora o próprio Enright ignorasse, a época referida pelos oficiais da USAF foi especial para esse tipo de rumores, de UFOs acidentados e tripulantes resgatados. Segundo afirma Loren E. Gross (7) um historiador do Fenômeno UFO por excelência, o ano de 1949 foi dedicado a dois aspectos polêmicos da questão ufológica: os contatados que se espalhavam pelos EUA e o mundo, e os tais UFOs acidentados. “É a respeito destes últimos”, assinala Gross, “que um grande número de notícias permearam a imprensa mundial entre abril e junho de 1949, acabando por inspirar dois indivíduos de duvidosa reputação, Silas M. Newton e Leo A. Gebauer, a criar a história de que os UFOs – que consideravam equipados com propulsão eletromagnética – eram especialmente sensíveis a ondas de radar”. Segundo esses senhores, ondas de radar interferiam no modo de propulsão e navegação de naves extraterrestres, fazendo com que se acidentassem. Além disso, declararam que estes discos voadores, pilotados por pequenos humanóides pacíficos, estavam sendo investigados secretamente pelo governo dos EUA.
As fantásticas – mas não muito acuradas – declarações de Newton chegaram a constituir uma parte importante do livro Behind the Flying Saucers, que o saudoso Frank Scully publicou em 1950. O livro passou a ser leitura de cabeceira de ufólogos de todo o mundo, alem de atingir a opinião pública mais genérica. Assim, numa época em que os rumores sobre UFOs e pequenos homenzinhos verdes de Marte eram comuns, Scully conseguiu converter o assunto dos UFOs acidentados em tema de domínio público. Não era para menos. Porém, à margem destes dados históricos que Enright supostamente desconhecia, seu relato teve a função de trazer grande quantidade de informações adicionais. Os mesmos oficiais que contatou contaram-lhe que, em 26 de abril de 1964, um UFO aterrissou na Base Aérea de Holloman, também no Novo México – que a essa altura era uma espécie de epicentro não só da polêmica, mas também dos fatos relacionados a observações de UFOs na época. Segundo Enright, foi nesta data e naquela base que os alienígenas estabeleceram contato com militares e cientistas dos EUA, evidentemente convidados previamente para o inusitado encontro.
Deste fato, para confirmar a história, os oficiais deram a Enright a oportunidade de examinar uma filmagem que mostrava detalhada mente o pouso do UFO e outras manobras. Disseram-lhe que poderia tê-la posteriormente para a confecção do documentário pretendido – através do qual, posteriormente, deveria divulgar todas estas informações para a opinião pública mundial. “Infelizmente”, declara Clark, “o escândalo Watergate explodiu naquela mesma época e paralisou muitos projetos em andamento nos EUA, inclusive o de Enright, que se conformou em realizar um documentário medíocre apenas com o
que viu e ouviu nas diversas instalações militares por onde passou”. E uma pena, e pode até parecer uma desculpa de Enright para reforçar uma eventual história criada por ele mesmo. Mas Clark, um profissional de imprensa e ufólogo competente, teve a precaução de checar todos os pontos da história e a vida do produtor, concluindo por sua honestidade e probidade.
Uma década depois destes fatos, a história voltaria a se repetir. Em 9 de abril de 1983, um oficial da Força Aérea Norte-americana, Richard C. Doty, contatou a produtora Linda Howe, diretora de reportagens e documentários ufológicos excelentes (Editor: entre eles, o vídeo Estranha Colheita, oferecido pelo CB-PDV sob o código VC-04] para novas revelações. Casualmente (?), nessa época Linda estava preparando um novo documentário sobre UFOs, o Fite ET Factor, que conteria importantes e inéditas informações sobre ETs em nosso meio ambiente. Na reunião que Doty teve com Linda, novos e surpreendentes relatos afloraram: “…meus superiores me ordenaram que lhe mostrasse algumas informações e imagens ultra-secretas”, declarou o oficial à produtora, mostrando-lhe um novo documento governamental no qual estavam expostos vários lugares onde UFOs haviam se acidentado, assim como uma declaração de que os alienígenas que os ocupavam provinham de uma estrela próxima. Doty não permitiu que Linda fizesse uma cópia do vídeo, mas a produtora pôde assisti-lo várias vezes.
No documentário, os oficiais que o prepararam declaram que há vários milhares de anos os ETs estão vindo à Terra e influindo no curso de nossa evolução. E explicam com detalhes mínimos como vários seres haviam sobrevivido aos vários acidentes que tiveram no solo terrestre. Evidentemente, o vídeo também mostrava como essas naves e seus tripulantes eram recuperados pela USAF, recebendo o nome de EBEs, entidades biológicas extraterrestres. Linda declara ter ficado pasma com o que viu, especialmente as cenas chocantes. “Impossíveis de serem montadas com alguma trucagem”, garantiu ela, uma profunda conhecedora de todos os estágios da produção de vídeos. Segundo Doty, uma destas criaturas, chamado de EBE-1, viveu até 1952. Já EBE-2 foi resgatado alguns anos depois e, no ano de 1983, um terceiro EBE estaria residindo em local de máxima segurança. Doty mencionou a intenção de Enright e as nefastas condições políticas que impediram o êxito do projeto. De fato, o propósito daquela reunião era o mesmo que então se perseguia: apresentar a verdade para o mundo. Não é à toa que os oficiais procuraram pessoas idôneas e habilitadas no segmento de mídia.
Segundo Linda, a reunião com Doty superava-se a cada minuto, a cada nova revelação, O oficial discorreu abertamente sobre o MJ-12 e outros projetos de investigação ufológica da USAF, tais como os famosos projetos Blue Book, Sign e Grudge. Doty garantiu – ainda que fosse óbvio para sua interlocutora – que tais projetos eram, na verdade, “máscaras para encobrir os verdadeiros programas de investigação ufológica que mantinham o governo informado: os projetos Sigma, Snowbird e Acquarius. Enquanto o Blue Book, por exemplo, distraia o público com casos banais de luzes no céu que poderiam ser facilmente identificadas, o Sigma coletava dados de ocorrências mais concretas, que alimentavam os serviços de informação do governo”. Segundo Clark, este Projeto Sigma tinha como ponto-alto o setor de comunicações eletrônicas, e estaria ativo ainda em 1984. Já o Snowbird tinha o objetivo de investigar naves alienígenas intactas que fossem doadas ao governo americano por outras nações, incapazes de estudá-las. E era dentro do Projeto Acquarius que se coordenavam os esforços para contatar entidades extraterrestres. Por fim, havia um outro projeto, o ainda inacabado Gamei, que estudaria a influência dos extraterrestres na evolução humana.
Durante as semanas seguintes ao encontro, Linda falou numerosas vezes com Doty sobre os problemas que encontraria para a realização do documentário solicitado. Com sua experiência dupla em Ufologia e produção de vídeos, Linda sabia que as dificuldades para colocar na tela toda aquela história seriam grandes. Doty então deu a entender que entre as possibilidades permitidas por seus superiores estava a realização de uma entrevista direta com o EBE-3, para inseri-la no documentário. Não obstante tanta programação e expectativa, Doty comunicou à produtora que estava se retirando do projeto para dedicar-se a outros setores da inteligência (espionagem) da USAF, e que a partir desse momento ela trabalharia com outros oficiais. Sem entender o porquê, os contatos de Linda com a equipe que substituiu Doty foram decrescendo gradativamente, até que tudo terminou em nada, apesar de estar previsto que o documentário deveria ser concluído em 1986…
É nesse calor de discussões que surge mais um personagem para complicar a situação: John Lear, com suas declarações sobre os EBEs. O círculo vai se fechando em torno da questão, como veremos. Ao lado de todos estes acontecimentos no ambiente ufológico e da grande repercussão nos meios de comunicação mundial, perplexos ante a possibilidade de que o governo dos EUA custodiasse, desde 1947, cadáveres de extraterrestres, surge um novo elemento na polêmica. Em 22 de maio de 1988, o diário Sun, de Las Vegas, publicou uma entrevista com piloto veterano John Lear, um milionário norte-americano que havia trabalhado em quase tudo o que voasse e fosse secreto, inclusive em missões top secret da CIA. John é o filho de William P. Lear, desenhista dos famosos jatos LearJet, cuja fábrica também é sua. Este novo personagem concentrou suas declarações na afirmação de que o governo dos EUA está até hoje ocultando um segredo fantástico e terrível: uma relação ainda ativa com seres alienígenas de outros mundos.
Para fundamentar suas declarações, John Lear mostrou aos repórteres do Sun o documento MJ-12,
recentemente \’desclassificado\’ [Editor: do inglês declassified, que significa, na realidade, a isenção da chancela de classificado ou confidencial. Declassified quer dizer que o documento não está mais protegido por leis que impõem sigilo]. Mas Lear exagerou: além de espetaculares afirmações de que os EUA haviam vendido seu povo a extraterrestres, os quais estariam aqui para uma missão muito similar a que cumpriam os ETs da série norte-americana V – A Batalha Final (para alguns a coincidência entre ambos os relatos não é meramente casual), o piloto declarou coisas que fugiam à lógica. Aliás, Milton William Cooper já havia abordado isso, garantindo que os extraterrestres tinham uma espécie de acordo com os governantes dos BUA: em troca da tecnologia que passariam aos cientistas e militares norte-americanos, os ETs poderiam raptar \’um determinado número\’ de pessoas por ano – “desde que submetessem um relatório com nomes e endereços de seus raptados às autoridades”, concluiu Cooper [Editor: matéria completa sobre o assunto foi publicada em UFO nº 10].
Lear foi adiante: considerava como já decididamente definidos os propósitos das abduções de humanos por extraterrestres, sempre com a aquiescência das autoridades norte-americanas, isso indo desde altas patentes militares até o próprio presidente, passando por cientistas, senadores etc. De fato, Cooper e Lear fizeram suas mais bombásticas revelações na época de George Bush, acusado por eles de ter ajudado as negociações com os ETs na época em que dirigia o serviço secreto tios EUA. Lear classificou os objetivos dos alienígenas em seus seqüestros da seguinte forma:
• Em parte dos seqüestros, os ETs tencionam inserir nos abduzidos dispositivos que os permitam monitorar e controlá-los, à distância e constantemente. Estes dispositivos teriam cerca de 3 mm de diâmetro e seriam inseridos na cavidade nasal do abduzido.
• Os ETs também tentam (com sucesso, segundo Lear) implantar ordens pós-hipnóticas em seus seqüestrados, ordens estas que deveriam cumprir em um período compreendido entre dois e cinco anos subseqüentemente aos seus seqüestros.
• Os ETs também pretendem obter, mediante seqüestro de pessoas de todas as raças do planeta, fontes de material biológico. Para os mais diversos fins, mas provavelmente para comida também. Nesse contexto, efetuariam experiências com engenharia genética.
• Por fim, Lear ainda disse que os ETs inseminam mulheres terrestres para recuperar os fotos em estado de gestação primária, de forma prematura, para obter indivíduos híbridos [Editor: o leitor pode observar claramente como isso ocorre assistindo ao filme Intruders, lançado pela Abril Vídeo no Brasil. O vídeo, baseado na obra de mesmo nome de Budd Hopkins – veja edição UFO 21 -, também mostra detalhes dos implantes nasais].
Segundos estas afirmações – compartilhadas presentemente por ufólogos de todo o mundo – os extraterrestres já invadiram nosso planeta há muitos anos, silenciosamente, e se refugiam em lugares secretos, preferivelmente de caráter militar. E Lear não parece preocupar-se muito quando assinala com toda precisão alguns destes lugares. “Concretamente”, declarou num recente congresso mundial em Las Vegas, “uma das localidades geográficas preferidas petos ETs é uma região de uns 260 quilômetros quadrados, que recebe o nome de Área 51, também conhecida pelos nomes de Groom Lake, Watertown, Quadrado Roxo e Dreamland”. Esta área, localizada ao norte de Las Vegas, no Nevada, EUA, é considerada como de segurança máxima: ninguém pode invadi-la sob qualquer pretexto, pois sofrerá punições legais severíssimas. Ocorre que o governo norte-americano mantém lá instalações ultra-secretas para testes de aeronaves militares e outros tipos de pesquisa. Segundo Lear, “é lá que as naves alienígenas pousam quase diariamente, mantendo relações fluídicas com o pessoal da USAF”.
E nesta área, compreendida entre as localidades de Caliente, Tonopah e Las Vegas, onde também foram testados os protótipos dos aviões U-2, SR-7 e o Aurora. Ufólogos, ufólilos e curiosos de todos os estados dos EUA e de outros países mantêm a rotina de realizar vigílias noturnas há poucas dezenas de quilômetros do local, geralmente nas quartas-feiras (dia considerado de maior intensidade). Muitos tiveram êxito em ver misteriosas bolas de luz sobrevoarem ou manobrarem sobre a Área 51, com comportamento inusitado. Há pessoas que já observaram o fenômeno dezenas de vezes [Editor: o CBPDV fornece um vídeo preparado no local, UFOs em Las Vegas, com 2 horas de duração e imagens impressionantes sob código VC-05].
Este lugar de intercâmbio de in formação e tecnologia entre os RIJA e os alienígenas e o eivo de toda a polêmica suscitada em torno do suposto pacto entre governos e extraterrestres, insinuado pelos documentos MJ-12 e veiculado abertamente por Lear e Cooper, além de Bill Moore, Friedman e Shandera. A história completa desse intercâmbio, no entanto, é acompanhada de detalhes sangrentos, como o próprio Lear expõe ao dramatizar sua espetacular história. Ao que parece, no final dos anos 70, o governo norte-americano fez um pacto com os EBEs mediante o qual os EUA receberiam tecnologia alienígena para o desenvolvimento de sua corrida armamentista, isso em troca de manter em segredo a situação e a interação dos aliens na Terra. “No entanto, em 1979, um grupo de 44 cientistas que estavam trabalhando na Área 51 notou que algo muito estranho estava ocorrendo… Os alienígenas estavam preparando um plano com dramáticas conseqüências para a humanidade. Lamentavelmente, antes que os cientistas empreendessem qualquer ação contra os ETs, foram localizados e assassinados. Então, um grupo de 66 homens do comando de operações especiais chamado de Forças Delta foi enviado à Área 51 para seu resgate. Os 60 soldados também foram assassinados”, afirmou Lear.
Segundo a última entrevista dada por Lear ao Sun (8), este chega a exagerar acima da medida ao afirmar que a descoberta que os cientistas fizeram nas instalações dos extraterrestres era seu plano para a contaminação da humanidade com AIDS. Entretanto, Lear se contradisse logo em seguida, quando afirmou que a AIDS é na realidade uma criação do governo dos EUA com o objetivo de reduzir para 76% a população mundial até 1996, e somente quando isto acontecer a a&ccedi
l;ão do terrível vírus será detida. Entre outras absurdas afirmações de Lear, encontramos esta, de que uma enfermidade descoberta pela Organização Mundial de Saúde em 1972, na África, era responsabilidade ora dos ETs, ora do governo dos EUA. Lear da estatísticas: segundo ele, os mais de 100.000 casos anuais de AIDS, registrados em todo o mundo, são na realidade mais de cinco milhões; e que na África, 100% da população é portadora do vírus. O que pensar disso? Muito, mas é importante saber que os primeiros casos de AIDS registrados fora da África ocorreram nas vizinhanças do Laboratório de Microbiologia de Bethesda, em Maryland, EUA. Este laboratório governamental emprega a peso de ouro as melhores cabeças do mundo e realiza experiências secretas de engenharia genética. Será que alguém deixou cair algum tubo de ensaio, acidentalmente?
Para os que acreditam na idéia de extraterrestres bonzinhos, o panorama apresentado até aqui não poderia ser mais desolador. Mas não pretendemos apoiar cegamente esta idéia – como alguns fanáticos fazem. Pretendemos, isso sim, esclarecer os temas tratados na medida do possível, analisando as afirmações expostas. O leitor deve tirar suas próprias conclusões e analisar que é relativamente fácil manipular uma informação qualquer em prol de interesses que – é justo reconhecer ainda nos escapam à compreensão. Como pode uma pessoa de espírito crítico aceitar que extraterrestres 100.000 milhões de anos mais evoluídos do que nós – como afirma o próprio Lear no polêmico Informe Matrix (9) – tenham que pedir permissão ao governo dos EUA para realizar suas \’atividades delituosas\’? Enquanto continuarmos prestando atenção a relatos como estes, os UFOs não deixarão de ser uma anedota. É como se houvesse alguém verdadeiramente interessado em desacreditar este mistério. Lear? Moore? Quem?
É hora de suspendermos a cortina. As afirmações de Lear estremeceram todos os interessados no tema UFO. As assustadoras correrias dos extraterrestres por território americano (e todo o mundo) deixaram sem alento inclusive o mais impassível dos espectadores. E a atenção cresceria ainda mais durante outro simpósios da MUFON nos EUA. E é no mínimo curioso. Nossa história começou com o simpósio desta organização em Washington, em 1987, uma entidade dedicada à investigação dos UFOs e considerada absolutamente idônea. Como verá o leitor, os documentos Majestic-12 se apresentaram como que \’em sociedade\’ pelos grupos Moore/Friedman/Shandera e Lear/Cooper. Pois bem, nossa história tem como ponto de continuação outro simpósio da MUFON, desta vez de 1989 e celebrado em Las Vegas em junho, sob o título The UFO Cover-up: A Government Conspiracy? [Editor: Acoberta mento ufológico, uma conspiração governamental?].
Neste evento, as surpresas aconteceriam de minutos em minutos, começando com o próprio John Lear que, em uma das salas do Hotel Aladino, projetou o que foi anunciado como alguns vídeos sensacionais. Em um deles, aparecia uma nave discoidal, sendo que o cinegrafista nem se preocupou em focalizar direito seu equipamento. O outro filme, no entanto, apresentou-se sensivelmente diferente: nele se apreciava nitidamente um espetacular UFO aterrissando em uma base militar (segundo Lear, tratava-se da Base Aérea de Holloman, onde os EBEs estabeleceram contato pela primeira vez com militares norte-americanos). Um dos espectadores destes vídeos, Jerold Johnson, investigou profundamente a procedência desta última filmagem e descobriu que se tratava de um trecho de um quase desconhecido documentário, o UFOs: It Has Begun, que Lear provavelmente alugou em algum videoclube e reproduziu como se fosse extraterrestre e verdadeiro (10). O vídeo hoje está mais bem difundido nos EUA, e até no Brasil, através da revista UFO. Mas o que Lear quis com isso? O simpósio ainda reservava vários momentos de expectativa.
Durante as conferências, quase todos os protagonista dessa história deram entrevista à imprensa, especializada ou não, desde Bill Moore a Stanton T. Friedman, Linda Howe a Timothy Good (entre outros), sendo eles os encarregados neste conclave de trazer aos congressistas o fascinante mundo das implicações governamentais dentro do fenômeno dos objetos voadores não identificados. O eixo da polêmica voltou a ser os documentos MJ-12, cuja veracidade havia sido posta em dúvida alguns dias antes por um polêmico artigo de Robert Hastings no próprio MUFON UFO Journal, publicação oficial daquela entidade (11). Hastings reportou-se em primeiro lugar ao programa de TV UFO Cover Up-Live! [Editor: fornecido pelo CBPDV sob o código VC-12 – veja páginas centrais], transmitido para todo o território dos EUA em outubro de 1988. No espetáculo, que reuniu por 2 horas declarações de ufólogos e testemunhas de todo o mundo, aparecem entrevistas de dois oficiais da USAF declarando que conheciam perfeitamente as atividades dos EBEs em nosso planeta e que, efetivamente, existia uma espécie de pacto do governo dos EUA com os mesmos.
Os agentes aparecem camuflados no vídeo, tendo seus rostos dissimulados com uma técnica de áudio e vídeo conhecida como \’mosaico\’, que impede que se identifique o personagem ainda que se veja seu rosto e ouça sua voz. Entre as coisas que foram afirmadas neste programa, estavam declarações de que os extraterrestres, enquanto cativos do governo dos EUA, preferiam música tibetana e os sorvetes de morango entre as opções apresentadas por seus algozes. Hastings afirma que os agentes anônimos – que se ocultavam sob os pseudônimos de Falcão e Condor, além da camuflagem mosaico – eram na verdade os agentes Richard P. Doty e Robert Collins, ambos lotados no Escritório de Investigações especiais da USAF (AFOSI), trabalhando na Base Aérea de Kirtland. Doty é o que abordou Linda Howe, e Collins um capitão da USAF. Ao que parece, foi Doty quem mecanografou e remeteu os documentos MJ-12 para Shandera. Com que intenção? Seria uma fraude? Vejamos a seguir. As denúncias do artigo não acabariam por aí. Hastings depois acusaria Moore – um dos principais exploradores da polêmica em torno do documento e que durante anos, através de sua firma William Moore Publications Ltda., estivera vendendo outros documentos alegadamente oficiais, mas de procedência desconhecida – de colaborar com Doty e com os serviços de inteligência dos EUA em uma campanha de desinformação maciça e contundente sobre a opini&ati
lde;o pública leiga e, principalmente, sobre a própria comunidade ufológica. Este duro ataque contra Moore e seus colaboradores (Shandera e Friedman, que também estavam neste simpósio de 1989) expôs seus nervos à flora da pele, fazendo com que a polêmica assumisse ares ainda mais inesperados. Moore estava preparado para apresentar sua conferência, que denominou de UFOs e o governo dos EUA, mas só apareceu no auditório a quinze minutos da hora marcada – seu rosto era o de um cadáver, branco e sem expressão. A platéia obviamente notou algo e supôs que Moore deveria dizer alguma coisa muito importante. E disse!
Suas confissões se sucederam uma após outra, sem deixar respirar o auditório que irrompia progressivamente em gritos de indignação e ameaças. Moore reconheceu, primeiramente, que as acusações de Hastings de que era um agente da inteligência (espionagem) eram corretas. Ao que parece, Moore foi recrutado por agentes do serviço de inteligência para “ajudar a mudar a política oficial sobre a questão UFO”, como ele próprio declarou. Uma de suas missões era obter informações e repassá-las aos seus superiores e, especificamente, deveria vigiar o ufólogo e inventor Paul Bennewizt, um engenheiro de informática que desenvolveu um sistema que, se aperfeiçoado, poderia interceptar as emissões de rádio que supostamente seriam enviadas pelos microdispositivos implantados em todos os seqüestrados por extraterrestres, e que seriam recebidas pelos próprios em suas naves (ou bases). A invenção de Bennewizt deu frutos e ele, sem querer ou sem saber, interceptou mensagens provenientes da Base Aérea de Kirtland, local onde se desenvolviam trabalhos do programa Iniciativa de Defesa Estratégica, popularmente conhecido como Guerra nas Estrelas. O cientista tinha conseguido acesso à informações secretas, mas os militares – segundo Moore – descobriram e decidiram agir.
“Durante algum tempo investigaram sua vida privada”, continuava Moore, “e descobriram que Bennewizt era um louco por Ufologia, mas que teria chance de obter resultados com suas investigações”. Perante isso, os militares conseguiram desestabilizá-lo socialmente e torná-lo louco de fato. Moore confessou que forneceu a Doty informações sobre a extinta organização ufológica Aerial Phenomena Research Organization (APRO), fazendo o papel de agente duplo. Justificou-se publicamente desta ação declarando que, se colaborasse com o governo, talvez algum dia pudesse obter dados bons dele e repassá-los à comunidade ufológica… Envolveu definitivamente Shandera e Friedman em seus jogos e reconheceu que Falcão era de fato Richard C. Doty, tal como Hastings havia garantido. E ainda que insistisse que não estava metido nisto por dinheiro, Moore reconheceu haver recebido uma soma de mais de dezesseis mil dólares pelos seus esforços. Dentro da comunidade ufológica, Moore também lucrou bem, captando fundos (donativos) para auxiliá-lo na investigação dos documentos MJ-12.
E para completar, envolveu também Linda Howe em suas manobras de desinformação, além de haver colaborado, em 1989, com Whitley Strieber – bestseller e autor do livro Comunhão – na elaboração de seu novo livro Majestic [Editor: publicado no Brasil pela Mercuryo], onde todas as situações de UFOs acidentados, EBEs e pactos secretos transformaram-se em uma espécie de romance. Nada mais. Mas qual podia ser a motivação real da equipe composta por Moore, Doty, Friedman e Shandera, para terem espalhado \’informação contaminada\’ durante estes anos? E o que está por trás deles? Para sabermos a resposta, retrocedemos ao ano 1947, quando toda esta questão de acidentes de UFOs foi iniciada. Nesse ano, um objeto voador não identificado de fato se acidentou em Roswell, sendo este o ponto de partida a comissão que compunha o Majestic-12 e que deveria analisar este e outros acidentes similares que ocorreriam em um espaço de tempo especialmente breve.
Aceitemos por um momento que o governo dos EUA tenha utilizado o Fenômeno UFO como cortina para encobrir manobras do tipo militar, e ante perguntas comprometedoras de repórteres sobre que tipo de avião estava sendo testado sobre uma determinada zona, respondesse que se tratava de um UFO (12). O governo dos EUA, como se sabe, fez afirmações desse tipo nos dois sentidos: quando a situação interessava, dizia que UFOs observados e registrados por radar eram meros aviões de teste; mas, quando precisavam, afirmavam o contrário, que certas observações de objetos estranhos não eram aviões, mas UFOs. Um jogo dúbio, sem dúvida, motivado por intenções ainda mais maquiavélicas e perpetradas, em parte, por gente de dentro da própria comunidade ufológica. Ufólogos pagos para dizer isso ou aquilo. No período de 1947 e 1950, eram numerosos os testes secretos que os EUA efetuavam ilegalmente com foguetes sobre núcleos povoados, o que é terminantemente proibido pelo Senado daquele país. Sob o nome de Projeto Hermes, os EUA lançaram vários foguetes tripulados por macacos e, segundo Gregory Kennedy, diretor do Museu Americano do Ar e do Espaço (do Instituto Smithsoniano), entre junho de 1947 e junho de 1948 foram efetuados 4 lançamentos de foguetes V-2 com macacos vivos em seu interior.
Suponhamos, então, apenas a título de especulação, que foi um daqueles artefatos que se acidentou em Roswell, pondo em perigo a segurança do Projeto Hermes e, o que é pior, a credibilidade do próprio governo por experimentar estes protótipos nas imediações de zonas povoadas. Uma forma eficiente de se encobrir estas atividades seria camuflar toda a operação sob a égide do Fenômeno UFO. Esta é basicamente a estrutura da chamada Hipótese Federal, sustentada pelo grupo Ground Sancer Watch (GSW) a respeito dos UFOs caídos naquela área e naquela época. O GSW chegou a tais conclusões depois de analisar uma presumida foto de um extraterrestre calcinado entre escombros que se insistiu em firmar, dentro da Ufologia, tratar-se de um UFO. O GSW comprovou que se tratava de um macaco de testes dentro do que restou de um avião-foguete tipo V-2. Na foto, que ufólogos apressados alardearam como sendo a prova de acidentes de UFOs, uma análise detalhada pode mostrar parafusos, armações com canos e coisas comuns aos protótipos daquela época, Não que não tenham ocorrido quedas de UFOs, mas nem todas as que se divulgou foram realmente quedas de naves de outros mundos.
Estamos seguros de que o memorando de oito páginas que iniciou toda esta controvérsia – o MJ-12 – é absolutamente falso. Primeiramente, porque foram feitas suspe
itas ingênuas diante de eventuais casualidades envolvendo o último dos membros vivos (Gordon Gray) do Comitê MJ-12, falecido em circunstâncias inusitadas 1983, poucos meses antes da aparição do documento. Depois porque se suspeitou do estilo de redação do documento que, segundo confessou Jean Sider ao ufólogo espanhol Enrique de Vicente, coincidia curiosamente com o estilo de escrever do próprio Moore. Não obstante, as investigações definitivas trouxeram resultados que apareceriam por outros lados. Durante o inverno de 1990, foi publicado nos EUA um trabalho do arquicético ufológico Philip J. Klass (13), reconhecido como o maior adversário dos ufólogos.
Klass aplicaria o mais duro dos golpes contra o polêmico memorando, analisando a assinatura do presidente Harry Truman numa de suas páginas, Klass assinala mais uma \’casualidade\’ na firma de Truman, que coincidiria com outra que o ex-presidente deixou em uma carta que escreveu a Vannevar Bush, em 1º de outubro de 1947, cuja cópia pode ser consultada na famosa Biblioteca do Congresso dos EUA, na Divisão de Manuscritos, A meticulosidade de Klass chega a extremos inacreditáveis quando assinala que o mesmo borrão de tinta da letra H de Harry, do documento Truman-Vannevar Bush, se encontra no documento MJ-12. Daí, Klass conclui com facilidade que a firma de Truman neste memorando é nada mais que uma fotocópia ligeiramente ampliada da carta citada, de outubro de 1947. O documento MJ-12 seria, portanto, uma farsa de mau gosto e grosseria.
Porém o estudo não termina por aí. A consulta de Klass ao especialista em documentação David Crown, que trabalhou para a CIA durante muitos anos, determinou que a máquina de escrever que datilografou o memorando MJ-12 foi uma Smith-Corona, que foi fabricada pela primeira vez em 1963, isto e, mais de dez anos depois do 18 de novembro de 1952, data do memorando. A fraude é evidente, ainda que à margem de outras considerações anteriores do próprio Klass, que assinalava (14) a estranheza de que os nomes citados no memorando não tinham sido colocados em ordem alfabética, e que personagens como Hillenkoetter firmassem habitualmente como R. H. e não como Roscoe H., como figura no memorando. Klass não deixou passar nada e, de sua posição de rival dos ufólogos e crítico da Ufologia, acabou por prestar um relevante serviço a ambos.
Mas qual seria o porquê do segredo da Comissão MJ-12? Segundo seus defensores, o segredo é mantido com receio de que parte do público norte-americano pudesse entrar em pânico com a informação de seu conteúdo – e isso teria conseqüências difíceis de se calcular. Mesmo que os documentos fossem verdadeiros, esta hipótese é ridícula, especialmente se a analisarmos comparando-a a casos que a história nos ensina. Em 19 de setembro de 1949, por exemplo, o presidente Truman tomou conhecimento da notícia de que a URSS havia testado com êxito sua primeira arma nuclear – uma potente bomba atômica. Esta notícia por si só poderia causar estupor e pânico na sociedade americana dos anos 50, constantemente alertada sobre a possibilidade de um ataque soviético, Mas, contra todos os prognósticos dos alarmistas, Truman deu a notícia ao público e, medida sua reação segundo diversos parâmetros, não houve qualquer registro de pânico – em absoluto. Então por que haveria pânico – da forma como imaginam os estrategistas – com a divulgação de fatos ligados aos UFOs e sua presença na Terra, sejam eles falsos ou verdadeiros?
A história nos ensina a não avaliar uma reação de um povo antes do tempo certo para fazê-lo. O que acabamos de aprender é que a Ufologia passou pelo período mais debilitado de sua história. Em uma escalada de despropósitos, desmentidos e acusações, uma parte dos ufólogos perdeu sua credibilidade. Porém, estes fatos nos mostraram que o Fenômeno UFO interessa às altas esferas de poder do mundo muito mais do que supúnhamos antes – e que elas são capazes de intervir diretamente no desenvolvimento dos acontecimentos, introduzindo elementos de dispersão para analisar seus resultados. Para tanto, usam de pessoas e expedientes diversos, numa clara e infeliz amostra de total desrespeito à ética e aos princípios. Lamentavelmente, sobre os documentos MJ-12, a seu favor continuamos contando apenas com a palavra de Moore, um ufólogo reconhecidamente brilhante, mas cujo brilho está mais ofuscado após tudo o que ocorreu. Não tivemos ainda oportunidade de ver as eventuais provas de que Moore está correto, e tudo nos leva a acreditar no contrário. Mas a lição mais importante que podemos tirar de todo esse episódio é que ainda existem mentes irracionais, capazes de aceitar qualquer história que ouçam, por mais impossível que pareça. E enquanto existir esta predisposição existirão os mentirosos, inclusive dentro da Ufologia.
Notas do texto
(1) Willian Moore e Stanton Friedman: MJ-12 and Phil Klass: What are lhe facts?, publicado no 1988 International MUFON Symposium Proceedings, em junho de 88.
(2) Publicado no Brasil sob o Ululo O Incidente de Roswell, pelo Editora Record.
(3) Enrique Yeves: UFOs na Espanha, revista Interviu, nº 580, 30 de junho de 1987.
(4) Diego Fuentes: Operação Majestic-12 – Os UFOs de Eisenhower, publicado no El Periódico de Catalunya, em 23/08/87.
(5) Stanton Friedman: Update on operation MJ-12, publicado no 89 International MUFON Symposium Proceedings, em 06/89.
(6) Jerome Clark: UFO Crashes, Parts I-IV, revista Fate, EUA, em julho de 1989.
(7) Loren E. Gross: UFOs: A History -Volume 2, publicado pela Arcturus Book Service, EUA, em dezembro de 1989,
(8) The Interview with John Lear, artigo no Nevada Aerial Research Newsletter, edição de dezembro de 1989.
(9) O Informe Matrix é um volume de 361 páginas compostas por Valdamar Valerian, do Nevada Aerial Research Group, que reúne simultaneamente recortes da imprensa, reproduções de cartas pessoais, notas, apontamentos etc. Foi publicado em 1988 por Arcturus Book Service, dos EUA, e passou praticamente despercebido naquele país por sua baixa qualidade documental.
(10) Jerold Johnson: MUFON UFO Journal, n° 258, publicado outubro de 1989.
(11) Robert Hastings: The MJ-12 Affair – Facts, questions, comments, publicado no MUFON UFO Journal, n° 254, em 06/89