O tema abdução sempre foi muito discutido e provavelmente sempre será. Ainda que alguns renomados ufólogos insistam em dizer que, dada à esquisitice da maioria dos casos do gênero, sua origem poderia estar apenas nas mentes daqueles que afirmam ter passado por tais experiências, o fenômeno persiste. Tal ponto de vista é extremamente prejudicial para as investigações, pois desta forma muitos casos poderiam cair no esquecimento e não ser levados em consideração. Felizmente, a maioria dos pesquisadores não concorda com esta linha de raciocínio apriorística e tendem a examinar minuciosamente todos os casos que lhes chegam ao conhecimento, sem prejulgamentos a respeito deles ou de seus protagonistas. Neste artigo, vamos mostrar um episódio famoso e bem documentado, ocorrido na Itália nos anos 70, que gerou muita discussão por sua singularidade e, ao mesmo tempo, pelos fatos concretos que deram a ele grande credibilidade.
Eram 23h30 do dia 06 de dezembro quando tudo ocorreu, uma noite fria nas montanhas próximas a Torriglia, onde fica a pequena cidade de Ligúria. As ruas estavam cobertas pela neve que caíra no dia anterior. Pier Fortunato Zanfretta, então com 26 anos, trabalhava como vigilante noturno da empresa Val Bisagno e dirigia calmamente sua viatura de serviço, um Fiat 127, patrulhando a área. Ele não podia sequer imaginar o que estava para acontecer. Zanfretta se dirigia à Marzano, especificamente para a mansão apelidada de Casa Nostra, de um dentista conhecido na localidade. Quando estava próximo da casa, de repente, o motor e os faróis do automóvel pararam de funcionar sem razão aparente.
Bastante surpreso, Zanfretta desceu do carro tentando descobrir o que estava acontecendo — e a primeira coisa que percebeu foi que havia quatro luzes se movendo no pátio da casa que fora averiguar. Obviamente, como trabalhava com segurança, seu primeiro pensamento foi que as luzes eram de ladrões que vasculhavam o interior da mansão. Como era seu dever, ele pegou o rádio e disse em código: “Canguru para 68. Canguru para 68. Estou entrando na mansão, há ladrões agindo”. Canguru era seu apelido e 68 era o código do funcionário na empresa para a qual trabalhava, no turno daquela noite. Ninguém respondeu, pois o rádio não estava funcionando devido a uma inexplicável falha elétrica.
Não humanos Corajosamente, Pier Fortunato Zanfretta se aproximou da casa com seu revólver Smith & Wesson calibre 38 na mão. O portão do pátio estava aberto e ele se aproximou da parede externa da mansão, pronto para enfrentar os ladrões. Contudo, para seu espanto, sentiu que alguém tocava seu ombro. Rapidamente virou-se e uma sensação gelada percorreu sua espinha — o que ele viu não parecia ser deste mundo e o jovem saiu correndo assustado e com muito medo. Logo se passara uma hora do encontro e Zanfretta viu que seu relógio marcava 00h30. O telefonista do posto policial mais próximo, Carlo Toccalino, que estava de serviço naquela noite, recebeu a seguinte ligação do apavorado vigilante: “Aquilo é muito feio, não é deste mundo”. O policial então perguntou a ele se estava sendo atacado por alguém, ao que Zanfretta respondeu: “Não, eles não são humanos, eles não são humanos”. E a ligação foi interrompida.
Ao mesmo tempo, pelo menos 52 pessoas — como a investigação dos carabineiros, o serviço de polícia italiano, posteriormente verificou — nas proximidades estavam vendo um grande objeto triangular emanando uma forte luz que mudava da cor branca para vermelha, e depois da vermelha novamente para a cor branca. Os colegas de Zanfretta finalmente o encontraram próximo da mansão, em estado de choque e dizendo sem parar: “Eu os vi. Eu os vi”. A primeira coisa que notaram foi que seu corpo estava muito quente, o que, considerando a temperatura fria e a neve, era um fato que parecia no mínimo estranho. Nos dias que se seguiram, Zanfretta contou em detalhes aos colegas o que havia visto. Ele descreveu a estranha criatura que havia tocado seu ombro como medindo aproximadamente três metros de altura, com olhos amarelos triangulares e pele particularmente ondulada, como se fosse gordo ou estivesse vestindo uma roupa muito grande. Muito assustado, ele tentou fugir ao ver aquele ser, mas foi rapidamente cegado por uma luz penetrante que vinha do grande objeto triangular que flutuava próximo à mansão.
Sessão de hipnose regressiva Dado o alarde, este caso rapidamente chegou à mídia, cuja reação foi tanto de espanto quanto de incredulidade. Como os amigos de Zanfretta sabiam que ele era uma pessoa séria e digna de confiança, sugeriram a ele que passasse por uma sessão de hipnose regressiva, oferecida na ocasião por ufólogos locais, para tentar trazer à luz alguns aspectos que poderiam estar escondidos em seu inconsciente. Zanfretta concordou e, em 23 de dezembro, iniciara uma sessão do procedimento hipnótico com o doutor Mauro Moretti. O que se segue é um resumo do que Pier Fortunato Zanfretta disse durante a hipnose, ao relatar a impressionante experiência: “Estou entrando na mansão, pois há ladrões agindo. Quem está aí? O que está acontecendo? Oh, meu Deus! Quem é você? O que diabos você vai fazer comigo? O que são estas luzes? Eu não quero ir. Você não é humano, vá embora! O que você está colocando na minha cabeça? Deixe-me em paz! Eu não quero que você volte.
Posso contar ao mundo esta história? Sim, eu farei como você pede, mas me dê uma prova, ou não vão acreditar em mim. Agora vá embora. Tire esta coisa horrível da minha cabeça. Está quente aqui. Tire fora esta coisa e vá embora! Vocês são monstros. Eu quero ir para casa. Dê-me minha lanterna”. O doutor Moretti então perguntou como ele pôde se comunicar com seus abdutores, e Zanfretta respondeu que eles usavam um tipo de máquina tradutora. Esta foi a última pergunta que o hipnólogo fez a ele naquela sessão, mas não sem antes Zanfretta relatar que as criaturas lhe prenunciaram que retornariam. Poucos dias depois, na noite entre 27 e 28 de dezembro, o rapaz estava de vigia, como de costume, quando o operador da empresa Val Bisagno o escutou gritando pelo rádio: “Estou passando por uma névoa grossa e não consigo ver nada. Não sei o que fazer”. Eram 23h46. Quatro minutos depois, Zanfretta chamou novamente pelo rádio, porém, apresentando um humor completamente diferente, parecia estar calmo e disse: “O carro parou, eu vejo uma luz brilhante e estou saindo agora”. E sumiu.
Novas buscas ao rapaz tiveram início, mas foram prejudicadas pelo nevoeiro e pela forte chuva. O carro de Zanfretta foi encontrado somente uma hora d
epois, em uma estrada estreita nas montanhas — e o teto estava completamente seco, apesar da chuva. O segurança foi encontrado pela equipe da empresa à 01h25. Ele estava quente, suas orelhas estavam muito vermelhas e sua roupa também estava completamente seca. Zanfretta estava tremendo e repetia: “Eles queriam me levar para algum lugar distante”. No dia seguinte, os carabineiros encontraram pegadas gigantes, de cerca de 60 cm, próximas do carro. Todas estas evidências foram incluídas no Relatório do Avistamento de Objetos Voadores Não Identificados e Humanoides por Zanfretta Fortunato, escrito pelo ufólogo Antonio Nucchi, em 03 de janeiro de 1979.
Após a alegação da segunda abdução, muitas pessoas começaram a pensar que, apesar das várias evidências encontradas no solo e da boa reputação de Zanfretta, poderia ser necessário determinar sua condição de saúde mental. Por esta razão, a empresa de segurança em que ele trabalhava o forçou a passar por alguns exames com o doutor Giorgio Gianniotti, famoso neuropsiquiatra do Hospital São Martino, em Genova. Mas, após várias avaliações, o médico declarou que Zanfretta estava em perfeitas condições físicas e neurológicas, sem sintomas de alterações mentais ou de doenças psicossensoriais. O doutor Gianniotti
concluiu: “Não há dúvidas de que Zanfretta está apto para seu trabalho e não necessita de qualquer terapia ou período de observação”. Sendo o profissional um médico respeitado, sua opinião teve forte influência e repercussão na mídia.
Os meses foram se passando e, como normalmente acontece, o clamor gerado pela história foi se tornando mais e mais fraco, até que o inesperado voltou como um fato aterrorizante. Era a noite do dia 30 de julho de 1979 e Zanfretta fazia sua patrulha de moto em Genova – após os eventos anteriores, sua empresa decidiu não enviá-lo mais para as montanhas — quando desapareceu subitamente. O vigilante foi encontrado duas horas depois no topo do Monte Fasce, perto da cidade. Considerando que havia somente uma via de acesso ao local, todos passaram a imaginar como ele havia chegado lá. Uma sessão de hipnose posterior daria a resposta: um feixe de luz verde vindo de um disco voador o carregara a bordo.
Bizarra coincidência O Caso Zanfretta ainda não estava terminado. No final daquele ano, na noite de 02 de dezembro de 1979, ele desapareceu mais uma vez enquanto dirigia seu automóvel Mini pelos arredores da mesma região. Naquela ocasião, três outros vigias noturnos também observaram um estranho objeto voando sobre o carro de Zanfretta — eles abriram fogo contra o UFO, mas nada aconteceu. Durante nova sessão de hipnose, o vigilante contou a seu médico que ele havia sido abduzido mais uma vez. Ele lembrou-se de que, a bordo, as estranhas criaturas lhe disseram que voariam de Genova até a Espanha, uma distância de pelo menos 2.000 km, e então voltariam. Em 04 de dezembro, a famosa Agência Ansa de Notícias transmitiu aos mais importantes jornais da Itália a seguinte notícia: “Um médico espanhol, identificado como Alfredo Sanchez Cuosta, afirmou que, enquanto dirigia seu carro em uma estrada próxima de Guadalajara, a cerca de 48 km de Madri, foi perseguido por uma imensa luz brilhante amarela que flutuava sobre seu carro, o que o fez perder o controle do veículo”. É claro que poderia se tratar de uma simples coincidência, porém, de qualquer forma, também pode ser parte do mesmo fenômeno ocorrido com Zanfretta naquela fria noite.
Mas a assustadora experiência que estava ocorrendo ao vigia desde 06 de dezembro de 1978 ainda não havia acabado. Em 04 de fevereiro de 1980, ele desapareceu subitamente mais uma vez. Na ocasião, um fazendeiro declarou ter visto uma grande massa luminosa semelhante a uma bola de rúgbi voando pelo céu. Zanfretta foi encontrado mais tarde, perto de um desfiladeiro e sem ser capaz de se lembrar como poderia ter ido até lá — seu último desaparecimento ocorreu em 13 de agosto do mesmo ano, mas desta vez ele não encontrou nenhuma estranha criatura. Eles se chamavam Dargos Se examinarmos todas as sessões de hipnose regressiva com Pier Fortunato Zanfretta, encontraremos uma grande quantidade de dados e elementos estranhos que, só por serem bizarros, não são levados em consideração por alguns ufólogos, que, sem mais aprofundamento, assumem que tais casos não podem ser verdadeiros e que toda a experiência dos abduzidos se resume a simples farsas.
Ao mesmo tempo, se levarmos em consideração que a pessoa que está relatando este caso é um homem simples e íntegro, que sempre havia pensado que UFOs não existiam, então é necessário ter a mente aberta às fantásticas possibilidades que se descortinam. Vamos inicialmente examinar os elementos bizarros que surgiram durante as sessões de hipnose regressiva com Zanfretta. Primeiramente, as criaturas que o abduziram disseram a ele que se chamavam Dargos [Desenho ao lado]. Eles se comunicaram com o segurança por meio de uma espécie de grade metálica localizada em suas bocas. Zanfretta, durante uma das sessões, relembrou algumas das palavras ditas originalmente por eles em uma linguagem desconhecida. Ele também se lembrou de como foi levado a bordo e disse que podia ver a Terra do tamanho de uma bola de tênis. Em dado momento, os Dargos mostraram a ele o interior do UFO, onde havia um grande cilindro cheio de um líquido azul que continha homens peludos, como o pé grande ou yeti, o abominável homem das neves, além de animais pré-históricos e outros objetos estranhos flutuando. Mostraram a ele diversos retratos da Terra.
Zanfretta pediu aos Dargos algum tipo de prova para mostrar a seus amigos que sua experiência era verdadeira, e eles teriam lhe dado uma esfera transparente com uma pirâmide giratória dourada em seu interior. A história desta esfera é extremamente obscura, com rumores de que os Dargos desejavam que Zanfretta a entregasse ao famoso pesquisador norteamericano J. Allen Hynek, pioneiro da Ufologia Mundial — os dois se conheceram em um encontro de Ufologia realizado em Genova, em 1984. Mais abertura ao tema Existem várias evidências que apoiam as declarações feitas por Pier Fortunato Zanfretta, de modo que não seria simples desacreditar toda a história como se fosse produto de um farsante. É importante considerar que ele não lucrou nada com sua história — pelo contrário, quase perdeu o emprego — e nem desejou atrair atenção da mídia, mas fugia dela. Ele encarou o desconhecido e tentou contar ao mundo honestamente o que havia vivenciado.
Seria mais fácil para ele omitir os detalhes mais estranhos que viveu, por causa dos quais foi considerado louco. Além disso, aceitou passar por várias sessões de hipnose e também pelo sódio pentotal, o soro da verdade, porque queria saber sua história a fundo. É claro que se sabe que o procedimento de hipnose regressiva vem sendo questionado, pois alguns especialistas acred
itam que o hipnotizado pode ser manipulado pelo hipnotizador. Porém, este não é o caso, pois os médicos que trabalharam com Zanfretta não tinham qualquer interesse em manipular seus relatos — e, também, todas as sessões foram documentadas e ocorreram na presença dos carabineiros. Mas qual poderia ser a origem da experiência do vigia?
Tudo indica que os seres que o abduziram várias vezes estavam dizendo a verdade, ou seja, que eram do espaço. São figuras que às vezes conseguem dissimular suas ações ou intenções. Autores como John A. Keel e Jacques Vallée os estudaram a fundo e o primeiro, em particular, designa estes seres como “mestres do engano”, visto que seus propósitos são completamente desconhecidos. Já Vallée crê que venham não apenas de outros mundos, mas de outras dimensões. Não se está dizendo aqui que as teorias de Keel e Vallée poderiam explicar o Fenômeno UFO como um todo, pois há uma imensa variedade de casos, alguns bastante distintos entre si. Porém, com respeito a este e outros casos de abduções alienígenas, é necessário que haja um debate mais aberto, menos guiado por preconceitos e rejeitados a priori por simples negação do absurdo.